Lembro-me, como se fosse hoje, dos angustiantes dias de março e abril de 1985, na cobertura, em frente ao Incor. Contra tudo e contra todos. Estava no Jornal da Tarde.
LEIA ESSE RESUMO, FEITO PELO PRÓPRIO AUTOR
Tancredo Neves poderia ter tomado posse. E por uma série de equívocos diagnósticos e cirúrgicos, todos primários, foi mal diagnosticado, mal operado, mal acompanhado. Tudo o que está publicado no livro está lastreado nos prontuários do Hospital de Base de Brasília e do Incor.
O diagnóstico primário de uma apendicite aguda com abscesso e suspeita de peritonite feito no exame de ultrassom no Centro Radiológico Sul era totalmente equivocado. O que se via na ecografia era um tumor, com necrose, gás e líquido. Era um caso para uma cirurgia programada, eletiva. Não havia risco de vida, não havia urgência, deveriam ter entrado a partir do dia 13 de março com uma antibioticoterapia para combater a bacterimia, identificar o foco infeccioso, e prepará-lo bem para a cirurgia.
Operado no início da madrugada do dia 15 de março, quando abriram o abdômen do Presidente o que encontraram foi um tumor intestinal – leiomiossarcoma – pediculado, pendurado, no íleo terminal. Não havia peritonite, não havia líquidos na cavidade abdominal, não havia hemorragia, não havia obstrução. E começa o desastre. Ao invés de ser retirado o tumor com uma ressecção segmentar, como já preconizava a literatura e a técnica mais adequada à epoca, o cirurgião opta por uma ressecção em cunha, em V. O que provocou que o paciente babasse (sangrasse gota a gota) na linha de sutura da anastomose desde o primeiro momento. Em uma área hipervascularizada como aquela onde estava o tumor, ele deveria ter feito uma enteroctomia ampliada, de grandes margens, ter removido todo o mesentério adjacente e amarrado os vasos na linha de sutura. O que determinou a morte do Presidente Tancredo Neves: enterorragia decorrente de um erro técnico na sutura da primeira cirurgia – não era um divertículo, era um leiomiossarcoma.
Repito, não se poderia fazer a ressecção em cunha. É uma técnica de escolha completamente equivocada para esse caso. Ele sangrou desde o primeiro momento e isso explica porque o intestino não voltou a funcionar (por hipoperfusão tecidual). Determinou as complicações que o levariam à morte.
Perdemos todos.
Luís Mir