ARTIGO – Já que chegamos até aqui. Por Marli Gonçalves

ani-bb_newyearJá que chegamos até aqui vamos lá! Vamos atravessar a ponte que liga um ano a outro. Pergunto: daria para destruir esse acesso assim que acabarmos de atravessá-lo? Senão, tudo bem, que ele pode até ter sido bom para muita gente. Mas de uma coisa tenho certeza: você já está aí do outro lado se fazendo um monte de promessas, revirando o baú, apelando para todos os santos, pensando em quais rituais, simpatias e antipatias vai produzir para a passagem do ano.

Quem foi que disse que as coisas mudam assim, num passe de mágica, num estalar de dedos, assim que vira o ano, que muda o número? Mas é bom acreditar; faz bem ao espírito tentar se renovar para começar de novo ou terminar o que já vinha sendo feito, inventar alguma pirueta, propor algo para você próprio. Prometer coisas – para si ou para alguém – já não acho muito legal, porque já vem carregado da óbvia culpa do não-cumprir, essazinha mesma que bate agora no fim de ano e dá uma certa ressaca. A auto-cobrança da época é a parte chata. O mais engraçado é que a gente passa a vida nessa, se desafiando até. Nessas horas, agora, nesse vácuo de tempo entre Natal e Ano Novo, nesse último mês do ano, nos voltamos mais para nós mesmos, para esse mundo que carregamos junto, onde vivem os nossos mais livres pensamentos e desejos. Só o espelho nos conhece (ou pensa que nos conhece).homerflexinginmirror

 O legal de escrever é que você encontra com as pessoas – eu e você aí – nas horas mais diferentes, situações especiais e até íntimas. Principalmente pelo meio digital, onde pode ter ativado seu smartphone ou tablet de quase qualquer lugar. Posso estar aí agora. Onde quer que esteja, seja praia, campo, montanhas, pegando ondas bravas ou só fazendo chapchap em alguma piscina. Talvez passeando em alguma metrópole desenvolvida, ou alguma cidade histórica; em um safári ou em algum imenso parque de diversões. Aqui por perto ou muito longe. Pelado ou cheio de roupa para se aquecer de alguma neve que foi cavar. Escrevo para dar um oi. Ver se nos encorajamos juntos nesse 2015.graphics-happy-new-year-295780

 Espero te encontrar com mais saúde, se você acaso está lendo agora, meio mal ou numa beira ou numa cama de hospital. Que recupere as forças, não sofra nem sinta dores, estas pontadas que nos paralisam.
Como eu dizia, já que chegamos até aqui, vambora. Primeiro, aquele “ufa” coletivo, porque a coisa não tá fácil, anda pior que corrida de obstáculos. É violência, má notícia, catástrofe, péssima administração, descalabro político, atentado social, corrupa, corrupinha, corrupona por todo o caminho por onde a gente passa pulando. Estamos vivos.

Então, o que precisamos fazer é melhorar. O que exatamente eu não sei, mas você sabe.

 Tenho aqui minha listinha básica. No geral, listo coisas que, se feitas, e se souberem, vocês se orgulharão de mim – acho que até tenho me saído bem nesse sentido. Mas também tenho desejos de não ser o que sou.
Queria ser camaleão para poder me metamorfosear em determinados momentos, me protegendo de ataques, já que os inimigos não me localizarão e espero que nem em pensamento.

Queria ser vagalume para trazendo a luz em mim atrair a luz de bons olhares. E podem vir esses olhares, que espero gostosos, amorosos e até apaixonados.

Queria ser borboleta para fazer voleios ao seu redor. Ou uma joaninha para alegrar seu olhar e fazer você perder alguns segundos me fazendo passear entre seus dedos, até voar, toda prosa.

 Com tudo isso, só quero mesmo é que não me esqueça se tiver algo legal a dizer. Agradeço sua atenção.

São Paulo, amanhã será outro ano.

joaninhagil3Marli Gonçalves é jornalista – Tentando olhar sempre à frente

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ARTIGO – Enxergar (mais) é preciso. Por Marli Gonçalves

__Eye2Aqui em São Paulo, reparei nisso outro dia, estão abrindo mais óticas do que, sei lá, farmácias ou outras bibocas. Tem quarteirões com mais de três, quatro, às vezes uma do lado da outra, inclusive nas áreas mais nobres, e onde só uma armação pode custar os olhos da cara, para aproveitar o trocadilho. Será que o povo está míope, ou está vendo agora que não pode mais fechar os olhos para a realidade dura que bate, toc toc toc na porta? Olhe no olho mágico.

graphics-medical-medicine-632556Há meses, quando a gente falava que a coisa já estava ficando feia, descontrolada, corrupa pra tudo quanto é lado, chamegos no poder, era chamado de arauto do mal, dragão, pessimista, xingado de tucano e mau brasileiro. Ainda tem uns gatos pingados por aí que teimam em manter a birra pós-eleitoral, mas só para não perder a pose ou o dinheirinho que recebem para cegar, porque a crise está tocando a campainha da casa de todos, e não dá mais para negar, tapar o olho mágico, botar corrente na porta, ficar quietinho fazendo que não está ali, em casa. Já viram uma temporada de fim de ano como essa?

Não sei por que acabei associando esse desembaçamento necessário – até para que consigamos mudar as coisas – com o aumento do número de óticas neste grande centro urbano paulista, e que acredito não seja só aqui esse incremento. Não deve ter a ver diretamente, mas sabem como é, não? Para crônicas a gente sai por aí catando assuntos, ocorridos, palavras.

eye2- grandaoMas motivos têm. Se não tivesse aumentado o mercado, isso não ocorreria. Já vinha degringolando, mas de um ano para cá a minha visão deu uma caída considerável, e agora terei de virar quatro-olhos, usar os famosos para perto e para longe, para frente e avante. Viver o mundo digital muitas horas por dia cobra um preço bem alto. A perda de visão me parece que é um dos maiores males; claro além do LER, aquela dor do esforço repetitivo que inutiliza mãos e braços, e colunas vertebrais entortadas por cadeiras ou por manter o pescoço curvado olhando celulares e o mundo passando ligeiro pelas redes virtuais sociais.

O resultado inicial dessa minha comprinha obrigatória já é uma conta para pagar até o fim do ano que vem, mesmo que a armação que tive de escolher tenha de ter sido mais quenguinha. Acreditem, as lentes saíram muito mais caro do que eu poderia prever.

Sei que também é falta de ver horizonte, entendido de forma literal ou abstrata. Os olhos, na cidade grande, estão sendo sempre barrados, por motivos ou prédios, difícil se enxergar ao longe e enxergar é algo amplo, mais que ver, mais que avistar. É prestar atenção. Ser capaz de distinguir as coisas, e até se antecipar a elas, prever. É poder considerar. (Será por isso, me ocorre agora, que a personificação da Justiça seja aquela moça de olhos vendados?)

Pelas lentes, variadas sejam elas, podemos ver e, se escuras forem, podemos até esconder o lado para o qual olhamos. Um olho no peixe e outro no gato, como diz o dito popular; ou aquele outro dito, quem vê cara não vê coração (me lembra a Petrobras e sua presidente). O que os olhos não veem o coração não sente (até que seja descoberto como foi apunhalado). Longe dos olhos, perto do coração já e coisa mais poética, a mim lembra até música que um dia me foi dedicada, bela perdida no tempo.femeyes

Dá para ir longe olhando por esses ângulos, nessas frestas, brecheiragens de nossos dias. Mas para a gente olhar para fora, tem uma inflexão espelhada, o enxergar-se.

É um exercício a fazer ano que vem. E aproveitar e enxergar-nos uns aos outros.

São Paulo, sob várias óticas, 2014-2015

Marli Gonçalves é jornalista – Ver pontos pretos, ou moscas volantes, como chama esse negócio, não é legal. E pontos luminosos, aqueles muito loucos que aparecem, se acontecer muito é melhor falar com o médico. É o cérebro mandando algum sinal para você ver.

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