O próximo verão promete ser dos mais insuportáveis
de todos os tempos no Brasil, com as temperaturas ultrapassando
facilmente os 40ºC por dias seguidos nos locais
tradicionalmente mais quentes, como Rio de Janeiro,
Piauí e Tocantins. Segundo meteorologistas, o calor pode
ficar até 4ºC acima da média. É que, pela primeira vez, se
registra uma combinação inédita: a elevação da temperatura
média do planeta, por conta do aquecimento global,
e um fenômeno El Niño muito intenso.
Alex Frieden (c) e colegas jogam aviões de papel durante a cerimônia do 25º IgNobel, na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos
Mamíferos levam 21 segundos para urinar, é quase possível “descozinhar” um ovo e beijar intensamente pode afastar alergias. Essas foram algumas das descobertas improváveis premiadas neste ano por “fazerem rir e pensar”.
Equipes de pesquisadores de todo o mundo reuniram-se na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, na noite de quinta (17) para celebrar o lado engraçado, curioso e inusitado da ciência na entrega do prêmio IgNobel deste ano.
Na presença de mais de mil convidados, os organizadores da revista científica Annals of Improbable Research (Anais de Pesquisa Improvável) premiaram “descobertas que fazem as pessoas rirem e depois pensarem”.
Os prêmios da 25ª edição foram entregues por ganhadores de verdadeiros prêmios Nobel, e os vencedores também receberam uma quantia em dinheiro: 10 trilhões de dólares do Zimbábue, o que equivale a alguns poucos dólares americanos.
Urina, ovos e beijos
Cientistas dos Estados Unidos e de Taiwan receberam o prêmio de Física por descobrirem uma “lei da urinação”, segundo a qual todos os mamíferos demoram cerca de 21 segundos para esvaziarem suas bexigas.
Na categoria Química, os vencedores inventaram uma receita capaz de “descozinhar” parcialmente um ovo.
Mark Dingemanse e dois colegas do Instituto Max Planck de Psicolinguística em Nijmegen, na Holanda, levaram o prêmio na área de Literatura, ao descobrirem que a interjeição “hum?” (ou “huh?”) parece existir em todas as línguas do mundo.
“Um sistema para consertar mal-entendidos é, claramente, uma parte crucial da linguagem”, disse Dingemanse. “‘Hum?’ é um elemento desse sistema, é o sinal de erro básico a que as pessoas recorrem se todos os outros falharem.”
Cientistas do Japão e da Eslováquia receberam o prêmio de Medicina depois de estudarem os efeitos biológicos de um beijo intenso e descobrirem que beijar por um longo período pode diminuir alergias de pele. Já o prêmio de Medicina diagnóstica foi para pesquisadores que mostraram que a apendicite aguda pode ser diagnosticada pelo tanto de dor que o paciente sente ao passar de carro sobre uma lombada.
Abelhas e galinhas
O prêmio de Fisiologia e Entomologia (estudo dos insetos) foi dividido entre Justin Schmidt – que cuidadosamente criou o Índice de Dor do Ferrão Schmidt, para classificar a dor que as pessoas sentem ao serem picadas por diversos insetos – e Michael L. Smith, que permitiu ser repetidamente picado por abelhas em 25 lugares diferentes do seu corpo para identificar as áreas mais sensíveis.
A conclusão de Smith: picadas no crânio, na ponta do dedo médio do pé e na parte superior dos braços doem menos, enquanto as piores partes para receber uma picada são na narina, no lábio superior e no pênis. “Levar uma picada na narina é tão doloroso que o corpo todo sente”, disse ele.
Um dos vencedores na categoria Biologia até demonstrou, entusiasmado, seu experimento. Ele e seu grupo perceberam que, fixando uma vara sobre o traseiro de uma galinha, ela passa a andar de modo semelhante a um dinossauro.
A Polícia Metropolitana de Bancoc ganhou o prêmio de Economia, por se oferecer para pagar um dinheiro extra aos policiais que recusassem aceitar subornos.
Tenho arrepios severos cada vez que ouço falar em impostos, taxas, qualquer coisa parecida com “tungarem mais dinheiro ainda de nossa sofrida carteira”. E nesses últimos dias essa forma de solução das bobagens que eles andaram fazendo arrancando do meu, do seu, do nosso, tem sido dita insistentemente. Tiveram a cara de pau até de chamar de investimentos, e dizendo que adoraremos contribuir
Acabei lembrando a derrama, a forçada e violenta forma de cobrança de tributos com que os colonizadores portugueses coletavam parte do que se obtinha na exploração dos minérios, aliada à “quinta”, que ainda tirava o naco de 20% dos ganhos. Daí foi um passo para lembrar a revolta popular, de Tiradentes e dos Inconfidentes, de tudo o que a História do Brasil já registrou e que terminou de forma tão cruel e sangrenta. Você também deve ter ouvido muita gente aí do seu lado falar que, caso resolvam impor mais impostos, deveríamos nos unir, todos deixarem de pagar, que não está certo pagarmos ainda mais pelos erros que vêm cometendo, trapalhada após trapalhada.
Ouviu também, né? Não se fala outra coisa.
Pois eu ouvi de gente respeitada, de pessoas maduras, honestas e trabalhadoras, homens e mulheres sérios que vocês não imaginam nem engrossando passeatas em verde e amarelo, muito menos empinando balões de bonecos. Mas eles estão dispostos a reagir e mostram, como no passado, ter de fazer isso para não sucumbir à ganância dos governantes. Uma questão de sobrevivência, explicam. Já enxugaram o que podiam, dispensaram seus “escravos”, temem não ter o que dar aos seus filhos. Não veem o que já pagaram até aqui revertido em benefícios – sem saúde, sem educação, sem infraestrutura. Estão insatisfeitos, indignados, sentem-se roubados, espoliados e enganados.
Achei nessa parte de nossa História – a Inconfidência Mineira – muita coisa parecida com a que estamos vivendo agora em pleno século XXI, incluindo até os delatores que, em troca de se livrarem, a si, aos seus bens, atiram mais gente ainda no fogo da caldeira, dando combustível para que essa fogueira esteja cada dia mais furiosa. Só não encontrei ainda os heróis.
Obviamente faço esse paralelo muito mais pensando no que aprendemos de melhor ali, na honra, na coragem dos insurretos, nos mitos que se criaram, do que na desgraça de uma solução militar, como a que fechou o tempo por longos 25 anos.
Não é de hoje que a ideia de conspiração ocorre nas horas mais tumultuadas da política nacional como a que vivemos nos últimos meses, e que alguns analistas já associaram até ao Titanic. O navio afundando e a ordem para que a orquestra continuasse. O problema é: com quem? Não há grupo coeso, mas miríades deles e fica difícil se encaixar em alguma conjuração. Pelo menos eu ainda não senti liga, e sigo apenas com alguns amigos aqui e ali com os quais tenho afinidade de pensamento. Não posso me juntar a quem defende liberdade pelo poder, quem perdeu por incompetência e vê na crise chance de emplacar, quem ainda acha que o mundo se divide em bons e maus, esquerda e direita, com quem usa a religião para constranger e proibir.
Procura-se um modelo de República, de ideias arejadas; uma nova e simples Constituição; ideias e filosofias que se coadunem com o tempo, com o chão que pisamos, com o futuro que acreditamos em poder erguer, com justiça social verdadeira. Algo integrado ao desenvolvimento global, progresso, sem esquecer o ar que respiramos, o chão que pisamos, os oceanos que se aproximam crescendo sobre a terra.
Quem sabe encontraremos juntos?
São Paulo, em um conturbado setembro de 2015
Marli Gonçalves, jornalista — – Onde andarão nossos novos heróis, os poetas de nosso tempo, os idealistas que ainda não foram cooptados pelo sistema?
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(Folha de SP, 07) 1. O país tem mais de 100 mil caminhões parados em garagens de empresas transportadoras. É o que aponta pesquisa da NTC&Logística, associação que reúne companhias de frete de todo o país. No levantamento, as empresas apontaram que estão com 13,5% de seus caminhões parados, em média. A frota estimada pelo setor é de 800 mil caminhões, o que aponta para perto de 100 mil veículos parados.
2. “Caminhão parado é prejuízo. O normal é que 5% da frota, no máximo, fique parada para manutenção ou de reserva”, disse Lauro Valdívia, diretor técnico da associação. Segundo ele, o motivo da paralisação é a drástica redução no volume de fretes no últimos meses. Para 84% dos pesquisados, houve queda nos negócios em relação ao ano passado, devido, principalmente, à menor demanda.
AVISO DE PAUTA – SÁBADO, 08/08 – ATO DE APOIO ÀS INSTITUIÇÕES EM SP, RECIFE E CURITIBA
O Movimento Vem Pra Rua Brasil fará um ato em apoio às instituições que investigam a operação Lava Jato neste sábado, dia 8 de agosto, em São Paulo, Recife e Curitiba.
Os manifestantes irão amarrar laços de fita verde e amarelo ao redor das sedes da Polícia Federal em São Paulo e Curitiba, e em Recife, na Praça do Entroncamento.
endereços e horários:
São Paulo, das 9h às 11h – Rua Hugo D’Antola, 95 – Lapa de Baixo, São Paulo – SP
Recife, às 9h – Praça do Entroncameto, Graças, Recife – PE
Curitiba, às 9h – Rua Profa. Sandália Monzon, 210 – Santa Cândida, Curitiba – PR
Pesquisa do Instituto Paraná revelou que os paulistanos não querem Dilma nem em forma de água: nada menos que 89,1% dos eleitores da maior cidade do País desaprovam o governo da presidente petista.
Repara como está aumentando a oferta de dicas. Elas batem em nossas portas, todo mundo querendo convencer você a fazer alguma coisa que se possa tirar uma casquinha. As dez dicas disso, sete dicas daquilo. Aí você, que está em busca de alguma orientação que preste, qualquer lampejo de luz no fim do túnel, corre para ir ver e o que lê são coisas tão óbvias que chegam a ser irritantes
Com a situação periclitante que estamos passando tem coisa que irrite mais do que ouvir alguém aconselhando você a poupar, separar parte do salário para uma emergência, dar dicas de investimentos “melhores” do que a poupança? Tirar o que de onde, se você já está até ficando craque em drible de contas atrasadas, já espatifou o porquinho, e acompanha o aumento dos juros como se fosse um cronômetro de mergulho em águas profundas? Para calcular quanto tempo vai conseguir ficar lá embaixo sem respirar, para não fazer bolha.
Mas isso é o de menos – pelo menos tentam ajudar suas economias: e aquelas dos delegados e policiais quando resolvem dar dicas de segurança? Não saia; se sair, não use nada de valor, feche os vidros, que sejam de preferência blindados, olhe para todos os lados, não relaxe! Atenção! Enfim, se vira sozinho porque a coisa está complicada – não conte com segurança oficial.
Eles fazem a cara mais séria, usam as palavras mais técnicas e dão voltas em si mesmos. Parece que andamos em terras minadas, nadamos em lagoas de patos. Um descuido e você acaba entrando na conversa de algum “diqueiro” mais profissional e convincente. Eles estão em todos os lugares e principalmente na internet. A dica é como uma isca presa em um anzol pronto a fisgar. É dica para turbinar a relação, as nádegas, a atração sexual – turbina tudo! Outro dia recebi um material que ofertava dicas matadoras; matadoras, sim, usaram essa palavra para descrever coisas como “o cliente quer ser bem tratado”. Não me diga.
Recebi também sobre um coach, um palestrante, de um país aqui do Mercosul, que quer vir para cá ensinar aos homens dicas de sedução. Fui ver o vídeo e, como assinalou um comentarista irônico na rede social, se aquele cara ali, meio seboso, se ele seduz alguém, esse curso realmente deve ser espetacular. Custa uma grana, que outro detalhe caprichado dos diqueiros é cobrar muito bem; para valorizar bastante as preciosas gotas de conhecimento que repartirão conosco em sua bondade infinita. Afinal, em geral, essas pessoas que falam nesses cursos caça-trouxas já alcançaram o Nirvana para o qual você também quer e poderá ir. Conseguiram fortunas. Ultrapassaram seus limites. Nesse caso que recebi, são peremptórios. Homens não são completos sem saber seduzir as mulheres, uma coisa assim bem heterossexual. Entre as obviedades que desfiam, indicam que as mulheres procuram homens com humor. Deve ter vindo daí essa onda de stand up que assola os palcos – você ri e tem orgasmos. Estrangeiros adoram vir aqui contar dessas suas ideias fabulosas.
Antes eram só aquelas dezenas de livros de auto-ajuda que invadiram as livrarias e suas capas chamativas, de como ser campeão, o maioral, superar obstáculos, ir da liderança ao controle absoluto. Depois, vieram outros, mais espiritualizados, indicando que cada um deveria procurar seu interior, dominar a mente, contemplar. Aí surgiram os de colorir, contra o stress.
Agora as apresentações são ao vivo. Já tem curso até para ensinar a colorir os tais livrinhos. Estão levando ao pé da letra a máxima que “se conselho fosse bom ninguém dava; cobrava”. Cobram, e caro, para ensinar qualquer coisa, inclusive a fritar bolinhos, equilibrar o ovo no bife a cavalo. O ambiente está fértil para a proliferação de profetas, e isso é assustador. Cria regras, quadradinhos de limite, dizem que você só é certo e bom se fizer isso ou aquilo; caso contrário será pária.
Todo mundo se perguntando o que fazer. Os olhares andam mesmo ansiosos, e os gestos mais nervosos. O clima é de insegurança e de grande dificuldade de planejamento e perspectiva. Se continuar, se perdurar muito tempo ainda, vai é nos deixar malucos e doentes. É uma situação nunca vivida por aqui, sem precedentes, e, portanto, ainda sem manual de dicas de sobrevivência.
Seria um best-seller. Ia ter fila para a inscrição nessas aulas. Pensando bem, vou ver aí se providencio isso.
São Paulo, 2015, pré mês do encosto.
Marli Gonçalves é jornalista — Nós já demos a dica boa, aquela do cai fora enquanto é tempo, mas eles ainda estão querendo saber com quantas panelas se faz um protesto. Aumentam a cada dia as vazias, de grande sonoridade. #ficaadica
Digam-me: há palavra melhor para definir o que está acontecendo nesse país para tudo quanto é lado que se olha? Temo que não. Escracho, em todos os seus mais variados sentidos. Um escracho. Um escracha o outro. Nós escrachamos todos. O juiz escracha uns. Os políticos se escracham entre si. O ex escracha a atual. Eu escracho certas pessoas, de um lado, junto de vocês, que também escracham outros e outros; quando não os mesmos, que todos estão se esculachando felizes da vida. Virou Babel
Na boa, isso aqui virou uma esculhambação total. Que até teria um lado divertido se nós também não estivéssemos sendo grandes vítimas desse processo todo. Volto a pensar se não é alguma coisa que estão pondo na água, tão desmedida e pouco produtiva está essa já muito vergonhosa esculhambação geral que assola o Brasil, e que ultrapassa em muito o antigo Febeapá – o festival de besteiras.
Desde muito criança tinha na Dercy Gonçalves, a Rainha do Escracho com faixa e tudo, e a quem se associa imediatamente a palavra, uma ídola. Imaginava até na minha cacholinha que ela bem que podia ser minha parente. Adorava vê-la fazendo aquelas caras de esgares, a boca de caçapa, da qual vertiam impropérios e impropérios. Adorava, não. Adoro ainda, porque a cada dia que passa ela está mais atual, embora tenha morrido há exatos 7 anos, completados agora neste 19 de julho. Na época, assistia a ela onde aparecia, na tevê; enchi e bati pé para que me levassem ao teatro para vê-la e, já jornalista, sempre que podia tentava ouvi-la sobre algum acontecimento.
Imaginam o que ela diria se estivesse acompanhando o atual momento político nacional? Bippi, xxx, bi,bi,biiii, asteriscos – certamente tudo seria impublicável, tantos falsos moralistas estamos criando sobre este chão e que ela apontaria satisfeita. O engraçado é que sei que ela era até meio reacionária depois de tudo o que passou para se firmar na vida artística, mas imagino o que diria agora ouvindo os discursos da presidente, a falação (ah, aqui ela trocaria uma letra, certamente) das CPIs que a cada dia mais parecem espetáculos burlescos de um cabaré viciado, vendo os cabelos asas de graúna tentando se explicar se roubaram mas não sabiam. Depois de tanta luta pelo respeito à mulher artista, queria saber o que ela pensaria da glamorização absurda da prostituição. Dos pitacos religiosos de plantão. Da gargalhada que soltaria acompanhando os passos da oposição. Ou o topete do prefeito modernudo que se acha o coco da cocada (aqui, ela poria um acento, ah, poria sim).
Imagino-a falando a palavra impeachment de todas as formas, menos a normal, e terminando com um sonoro palavrão e gargalhada sempre. Achei um relato, achei sim, de um centro espírita, onde ela teria “baixado” e os médiuns a repreenderam por todos esses palavrões ditos durante toda a sua vida, e até sobre os oito abortos que sempre admitiu ter feito. Não acreditei que esse espírito era ela mesmo, não xingou ninguém nesta sessão! Acho que a gente quando morre leva pro espírito o que temos de melhor.
Pena que Dercy não tenha vivido esses 108 anos completos; só 101. Embora antes de morrer já tenha visto o país começar a virar uma curva esquisita, não imaginaria como tanta coisa se degringolaria e tornaria difícil até diferenciar o ético, o saudável, o progresso quase forçado dos costumes. Veria sendo mantidos os destratos, o racismo, a homofobia, a violência contra a mulher, esse gênero que sempre tem alguém controlando o que faz com a vagina, seus buracos, diria Dercy. “A perereca da vizinha tá presa na gaiola! Xô, perereca! Xô, perereca!”
“Represento exatamente o escracho do Brasil”, disse certa vez, completando: “Eu posso ser escrachada, mas não sou bandalha”. Não era mesmo, Dercy. Bandalha é essa gente que está comandando cadeiras importantes de vários poderes.
E escracho é o que estão fazendo primeiro para perguntar depois – polícia escracha; imprensa escracha. A gente escracha, mostra o quão desmoralizados são, não usamos mais nem meias palavras para nos referir até às pessoas às quais deveríamos guardar certo pudor, certo respeito. Mas elas próprias também se escracham, e acabam desmascaradas em seus atos. Provocam nosso escrachamento.
Escracho aqui é tão escracho e tem tanto que perde até um de seus sentidos, o político, aquele de ser o protesto que se faz diante da casa de quem desrespeita os direitos humanos.
Afinal, é ou não é um escracho esse mundo estar dividido em partes? PT e os outros. O PT também estar em polvorosa, o PT puro e o sujo? As debandadas sem ideologia para viver. A oposição apoiar o Eduardo Cunha que é uma síntese do atraso? Cada um correndo para um lado? O país à deriva? O ordenamento jurídico sendo estilhaçado numa primeira instância; juiz endeusado e promovido a herói?
Em cima desse palco tem muita gente, e o assoalho não está firme. Tem ator querendo matar outro para pegar o papel. Nem tudo se pode falar. Nas coxias tem gente sabotando até a comida do camarim. E isso não é uma comédia. Está mais para ópera bufa.
Falta uma Dercy para falar umas poucas e boas – definitivas – ela sim, escracharia de verdade tudo isso, com seu palavrório picante.
São Paulo, 2015.
Marli Gonçalves é jornalista — – – As pessoas que falavam as verdades na lata, com linguagem pro povo entender, sem rodeios, nos deixam e não estão sendo substituídas. Dá saudades. Da Dercy, de Adoniran, de Cazuza. Esses tantos que merecem ser lembrados, porque nos ajudariam agora pelo menos a escrachar mais bonito.
Tenho tido a terrível sensação de que não estamos conseguindo completar as coisas. Sabe? Tipo fazer, finalizar, do começo ao fim, ver linha pontilhada virar traço e as reticências, ponto final. A bola bate, bate, quica, e não entra na rede, não encaçapa. Não chega lá. Não vira solução.
Desde menina sou apaixonada por desenhos animados, principalmente aqueles que tinham uma musiquinha que era cantada com uma bolinha correndo, pulando ali no pé da tela da tevê, dando a letra e a cadência – uma espécie de precursor do karaokê. Adorava ver a bolinha branca pulando toda feliz, até o fim da canção. Também adoro o som da raquete batendo na bolinha de ping-pong, e esta sair batendo na mesa, pulando a redinha, naquela sequência emocionante até voar para fora, gaiata, fazendo correrem atrás dela, bolinha sonora, oca, veloz.
Pois foi essa imagem que me veio à cabeça esta semana. Uma bola quicando. A bola apareceu obviamente por causa da cabeçada dos super cartolas, presos justamente por causa de uma “bola”, mas uma outra super bola, a que pula debaixo dos panos para fazer o jogo correr de várias formas, nem sempre redondas, em vários campos. Vide estado dos Estádios.
A bola continua quicando. Protestos, gritos e sussurros, pedidos de impeachment, uma caminhada frustrante de gatos pingados que se jogam em qualquer abraço político correndo na estrada que ao final vai dar em nada, nada, nada nada, do que pensava encontrar, parafraseando Gilberto Gil ensinando a falar com Deus.
Uma economia em parafuso, sem rosca, um país com prego na ponta, todo dia um pássaro cantando na gaiola, uma surpresa, uma revelação. Todas com o mesmo polegar de identificação digital, feitas para um caixa, de algum número, 1-2-3, para alçar alguém, por ganhar algo, e levando o que é nosso no rabo da estrela – e que, de tão afoita, deixa a cada dia mais rastros. Fora a panela no fogo, fritando, lentamente, uns e outros que estão ainda se trocando no vestiário.
A bola pulando, quicando; picando, como se diria em Portugal. Tudo do mesmo. Quase um ano e meio da Operação Lava Jato, a novela – toda hora entra um ator – em capítulos intermináveis, que já vira uma nova Redenção e talvez até a ultrapasse em algum passe, enquanto a bola perde força a olhos vistos, ficando quadrada como o Sol que vários ainda vêem pensando se piam ou não. No cenário, uma comissão, melhor, mais uma, analisando, analisando, em embaixadinhas que ficam no mesmo lugar. E tudo virando uma bola de neve. De grude, isso sim.
No campo a escalação parece não mudar ano após ano, e o que muda são só uns de segundo time. O Brasil nunca chega lá, não finaliza a jogada. Fica tudo inacabado, um orgasmo não sentido, um coito interrompido, e uma terrível sensação de frustração por não resolvermos nem nossas primeiras necessidades e desejos. Ficamos na promessa. Ficamos na mão.
Nas mãos dos bancos que nos exploram como cafetões, ou nos escravizam por dívidas marcadas em algum caderninho, e que correm céleres para frente, deslizando quando tentamos contê-las. Se for em cestas, nem as básicas – furadas que são.
Ficamos na mão do governo e seus governantes tendo ideias medíocres, ou chutando, chutando e a bola quicando com um monte de jogadores atônitos em campo, especialistas em gol contra, conversa fiada, explicações estapafúrdias. Quando a esmola é muita, o santo deve desconfiar. Temos de tentar bolar uma saída. Antes do mata-mata.
Surgem heróis todos os dias. O mais novo é bem baixinho, tem língua presa e vem de um campo de futebol. Vai meter a mão na cumbuca, no vespeiro. Apitar como juiz para ver se aparece algum outro aí de novidade. Mas temo que seja mais uma bola fora.
Aqui, onde qualquer meleca de pessoa é chamada de guerreira, louvada, ganha loas e boas. Grudadas em bolinhas de baixo das mesas, essas melecas quando descobertas já estão largadas, ninguém as assume. Seus donos já estão nas arquibancadas fazendo outras bolinhas, de chiclete mascado para grudar em alguém.
“Aqui, onde o olho mira/Agora, que o ouvido escuta /O tempo, que a voz não fala /Mas que o coração tributa” … Recorrendo ao Gil novamente, infelizmente, ainda, “O melhor lugar do mundo é aqui. E agora. Aqui, fora de perigo. Agora, dentro de instantes/Depois de tudo que eu digo/ Muito embora muito antes”…
Dizendo tudo, dizendo nada, enrolando, a bolinha vai quicando.
E a gente vai levando, a gente vai levando… E como vai.
São Paulo, campo minado e seco, com possibilidade de trovoadas, 2015
Marli Gonçalves é jornalista — – – Adoraria ter uma bola de cristal para saber quem vai ganhar esse jogo, afinal. Onde ele vai acabar, qual time vai sacudir a rede, nos fazer vibrar.
******************************************************************** E-mails: marli@brickmann.com.br marligo@uol.com.br POR FAVOR, SE REPUBLICAR, NÃO ESQUEÇA A FONTE ORIGINAL E OS CONTATOS
Sente o cheiro empesteante de sangue no ar? Consegue ouvir os gritos de socorro, o barulho dos tapas? Ouve as ameaças, os insultos, os palavrões, as acusações, os xingamentos? Ouve o choramingo da criança pedindo, desesperada, Pare! Pare! – e as portas batendo, o som abafado dos tiros? Consegue reconhecer esse outro som oco, o estocar da faca cortando, entrando, furando, esbugalhando? Não tampe mais os ouvidos, não feche mais os olhos. Nesses poucos segundos uma mulher poderá ser assassinada. Nos últimos anos, estima-se que ocorreram, em média, 5.664 mortes de mulheres por causas violentas cada ano, 472 a cada mês, 15,52 a cada dia, ou uma a cada hora e meia
Consegue notar a barbárie? Pode perceber a selvageria da questão que ainda estamos tendo de tratar em tempos ditos tão modernos, tão resolvidos? As mortes de mulheres, as muitas assassinadas por seus ex-companheiros, namorados ou diabos que cruzam seus caminhos, a violência contra a mulher está de novo desmedida, descontrolada, cruel e isso ainda sendo tratado como assunto de segunda ordem. Basta. Todo dia sabemos de um caso mais cruel e escabroso que outro.
Vamos falar desse assunto, senhores e senhoras, brasileiros e brasileiras, meu povo, minha pova? Dona presidenta, valenta, para que está servindo ser uma mulher no poder, se a senhora só faz, diz e se preocupa com masculinices? Como conseguiremos expor esse problema tanto quanto os gays estão conseguindo visibilidade agora? (Pior é que quanto mais viram “mulheres” os homens gays, nessa inversão de papéis, essa mesma violência já os atinge)
Se preciso for, podemos usar várias linguagens, tirar a roupa, botar alguma roupa simbólica, ir às ruas, pintar o sete. Aliás, lendo sobre o assunto, descobri que teve um cabra que compôs um “repente” e que ficou até oficial, cantado em ato da Lei Maria da Penha. (http://youtu.be/8G9Ddgw8HaQ). Pena que tantos atos oficiais para chamar a atenção para o problema não virem atos objetivos contra o problema, por exemplo, como proteger a mulher que denuncia. Por aí, vagando, já que agora viraram fantasmas, está cheio de mulheres que denunciaram, pediram socorro, uma, duas, três vezes. Encaro até tentar criar uma literatura de cordel, embora é capaz de algum coroné querer censurar e proibir, porque seria violento demais o meu relato; já tive minha peleja particular, sou sobrevivente.
Mulheres mortas a facadas, facões, serrotes, marteladas, tiros, porradas, cacetadas, encarceradas, estupradas, decapitadas, torturadas, emparedadas, encurraladas, até postas para cachorro comer, conforme diz a lenda no caso Eliza Samudio, o corpo que sumiu no ar. Empurradas de janelas, mantidas em cativeiro, ameaçadas de perder seus filhos, sua honra, suas famílias, aleijadas, queimadas, desfiguradas.
Eles? Estavam nervosos, corneados, bêbados, drogados, paranoicos, perderam a cabeça, ouviram vozes que mandavam – cada canalha tem uma desculpa e uma versão dos fatos, até porque em geral são eles que ficam vivos para contar a história para atentos policiais homens que irão registrar a ocorrência, “investigar com rigor””. Digo isso, porque temos tido também muitos exemplos recentes de celerados que, depois de fazer o “serviço”, se matam também – enfim, já vão tarde. Esse tipo costuma levar para o inferno não só a mulher, como os filhos e às vezes, os parentes que estiverem próximos.
Tenho até azia ao ler no noticiário relatos como “…mas ele era tão calmo, homem bom, trabalhador, quem diria…” Não seja cúmplice. Não tente justificar. Violência não se justifica. Repita cem vezes. Violência não se justifica.
Feminicídio ou femicídio – esse é o nome da violência fatal contra a mulher. Pouco importa se homicídio, feminicídio, melhor chamar de extermínio de mulheres por machistas psicopatas e descontrolados. Essa é uma questão de gênero, de saúde pública, de segurança pública, de cidadania.
Os fatos são esses. Anote. Vamos fazer algo contra a violência contra a mulher. Veja se a Lei Maria da Penha está sendo levada a sério, cumprida. Se quando a mulher vai denunciar é bem atendida. Se continuam funcionando ou, melhor: como não funcionam as nossas à época tão festejadas Delegacias da Mulher – vamos lá ver se estão preparadas, equipadas, com equipes treinadas. A resposta será Não. E não. E não.
Saiba mais sobre a crueldade, dessa cruel realidade e suas estatísticas: 52% das mulheres vítimas têm entre 20 e 39 anos: 31%, idade entre 20 a 29 anos, e 23% tinham entre 30 e 39 anos. 62% do total, mulheres negras ou pardas. 61% das mulheres assassinadas em 2012 eram solteiras, 13%, casadas. Só em 2012 foram 393 mortes por mês, 13 por dia, mais de 1 morte a cada duas horas.
Aproximadamente 40% de todos os homicídios de mulheres no mundo são cometidos por um parceiro íntimo. No Brasil, de 2001 a 2011 calcula-se que foram mais de 50 mil assassinatos, ou seja, aproximadamente 5 mil mortes por ano. Um terço ocorreu no local onde moravam.
50% dos feminicídios tiveram o uso de armas de fogo; 34% foram com algum instrumento perfurante, cortante ou contundente. Enforcamento ou sufocação foi registrado em 6% das mortes. Maus tratos – incluindo agressão por força corporal, física, violência sexual, negligência, abandono e maus tratos (abuso sexual, crueldade mental e tortura) – foram registrados em 3% dos casos de uma pesquisa que abrangeu uma década de estudos.
E atenção! Cuidado com sábados e domingos, mulheres: 36% dos assassinatos ocorreram aos finais de semana, 19% deles naqueles domingos que parecem tão modorrentos.
E que ninguém culpe o Faustão, o Fantástico, ou a Rede Globo por isso. Nem o Fernando Henrique, o FHC.
São Paulo. 2015. Dia da Mulher, vamos aproveitar que estão falando da gente, para tentar nos salvar.
Marli Gonçalves é jornalista — – Quando precisou de ajuda teve pouco apoio. E vejam que já lutava contra isso o que talvez tenha sido a salvação, ontem, hoje e amanhã. É muito difícil falar sobre isso. Dói onde ficaram cicatrizes. E ainda ter de ver, sentir e ouvir quão desconsideradas podemos ser, nós, mulheres, as que não optaram pela vida fácil e submissão.
Já que chegamos até aqui vamos lá! Vamos atravessar a ponte que liga um ano a outro. Pergunto: daria para destruir esse acesso assim que acabarmos de atravessá-lo? Senão, tudo bem, que ele pode até ter sido bom para muita gente. Mas de uma coisa tenho certeza: você já está aí do outro lado se fazendo um monte de promessas, revirando o baú, apelando para todos os santos, pensando em quais rituais, simpatias e antipatias vai produzir para a passagem do ano.
Quem foi que disse que as coisas mudam assim, num passe de mágica, num estalar de dedos, assim que vira o ano, que muda o número? Mas é bom acreditar; faz bem ao espírito tentar se renovar para começar de novo ou terminar o que já vinha sendo feito, inventar alguma pirueta, propor algo para você próprio. Prometer coisas – para si ou para alguém – já não acho muito legal, porque já vem carregado da óbvia culpa do não-cumprir, essazinha mesma que bate agora no fim de ano e dá uma certa ressaca. A auto-cobrança da época é a parte chata. O mais engraçado é que a gente passa a vida nessa, se desafiando até. Nessas horas, agora, nesse vácuo de tempo entre Natal e Ano Novo, nesse último mês do ano, nos voltamos mais para nós mesmos, para esse mundo que carregamos junto, onde vivem os nossos mais livres pensamentos e desejos. Só o espelho nos conhece (ou pensa que nos conhece).
O legal de escrever é que você encontra com as pessoas – eu e você aí – nas horas mais diferentes, situações especiais e até íntimas. Principalmente pelo meio digital, onde pode ter ativado seu smartphone ou tablet de quase qualquer lugar. Posso estar aí agora. Onde quer que esteja, seja praia, campo, montanhas, pegando ondas bravas ou só fazendo chapchap em alguma piscina. Talvez passeando em alguma metrópole desenvolvida, ou alguma cidade histórica; em um safári ou em algum imenso parque de diversões. Aqui por perto ou muito longe. Pelado ou cheio de roupa para se aquecer de alguma neve que foi cavar. Escrevo para dar um oi. Ver se nos encorajamos juntos nesse 2015.
Espero te encontrar com mais saúde, se você acaso está lendo agora, meio mal ou numa beira ou numa cama de hospital. Que recupere as forças, não sofra nem sinta dores, estas pontadas que nos paralisam.
Como eu dizia, já que chegamos até aqui, vambora. Primeiro, aquele “ufa” coletivo, porque a coisa não tá fácil, anda pior que corrida de obstáculos. É violência, má notícia, catástrofe, péssima administração, descalabro político, atentado social, corrupa, corrupinha, corrupona por todo o caminho por onde a gente passa pulando. Estamos vivos.
Então, o que precisamos fazer é melhorar. O que exatamente eu não sei, mas você sabe.
Tenho aqui minha listinha básica. No geral, listo coisas que, se feitas, e se souberem, vocês se orgulharão de mim – acho que até tenho me saído bem nesse sentido. Mas também tenho desejos de não ser o que sou.
Queria ser camaleão para poder me metamorfosear em determinados momentos, me protegendo de ataques, já que os inimigos não me localizarão e espero que nem em pensamento.
Queria ser vagalume para trazendo a luz em mim atrair a luz de bons olhares. E podem vir esses olhares, que espero gostosos, amorosos e até apaixonados.
Queria ser borboleta para fazer voleios ao seu redor. Ou uma joaninha para alegrar seu olhar e fazer você perder alguns segundos me fazendo passear entre seus dedos, até voar, toda prosa.
Com tudo isso, só quero mesmo é que não me esqueça se tiver algo legal a dizer. Agradeço sua atenção.
São Paulo, amanhã será outro ano.
Marli Gonçalves é jornalista – Tentando olhar sempre à frente
Aqui em São Paulo, reparei nisso outro dia, estão abrindo mais óticas do que, sei lá, farmácias ou outras bibocas. Tem quarteirões com mais de três, quatro, às vezes uma do lado da outra, inclusive nas áreas mais nobres, e onde só uma armação pode custar os olhos da cara, para aproveitar o trocadilho. Será que o povo está míope, ou está vendo agora que não pode mais fechar os olhos para a realidade dura que bate, toc toc toc na porta? Olhe no olho mágico.
Há meses, quando a gente falava que a coisa já estava ficando feia, descontrolada, corrupa pra tudo quanto é lado, chamegos no poder, era chamado de arauto do mal, dragão, pessimista, xingado de tucano e mau brasileiro. Ainda tem uns gatos pingados por aí que teimam em manter a birra pós-eleitoral, mas só para não perder a pose ou o dinheirinho que recebem para cegar, porque a crise está tocando a campainha da casa de todos, e não dá mais para negar, tapar o olho mágico, botar corrente na porta, ficar quietinho fazendo que não está ali, em casa. Já viram uma temporada de fim de ano como essa?
Não sei por que acabei associando esse desembaçamento necessário – até para que consigamos mudar as coisas – com o aumento do número de óticas neste grande centro urbano paulista, e que acredito não seja só aqui esse incremento. Não deve ter a ver diretamente, mas sabem como é, não? Para crônicas a gente sai por aí catando assuntos, ocorridos, palavras.
Mas motivos têm. Se não tivesse aumentado o mercado, isso não ocorreria. Já vinha degringolando, mas de um ano para cá a minha visão deu uma caída considerável, e agora terei de virar quatro-olhos, usar os famosos para perto e para longe, para frente e avante. Viver o mundo digital muitas horas por dia cobra um preço bem alto. A perda de visão me parece que é um dos maiores males; claro além do LER, aquela dor do esforço repetitivo que inutiliza mãos e braços, e colunas vertebrais entortadas por cadeiras ou por manter o pescoço curvado olhando celulares e o mundo passando ligeiro pelas redes virtuais sociais.
O resultado inicial dessa minha comprinha obrigatória já é uma conta para pagar até o fim do ano que vem, mesmo que a armação que tive de escolher tenha de ter sido mais quenguinha. Acreditem, as lentes saíram muito mais caro do que eu poderia prever.
Sei que também é falta de ver horizonte, entendido de forma literal ou abstrata. Os olhos, na cidade grande, estão sendo sempre barrados, por motivos ou prédios, difícil se enxergar ao longe e enxergar é algo amplo, mais que ver, mais que avistar. É prestar atenção. Ser capaz de distinguir as coisas, e até se antecipar a elas, prever. É poder considerar. (Será por isso, me ocorre agora, que a personificação da Justiça seja aquela moça de olhos vendados?)
Pelas lentes, variadas sejam elas, podemos ver e, se escuras forem, podemos até esconder o lado para o qual olhamos. Um olho no peixe e outro no gato, como diz o dito popular; ou aquele outro dito, quem vê cara não vê coração (me lembra a Petrobras e sua presidente). O que os olhos não veem o coração não sente (até que seja descoberto como foi apunhalado). Longe dos olhos, perto do coração já e coisa mais poética, a mim lembra até música que um dia me foi dedicada, bela perdida no tempo.
Dá para ir longe olhando por esses ângulos, nessas frestas, brecheiragens de nossos dias. Mas para a gente olhar para fora, tem uma inflexão espelhada, o enxergar-se.
É um exercício a fazer ano que vem. E aproveitar e enxergar-nos uns aos outros.
São Paulo, sob várias óticas, 2014-2015
Marli Gonçalves é jornalista – Ver pontos pretos, ou moscas volantes, como chama esse negócio, não é legal. E pontos luminosos, aqueles muito loucos que aparecem, se acontecer muito é melhor falar com o médico. É o cérebro mandando algum sinal para você ver.
Veículos devem possuir novo extintor de incêndio até 1º de janeiro
A Resolução 333/2009 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) determina que a partir de 1º de janeiro de 2015 todos os veículos automotores circulem equipados com extintores de incêndio com carga em pó ABC. Por isso, o Departamento de Trânsito do Maranhão (Detran-MA) alerta para o prazo máximo das alterações e importância de se adequar à norma.
“Essa mudança beneficiará o condutor porque o novo equipamento é mais seguro, mais potente e tem custo equivalente ao atual. Lembrando que o extintor pode salvar a sua vida e de sua família”, destaca o Diretor Geral do Detran-MA, André Campos.
Os extintores de incêndio de pó químico tipo BC, que equiparam os carros fabricados até 2004, têm capacidade de combater princípios de incêndios de líquidos inflamáveis e equipamentos elétricos. Já os de carga ABC atuam um pouco além, nos princípios de incêndios de sólidos, papéis, madeiras e tecidos. Somente ele tem a substância necessária para combater incêndios que atinjam, por exemplo, o estofado do veículo.
É interessante ressaltar que 90% dos incêndios se iniciam no compartimento do motor (classes B e C) e passam para o painel, o carpete e o estofamento (classe A).
Vários veículos fabricados a partir de 2004 possuem o extintor do tipo ABC, então, muitos não vão precisar trocar o equipamento. O condutor deve verificar as informações contidas no rótulo do extintor que está no veículo para se certificar da necessidade de trocar ou não o extintor. Ninguém poderá permanecer equipado com o extintor do tipo BC depois de 31 de dezembro de 2014.
“É importante que a população tenha consciência, independente da vistoria anual do veículo, ficar atento às resoluções, se adequar, e periodicamente, observar as condições do extintor de seu veiculo”, lembra a chefe do Setor de Vistoria e Emplacamento do Detran-MA, Lucia Macedo.
Segundo estatísticas do Corpo de Bombeiros do Estado do Maranhão, somente no primeiro semestre deste ano, ocorreram 36 incêndios em veículos, superando todo o ano de 2013, que registrou 22 incêndios.
O subtenente do corpo de Bombeiros Militar do Maranhão, Ferreira, explica que o extintor age no princípio do incêndio, e pode evitar grandes tragédias. “Ele também pode ser utilizado no socorro a outros veículos. O motorista que estiver passando por um veículo com um princípio de incêndio, pode utilizar o seu extintor para ajudar o outro condutor”, enfatizou o subtenente.
O extintor de incêndio é item obrigatório desde 1968. De acordo com o Artigo 105 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), o extintor é de uso obrigatório nos veículos automotores, elétricos, reboque e semi-reboque. A Resolução 157/2004 fixa ainda especificações (quantidade, o tipo e capacidade mínima da carga) dos extintores de incêndio.
Conduzir o veículo sem equipamento obrigatório ou estando este ineficiente ou inoperante é considerada uma infração grave, segundo o artigo 230, do Código de Trânsito Brasileiro. A penalidade gera uma multa de R$ 127,69, mais cinco pontos na CNH do proprietário do veículo, além de uma medida administrativa – retenção do veículo para regularização.
Sinais importantes na identificação do princípio de incêndio:
Fumaça BRANCA e sem cheiro é vapor de água e indica que seu veículo está com problema no radiador.
Fumaça ESCURA e com cheiro forte é princípio de incêndio. Se o fogo está no motor, não abra o capô. Isso facilitaria a entrada de oxigênio (comburente), aumentando o fogo.
Providências ao identificar o princípio de incêndio:
a) Estacione o veículo em local seguro e retire os passageiros.
b) Mantenha a calma: o tanque de combustível normalmente fica bem longe do motor.
c) Retire o extintor do suporte e rompa o lacre para destravar a válvula.
d) Mantenha o extintor na posição vertical.
e) Através de uma pequena abertura no capô do motor, aplique parte do conteúdo do extintor para abafar o fogo.
f) Abra cuidadosamente o capô (lentamente), localize o foco de incêndio e elimine-o por completo.
A VOLTA –EM 2015- DAS MANIFESTAÇÕES DE RUA IMPULSIONADAS PELA CRISE E PELAS REDES SOCIAIS!
1. A crise econômica é um processo cumulativo. As empresas e pessoas primeiro tomam decisões defensivas, reduzindo gastos, antecipando férias, aumentando a rotatividade ao trocar -para a mesma função- um salário maior por outro menor… Esse é um processo que vai se esgotando. A campanha eleitoral criou um colchão em 2014. Entre despesas registradas e não registradas (cabos eleitorais, etc.), estima-se um gasto em todo o país de uns R$ 5 bilhões.
2. Em 2015, tanto pela cumulatividade como pelo colchão de 2014, esse processo estará esgotado. Então começarão as reações que as pesquisas poderão medir em tempo real, por vários indicadores, a começar pela avaliação dos governantes. E dependendo do fôlego de cada governo, atingirão as eleições municipais de 2016 nos grandes centros.
3. Sobre isso vêm os chamados fundamentos macroeconômicos, que serão os alvos da política econômica do “novo” governo Dilma em 2015. Os alvos –claro- serão o déficit fiscal, o déficit externo e a inflação/juros. As medidas tradicionais nesses casos são bem conhecidas. Manter a inflação no topo da meta ajuda o governo, ao manter as receitas automaticamente corrigidas, como o caso dos tributos. E –como se faz sempre para evitar medidas drásticas- se mantém as despesas nominalmente, reduzindo o déficit. Exceção do serviço da dívida.
4. O déficit externo estimulará o câmbio alto, afetando o consumo da classe média e o IGP (aluguéis). A inflação se manterá no nível atual em grande parte do ano, para ajudar a redução do déficit fiscal. E a taxa básica de juros não deverá cair, para continuar atraindo capitais externos e não deixar a inflação passar dos limites da meta. Os governos anteciparão para janeiro o aumento das tarifas de transportes públicos.
5. Em resumo, o desconforto das pessoas será crescente com preços crescendo mais que os salários, com a inadimplência aumentando, com o desemprego avançando, com a aceitação de novos empregos com salários menores… O derrame do Petrolão excitará os protestos antipolíticos, na medida em que os nomes de políticos forem sendo divulgados. Os milhões da corrupção inevitavelmente levarão a uma dedução, exagerada, mas inevitável: o sofrimento que as pessoas passam é produto da corrupção.
6. As redes sociais se agitarão, e o multiplicador delas será explosivo. Estará criado o clima – objetivo (a crise) e subjetivo (a reação das pessoas). A sinergia alcançará temperatura elevada. As manifestações pontuais voltarão e se multiplicarão e terão efeito cumulativo e sinérgico. O ano calendário político começa em março. Com isso, provavelmente, as grandes manifestações estarão nas ruas no final do semestre