ARTIGO – Este país está uma piada. Por Marli Gonçalves

Uma piada de mau gosto, daquelas que a gente ri meio de lado, sem graça, com aquele sorriso amarelo; no fundo, no fundo, está é um desconsolo só, e na verdade só rimos para não chorar muito, porque cada vez mais sério. Já acorda certo de que vai ter a surpresa do dia, e o que é pior quando esta mostra o verdadeiro perfil de parte dos brasileiros, que só quer comida no prato, não importa quem a cozinhe, e nem quer saber dessa tal democracia.

Não é mais o país da piada pronta, mas o daquelas bem batidas, velhacas, que parecem contadas todos os dias em suas versões diferentes. O impasse é total. É pandemia, medo, recessão, paradeira mundial, milhões de infectados, milhares de mortos. Difícil até de acompanhar, e a gente então desiste, desiludido com a raça humana como muitos falam. Passa à etapa do ligar o foderaizer, uma alavanca mental, e querer apenas se salvar, tentando nadar e chegar à margem que ninguém tem ideia em qual distância está; aliás, onde está? Está?

Só isso pode explicar e é até fácil de entender as pesquisas que vêm mostrando neste momento a subida na aprovação do presidente.  Não é coisa para morrer de se preocupar, que ainda tem tempo e essa piada ainda vai longe. É fotografia de registro de momento: aquele dinheirinho do auxílio emergencial está mesmo fazendo a diferença: é como se fosse o oxigênio das máquinas de respiração para os que estão nas UTIs,  só que para quem está fora delas e conseguiu (incluindo os que não deviam nem ter pedido, mas conseguiram). Consciência política? –  Não é hora de ela ser chamada. Pode gritar que ela não vem. Não vai atender nem a porta.

Apontamos em direção deles, acusando: populistas!  Quem trabalha com marketing político sabe que essa palavra tem entendimento bem diferente – um é o que os intelectuais falam, e como entendem; outra é o que o povo mesmo ouve, e entende como coisa boa, positiva, popular. Então, não será por aí o embate.

Vamos ter de continuar rindo da caspa no paletó do ministro da Economia mais perdido que visitantes que entram errado em “comunidades” e saem alvejados. Como quem não tivesse onde atirar, esse senhor baixinho e prepotente se equilibra na corda bamba e quer agora taxar, vejam só, os livros, a cultura, essa que já está muito mais para lá do que para cá, tantas bordoadas tem levado nos últimos tempos. Fortunas, aviõezinhos, mercado de luxo? Não. Pensa ele, talvez: para que os livros, sem educação, sem escolas? – Algo que veremos os efeitos funestos mais adiante.

Aí explode o horror no Líbano. O que fazemos? Um voo da alegria para ajudar. Repararam, viram aquela feliz masculina comitiva embarcando? 13 pessoas. O que é que foram fazer lá? Os libaneses precisam de ajuda, mudanças na política, remédios, comida, decididamente, não precisavam da visita, entre outros, de Michel Temer, Paulo Skaf, amigos, ou do senador Nelson Trad, por exemplo, que tinha tanta coisa para ver aqui, como o tal dossiê que não pode ser aceito sob hipótese alguma. O que ele fez? Trancou o documento no armário e foi viajar, como se não houvesse ontem, hoje ou amanhã.

Aiai, que estou vendo você aí também até já confundindo Bolsonaros, os Filhos do Capitão, Carlos, Flávio, Eduardo. Podiam ser Huguinho, Zezinho, Luizinho. Porque cada um deles, todos, tem uma ficha corrida para explicar, a gente nem sabe mais qual é qual – todos com alguma capivara, como se fala no jargão policial. Chato, chato, assunto chato, só vai melhorar se o tal Queiroz e sua esposa, agora mandados de volta para a cadeia, resolverem, digamos, cantar. Duvido um pouco, porque a pele deles deve arder muito no fogo das milícias que os originam.

Enquanto tudo isso ocorre diante de nós, lá no Espírito Santo uma menininha de dez anos está grávida. Estuprada pelo seu tio desde os seis anos de idade, ela ainda está tendo de se sujeitar que discutam – sim, ainda estão discutindo – seu direito de abortar. Que compaixão é essa?  Onde está a humanidade? Que religião esse povo do poder acha que lhes dá esse direito? Dona Damares, por favor!. Essa criança não pode ser obrigada, nem condições tem, de ter essa outra criança. E, acredite, se algo lhe acontecer de mais mal ainda, porque ela pode não resistir, não serão poucas as pragas que rogaremos contra vocês.

Muito anos de luta para tentar fazer com que esse país fosse considerado e tentando que melhorássemos em pontos essenciais para agora estar assistindo a esse desmonte, esses desrespeitos, os ataques racistas, a continuidade da absurda desconsideração com as mulheres, essa marcha da insanidade contra tudo que nos é tão caro.

O país está uma piada que, quando nos contam, temos é muita vontade de chorar.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

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ARTIGO – A moral alheia e os salvadores cheios de culpas. Por Marli Gonçalves

Tem tanta gente preocupada com a moral dos outros que acabamos tendo de nos preocupar com o que fazem para ter tanto tempo para isso. Será que agora estão desligando a tevê para não ouvirem as detalhadas descrições das denúncias das mulheres contra o médium João de Deus? Ou esse povo vive, se obriga e quer obrigar a outros a viver, em outro mundo, onde não há sexualidade, prazer, liberdade de escolha? Onde se acobertam desmandos?

mulher

É mão nisso, mão naquilo, vira aqui, ejaculação, levantou a blusa, abraçou por trás, “me levou para a salinha”, “foi no colchão no corredor”. Há uma que contou em detalhes até que ele chegou a lhe falar que ficasse tranquila: a ejaculação era santa, o líquido que saia do seu pênis era fluido espiritual, ectoplasma. Em uma semana centenas de mulheres de todo o país – e que previsivelmente aumentará quando começarem a chegar as estrangeiras – já procuraram os investigadores para denunciar o médium João de Deus por estupro e assédio sexual. No noticiário, todos os dias, mostrando o rosto, ou envoltas em sombras, brotam mulheres firmes, com depoimentos lancinantes, detalhados. Espero que os hipócritas assistam a tudo, estarrecidos. Horário nobre.

Muitas choram porque estão tendo de relembrar fatos que viveram há algumas dezenas de anos, muitas quando ainda eram meninas, adolescentes. Porque não falaram antes? – ousam perguntar os que ainda duvidam da culpa do homem João Teixeira de Faria, agora com 76 anos, o John of God, mais um que montou um império baseado na fé na pequena vila de Abadiânia, Goiás, onde atende desde 1976. Adivinhe por causa do que calaram; ou se falaram, porque não foram ouvidas. Santidades vivem acima dos mortais.

Calcula só o número de mulheres que literalmente passaram por suas mãos. Onze filhos reconhecidos, cada um de uma mãe. Outros tantos podem estar por aí – há denúncia, inclusive de uma delas que diz que foi obrigada a abortar; teria tomado um remédio que ele lhe deu dizendo que faria bem quando ela o procurou, grávida, “barriguda”, como descreveu. Para o povo ali é sempre receitada – e vendida – uma fusão de ervas, “passiflora”. Nada mais do que, pasmem, trepadeiras, como a flor do maracujá.

As grandes, muito grandes, personalidades que acabaram por ajudar a fazer sua fama estão em um silêncio cortante. A apresentadora Oprah Winfrey, a mais famosa do mundo, veio até aqui para vê-lo e dele fez e deu mais fama. João de Deus era “assim, ó”, unha e carne com o ex-presidente Lula. Viriam daí inclusive misteriosas negociações de terras, minérios, fazendas, que agora deverão novamente ser vasculhadas. A imprensa sempre lhe deu capas e capas, teceu loas, fotografou-o com as estrelas, filmou suas incisões e cirurgias espirituais. Xuxa, Dilma, Bill Clinton! Hugo Chávez, Shirley McLaine…

Ao mesmo tempo, aliás, a bem da verdade, posso até não ter acompanhado, mas honestamente admito que não lembro de ter sabido de alguém questionando o tratamento espiritual que recebeu do médium incorporado, ou que tenha piorado após consultar-se com ele. Conheço pessoas sérias que vêm ressaltando isso, embora abismadas com as revelações.

O problema é sempre o homem, o real. Assim acontece em outras crenças, devoções, lideranças religiosas de todos os credos. Excelentes comunicadores, hábeis negociantes, constroem impérios com tijolos da crença, que mantêm com financiamentos a pleno vapor. Tudo em nome de Deus, da criação, da Bíblia, das juras, imposição de pecados e culpas, de uma moral para os outros.mulherzinho paia noel

Tudo isso dito para questionar essa movimentação para cima da moral. Capaz de reclamar e blasfemar contra um programa de tevê, de variedades, como o Amor & Sexo, como se ele fosse a encarnação do demônio entrando nos lares e impedindo que as tevês sejam desligadas por quem não quer ver, e que esconde os controles remotos dos lares cristãos. Fernanda Lima, a bela apresentadora, personificando a bruxa má que ensina o óbvio: que existe sexo, nudez, diversas formas de prazer, várias formas de famílias e felicidade.

Enquanto esperamos uma ministra como a pastora Damares Alves, indicada para o Ministério dos Enjeitados (mulheres, minorias, índios, e muitos etcs que acabarão jogados para ela), que garante ter visto Jesus no pé-de-goiaba. Que quer mulheres estupradas obrigadas a ter os filhos ali originados, pretende tratar “os meninos como príncipes e as meninas como princesas”. Ela é contra tudo, sem entender de nada, despreparada na argumentação: contra o aborto, porque diz que a criança na barriga não pertence à mãe; contra educação sexual, porque erotizaria a criança; contra a ciência da reprodução humana porque congela os embriões, contra hábitos da cultura indígena, contra descriminalização das drogas…

Acho que vamos ter mesmo é que pedir a Deus para iluminar essa gente hipócrita, sem ter de esperar tantos anos para que revelem suas verdadeiras faces. Para que possamos logo lhes dar alguns tapas. Dos dois lados. E nos traseiros.

Marli Gonçalves, jornalistaVamos ter de retomar uma certa e antiga palavra de ordem: Pela Liberdade Geral e Irrestrita. Governem o país; não os nossos corpos.

Brasil, fim de ano, vem 2019!

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#ADEHOJE, #ADODIA – A PASTORA DAMARES E O MINISTÉRIO DOS “ENJEITADOS”

#ADEHOJE, #ADODIA – A PASTORA DAMARES E O MINISTÉRIO DOS “ENJEITADOS”

A PASTORA DAMARES ALVES, DA IGREJA DO EVANGELHO QUADRANGULAR, INDICADA PARA MINISTRA DA PASTA DOS “ENJEITADOS”, DAS MINORIAS, DAS “OVELHAS DESGARRADAS”. A GENTE QUER SER OTIMISTA, MAS FICA DIFÍCIL COM ALGUMAS DECISÕES. AGORA O NOVO GOVERNO DO PRESIDENTE ELEITO JAIR BOLSONARO FAZ UMA GELEIA, UM BOLOLÔ GERAL, JOGA TUDO QUE ELE – OU NÃO GOSTA MUITO OU DESCONFIA – PARA UM CANTINHO, PARA DEBAIXO DO TAPETE DA RELIGIÃO. E CRIA O TAL MINISTÉRIO DA MULHER, FAMÍLIA E DIREITOS HUMANOS. PERAÍ, QUE NÃO ACABOU! BOTOU A FUNAI – FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO, RESPONSÁVEL PELAS POLÍTICAS INDIGENISTAS – NO MESMO FORROBODÓ. NÃO SEI NEM COMO NÃO BOTARAM TAMBÉM OS NEGROS. A NOVA MINISTRA A PARTIR DE 1º DE JANEIRO JÁ FALOU A QUE VEIO: CONTRA O ABORTO, NÃO CONSIDERA A QUESTÃO COMO SAÚDE PÚBLICA; DECLAROU QUE “ÍNDIO É GENTE” (!!!), QUE ENTENDE DELES PORQUE ADOTOU UMA CRIANÇA INDÍGENA, ENTRE OUTRAS DECLARAÇÕES DE DEIXAR O CABELO BEM EM PÉ. QUEM JÁ A ACOMPANHA, JÁ OUVIU SEUS DISCURSOS EM PALESTRAS E PÚLPITOS DEVE ESTAR COMO EU: SOBRESSALTADO E EM ESTADO DE ATENÇÃO. ISSO PORQUE AINDA A GENTE ESTÁ VENDO O QUE PENSA SOBRE OS LGBTS.

 

ARTIGO – Ninguém está falando… Por Marli Gonçalves

E precisamos pensar e falar de tantas coisas. Ninguém tem mais tempo nem de falar, nem de ler, nem de ver tudo o que circula, muito menos de ouvir. Quer dizer, ninguém, ninguém, não é bem assim. Tem quem tenha tempo para tudo isso, inclusive para preferir enviar por tudo quanto é canto nas redes sociais vídeos que gastam mais tempo e dados para serem baixados do que para saber do que se trata.

“… O Sol nas bancas de revista. Me enche de alegria e preguiça. Quem lê tanta notícia?“ …Imagine se o Caetano Veloso  profetizava isso lá há 50 anos, em Alegria, Alegria, como tanta coisa mudou até hoje. Nas bancas de jornal, de um tudo, impressionante, cada dia empurrando mais para lá os jornais e revistas. Outro dia vi uma que vende consertos de sapatos. Viraram pequenos mercadinhos nas esquinas da vida. Melhor que lá no Posto Ipiranga.

Aliás, postos que cada vez também são menos frequentados com o preço sideral da gasolina e outros combustíveis na bomba que estoura nos nossos tanques e bolsos. Aumentando o preço e a temperatura de tudo o que consumimos e que, como vimos recentemente, chega no lombo dos caminhões.  Reparou que o abastecimento ainda não está nada normalizado? Que os preços estão siderais?

É muito louco, meio esquizofrênico. Passamos dias e dias tendo overdose de alguns assuntos. De repente eles somem como num passe de mágica. Foram atropelados por outros sem que tivesse sido concluído o anterior. Exemplos, essa história do frete e preços e os coitados sobreviventes do incêndio no prédio do centro de São Paulo, que continuam lá. Talvez você não saiba, estão lá naquela mesma praça, sem banco,  amontoados em barracas, esquecidos, tendo de roubar banheiros químicos de outros lugares para usar, porque o Governo demorou mais de um mês para lembrar desse detalhe.  Uma situação horrorosa, dramática, vergonhosa.

Ah, e a cada dia é maior o número de pessoas vivendo em barracas, nas ruas, canteiros, praças, avenidas, viadutos e buracos (literalmente) que encontram. Ou vestidas com caixas de papelão, sacos de lixo, jogadas pelas ruas como se lixo fossem. Eles não têm representação política, não são de esquerda, não votam, aliás, nem no PT, nem são vistos pelos aparelhados Movimentos sem alguma coisa. São nômades, não invadem, ocupam; mas as ruas. Não são nem gente, parece; e aquelas crianças já têm seu futuro altamente comprometido.

Pronto, chegamos a mais um assunto que nos fez, vejam só, invejar a Argentina essa semana! As proles. Lá, ao menos está havendo a discussão parlamentar sobre a descriminalização do aborto, com possibilidade até de aprovação de uma lei sobre o assunto.  Adianta sentar em cima do assunto? Não!

(Não me venham falar – acusando-os de não usarem- em métodos contraceptivos, informação, bibibibododó. Essas pessoas não têm o que comer. Muitas são analfabetas. Aliás, acaso você aí já precisou comprar remédios populares nas farmácias? Pois é, simples não é. E as pessoas que cito agora não têm nem identidade, literalmente. Muito menos receitas).

Mais um #precisamosfalar. Descriminalização da maconha.  Fechar os olhos? Tampar o nariz?  Só assim para não perceber que a cada dia corre mais livre por conta própria, em todos os lugares, todas as idades, além das pesquisas sérias sobre seu uso em medicina.

Não aguento hipocrisia, nunca aguentei , e é uma das coisas que mais me aborrecem nesse pais. Esse atraso, essa cegueira moral que tentam impingir – ou com leis que não são e nunca serão cumpridas, repressão errada , ou simplesmente esquecendo o assunto- a toda uma sociedade que precisa avançar sob o risco de acontecer o que já vemos se aproximar, o retrocesso.

Não dá para falar aqui de todos os assuntos importantes, os verdadeiros direitos humanos, atropelados nas estradas da vida e, inclusive, na imprensa que, coitada, esmorece, atacada, pobre, manipulada. Até desbancada.

Estamos precisando fazer de novo uma publicação que até hoje tem seu nome marcado na história para ser usado de novo: Realidade.

Precisamos falar sobre isso, sobre ela, a realidade, nua e crua.

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Marli Gonçalves, jornalista – Enquanto isso, a bola está rolando lá longe, quase do outro lado do mundo.

 São Paulo, 2018

marli@brickmann.com.br e marligo@uol.com.br

ARTIGO – Ziquizira Brasilis. Por Marli Gonçalves

 Eles sempre existiram. Mas agora andam saindo das tocas inclusive de dia, atrás de comida para alimentar seus instintos torpes. E a comida deles – infelizmente – é a nossa liberdade, os princípios democráticos, a alegria. Não dá para calar porque a situação esquisita está numa crescente. Homens e mulheres cheios de ódio que parece estão gostando de nos irritar devem ser iluminados urgentemente. Não resistirão se formos firmes. Voltarão para as suas profundezas

Quer chamar atenção? Coloca uma melancia no pescoço! Capaz até de a gente achar engraçadinho porque pelo menos seria inofensivo. Mas não são nada inofensivas e nem brincadeiras as ações que temos presenciado espocar aqui e ali e que têm aumentado a frequência de uma forma preocupante. Do que vivem? Como conseguem dormir? Quem lhes deu tamanha ignorância e tanta ousadia? Onde estão os criadouros que os fermentam?

Tenho muito ouvido falar que é culpa da internet, das redes sociais que dá voz aos idiotas. Verdade. Dá mesmo. Mas encafifei que acabamos generalizando muito e o que é essencial nos escapa. O que temos de fazer é buscar os ninhos, os ovos de serpente chocados. Tipo localizar quem é a abelha rainha, a formiga mãe, o macho dominante. Quem é o enrustido problemático, o mentecapto cafajeste, o religioso doente, a mente do Mal. Nesses ninhos reside o mal que alimenta os boquirrotos, que comem as minhocas que lhe são servidas e as regurgitam nas redes. Esses são bem reais, orgulham-se de seus pensamentos e ações torpes, adoram dar entrevistas, aparecer na foto – e sempre com suas segundas intenções, acreditem.

Vergonha. Quantas vezes esses últimos dias li amigos meus falando que estavam com vergonha por conta de acontecimentos armados por essa gente nefasta. Vergonha! Vergonha do Brasil. De ser brasileiro, do papelão. Pior é realmente ruborizar e querer morrer diante das insanidades. A filósofa perseguida como bruxa, queimada como boneca, escorraçada no aeroporto. O cantor com cabelinhos de caracol, símbolo de uma era e da qualidade de nossas criações, achincalhado, tachado e #hashtagueado como pedófilo. Uns deputados obscuros e obscurantistas querendo levar à força um artista para depor lá no picadeiro deles – coitado, já pensaram você ser obrigado a ficar lá ouvindo e sendo agredido por aqueles “pelasaco”? Pelasacos são muito chatos. Os nossos, então, ainda por cima são muito burros.

Que dizer dos que, além de não nos deixarem andar para frente, com as mulheres decidindo o que fazer com seus corpos e úteros, quererem proibir o aborto das meninas e mulheres estupradas? Só pode ser gente muito ruim e sem sensibilidade para também querer ver nascer uma criança sem cérebro.

A coisa não pararia aí nos últimos dias. Houve o ápice. O absurdo da divulgação de um vídeo de um ano atrás no qual o mais do que conceituado jornalista William Waack aparece – fora do ar – resmungando e dizendo uma frase, sim, de cunho racista. Mas que é manjada até. E de maneira alguma isso querendo dizer que ele, William, seja racista, até por ser  impossível – uma vez que vem de uma família de ascendência de negros; mas nunca fez disso pilar. Pois bem. William Waack foi decepado, decapitado, dissecado e, pior, demitido, desconsiderado. E claro com um monte de gente (até uns bem admiráveis) aplaudindo seu linchamento público em prol de seus ideais supostos politicamente corretos – ah, como eles são corretos! Só eles são os bons, os puros. Pior ainda descobrir a origem, que isso foi arte de dois jovens cheios de dreads, blablabá, piriri pororó! Justiceiros… Dá até palpitação. Pavor.

Mas devemos ter pisado muito no pescoço do padre e estamos pagando por isso. Para finalizar o coreto apareceu o conhecido designer austríaco Hans Donner querendo, sim, falando sério, com gente aplaudindo, mudar a bandeira do Brasil. Legal, né? Querendo acrescer a palavra amor. Ficaria Amor, Ordem e Progresso na tira, no arco central que mudaria a posição para ascendente, ao contrário da forma atual. O verde seria degradê. O amarelo. Digamos que é uma coisa super simples de ser desenhada, reproduzida… Degradê. Degradê! Um veeeeerde… Amareeeelo. Não é genial? As estrelinhas ficariam ali mesmo onde estão.

Vocês também não gostariam de dar um golinho nessa bebida que ele sorve?

Que o Brasil está precisando de Amor, não há dúvida. Que as bandeiras brancas hasteadas que já deveríamos estar fazendo tremular nas ruas deveriam trazer amor estampado, não há dúvida.

As coisas estão tão esquisitas que só pode estar havendo uma epidemia de ziquizira. Ziquizira Brasilis, suco de nossas jabuticabas.

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Marli Gonçalves, jornalistaMais amor, por favor. Mas na real, para ser a bandeira de todos.

 Brasilzão, e ainda tem o Aécio querendo cantar de galo!

 

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Sensacional, sensacional. Artigo de Cora Ronai hoje, em O GLOBO. Sobre o aborto

FEMINISTAS SIM, PRECISAMOS FALAR SOBRE ISSO.

Sobre o aborto

Por CORA RONAI

A epidemia de zika e o aumento explosivo do número de casos de microcefalia puseram na ordem do dia o debate sobre a descriminalização do aborto. Da escuridão, às vezes, nasce a luz: tenho a impressão de que, em menos de um mês, foram publicados mais artigos e entrevistas sobre o assunto do que nos dez anos anteriores. Amaldiçoado com uma das classes políticas mais cínicas e calhordas do mundo, que foge de qualquer tema que possa desagradar aos religiosos, o Brasil está se devendo essa discussão há tempos — mas a simples menção da palavra “aborto” basta para que os nossos legisladores, salvo raras e heroicas exc

gravida anda

eções, virem para o lado e façam cara de paisagem. Pouco importam, para eles, as vítimas da sua covardia. Quem sabe agora, diante do desastre e da gritaria, tomem vergonha e tenência.

Interromper uma gravidez — em qualquer situação — é prerrogativa da mulher. A maioria dos países do Primeiro Mundo, aqueles que melhor resolveram as suas desigualdades econômicas e sociais, já reconheceram isso. O aborto é legal, sem restrições, em toda a América do Norte, na Europa (com as significativas exceções da Polônia e da Irlanda), na Austrália e numa boa parte da Ásia, para não falar em países que nem são tão desenvolvidos assim, mas que têm feito um esforço nesse sentido, como nosso vizinho Uruguai ou a África do Sul. Em outros, como Índia, Japão ou Islândia, foram estabelecidos limites de tempo para a interrupção da gravidez, mas mesmo esses limites podem ser flexibilizados em casos de doença grave da mãe ou do feto, ou circunstâncias socioeconômicas adversas. Eles entendem que a maternidade é um compromisso para a vida inteira, e que um aborto é muito menos traumático, individual e coletivamente, do que uma criança indesejada.

O Brasil, porém, está alinhado com o Afeganistão, a Somália, a Líbia, o Sudão, o Mali, o Burundi, o Iêmen ou o Haiti, países onde a vida humana, caracteristicamente, vale muito pouco. Até Paquistão e Arábia Saudita, que tratam as suas mulheres feito lixo, têm leis melhores do que as nossas, para não falar numa quantidade de países da África subsaariana, como Zâmbia, Namíbia ou Quênia.gravidinha

Um excelente mapa interativo do Center for Reproductive Rights mostra a legislação sobre o aborto no mundo. Ele pode ser visto em goo.gl/340WF.

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Digo que o Brasil precisa discutir o aborto, mas eu mesma, pessoalmente, não tenho mais ânimo para isso. Sei que existem pessoas boas genuinamente angustiadas com a sorte dos fetos alheios, para além de dogmas religiosos e falsos moralismos, mas essas pessoas têm sido minoria nas discussões acaloradas da internet.

Nessas discussões, as pessoas que mais se dizem horrorizadas com as mortes de fetos — chamando-os de “crianças” para maior efeito dramático, fingindo desconhecer o fato de que “crianças”, ao contrário de embriões, conseguem sobreviver fora do corpo da mãe — são estranhamente insensíveis às mortes das mulheres obrigadas a abortar em condições sub-humanas. Para elas, a vida, tão preciosa dentro do útero, deixa de ter valor do lado de fora.

gravidaDefendem a inviolabilidade da vida, e sustentam que a legislação brasileira, retrógrada ao extremo, basta para qualquer mulher; não veem contradição nenhuma em defender o aborto em casos de estupro e em gritar que toda vida é sagrada. Mas, se é, que diferença há entre os fetos gerados por estupro e os fetos gerados por amor? As “crianças” não são todas iguais?

Hipocrisia é o nome do jogo.

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Defender a criminalização do aborto é fechar os olhos para o fato de que quase um milhão de abortos são realizados anualmente no Brasil, com cerca de 200 mil internações decorrentes de procedimentos mal feitos; é ignorar as estatísticas mundiais que mostram que o número de abortos se mantém estável quando a legislação muda a favor da mulher; é contribuir para a desigualdade social, porque mulheres ricas continuarão fazendo aborto sempre que necessário.

Mas defender a criminalização do aborto é, acima de tudo, um ato de inacreditável soberba, que põe todos os “juízes” acima da mulher que optou por interromper a gravidez. Ora, fazer aborto não é uma decisão fácil ou leviana; nenhuma mulher faz aborto por esporte. Qualquer uma que chega a essa decisão já pensou muito, e já pesou, dentro da sua capacidade, os prós e contras da questão — mas os senhores e senhoras que a condenam acham que conhecem melhor as suas condições e os seus sentimentos do que ela mesma, e se acreditam no direito de castigá-la.

Quem pede a legalização do aborto não pede a ninguém que aborte ou seja “a favor do aborto”; pede apenas que seja dado às mulheres o direito de decidirem o seu futuro por si mesmas, sem correr riscos de saúde desnecessários, e sem que estado ou igreja se metam onde não são chamados.gravidez de reprodução assistida? assistidíssima

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Este assunto me tira do sério muito mais do que qualquer outro (ou, vá lá, quase qualquer outro) porque nele vejo, além da hipocrisia, muita maldade, falta de compaixão e todo o tipo de chicana moral e religiosa para continuar mantendo as mulheres na posição de submissão em que foram mantidas ao longo dos séculos.

A verdade é simples: a criminalização do aborto é um crime contra a mulher.

(O Globo, Segundo Caderno, 4.2.2016)

Inevitável: debate sobre aborto no caso de zika . Aliás, o debate é inevitável

FONTE: AGÊNCIA PATRÍCIA GALVÃO

gravidez de reprodução assistida? assistidíssimaGRAVIDA “O zika torna inevitável o debate sobre o aborto”, afirma Suzanne Serruya, da OMS

(Época, 30/01/2016) A médica brasileira se tornou chefe global da área de microcefalia na OMS. Ela alerta que mesmo algumas crianças sem microcefalia terão de ser monitoradas pelos pediatras e as famílias, por causa da difusão do zika

A médica obstetra brasileira Suzanne Serruya diz não ter tido Natal nem Ano Novo. Nos feriados, ela se preparava para buscar algumas respostas sobre o vírus zika que ninguém tem ainda. Em janeiro, ela foi nomeada chefe da área de microcefalia criada em esquema de urgência na Organização Mundial da Saúde (OMS). Já era diretora do Centro Latino-Americano de Saúde Materno Infantil da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), braço pan-americano da OMS. Agora, com a nova atribuição, Suzanne usará seus 30 anos de experiência na área para tentar fomentar, entre governos e órgãos multinacionais, as pesquisas e políticas públicas adequadas no combate ao zika e na compreensão de sua relação (ainda incerta) com a microcefalia.

ÉPOCA – Uma questão inevitável diante do surto de microcefalia é o aborto. No Brasil, o aborto é permitido em alguns poucos casos. Em casos de infecção pelo zika, deveria ser permitido legalmente?
Suzanne Serruya –
Os casos de zika vão pressionar o debate sobre os direitos reprodutivos. A interrupção da gravidez, em qualquer situação, é uma decisão da mulher. A mulher sem acesso ao aborto legal, independente da situação econômica, pode optar pelo aborto clandestino. Quem está na ponta mais pobre do sistema estará exposta a abortos inseguros, sim. Enfrentar a discussão do aborto é inevitável, com tudo que ela traz.  A gente precisa separar a religião das decisões políticas. Estados não laicos são extremamente desfavoráveis à mulher. A interrupção da gestação é uma questão de saúde pública, envolve morte materna. Espero que todos os países possam entrar nessa discussão e chegar à melhor decisão pensando na mulher.

ÉPOCA – Não temos respostas de como o vírus se comporta no organismo. Os números têm mostrado uma associação entre o zika e a microcefalia. O que as mulheres têm de saber?
Suzanne –
 Temos poucas respostas sobre o zika. Segundo os primeiros resultados de pesquisas, os fetos das mulheres que tiveram zika no primeiro quadrimestre da gestação, até 16 semanas, têm mais chances de desenvolver mais complicações. Isso não quer dizer que em outro período da gravidez o risco seja menor ou inexista. Alguns médicos brasileiros encontraram calcificações no cérebro de algumas crianças sem microcefalia. Essas calcificações são importantes, porque podem levar a alterações neurológicas no futuro. É importante que a família e o pediatra da criança estejam atentos, porque a gente vai aprender acompanhando o crescimento das crianças. Estamos todos atrás de respostas. Por isso, estamos pedindo que as mulheres grávidas ou que desejam engravidar se protejam vestindo roupas longas, usando repelentes, dormindo com coberta e, como todo mundo, eliminando os focos de proliferação do mosquito. É tudo o que pode ser feito agora.

ÉPOCA – Alguns países, como El Salvador, pediram às mulheres que não engravidem até 2018. O Brasil não adotou essa postura. Qual é a avaliação da senhora?
Suzanne –
Essa decisão tem de ser da mulher, e isso está garantindo em todos os marcos legais dos direitos sexuais e reprodutivos dos quais os países da região são signatários. Recomendamos que ela esteja bem informada e que tenha acesso a um excelente serviço de planejamento familiar e controle de pré-natal.

ÉPOCA – A microcefalia, como qualquer outra má-formação ou síndrome no bebê, tem grande impacto na vida do casal. Há casos de bebês com microcefalia deixados nos hospitais, e as mulheres vêm sendo culpadas. Como lidar com esses casos?
Suzanne –
É fundamental falar sobre isso. Não culpabilizam a mulher. A mulher não fica grávida sozinha e, por vezes, é abandonada durante a gestação. Vamos pensar numa situação extrema. Uma jovem que engravidou sem planejamento e tem um filho com deficiência que necessitará de cuidados especiais durante toda a vida. A sociedade tem de ajudar essa mulher, e ela precisa de apoio para ter suas decisões respeitadas.

ÉPOCA – O ministro da Saúde, em um discurso desastroso, disse que o Brasil perdeu a batalha contra o Aedes. Mas parece quem nem lutamos essa batalha. O país convive com surtos de dengue há 30 anos. Como a senhora avalia a declaração do ministro?
Suzanne – Prefiro não avaliar a declaração do ministro, mas a batalha que vamos enfrentar. Estamos diante de um problema com uma repercussão muito grande. E se problema não é de um ou de outro governo, é da sociedade. Nenhum governo vai conseguir combater o mosquito sozinho. É importante que todos nós sejamos solidários. Toda crise é uma grande oportunidade.  Espero que a gente possa enfrentar essa crise e ter melhores respostas não só sobre o zika, mas também sobre o chikungunya, o combate eficiente ao Aedes, os direitos reprodutivos das mulheres. Vamos trabalhar para vencer. Não vamos ser derrotados por um mosquito ou por um vírus, por favor. A gente já venceu coisas mais importantes.

Thais Lazzeri 

Acesse no site de origem: “O zika torna inevitável o debate sobre o aborto”, diz Suzanne Serruya, da OMS (Época, 30/01/2016)

 

STF pode analisar direito ao aborto em casos de microcefalia. Mulher precisa ter o direito de decidir.

gravida andaUFA!

QUE O ASSUNTO FINALMENTE ESTÁ SENDO DISCUTIDO!

(NÃO, NÃO SERÁ OBRIGATÓRIO. MAS A MULHER TEM DE TER O DIREITO DE DECIDIR)

————-

FONTE: AGÊNCIA PATRICIA GALVÃO

Grupo prepara ação no STF por aborto em casos de microcefalia
(BBC Brasil, 28/01/2016)

gravidona

Debora Diniz afirma que interrupção de gestações seria parte de uma ação maior focada ‘na garantia de direitos das mulheres’

O grupo de advogados, acadêmicos e ativistas que articulou a discussão sobre aborto de fetos anencéfalos no Supremo Tribunal Federal, acatada em 2012, prepara uma ação similar para pedir à Suprema Corte o direito ao aborto em gestações de bebês com microcefalia.

À frente da ação, que deve ser entregue aos ministros em até dois meses, está a antropóloga Debora Diniz, do instituto de bioética Anis, que recebeu a BBC Brasil em seu escritório em Brasília. “Somos uma organização que já fez isso antes. E conseguiu. Estamos plenamente inspiradas para repetir, sabendo que vamos enfrentar todas as dificuldades judiciais e burocráticas que enfrentamos da primeira vez.”

Ela se refere à lentidão do processo – o pedido de avaliação dos abortos para fetos anencéfalos foi feito pela Anis em 2004 e aceito pelos ministros, por 8 votos a 2, em 2012. Mas também às barreiras morais e religiosas levantadas por grupos organizados, igrejas e parte da população.

“Em 2004 não havia uma epidemia nem havia um vetor (como o mosquito Aedes aegypti). Agora ambos existem e isso torna a necessidade de providências mais urgente”, diz.
“Por outro lado, na anencefalia os bebês não nascem vivos e assim escapávamos de um debate moral. Hoje, sabemos que a microcefalia típica é um mal incurável, irreversível, mas o bebê sobrevive (na maioria dos casos)”, afirma. “Portanto trata-se do aborto propriamente dito e isso enfrenta resistência.”

Em entrevista exclusiva à BBC Brasil e ao programa Newsnight, da BBC, Diniz diz que a interrupção de gestações é só um dos pontos de uma ação maior, focada na “garantia de direitos das mulheres, principalmente na saúde”.

Na argumentação que apresentará ao STF, o Estado é apresentado como “responsável pela epidemia de zika”, por não ter erradicado o mosquito. Nesse caso, constitucionalmente, as mulheres não poderiam ser “penalizadas pelas consequências de políticas públicas falhas”, entre elas a microcefalia. Portanto, “deveriam ter direito à escolha do aborto legal”, entre outras iniciativas.

Atualmente, a legislação brasileira só permite o aborto em casos de estupro, risco de vida da mulher e quando o feto é anencéfalo. Segundo pesquisa Datafolha divulgada em dezembro do ano passado, 67% dos brasileiros são favoráveis à manutenção da lei. Outros 16% acreditam que o aborto deve ser permitido em outros casos e 11% acreditam que a prática deveria deixar de ser crime em qualquer ocasião.

Argumentos

Os principais eixos do documento que está sendo preparado, segundo a BBC Brasil apurou, cobram ações de vigilância sanitária para erradicar definitivamente o mosquito, políticas públicas de direitos sexuais e reprodutivos para mulheres (contraceptivos, pré-natal frequente e aborto) e ações que garantam a inclusão social de crianças com deficiência ou má-formação por conta da doença.

A microcefalia impede o crescimento normal do crânio durante a gravidez e há 3.448 casos suspeitos sob investigação pelo Ministério da Saúde no Brasil. A doença vem sendo associada ao zika vírus, que já se espalha por mais de 20 países nas Américas.

“Nós vivemos uma situação de epidemia e não podemos ter um ministro que diz ‘nós perdemos a guerra contra o mosquito’ (em referência a declaração do ministro da Saúde, Marcelo Castro). Não, a guerra tem que ser ganha. Essa responsabilidade não é da mulher. Isso é negligência do Estado e gera uma responsabilidade do Estado”, afirma Diniz, também professora na Faculdade de Direito da Universidade de Brasília.

O documento que está sendo preparado deve argumentar que a ilegalidade do aborto e a falta de políticas de erradicação do Aedes ferem a Constituição Federal em dois pontos: direito à saúde e direito à seguridade social.

A argumentação deve ainda destacar a vulnerabilidade específica de mulheres pobres – já que a epidemia ainda se concentra em áreas carentes do país, especialmente no Nordeste.
“É preciso garantir a todas as mulheres, e não só às que têm acesso a serviços de saúde ou podem pagar um aborto ilegal”, diz Debora. “Autorizar o aborto não é levar as mulheres a fazê-lo. Quem tem dinheiro e quer já faz. Justamente quem tem mais necessidade não pode ser privado do direito de escolher sobre a própria vida”, afirma.

Anencefalia
Em 2004, o grupo de Diniz ingressou no STF como uma arguição de descumprimento de preceito fundamental para discutir no Supremo o que via como violações à Constituição pela não autorização do aborto em caso de fetos anencéfalos.

Oito anos depois, a corte determinou que nem mulheres, nem profissionais que realizam abortos nessa condição podem ser punidos. Essa foi a primeira vez na história em que o STF tomou decisão sobre saúde e direitos reprodutivos.

gravidinha

Ricardo Senra
Enviado especial da BBC Brasil a Brasília

 

ARTIGO – Ráshitágui AgoraÉQueSomosTodosNós. Por Marli Gonçalves

giphyAcabou uma semana rashitagueana, pelo menos como estava previsto na campanha #AgoraÉQueSãoElas, na qual colunistas homens cederam seus espaços nos jornais a mulheres para que elas se expressassem nas mais diversas áreas de conhecimento. E agora? Será que daqui a uns dois anos alguém vai lembrar de novo da desigualdade e dar o quê? Eu terei 137 anos quando nós, mulheres, teremos igualdade de oportunidade, segundo mais um desses estudos malucos

Valeu. Interessante. Palmas para todos os participantes. Mais palmas. E vaias, muitas vaias para o Deputado Eduardo Cunha, seu Projeto de Lei ridículo e toda a penca de deputados sórdidos que pretendam votar a seu favor. Homens, claro; todos muito religiosos, ciosos da moral e dos costumes. Vamos jogar uma praga boa neles se fizerem isso, daquelas que não haverá remédio azul que resolva. Se houver mulheres que aceitem essa Lei, rogaremos fortes pedidos para que quebrem suas unhas, desfiem sua meias, que a calcinha dê aquela entradinha e elas não possam puxar. Não é sexo e vaidade, não é liberdade com o corpo o que querem acabar?

Claro que já ouvi exageros como o de que começou a “primavera feminista”, uma vez que grupos de mulheres têm se posto mais decididas e nas ruas e que finalmente o tema aborto, sua legalização e ou descriminalização está na pauta. É tanta sede que a gente corre ao pote ao menor sinal. O deputado dos olhos perversos e desculpas péssimas acendeu o pavio. Mas falta muito para que seja primavera, embora muitas mártires já tenham sido sacrificadas.

Não foi só essa ráchitágui – eu sei que escreve hashtag, mas abrasileirei – que se espalhou nos últimos dias; essa foi só a mais intelectual, palatável aos grandes senhores. Teve a #MeuPrimeiroAssedio que acendeu a memória de milhares de mulheres sobre episódios de nossa meninice brejeira natural que sempre teve algum abusado por perto. Li muitas histórias, algumas até me lembraram como foi a minha própria vez; é uma vez que marca a memória como ferro em brasa, com seus sons, cores e cheiros que voltam durante toda a vida. Ótimo ouvir a expressão, a expulsão desse demônio. Teve ainda a #ChegaDeFiuFiu, em prol de mais respeito com as mulheres nos espaços públicos.

Ando feliz demais vendo na boca-do-povo a questão da libertação feminina pela qual me bato há tantas décadas. Feminista, ainda sinto que há um peso na palavra, mas pouco importa isso agora. Mulheres estão se dando as mãos novamente e saindo em busca de seus direitos e de sua dignidade. Vamos apitar publicamente contra o assédio sexual no transporte, no trabalho, contra a violência doméstica e a falta de amparo na saúde.

Hashgat-GiffTalvez consigamos avançar mais alguns passos e que eles sejam largos e fortes o suficiente para chutarmos para bem longe o retrocesso, o atraso e o convervadorismo. Nós, mulheres, sabemos cruzar as pernas, mas também sabemos bem como nos defender com elas.

Vamos tentar fazer tudo sem isolamento, sem divisão, para que seja ainda mais completa a faxina e a reforma que buscamos.

#AgoraSomosTodosNós. #ForaCunha. E fora todos esses e essas que deixaram esses piolhos se criarem em nosso solo.

São Paulo. 2015

 ⇒MARLI GONÇALVES, JORNALISTA – Por mais colunistas mulheres na mídia.

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ARTIGO – E nós? Nós, os mortais afetados. Por Marli Gonçalves

people_jobs_e0As nossas coisas, as que nos dizem respeito direto, a melhoria, o desenvolvimento, o andamento das questões comportamentais e sociais, os projetos – até quando vamos ficar esperando a decisão que essa infernal política mequetrefe está diariamente nos impondo, envergonhando? Com que forças podemos gritar, tal como He-Mans, para salvar nossa Etérnia?- “Pelos Poderes do Brasil!”

Nunca tivemos um Congresso Nacional tão ordinário. Nunca, e olha que não sou eu que estou afirmando, mas muitas das maiores cabeças pensantes – sim, temos muitas, por aí, isoladas, vozes no deserto – do país. Pessoas da maior qualidade em suas áreas, de esquerda-direita-centro-alto-baixo-norte-sul-leste- oeste. Nunca tivemos um Governo democrático eleito, lindo, mas tão incapaz. Nunca tivemos um Judiciário tão dividido, discutível. E, se imprensa um dia foi chamada de Quarto Poder, agora está abaixo do rabicó da cobra, submetida. Submetida.

Embora possa parecer contraditório chamar de pensantes algumas dessas mentes que continuam ainda apoiando o Governo como um todo, há também de se compreender alguns de seus motivos. O principal, a preocupação com a segurança institucional. Mas, no geral, podem dizer o que for, não há mais como defender o atual estado das coisas. Já transbordam das quatro paredes opiniões bem claras sobre o patetismo do petismo, o trapalhonismo, o cabeça-durismo da senhora governante e seus amiguinhos, também conhecidos por total falta de capacidade política e aptidão para governar.boundandgaggedanimated

O impasse está criado. Cada dia o buraco fica mais fundo. Pergunto aqui e ali, transitando entre estes dois mundos, os a favor e os contra. Ninguém me dá uma resposta objetiva. Uns não aceitam impeachment nem renúncia, nem querem ouvir falar, mas também não nos respondem onde encontrar a luz. Outros se juntam ao que há de mais malévolo, ou se fingem de mortos, ou apenas tentam se safar de seus próprios erros pulando de lagoa em lagoa, coaxando.

Enquanto isso parece que tudo que nos é mesmo importante – de nossas vidas, dia a dia, padrões, pode esperar – e não pode. A velha questão do País do Futuro que nunca chega. Agora com mais uma novidade: o tal sigilo carimbado. Estão querendo trancar por anos e anos as informações que nos são de direito. Transparência só na roupa das meninas, nada de transparência nos atos. Não importa se podemos ficar sem água, se a violência se espalha, se agora é hora da tecnologia nos servir, voltamos à idade da pedra. Pagamos e não recebemos, e nem sabemos porque pagamos, mas querem nos sugar ainda mais. As melhorias propostas pioram, subtraem, inacreditável. De troco, decretos, decisões revogáveis de acordo com a cara que acordam, olham no espelho, furam os balões de ensaio que empinam, estocando vento. Não temos para onde olhar. Um atrás do outro, fazendo cada uma pior que a outra.

Desenvolvimento de pesquisas? Células tronco? Legalização ou descriminalização? Discussão sobre o aborto? Estado laico? Novo código penal? Verdadeira justiça social? Ficaria algum tempo enumerando questões que, enquanto vemos passar o lodaçal, de roubos à luz do dia, de arroubos administrativos e de arrobas boiando nas redes sociais, estão sendo postas na fila de espera.!image001

O problema é que nem começaram a distribuir as senhas. Não há mais cadeiras para sentarmos para esperar. Palavras demenageur012cruzadas já não nos distraem mais.

Começar de novo. Por onde? Por uma nova Assembleia Nacional Constituinte, talvez. Mas como apagar tudo que está aí? Não dá nem para falar em passar um branquinho corretor – vão me acusar de racista. Porque nessa hora, na hora de melhorar, de partir para cima, sempre aparece um montinho de politicamente corretos, que corretos não são politicamente agindo.

people1São Paulo, passando da hora de enfeitarmos nossas janelas, portas e frestas com verde e amarelo, claramente, 2015

  • MARLI GONÇALVES, JORNALISTA – Sem poderes, pasma com os poderosos.

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Observação interessante. Da Coluna Radar, Veja online. Sobre o aborto e a opinião que pode mostrar a realidade

Como o aborto pode se tornar legal

Lady Justice

Um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) não esconde dos colegas que se lhe cair nas mãos um processo qualquer  contra uma mulher acusada do crime de aborto, ele vai se recusar a a puni-la, mesmo que não se trate de caso terapêutico ou resultante de estupro.

Uma decisão dessas, tomada por um ministro do STF, tem força para abrir uma discussão definitiva na corte constitucional, que pode vir redundar na legalização do aborto.

O ministro não acredita que, em caso de legalização, os pronto-socorros do SUS vão ficar mais sobrecarregados do que já estão. Diz ele: “As complicações médicas advindas do aborto ilegal levam muitas mulheres a procurar o SUS, mas isso não aparece nas estatísticas”.

Da redação

Que delícia o jingle do Eduardo Jorge! Se continuar igual ontem, essa pasmaceira, dá até vontade!

QUEREMOS CANDIDATOS QUE FALEM DE GENTE, DA GENTE, DO QUE NOS INTERESSA DIARIAMENTE!
ESSE AQUI É O ÚNICO QUE ESTÁ TRAZENDO OS TEMAS DE CAMPANHA MAIS SENSÍVEIS – ABORTO, DROGAS, CASAMENTO GAY, MOBILIDADE URBANA…

marihuan

Não podemos deixar esse cara se mexer. Pode chamar de bicho escroto esse pastor Marco (IN)Feliciano? Ele depõe contra a sua própria religião

afrique-06Deputado quer deter casamento gay e aborto de anencéfalos

Feliciano tem projetos para reverter decisões do Supremo e diz que papel de deputado é ‘extensão’ da atividade como pastor

BRUNO BOGHOSSIAN – O Estado de S.Paulo

Em seus dois primeiros anos de mandato, o pastor Marco Feliciano (PSC-SP) apresentou projetos que tentam suspender a união civil de pessoas do mesmo sexo e a legalidade do aborto de anencéfalos – autorizados pelo Supremo Tribunal Federal.

Feliciano tentou barrar a aplicação das decisões da Corte sob a alegação de que o tema só poderia ser tratado pelo Congresso.

No texto em que questiona a união civil de homossexuais, o deputado afirma que a autorização dada pelo STF foi um “golpe”. Ele evita usar a expressão “casais” – usa a expressão “duplas homossexuais”.

“A menos que se reformasse a Constituição, os militantes homossexualistas jamais poderiam pretender o reconhecimento da união estável entre dois homossexuais. Isso é o que diz a lógica e o bom senso”, escreveu.

Feliciano costuma citar versículos da Bíblia nos projetos que apresenta. Sua ação legislativa é marcada por propostas de interesse da bancada evangélica.

Em discurso em plenário, em outubro do ano passado, pediu que os deputados religiosos lutassem contra projetos e decisões que autorizassem o aborto e o casamento gay.

“Como pastor evangélico, encaro o mandato político como extensão do meu ministério, cuja responsabilidade maior é dignificar o nome de Jesus Cristo”, disse. “A lei de Deus é só uma e vale para todos. Deus ama a todos, mas abomina o pecado.”

O deputado é autor de um projeto que obriga a Casa da Moeda a inscrever a expressão “Deus seja louvado” nas cédulas de real e de outro que cria o Programa Nacional Papai do Céu na Escola.

“Precisamos resgatar o ensino religioso em nosso País de maneira sábia, simples, coerente e contínua. Queremos ver os filhos desta Nação olhando para a imensidão do cosmos e dizendo: Há um papai do céu que cuida de nós!”, escreveu.

Feliciano também propõe a internação de “estupradores contumazes”, com possibilidade de castração química.

Artigo -‘Se Deus não existe, tudo é permitido’, por Maria Helena Rubinato

artigo IMPERDÍVEL – publicado no blog do Ricardo Noblat

Não deixe de ler diariamente, toda hora, e de novo, o blog da Maria Helena, no http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/

 Nós passamos mais da metade da campanha eleitoral debatendo um tema da maior importância, mas pelo viés errado. O aborto. Quase como se fossemos noviços em um convento sendo doutrinados sobre o que é ou não é santificado.

O que se esconde por trás dessa situação limite para qualquer mulher, isso passou ao largo porque para os políticos é mais fácil ficar no terreno espiritual do que no material.

Simone de Beauvoir, a respeito do forte pensamento de Dostoievski que abre este artigo, disse que se Deus não existe, isso não significa, como pensa o homem moderno, que tudo é permitido. Ao contrário, disse ela, sem um poder exterior, tudo é de nossa inteira responsabilidade: um deus pode perdoar, apagar, remir, mas se Deus não existe, nossos erros são inexpiáveis.

Crer ou não crer é problema muito íntimo e pessoal e não cabe a ninguém entrar nessa seara. Respeitar a fé alheia é o que se espera de cada um de nós e naturalmente, na mesma medida, das autoridades constituídas. Uma das grandes vitórias da Revolução Francesa – e olha que não foram poucas as vitórias daquele movimento – foi o estabelecimento do laicismo como política de Estado.

Fugir de tema tão espinhoso como sendo problema espiritual das mulheres é que não dá… Francamente, aí entramos no terreno do desrespeito ao eleitor. O que precisava ser debatido, a sério e a fundo, a Saúde Pública e o Planejamento Familiar, ficaram soterrados sobre quem está certo,  quem está errado.

Quer dizer, não foi tema debatido visando esclarecer o eleitor sobre quais os projetos deste ou daquele partido político; foi tema usado para agredir, xingar, caluniar, desrespeitar o outro. Uma vergonha.

Alguns hão de pensar: e daí? Falar nisso hoje, a menos de 48 horas do encontro com a urna? É. Pode ser que já esteja um pouco tarde, mas ainda tenho esperança que o eleitor pare e pense: o que é que eu quero para mim e os meus? Não precisa falar em voz alta. Pode pensar com os seus botões ou laçarotes: mas, por favor, pense bem.

Alguns analistas dizem, e eu creio nisso, que muitas pessoas ainda não estão com o voto definido, o que só será feito quase que diante da urna. Não sei se é coincidência, mas o fato é que conheço bastante eleitores nessa situação.

Aliás, uma coisa muito estranha ocorreu nesta campanha: o eleitor mais consciente, mais informado, mais atento ao noticiário e que mais se interessou pela campanha, é o que está mais confuso.

Claro está que não me refiro aos que saíram dos 20 anos marcados a ferro e fogo: esses não mudam de ideia nunca. Entra ano, sai ano, o mundo se modifica de forma espantosa e lá está ele, com o mesmo pensamento de 50 anos atrás.

Não pensem que me refiro aqui a algum partido especial. Não é nada disso. É mais aquele cidadão que tinha 20 anos nas décadas de 60/70 – esse parece que empedrou. Não muda. Se é de direita, acha que comunista come criancinha no alho e óleo, que os ateus são monstros e que ler Karl Marx é atraso de vida; se é de esquerda, hoje é um burguês refinado, cheio de criados a quem paga mal e explora diuturnamente, mas é contra o capitalismo e bate no peito a favor das políticas sociais. Desde que não sejam praticadas em sua casa…

Agora, nestas últimas horas, surgem dois movimentos um tanto ou quanto assustadores: um sentimento de revolta contra Bento XVI pelo único fato dele ter cumprido com a obrigação de qualquer líder religioso, orientar seus fiéis. Não vejo a mesma revolta quando os bispos da IURD falam… e esses são bem falantes!

É ou não é tragicômico? Passaram os últimos meses exibindo e gritando sua fé – agora que um pastor de milhões de almas falou, caem em cima dele. Sinceramente, não dá para entender.

Esquecidos estão os hepáticos que ouve e segue um líder religioso quem quer. O que fica muito bobo é o cidadão se dar ao luxo de criticar a religião do outro. Cada um na sua, façam esse favor a si mesmos.

O outro movimento, mais apavorante ainda, é esse súbito furor legislativo nas Assembléias estaduais – voltado para o tal conselho destinado a normatizar e fiscalizar a mídia. Essa é a verdadeira superbactéria – a que vai nos matar se não for erradicada no nascedouro!

Essa febre tem que ser erradicada e é urgente. Passa a ser, de hoje em diante, até que morra de inanição, a minha bandeira. Quero poder continuar a palpitar sobre meu país, meu estado, minha cidade, minha rua. E quero, sempre que possível, perguntar: de que se riem tanto nossas autoridades? Onde está a graça?