APAGAO
Abram alas, que lá vem Sponholz, genial, e a escuridão do apagão. ( Bate-papo entre Dilma e Lula)
OLHA A HORA DO PICO! Desliguem suas tomadas…
De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico, entre os dias primeiro e ontem, os níveis dos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste, responsáveis por 70% de toda geração de energia elétrica, já haviam baixado 1,82% e os do Nordeste, 0,53%.
Ou seja, em plena estação chuvosa, os reservatórios estão secando.
E o sistema mantém-se no fio da navalha: ontem, pelo segundo dia consecutivo, houve outro grande pico de consumo que ocorreu às 14h48 e foram consumidos 83 839 Megawatts (MW).
O pico de consumo da segunda-feira do apagão aconteceu exatamente no mesmo horário e foram consumidos 84 724 MW.
Essa é boa, muito boa. Cadê você, Dilma? Sponholz achou no escuro
Só Sponholz para resumir tudo isso por aqui, ao mesmo tempo agora
ARTIGO – Atenção: Frágil. Este lado para cima. Por Marli Gonçalves
Socorro, socorro, socorro. Nunca foi tão fácil, parece, ser literalmente subversivo, no sentido de subverter a tal ordem, seja ela qual for. Causar uma revolução, mas na vida dos outros. “Confusionar”, convulsionar. Nada mais tem cara, liderança, história. Surgem e somem. Somem e surgem. Se São Paulo pode parar como aconteceu essa semana, imagina… na Copa! Ops! Desculpe: imagine o Brasil todo
Quanto mais modernos ficamos, mais vulneráveis estaremos? Ou, o que adianta tanta modernidade se os sistemas de trabalho ainda são do tempo do onça? Que Mané especulação imobiliária, bolha imobiliária, se diariamente milhares marcham ou estacionam suas barracas, tranqueiras e filhos nos primeiros terrenos e prédios que encontram dando bobeira? É perturbador observar o quão fácil ou possível ou previsível está o mergulho em crises.
Por um segundo, pense, se faltar água mesmo no Estado de São Paulo. Por dois segundos, pense, se por um lampejo os metroviários resolverem parar também, assim, de repente, como o fizeram os motoristas de ônibus essa semana, ligando o foderaizer para cima de todo mundo. No sistema de trens nem precisa pensar porque ele já para mesmo toda hora, e quebra-quebra é quase rotina – a rotina das sardinhas do transporte coletivo. Por outros cinco segundos – pense – se houver apagão, se o sistema combalido não suportar a pressão que vem por aí. Aproveita e pensa nas telecomunicações, onde tem canal passando em cima de outro canal, banda, estradinha; não é mais 3 ou 4 G, mas 3 ou 4 D. Agora, por pelo menos um minuto, pense o quanto estaremos fritos se as coisas ficarem ainda mais tensas em vários setores e a gente ainda estiver sendo liderado por frouxos como o prefeito que foi eleito para essa cansada cidade de São Paulo, ou por chuchus inodoros. É, isso pode acontecer – pior, um pouco já ocorre – do Oiapoque ao Chuí.
Já li gente falando que a população está com mau humor. Concordo. Mas não é uma nuvem precisa pairando sobre as cabeças. Não tem direção, não tem lado, posição política, muito menos informação real. Pergunta por aí. São interesses difusos, enevoados, ninguém sabe exatamente o que quer ou não quer, muito menos há parâmetros de lutas que consigam mover a classe média, especialmente a fatia mais esbordoada. Em junho passado escrevi várias vezes que não era verdade, que não tinha gigante nenhum acordando, só bocejando, que era apenas modinha ir até as ruas, marcar com amigos e depois postar nas redes sociais fotos segurando plaquinhas de papel. Uma coisa Rock in Rio. #eufui. Isso ficou claro quando li, naqueles dias, uma matéria regrando qual era a moda quente para ir aos protestos. Desde que me entendo por gente, tudo aqui no Brasil só se avacalha.
Passo o dia lendo ou ouvindo cada bobagem que é melhor calar, e não só para não arrumar inimizades. É o jornal mal lido, a situação X generalizada descuidadamente, o assassinato de reputações sem dó, a facadas de agressividade. É um tal de não ver a política – “não voto mais”, “vou votar nulo”, etc. – só isoladamente, e para xingar. Depois, quando tem eleição, escolhe qualquer um na véspera. Não me admira que a gerente Dilma esteja caindo – esperavam dela, sociedade machista, que por ser mulher teria ordem na casa. Mas ela não é dona-de-casa, e não espanou o pó da sujeira, nem lavou a louça suja dos dois períodos anteriores, deixou tudo acumulado na pia. Também não se mostrou boa cozinheira, nem para contratar direito quem trabalhasse para ela, com ela. Os banheiros continuam sujos; o elevador parado no mesmo andar; isso, sem falar nas compras que deixou fazer.
Nada mais tem fundamento. Quando que vocês imaginariam ver marchas vermelhas de sem-terra ciscando no terreiro do próprio PT, criador e criatura? O prefeito Zé Bonitinho todo santo dia recebe visitas, ora professorinhas, ora servidores da própria prefeitura, ora motoristas, cobradores, estudantes, blackblocs. Nesta semana, enquanto a cidade ardia entre muralhas de ônibus parados nas tais faixas que ele mandou pintar a mão, inacreditável a falta de senso, ficou quase uma hora dando entrevista para o Datena – e tomando um pau, de soltar o couro! Como bem observou um amigo, melhor, porque aí ele estava ocupado falando bobagem, sem fazer mais bobagens.
Cresci temendo um tal botão vermelho que, apertado, buum!, explodiria o mundo. Temia o telefone vermelho do presidente dos EUA, ou uma tal pasta preta, a guerra fria. Mas tudo isso mudou e a surpresa do 11 de setembro deles foi o ápice do “não dá mais pra prever nada”. E se eles que são grandes não podem, imaginem nós que vivemos pequenos, subordinados a quaisquer zinhos que falem o que devemos ou não fazer até com as nossas bolas.
A verdade é que a humanidade, quando se afastou da sua própria condição humana legando a máquinas muitos dos seus controles, facilitou que crescesse uma fragilidade perigosa. Com muitos botões vermelhos e pastas pretas. Por aqui, inclusive, umas delas recheadas de dinheiro.
São Paulo, paralisada, paranoica, e que não pode parar, 2014.
Marli Gonçalves é jornalista – Neste jogo já está vendo bolinhas em todos os cantos, iguais às da obra da artista japonesa Yayoi Kusama, “Infinita Obsessão”, que chegou essa semana a São Paulo. Achei bem louco saber que, por espontânea vontade, ela vive desde 1977 recolhida numa clínica psiquiátrica. E se eu começar também a ver bolhinhas?
********************************************************************
E-mails:
marli@brickmann.com.br
marligo@uol.com.br
ARTIGO – Pavio aceso. Por Marli Gonçalves
Não esbarre. Não pise no pé. Não cutuque a onça. Não pise no rabo. Não provoque. Use óculos escuros. Fique na sua. Não encara! Vivo em São Paulo. Então, transmito minhas impressões diretamente do centro do caldeirão, e o caldeirão está em ebulição de uma forma que não me lembro de ter visto antes, em formato, perigo, disparates. Está difícil ir daqui até ali sem se aborrecer, sem encontrar problema, sem encontrar gente rosnando inconformado seja de um lado ou de outro, curtindo rancores, olhando torto para o que não compreende ou que não lhe é espelho
O país inteiro está quente, mas aqui em São Paulo todo esse calor se mistura com cimento, ar sujo, cidade caída e esburacada, saco cheio, durezas de vidas sem poder por o pé na areia, nem chinelos de dedo, nem grandes possibilidades de se acalmar vendo o por do sol sentado em algum morrinho. Sim, tem quem pode; mas a maioria apenas se sacode. E sacode para cima dos outros. O clima de individualismo está chegando num perigoso limite com a insanidade mental e física.
O pavio está aceso e o barbantinho queima com rapidez. O relógio faz tiquetaque, tiquetaque, e a gente procura para ver se acha a bomba antes que ela estoure. O barril é de pólvora e tem gente com fósforo aceso achando graça. A panela está fervendo e o leite já derramou. Nunca antes nesse país qualquer faísca – e elas não param – eclode em tanta violência. No trânsito, até facas zunem. Nas ruas ninguém mais pede licença nem para passar e gentilezas são tão raras que quando a gente encontra uma é capaz de se apaixonar, querer filmar para guardar a cena e mostrar para gerações futuras, chorar e querer abraçar e beijar.
Pior é que para arrumar uma encrenca não precisa nem mais sair de casa. Tenho visto amigos deixarem de ser amigos entre si, e o que é pior, em público, se xingando de uma forma pavorosa e cruel via as tais redes que daqui a pouco se chamarão é “redes anti sociais”. Não é mais porque um não pagou o dinheiro que pediu emprestado, ou não devolveu um livro, ou mexeu com a mulher, roubou um namorado; mas brigam só por conta dessa política rastaquera implantada tal qual erva daninha. Não me conformo. E todo dia assisto pelo menos uma dessas pendengas. Sei também o quanto é difícil calar, principalmente quando escrevem bobagens no seus posts – quase como uma invasão do espaço íntimo. Porque a gente não gosta de ser amigo de quem é burro, maria-vai-com-as-outras, e que dá palpite sobre o que nem tem ideia, apenas telecomandado por uma ideologia de última categoria, vontade de engraxar sapato dos guias máximos. Eu pelo menos não gosto. Não brigo, mas fico atenta para ver se a pessoa ainda tem cura. E espero que ela vá pensar o que quer, democraticamente, mas bem longe dos meus domínios, com a turma dela, já que não há mais possibilidade de debate sério, civilizado. É só petralha! para lá, tucano da elite para cá; agora deram para xingar até de “comunistas!” Quando é que vão ver que esquerda e direita é mão de direção? E em política a gente pode, sim, pegar a contramão na hora que quiser. Deveria poder.
Os nervos, ah, os nervos! Estão à flor da pele e temo que seja por não estarmos conseguindo prever – pense – nada, nem poucas horas diante de nossos narizes. Como vai ser? Vai ter protesto? O povo voltará às ruas? A seleção brasileira passará das oitavas? Aliás, os turistas conseguirão chegar? Partir? Vai ter Copa? (Claro que vai, mas tumultuada).
Achei verdadeiramente brilhante esse post do amigo jornalista Wilson Weigl: “Pra mim já deu! Não aguento mais ouvir falar de: manifestação, protesto, caos, crise, crime, Black Blocs, arrastão, rolezinho, roubo, assalto, polícia, tráfico, metrô, faixa de ônibus, tarifa de ônibus, apagão, racionamento, favela, comunidade, UPP, crack, cracolândia, máscara, médicos cubanos, Ramona, Mais Médicos, Bolsa Família, Cuba, porto cubano, eleição, Copa, imagina na Copa, Pizzolato, Pedrinhas, Pampulha, Maranhão, PT, PSDB, Dilma, Lula, Alckmin, Haddad, Padilha, Cardozo, Sarney etc etc etc. #cumbicajá
Quem vive de informação tem melhor ideia do que trato. Você abre o jornal e lê artigos que, puxa vida, como alguém pode escrever e publicar tanta bobagem só porque tem nominho no mercado? Como alguém pode ser âncora de jornal sério e ser tão babaca? E as declarações e explicações dos homens públicos? Trabalho com isso, gente; os caras não estão contratando profissionais de comunicação, não. Andam contratando qualquer coisa: filhinhos de papai, moças bonitinhas, coisinhas fofas, mas que não têm ideia do mal que estão fazendo. A gente vai guardando…uma hora a coisa explode, e não vai ter controle. Fora os jornalistas que viraram bucha de canhão, fritos em óleo quente, queimados com fogos, rojões, acertados com cassetetes e bordunas.
Dá para dizer que o tumulto no Metrô foi sabotagem? Não. Dá para dizer que o rolezinho é coisa de infiltrados? Não. Dá para dizer que fazer a justiça com paramilitares sanguinários, milicianos que espancam meninos, está certo? Não. Dá para ficar perguntando o que foi que o Lula dedurou, para acreditar que ele teve, sim, tratamento diferenciado? Não. Se ele falou, nem que seja a cor da cueca do companheiro, se sorriu (e sorriu) para os agentes da ditadura, já não é suficiente? Dá para jurar num dia que não vai ter apagão e no dia seguinte o país inteiro sofrer um apagão? Dá para por culpa no raio?
Alguém, por favor, pode jogar água nessa fervura? Rápido! O barbantinho está quase no fim. E a água está para ser racionada.
Marli Gonçalves é jornalista – Lembra quando a gente brincava de esconde-esconde, adivinhação, quente ou frio? Pois é: agora está mais para “chegou com um quente e dois fervendo”. A batata está assando. Ou quente, nas mãos.
********************************************************************
E-mails:
marli@brickmann.com.br
marligo@uol.com.br
Tenho um blog, Marli Gonçalves, divertido e informante ao mesmo tempo, no https://marligo.wordpress.com. Estou no Facebook. E no Twitter @Marligo
ARTIGO – Vagalume. No vidro. Por Marli Gonçalves
Sensações, o que escrevemos são sempre sensações, portanto, muito pessoais. Numa insana tentativa de transmitir como vemos as coisas, ou como estamos nos sentindo, lançamos mão, ao escrever, de imagens que possam melhor ilustrar os pensamentos. Pois a dessa semana é essa, a de um vagalume preso no vidro transparente daqueles de palmito em conserva, piscando já bem pouquinho
Eles andam bem sumidos de minha vida e se você tem a honra de vê-los aí onde vive, saiba que o invejo. Estou na cidade grande, aquela que tem vantagens mas também muitos prejuízos e por aqui esses pequenos piscantes não aparecem – aliás, por causa delas, das cidades e sua iluminação abundante, esses bichinhos podem até ser extintos, uma vez que não conseguem nem se mostrar, nem se reproduzir piscando uns para os outros, com suas bundinhas falantes, num código muito próprio. Entre as coisas mais lindas do mundo, da natureza, listo ver os vagalumes, sempre em bando, nas primeiras horas da noite, piscando aqui e ali, iluminando segredos e se ocultando nas árvores. Momento mágico.
Mas foi a imagem de um deles, preso em um vidro como fazíamos quando crianças, que me veio à cabeça para descrever o meu momento. O que é pior: o seu também, quando olhamos a situação política, as notícias, os desavergonhados tapas na cara que levamos diariamente e que nos trazem de volta desânimo, descrença em mudanças. Em junho, piscávamos feericamente; em setembro, nossas piscadas estão fraquinhas, quase já não são mais visíveis.
Sou vagalume, então. Uma “pirilampa”, porque os vagalumes têm muitos nomes pelos quais são conhecidos nesse mundão de Deus – caga-lumes, caga-fogos, cudelumes, luzecus, luze-luzes, lampírides, lampírios, lampiros, lumeeiras, lumeeiros, moscas-de-fogo, noctiluzes, piríforas, salta-martins, uauás – alguns. Aí também parecem com a gente: somos humanos, alguns cidadãos, mas também podemos ser chamados de otários, cara-de-burro, conformados, de um lado; de outro, de enganados, subestimados. Mas há também os manipulados, acovardados, traidores, aparelhados ou os da espécie maria-vai-com-as-outras, maria-vai-com-quem-paga, bons nomes tanto para flor quanto para um inseto. Como as maria-sem-vergonha, esses últimos tipos vêm se multiplicando de forma assustadora nesse esquisito país em que o Brasil está se transformando.
De dentro do pote acompanho o que se passa, e na minha fantasia tenho um narizinho que encosto no vidro, desconsolada. Primeiro porque não dá para sair. Depois, pelo que vejo: as pessoas desanimadas voltando para seus cantos com seus cartazes amassados, melhor, voltando para vácuos, já que estão sendo renegadas – e com razão – todas as formas de política, só que sem que nada esteja sendo posto no lugar, sem quadros ou lideranças expressivas. Muita falação, pouca ação. Muita resignação, e aí justamente reside um enorme perigo. A passividade das medidas despencadas nas nossas cabeças, fatos entregues prontos como tortas assadas.
Ainda vagalume, tento fazer como nos filmes animados, jogar o corpo em todas as direções, me debatendo, dentro do vidro, para fazê-lo tremer e, quem sabe, ao cair da mesa e despedaçar-se, eu consiga novamente voar e piscar minha luzinha verde e amarela. Fiquei bem impressionada em saber que os vagalumes brasileiros, mais comuns, piscam nessa frequência colorida, a de nossa bandeira. Somos lampirídeos: nossos vagalumes piscam em verde e amarelo. Olha só: os elaterídeos, não sei por que chamados salta-martins, têm luzes que vão do verde ao laranja. E ainda tem os fengodídeos, conhecidos como trenzinhos, com luzes como as dos faróis de trânsito, verde, vermelha, amarela. Esses últimos devem ser mais conhecidos dos tucanos. Piuí!
Para as estrelas, símbolo do time que nos governa nesse momento, e que gostam de fazer uns arranjos mais para remendos que soluções, no entanto, seria maravilhoso se todos nós pudéssemos nos transformar em vagalumes, gerando energia com nossas lanternas. Mas só para ajudar a que o país não pare tão tristemente como acontece nos radicais momentos de apagão como o que ocorreu agora, causada por uns gravetos malvados que queimaram por aí, segundo as afobadas autoridades com suas enormes bocas de comer chapeuzinho. Só para isso eles gostariam, esses predadores.
Porque se tivéssemos mesmo umas lanternas que pudessem iluminar todos os desfeitos antes que produzissem efeitos, seríamos mais que lindos. Seríamos imprensa. Seríamos lidos e levados mais a sério com os nossos alertas.
São Paulo, 2013
Marli Gonçalves é jornalista – Vive piscando por aí. Tentando iluminar algumas saídas. Mas de vez em quando cai na armadilha, e fica presa dentro do vidro sem nem poder reagir, sem asas, como uma boa vagalume fêmea.
********************************************************************
E-mails:
marli@brickmann.com.br
marligo@uol.com.br
Tenho um blog, Marli Gonçalves, divertido e informante ao mesmo tempo, no https://marligo.wordpress.com. Estou no Facebook. E no Twitter @Marligo

ELETROPAULO PULANDO MIUDINHO NA OSCAR FREIRE. APAGÃO DURANTE QUASE TODA A QUARTA FEIRA DE NATAL. TRANSTORNOS E PREJUÍZOS.
PASSEI À TARDE, TIPO 19 HORAS – A LUZ TINHA ACABADO AO MEIO DIA! PRECISO DIZER COMO O POVO ESTAVA FELIZ???