ARTIGO – A nossa revolta do século. Por Marli Gonçalves

Já é visível. Uma grande revolta nacional muito particular enfim parece se formar e ser urdida, ferve nas entranhas do país, e é só essa certeza e a torcida para que ecloda antes de ainda mais desmandos e outras centenas de trágicas e estúpidas mortes, o que dá forças para suportar o que assistimos, agora simbolicamente sem ar, sem o vital oxigênio

revolta

Sufocados. As pessoas estão ali, no Norte do nosso país, morrendo sufocadas, sem conseguir respirar, afogadas fora d`água, desesperadas, alinhadas lado a lado. Fique em apneia para entender esse sofrimento – quanto tempo consegue? Um minuto? Dois, se for muito treinado e saudável. Os pacientes que lotam as UTIs precisam de ajuda, e para a situação do Norte se espalhar não falta muito, acredite. Nessa toada, pode faltar, além de tudo o que já falta, oxigênio para todos. Oxigênio, minha gente.

Não, ninguém aperta seus pescoços com joelhos; ao contrário, profissionais de saúde ainda tentam bombear ar para eles com as mãos, desesperados, inventando respiradores manuais, por horas, esgotados. Lá fora, formam-se filas de novos casos e ouve-se o grito de horror, de socorro, e o choro dos familiares.

Onde estão os milionários, suas benemerências, seus jatos? Onde estão os militares que ainda se prezavam? Onde estão as organizações médicas? O que estão fazendo os congressistas? Os artistas se movimentam como podem, tentando arrebanhar tubos de oxigênio para enviar, mas podem muito pouco. A FAB? Manda, bem agora, aviões de carga para apertar parafusos fora do país.

O desgoverno é total. O General da cara redonda se reúne com o presidente e ainda ri, em meio a ampla gama de bobagens que proferem, como se não tivessem nada a ver com isso, empunhando caixas de remédios inúteis que compraram e que deve ter enchido é os seus bolsos. Em qualquer lugar do mundo já deveriam estar presos, sendo julgados por crimes contra a humanidade. Aqui, continuam livres, escrevendo declarações que serão guardadas porque haverão de ser julgados.  As pessoas pedem ar. Pedem vacinas. Pedem médicos, enfermeiros. Recebem ignorância, descaso, incompetência.

Não é mais nem de perto uma questão ideológica. Chegamos a um ponto em que esses seres só podem continuar sendo apoiados por bandidos. Ou por ignorantes iguais a eles, de má fé. A bandeira do Brasil está, sim, enfim, pintada de vermelho, do sangue de seu povo.

Brincam com as nossas vidas. Continuam com sua doente sanha negacionista, pregando contra a Ciência, contra as máscaras, nos negando as vacinas que há muito já deveríamos ter recebido e ainda nem aprovadas estão pela burocracia safada imposta pela agência governamental que dia após dia pede papéis. Mentem. O tempo passa, e o ar de todos está irrespirável.

É hora da revolta. É política genocida, sim, não há mais como negar. Precisa ser contida. Denunciada. Combatida, seja como for. Nem que seja com o sangue de quem puder partir para a batalha, como já precisamos fazer durante o período mais negro de nossa história, a ditadura, e que agora parece estar sendo revivida, e de forma ainda mais cruel. Assistimos ao vivo, diariamente, as mortes, por tortura; tiram o ar de quem precisa respirar.

Olho no espelho. Minhas olheiras estão cada vez mais profundas, porque não há quem possa dormir tranquilo assistindo a história se desenrolando dessa forma. Os pesadelos são a cada dia mais reais. Acordamos e eles estão lá, à espreita, acontecendo diante de nossos olhos bem abertos.

Não há mais muito tempo, nem paciência possível. Já! Queremos sentir a agulha entrando em nossos braços com a vacina. Será ela o remédio, a força, a coragem, a esperança, a forma de novamente sairmos ao ar livre.

E esse é justamente o medo deles, entenda de uma vez por todas porque a nós está sendo negada essa possibilidade. Eles temem o que sabem que não mais poderão controlar.

Está chegando a hora deste rompimento. A hora está chegando. Não sei como, mas dá para sentir que como está não ficará mais muito tempo. A revolta do século se aproxima. Que seja pacífica. E alegre.

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FOTO: Gal Oppido

MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon).

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ARTIGO – Mergulhe. E volte sempre à tona. Por Marli Gonçalves

 

Talvez chova, talvez faça Sol. As previsões para 2019 são, um pouco como todas as previsões, poços de esperança para a gente mergulhar. O que encontraremos só saberemos vivendo, tentando manter a cabeça fora d`água para respirar. O ruim é que quase sempre tomamos um caldo no caminho

Lembro de pequena – na época era assim, na marra, a tal educação – minha mãe me levar para perder o medo do mar. Praia de José Menino, Santos, São Paulo. Até hoje penso no medo, e o que é pior, na forma com que ela, assim agindo, conseguiu foi me dar mais medo ainda. Num instante, me deu o tal caldo, mergulhou minha cabeça, certamente contra minha vontade. Foi horrível. Aquela água salgada que engoli, mas voltando à tona e reagindo. Levei anos, muitos, para me livrar desse medo, finalmente aprender a nadar, e mesmo assim não costumo me aventurar muito para longe do solo mais seguro, a areia.

Mas fiquei esperta para a vida, as marés, as águas salgadas, os mergulhos, tantos que ao longo da vida todos nós encontramos, e de onde temos de fazer tudo para sair da melhor maneira possível, mesmo que com alguns arranhões. Há um paralelo entre esse fato e tudo o que enfrentamos ano após ano, e que acaba sendo aprendizado de sobrevivência.

SEREIA NADANDOTemos de enfrentar, ir, mergulhar, percorrer, senão como saber? “Se não fui acho que deveria ter ido”; depois pode ser tarde. A vida é imprevisível tanto quanto pode ser. Penso se não é essa angústia que aparece nessa época, de final de ano, entrada de outro.

A gente pensa se vai de roupa nova, qual cor, a cor da calcinha, faz listas de metas e decisões, e revisa o que fez exatamente da mesma forma no final do ano anterior. Se alegra com o que obteve, repete na lista atual o que faltou, acrescenta desafios. Meia noite, uma hora da manhã por aqui nesse horário de verão que muda o tempo, depois de saber que o resto do mundo já chegou no Ano Novo. Corre! Depois de poucos dias, engolidos pela realidade, algumas metas passam a ser de tempos menores, um mês, uma semana, 24 horas. Nadando para alcançar alguma margem segura.

Lá vamos nós. Será um ano de novidades, especialmente pela chegada de um novo governo com muitas pessoas diferentes das habituais, e das quais temos poucas referências, e algumas que temos são bem preocupantes para quem já tomou um caldo. Já teve a cabeça mergulhada. Resta apenas que a gente espere. Mas agora, com mais segurança, com a sabedoria de quem já viveu para ver e até pouco se surpreender com o quanto tudo ainda pode ser possível. Pro bem e pro mal. Mais: com esperança e olhos abertos. Otimismo e olhos abertos. O de sempre e olhos abertos.

Outro dia me toquei que logo entraremos nos Anos 20 deste século, quando há pouco falávamos apenas sobre a história dos Anos 20, 30 do século anterior, sobre aquelas conquistas, os comportamentos, as guerras, a arte. Como passa rápido a existência!

Vamos a ela.

Que os próximos trezentos e tantos dias sejam de Paz, boas notícias, que não percamos nunca a força de enfrentar a maré e voltar à tona. Inclusive fazendo ondas, inventando modas e nos reinventando.

ANIMERMERMAID

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Marli Gonçalves, jornalista – Um beijo em cada um, e a certeza de que estaremos juntos acompanhando o horizonte.

São Paulo, do futuro, e do passado e do presente, 19

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APNEIA. O FILME. Veja o thriller. Só tem gente boa, e a música é do genial Claudio Tognolli. Como ele diria, bomba garay!

estreia 6 de novembro!