ARTIGO – O planeta das pessoas sem rosto. Por Marli Gonçalves

Nas ruas, grande parte das pessoas que vejo – seja de minha janela, ou nas pequenas e essenciais escapadas – não tem mais rosto, mas ainda consigo ver em seus olhos o medo, a insegurança, essa incerteza geral de todos nós do que é que, de forma geral, vai sair disso tudo. As máscaras encobrem os lábios que já não podem beijar, os narizes que temem respirar aquela bolinha cheia de coroas que nos inferniza, presas nas orelhas que escutam os acordes de mortes anunciadas, as falas e atos cheios de ignorâncias, mas apenas um pouco de protestos vindos desse povo cordato e resistente

Astronautas da Estação Espacial Internacional voltam à Terra em plena pandemia e encontram outro planeta… O planeta das pessoas sem rosto.

A ideia espalhada da produção doméstica das máscaras de pano, de retalhos, feitas artesanalmente, trouxe ao menos alguma alegria visual nesse momento tão sério. Estampadas, de bolinhas, com bichinhos, coloridas, trazem um pouco de cor a esse momento cinza chumbo. Com slogans, as “Fora Bolsonaro!” agora já tem até na versão de apps para que se aplique e use nas imagens digitais.

Ainda a grande maioria – e sinceramente não sei onde as compram – é daquela descartável, branca, impessoal; tem quem use a profissional, que aliás deveriam estar disponíveis abertamente aos profissionais da saúde que reclamam sua falta na luta que travam, assim como luvas, aventais e tudo mais, além de respiradores. Para que se decrete o uso obrigatório de máscaras, que tal fornecê-las? Quando são encontradas à venda é um verdadeiro assalto à mão armada, custavam centavos, vinham em caixas; agora custam, quando aparecem, cada uma, muitos reais. E atentem, dessas, simples, que deveriam ser usadas apenas duas horas.  Quem pode pagar? Claro que estão sendo usadas, as mesmas, por dias … As de pano, agora, pelo menos parecem bem mais democráticas.

Aliás, assaltos à mão armada tornaram-se bem comuns e é como vemos os preços subindo que nem malucos nos mercados, o valor abusivo dos frascos de álcool em gel que juram estar sendo vendidos a preços de custo;  nos exames de laboratórios em busca de saber se o vírus está presente, se esteve; nas taxas de entrega dos indispensáveis pedidos a domicílio; nos preços dos remédios que agora fizeram a “gentileza” de informar como congelados. Obrigada, Senhor, mas cadê fiscalização?

O poço das diferenças sociais está aberto e é muito fundo. Dentro dele está o resultado de décadas de descaso com a infraestrutura, com saneamento, com investimentos na saúde e equipamentos. A burocracia chega à tampa, como vemos no desespero das filas em busca da esmolenta ajuda emergencial, e onde a palavra emergencial parece apenas decorativa. Amanhã chega, depois, talvez, no fim do mês, contas digitais para quem, em um país ainda com grande índice de analfabetos, nem ao menos tem ou sabe lidar com esse mundo tecnológico e caro, muito caro. Computadores, celulares, internet? Se nem água há em muitas das localidades! Utopias que desfilam diante de nossos olhos, que logo serão cobertos por escudos.

Tudo isso só não nos têm livrado de estarmos todos num mesmo barco, e o rádio da embarcação nos informa que estamos à deriva, porque o capitão está alucinado. Jogou ao mar os marinheiros que conduziam o timão, e dá – sem parar – sinais desencontrados à uma população apavorada.

Temos de, acima de tudo, viver para ver qual planeta verdadeiro sairá disso tudo, desse tempo sombrio, e a cada dia, infelizmente, esmorecem as teses de que sairemos melhor como pessoas, como terráqueos que somos esperando que os astronautas tenham nos trazido alternativas lá de onde vieram, desse infinito Universo desconhecido.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Natureza humana e o Feminismo. Por Marli Gonçalves

 

A paixão é da natureza humana. Por ela, enlouquecemos, nos transformamos, às vezes até nos subestimamos. Muitas coisas são da natureza humana, mas é importante pensar sobre elas para modificar essa natureza, especialmente quando mostram seu lado escuro. As mulheres têm uma importância enorme nessa criação e é preciso fazer todos compreenderem muitas das questões que nos diferenciam para que haja paz nessa relação. Simples de entender e apoiar, desde que não haja preconceitos. Muito prazer, esse é o Feminismo.

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Feminismo é para todos. Embora seja um movimento predominantemente feminino, pela igualdade de direitos em todas as áreas, luta por questões relacionadas às mulheres e às suas características inclusive físicas, por toda uma série de coisas que deveriam já estar há muito reconhecidas – mas que ainda não estão – diz respeito a todos. A toda a sociedade. Todos os sexos, idades, raças, classes sociais, gêneros. O feminismo trata do aprimoramento da natureza humana. É preciso acabar com os clichês e estereótipos que o envolvem, para que venha à luz. Quando nela chegar e puder ser visto claramente, não haverá dúvida: todos seremos feministas. Quem não for, bom sujeito ou sujeita não é… Não será.

Não é radicalismo. É a lógica. Quem pode ser contra a igualdade salarial entre homens e mulheres exercendo a mesma função? Quem pode limitar – e cada dia mais as mulheres conseguem glórias em novas e espetaculares áreas – as suas atividades, seu avanço? Quem lhes pode negar proteção em suas fragilidades? Quem lhes pode negar seus direitos e necessidades em saúde, justiça, participação na vida pública, tantos passos ainda a serem dados e respeitados?

 Apenas os que pregarem a dominação, a injustiça, o machismo, a incompreensão e a violência. E cada dia fica mais claro quem é parte desse grupo que dissemina o ódio, encobre a violência, ainda tenta manter o controle bruscamente, porque percebe que sua derrota se torna inevitável, rápida. Esses se isolarão.

Andam falando muito em mandar as mulheres nas missões espaciais à Lua. Bom. Mas demorou, hein?!? Agora há pouco bateram palmas para a nossa Seleção Feminina de futebol, mas elas há muito estão nessa batalha, e com muitas vitórias, vide Marta, que arrasou mais ainda ao jogar com a sua boca pintada, mulher, ironizando as velhas falas. Conhecemos mulheres interessantíssimas, do mundo inteiro, fortes, corajosas, e enfrentando poderosos.

Informação é fundamental. Mas as mulheres infelizmente, ainda não integram naturalmente as pautas de imprensa, embora vejamos que cada dia mais nela trabalhem, numerosas. Ainda aparecemos, sim, destacadas, mas como ETs e aí todo mundo se surpreende como esta ou aquela mulher chegou tão longe, seja no feito, no poder, no comando. A primeira mulher isso, aquilo vira manchete. Tantas outras passam despercebidas.

Há muito as mulheres vêm sendo assassinadas, violentadas, assediadas, cruelmente, mas foi só em 2015 que se moldou o termo feminicídio, que agora conta essas mortes às centenas; e precisou que estrelas de cinema abrissem as cortinas do espetáculo para que se percebesse o que ocorre todos os dias no trabalho, nos transportes, dentro das casas, nas relações. Assim por diante. Quem pensa nas crianças, que já devem ser educadas para esse novo mundo de igualdades? Quem pensa nas mulheres velhas e sem viço que vagam pelas ruas? Homens podem envelhecer com muito mais tranquilidade e sem cobranças – e vejam que até a Xuxa anda falando muito sobre isso.

Por isso e outras que tenho horror ao termo “empoderamento” que virou chiclete, uma espécie de adesivo. Ninguém precisar dar poder às mulheres, aos homens, aliás, a ninguém. Cada de um de nós o detém. E da natureza humana e de caráter individual encontrá-lo. Seja para ser como se quiser ser, seja para chegar cada vez mais longe.

Falo mais uma vez sobre esse assunto – que quem me acompanha sabe que está sempre na minha mira – porque agora escrevi um livro que chega nas livrarias esta semana, e que lanço oficialmente dia 20 de agosto, aqui em São Paulo: Feminismo no Cotidiano – Bom para as mulheres. E para homens também. Pela editora Contexto, que me convidou para esse que é o segundo livro da coleção “Cotidiano”. O primeiro foi de Luiz Felipe Pondé, Filosofia no Cotidiano.

Escrevi sobre o que vejo, vivo, e sei que viveremos ainda por um bom tempo. Realidades, sem teorias, mostrando o que se passou e o que se passa. Voltado para homens e mulheres. Hoje o movimento feminista se apresenta vibrante e abrangente – e talvez por isso mesmo estejamos assistindo a um recrudescimento contra ele, e com teses estapafúrdias. Não precisa se embandeirar.  É só ser. Viver. Deixar viver. Melhorando essa terrível natureza humana que parece sempre buscar conflitos.

Apresento a vocês, com orgulho, meu livro, e a fé de que passemos a andar um pouco mais rápido nesse assunto, ainda com conquistas tão lentas.

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Marli Gonçalves, jornalistaConsultora de Comunicação, editora do site Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para as mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto, e que está nas livrarias e à venda online, pela Editora e pela Amazon

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