#ADEHOJE – JEAN WYLLYS, A PRIMEIRA BAIXA. QUEM FESTEJA, PENSA?

 

#ADEHOJE – JEAN WYLLYS, A PRIMEIRA BAIXA. QUEM FESTEJA, PENSA?

 

SÓ UM MINUTO – O deputado federal Jean Wyllys, do PSOL, anunciou que não vai tomar posse para o novo mandato agora no dia 1º de fevereiro por estar sofrendo ameaças. Seu suplente, David Miranda, por sorte também ativista da Causa LGBT, deverá assumir o mandato. É inacreditável que haja gente festejando sua saída, a de um dos deputados mais influentes e justos do Congresso. Wyllys já vinha vivendo há meses com escolta policial, desde o assassinato de Marielle Franco. Quem festeja não percebe que está dando forças às milícias, ao preconceito, à barbárie. Ao mesmo tempo, a loucura está tanta que o presidente Jair Bolsonaro escreveu “Grande Dia” no Twitter ontem e imediatamente foi acusado de estar comemorando a saída do deputado que todos sabem era seu desafeto. Não, ele falava de Davos, onde realmente houve um avanço em seus contatos. Está todo mundo louco? Oba???

Feliz Aniversário, São Paulo. #cidadeàstraças

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#ADEHOJE, SÓ UM MINUTO – O TROFÉU BATTISTI

#ADEHOJE, SÓ UM MINUTO – O TROFÉU BATTISTI

 

Neste sábado à noite foi preso, na Bolívia, perto da fronteira, o italiano Cesare Battisti, que será extraditado para a Itália nos próximos dias. Cesare – chamado de ativista por alguns, terrorista, por outros, assassino, pelos italianos estava sendo procurado há semanas desde que o ex-presidente Temer autorizou sua extradição. Cesare vivia aqui no Brasil, tranquilo, desde que Lula havia negado ao governo italiano essa extradição, mantendo-o com o status de refugiado político. A captura de Battisti virou ponto de honra. Bolsonaro já comemorou, o governo italiano também já soltou rojões. No fundo é apenas um troféu. No Ceará, os ataques continuam – nessa noite tentaram explodir uma ponte. No Rio de Janeiro a deputada e policia Martha Rocha foi vítima de uma emboscada e teve o carro atacado. Uma das balas vazou a blindagem, seu motorista foi atingido, mas sem ferimentos graves, foi atendido e liberado do hospital

ARTIGO – Marielle: esse crime terá castigo. Por Marli Gonçalves

Marielle: esse crime terá castigo

Marli Gonçalves

Mulher, negra, lésbica, vereadora, combativa, corajosa, jovem. Marielle, de cara, juntou sete motivos para exasperar muita gente, tanto a ponto de ser executada friamente numa viela do Estácio, no Rio de Janeiro. “Se alguém quer matar-me de amor/Que me mate no Estácio/Bem no compasso, bem junto ao passo/Do passista da escola de samba/Do Largo do Estácio”… – profetizou Luiz Melodia

Assim, Marielle passou definitivamente à História. Balas que estavam por aí perdidas, literalmente, desde 2006, a encontraram no Estácio. Quatro delas. Todas na cabeça, como se não só quisessem matá-la, mas também as suas ideias, sua beleza, seus pensamentos. Pouco importava a eles quantas vidas levariam junto, como levou a do motorista Anderson Gomes traiçoeiramente, três outras dessas balas amargas nas costas. Balas malditas do lote UZZ-18, arsenal que já havia sido usado na maior chacina de São Paulo, em agosto de 2015, o horror quando 23 pessoas, muitos jovens, foram mortas. Quantas balas mais estarão por aí?

Balas que mataram de amor que o país inteiro dedicou e demonstrou nas horas seguintes e que nos mantêm inquietos e alertas até que se descubra tudo. Quem foi? Quem “foram”? – que isso é coisa de mais de um. Por quê? Quem mandou? No pé de quem Marielle pisou? Queremos ver a cara deles e, podem apostar, serão todos homens.

Enquanto isso estamos sendo obrigados a ver outras caras que por mais que se esforcem, não conseguiremos nunca acreditar em suas compungidas expressões, muito menos no silêncio escandaloso preferido por certos outros, e nem em muitas de suas condolências com palavras poderosas acompanhadas de pouca ação, que pouco importam. Um, o religioso prefeito, se apressou em dar o nome de uma escola, decretar luto oficial. Outro, o presidente do país, falou, falou e não disse nada, com sua oratória de sempre, voltada a si próprio. Sim, é inaceitável; sim, atenta contra a democracia. Foi até mais longe quando puxou a intervenção na segurança – a intervenção que não interviu, não interveio, e ao que parece, não intervirá na crescente violência que destrói a Cidade Maravilhosa. Presidente esse que meia hora depois sorria fazendo politicagem com a turma de um tal programa “Brasil mais jovem”, puxando um minuto de silêncio com apenas 30 segundos e posando com uma bola nas mãos. Eu disse bola. Que bola foi essa?

O que o Brasil mais jovem verá não dá para calcular nesse momento dramático. Mas o que está vendo é de revirar o estômago. De um lado, oportunismo político deslavado. De outro, manifestações nas redes sociais que chegam a dar vergonha e que expõem a degradação humana, uma sociedade má, burra, doente. Atrás de seus quadradinhos com fotos, ou de pseudônimos tonitruantes, do alto de suas vidas vis e egoístas, despejam o que há de pior, aplaudem mortes, querem comparar quem morre pior do que outro, e chegam a ensaiar um “bem feito, quem mandou cuidar de direitos humanos”. Essa gente mata sem puxar gatilho; mata com o veneno que destilam, com a ignorância que exibem, com o atraso que causam.

Que tiros foram esses? São iguais aos tantos que matam os policiais, as crianças, os pais e mães de família? Não, esses foram ainda piores de alguma forma: vieram com endereço certo. Mais perigosos, mais elaborados, combinados em cima de uma clara simbologia.

Mataram, e pela culatra, esses tiros também os matará. Criaram um símbolo imortal de luta, uma movimentação nova, doída, onde as mulheres brancas e negras, lésbicas ou não, mães ou não, também se mostrarão mais corajosas e combativas. Nas ruas. Cobrando o resultado da investigação. Queremos ver a cara de quem apertou esse gatilho. Queremos olhar bem a cara de seus cúmplices. Poderemos guerrear contra a maldade que nos cerca e aproveita uma ocasião como essa para sair de seu buraco profundo.

Esse e outros assassinatos do mesmo dia marcaram com sangue o calendário: um mês da intervenção militar na segurança do Rio de Janeiro; quatro anos da Operação Lava Jato, que só levanta as pontas desse tapete que nos derruba diariamente.

O tiro que queremos ver no coração da corrupção, origem de muitos desses males, continua guardado, sabe-se lá onde, sabe-se lá com quem.

Marli Gonçalves, jornalistaMarielle, com as letras de seu nome posso escrever o meu. Escrevo.

marli@brickmann.com.br / marligo@uol.com.br

Brasil, ferido.

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Imagem: Foto/Ilustração de Marielle - Catraca Livre

Adivinhem em quem a Playboy estaria pensando para tirar a roupa…na Sininho. Adiantei algumas imagens

Por a

Amor à causa

Conta o colunista Giba Um que a direção da revista “Playboy” está
agora cogitando para valer convidar a ativista (força de expressão) Elisa
de Quadros Sanzi, a Sininho – arquiteta de manifestações mais violentas
e supostamente especialista em coquetéis molotov –, para aparecer
toda nua em suas páginas. O argumento constante do possível
convite seria que o ensaio poderia chamar mais atenção “para a causa”.
E o dinheiro ajudaria no lanche dos manifestantes.

( NOTA COLUNA AZIZ AHMED )

ARTIGO – Baques. Por Marli Gonçalves

gifscrik107Tem sido um após o outro. Nunca achei tão difícil como agora lidar com eles. Talvez porque venham em série e não tem dado tempo de a gente se recuperar direito. Talvez não. Talvez porque eles tenham justamente como característica o susto, a falta de preparo, serem sorrateiros ou inexistentes até explodirem – exatamente o que faz com que certos fatos sejam um baque, o tal.

Woman_boxer_2Baques tonteiam. Ficamos “abestados” quando baqueados. Eu ando embasbacada. Você também deve andar, porque está difícil. Quer saber mais ou menos do que estou falando? Pensa nos sete gols que tomamos da Alemanha. Foi ou não foi, melhor, foram ou não foram baques, sete baques que nos deixaram com a cara mole, como se todos estivéssemos dentro de um saco de areia pendurado, socado sem dó? Só que aconteceu e há dias estamos de alguma forma tentando lidar com isso, quase que dissecando os fatos que levaram a isso.

Baque é igual terremoto. O chão parece sumir de debaixo dos pés. A cabeça zune e você simplesmente não quer acreditar, mas aquilo aconteceu, mesmo, confirmado. Você pode até estar vendo acontecer e não acreditando, até que alguém venha dar um beliscão ou um tapa para que saia do estado catatônico. O coração parece que vai sair pela boca e os próximos minutos serão muito estranhos, porque variarão da apatia ao desespero e descontrole. Vivemos aos baques. E quando morremos causamos baques.

Cammy-super2Essa semana terrível começou com um desses baques, enorme, gigantesco e inacreditável, em torno da morte da amiga Vange Leonel. Sei que quem está na chuva é para se molhar, e que quem está vivo pode no instante seguinte virar só alma. Mas desta vez veio mais ainda no susto, e isso de alguma forma especial me afetou profundamente. Distraída, passava os olhos no Twitter e a primeira mensagem dizia “Morre a ativista, cantora, escritora e compositora Vange Leonel… ” Durante alguns segundos, até ler mais abaixo um outro tuite, dessa vez de sua companheira, outra amiga de algumas dezenas de anos, pensava ainda que era uma brincadeira mórbida. Ainda duvidei outros minutos até conseguir telefonar e, sim, tinha acontecido. Foi um baque. Perplexidade. A partir daí conheci uma das maiores dificuldades que já tive para lidar com o choque, com o susto, com uma situação, embora já tenha passado por outras até piores. Precisei parar para pensar. Na fragilidade. De tudo, de todos. Mais: de nós todas, de gente de nossa tribo, que viveu vida parecida com a nossa.meditation-1animated

Vange, 51 anos, mulher, vida saudável, para cima, bem amada. De repente, a descoberta de um câncer e, em vinte dias, o fim, como soube depois como ocorrera. Não a via pessoalmente há algum tempo, mas estávamos sempre ali, por perto, pelas redes sociais, redes que às vezes nos enganam tal a proximidade que parecem oferecer, mas muito longe da vida real de carne e osso.

Escrevo pensando quantas vezes você aí também pode ter tido essa estranha sensação de não saber lidar com algo, não conseguir lidar. Se pudéssemos nos refugiar em algum outro mundo… Cair em algum buraco de Alice que nos levasse a outro país! Como a realidade pode ser tão dura?spingif

Acredito que tenhamos algum dispositivo que se aciona em determinadas ocasiões. O meu fez com que eu chorasse copiosamente durante horas, como se todas umas lágrimas guardadas para o caso de racionamento transbordassem incontrolavelmente. Há quem grite. Outros desmaiam. Outros começam a rir nervosamente. E há quem apenas mantenha a frieza.

No meu caso chorei porque sabia que havia partido uma grande mulher, solteira, sem filhos, como eu, libertária outro tanto, com um monte de conhecimento que não foi reconhecido em vida pela hipocrisia de uma sociedade moralista que não mostra sua cara de forma aberta. Sim, morreu, virou noticia de primeira página, todos os portais, ganhou várias manifestações – o mínimo que merecia. Agora a imagino apenas dando uma gostosa gargalhada, brincando de alisar o bigode que às vezes colocava para sair por aí, de onde estiver, se pode saber disso, rindo de todo o alvoroço que causou.

Cammy-hdstanceTalvez você não tenha mesmo ouvido falar de Vange Leonel até agora, não saiba quem ela era. Mas eu não quero deixar que você não saiba que perdeu de saber justamente que, porque ela viveu sua originalidade e sexualidade de forma total, teve o seu sucesso rigorosamente bloqueado, tachada como sapatão quando não havia ainda toda essa propaganda e glamorização vazia em torno da questão como agora, com beijo de duas bonitas e casamento em novela, beijo e casamento de cantora na vida real retratado nas colunas sociais. Vange apenas era, ao lado da companheira de mais de 30 anos de união, Cilmara Bedaque. Não precisou casar, se vestir de noiva ou noivo, nem de qualquer outra papagaiada dessas.olbeachbums

Um baque. Baque também é barulho. Som de maracatu. Tem o baque virado, o baque solto. É queda, que podia ser também queda de todos os preconceitos. Vivemos aos baques e solavancos, mais ainda caindo nos buracos das ruas. Tomamos um quando recebemos as contas que não sabemos como pagar. Ficamos baqueadas quando sabemos de traições, quando nos damos conta de que não nos dão nosso merecido valor, quando lemos os jornais do dia a dia.

Baqueamos quando vemos que é preciso morrer para que o porque tanto lutamos seja pelo menos visto. Ou comentado.

São Paulo, 2014


Marli Gonçalves é jornalista Anda com vontade de fazer uma placa, um adesivo, pode ser de carro. “Aqui andamos devagar”. Serve para várias coisas.


E-mails:marli@brickmann.com.br
marligo@uol.com.br

Vange era muito maior que isso tudo. Minha sincera e singela homenagem

olhos06bi2Escrevo sob forte emoção, fortes lembranças e muita tristeza. Muita.

Vange para mim é Vange e Cilmara, minha querida amiga do banco da faculdade. Agora precisamos apoiar Cilmara.

Vange era coragem, humor, força, criação. Uma das primeiras libertárias dessa hipocrisia sexual que impera. Quando assumiu sua sexualidade, foi posta de lado como cantora. É.

Mas aí ela saiu por aí, liderando, escrevendo, teatrando. Ultimamente não estávamos na mesma vibe política, mas sempre nos respeitamos, com muito amor que ela me mandava cada vez que nos comunicávamos, mais pelo Twitter, onde ela se destacou.

Fui feliz em indicá-la , lá em 1994, para que escrevesse uma coluna sobre o movimento gay, para a então recém-lançada Revista Sui Generis. Dali , ela foi pra o mundo, para a Folha de S. Paulo, para o ativismo.

Vou ter saudades das festas, do sorriso, da musicalidade, dos  cabelinhos enroladinhos, das reuniões de bruxinhas, alguns bruxinhos.

Escrevo agora. Não quero perder tempo em homenageá-la, tem de ser agora.

Vou atrás da Cilmara para abraçá-la, confortá-la, ela – essa grande companheira que tenho certeza Vange teve todos esses dias, anos, e como sei o quanto uma cuidava da outra.

Vá em paz, amiga. Vá em paz!Você não era gente para sofrer. Não era.

Meu beijo tardio. Beijo tardio, sereia. Beijo das grandes mulheres que você representou.

——–foto VejaA cantora Vange Leonel em 2005

Morre a cantora, escritora e ativista LGBT Vange Leonel
Causa da morte foi a metástase de um câncer no ovário

FONTE: ROLLING STONES

A cantora, escritora e ativista LGBT Vange Leonel morreu aos 51 anos na tarde desta segunda-feira, 14, em São Paulo. Há 20 dias ela descobriu um câncer no ovário, com metástase na membrana que envolve os órgãos da região abdominal. Vange estava internada no hospital Santa Isabel, setor particular da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. A informação foi confirmada no Twitter da jornalista Cynara Menezes e pelo site da Veja SP.

Vange era casada há 28 anos com a jornalista Cilmara Bedaque. Juntas, elas mantinham um blog sobre cerveja no site da revista Carta Capital. “Um sentimento que deixa partir / Tendo a certeza da liberdade do amor. Ela então sonhou que era livre / Do cateter, das agulhas em suas veias, do buraco em seu peito. Eu só pude dizer: você é livre”, escreveu ela no Twitter.

A artista começou a carreira na música como vocalista da banda de rock pesado Nau, que em 1987 lançou o primeiro disco (homônimo). Como integrante do grupo, ela participou também da coletânea independente Não São Paulo II, que saiu pelo selo Baratos Afins.

Em 1991 chegava às lojas o primeiro disco solo dela, Vange, que teve grande sucesso comercial. O single “Noite Preta” foi tema de abertura da novela Vamp, exibida pela Rede Globo. Do álbum também faziam parte faixas como “Mulher Lobo” e “Esse Mundo”, além de uma versão para “Divino Maravilhoso”, de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Vermelho, segundo trabalho solo da cantora, chegou às lojas em 1995, mas não teve o mesmo êxito.

 

Como escritora, Vange lançou os livros Lésbicas (1999), Grrrls: Garotas Iradas (2001), As Sereias da Rive Gauche (2002) e Balada para as Meninas Perdidas (2003).