ARTIGO – Os nossos loucos (primeiros) dias de setembro. Por Marli Gonçalves

O que será, que será? Posso quase apostar que muito barulho por nada, que vão dar com os burros n`água. Sempre aprendi que cão que muito ladra fica rouco e não morde. Poderemos esperar, contudo, que uma primavera floresça – sementes também têm surgido em meio a esse setembro que já chegou, veio se esgueirando entre tantas ameaças. O golpe deles já foi esse: exatamente como queriam, passamos os últimos dias falando dessa gente, de suas ameaças e boquirrotices.

loucos dias de setembro

Nem contamos até 10 – nem precisa, porque já andavam armando confusão desde bem antes deste mês. Coisa chata, como se não tivéssemos tanto a resolver no nosso dia a dia. Como se o país estivesse a mil maravilhas e não com uma inflação galopante e ameaças reais, as de falta de água, de energia, de saúde, vacinas, e tudo o mais.

Mas setembro chegou e com ele umas luzes poderosas que ainda podem realmente mudar algo, se forem coesas. Vindas da total perda de paciência com o desgoverno e inquietude agora bastante expressa objetivamente pelos empresários líderes dos principais setores da economia, surpreendentemente até do agronegócio, que souberam até afugentar e se sobrepor aos medrosos que pularam fora com medo de puxão de orelha e bicho-papão. Os que ficaram firmes em seus manifestos sabem que tudo vai melhor com democracia e paz. Claro, sempre melhor para eles, diga-se de passagem. Mas têm poder.

Quando até os bancos e banqueiros se mexem, o sinal está claro. E de qualquer forma ele ainda está fechado para nós, os que assistimos ainda inertes ao andamento desse espetáculo deplorável, o momento da política nacional que tanto nos fraciona, estilhaça; não é mais nem que nos divide, porque agora tem de um tudo.

Tem os adoradores, os que antagonizam, com seus erros de cada lado. Adoradores! Seja de um, seja de outro, se me entendem. Aí não tem conversa, nem explicação, apenas uma espécie de amor platônico. Precisam de um paizinho que os guie, acima de tudo, seja o que fazem ou fizeram, mesmo que tenha sido em situações justamente que nos levaram ao desastre atual.

Entre os adoradores estão os que ainda não conseguem perceber ou já estão se dando muito bem com o fundo do poço; tem os que pensam igual, e sonham dia e noite, rezando ou não, para que retrocedamos em tudo ao século passado no que ali havia de pior, de atrasado. Do outro lado, os que ainda não admitem qualquer outra nova possibilidade, mesmo que próxima do razoável para unir – só enxergam um homem, sua barba e, ultimamente, também as suas coxas firmes. Tudo bem, vai, que ninguém mais pode fazer tanto mal quanto o atual perturbador geral da Nação está fazendo.

Perigosos, nessa miríade há os que acham que estão, como meu pai diria, por cima da carne seca, sendo que no fundo estão é como nós, à mercê de tudo de ruim. São os que – só pode ser – cegos e surdos, mantêm-se ocupados em se desfazer de informações sérias, da imprensa, que xingam cada vez que esta os chama à realidade. Gostam das mentiras que os alimentam, e imaginam uma Pátria toda verde e amarela, não gentil, armada, onde pensam que um dia poderão se dar bem. São agressivos e a maioria dos que devem ir sem máscaras às ruas dia 7 para apoiar a familícia, já que a vida comezinha deles também não lhes dá outras diversões além da beligerância com que tratam temas sociais ou de comportamento.

Agora surgem – o que até positivo é – os mais ou menos, que há dois meses preparam outra grande manifestação, mas para o dia 12: arrumadinhos, esses, entre eles muitos arrependidos com o apoio que deram a Bolsonaro em 2018, tentam consertar o que acabaram criando. Têm e mantém críticas aqui e ali a algumas decisões do Poder Judiciário, STF incluso, ao Congresso, se apresentam como centro e centrados, numa pauta confusa, e buscam uma pista, uma terceira ou quarta via, mas que tenha afinidade com a mão inglesa, direção à direita. Também prometem fazer barulho e são organizados.

Enfim, há opções para quase, ressalte-se, quase, todos os gostos. No dia 7 até com locais diferenciados para não se estranharem ainda mais.

Passando tudo isso pode ser que surjam novas brechas onde, então, poderemos – nós, o que ainda não acharam espaços confiáveis – nos encaixar.

Aí, então, será a primavera.

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – No tapetão, não! Por Marli Gonçalves

3eme_age001Tapetão? Isso já é um carpetão. Cheio de pregas e tachas. Me pergunto só, todo dia, como é que gente de bem pode ainda estar e ficar calada, apática, impassível diante do que vem ocorrendo descaradamente nesta campanha, mais especificamente no último mês? Como é que podemos aturar que, para manter o fervor do apego ao poder e aos cargos, eles agora cheguem ao pé do ouvido das pessoas mais necessitadas, de quem tanto falam, bradam que protegem, que são pai e mãe, que são isso e aquilo, e vão lá para mentir para eles, incutir o medo e o terror?797798111_1925948

Falta de capacidade política para vencer com honra? Preferência de perder com desonra? Apelação. Essa eleição está mesmo cheia de ãos. Tapetão, sopetão, mensalão, petrolão, delação, corrupção, dinheirão. Se parar para pensar virão muitos outros ãos. Extorsão, por exemplo, caminhando juntinho com a trairagem.

Sem mentira, pensei que talvez houvesse ainda sobrado alguma compostura quando se tornou visível uma variação de pensamentos dentro do PT. Ou que o passado político de muitos deles, com muitos dos quais estivemos juntos em muitos fronts, lhe desse alguma vergonha na cara, ou ao menos discernimento.

Não. Inventaram um país. Tão maravilhoso, tão legal, tão com tudo certo que nem o mais criativo dos compositores poderia descrever esse paraíso tropical que nos é apresentado diariamente na campanha eleitoral; nem Jorge Ben nos melhores tempos. Será que estão bebendo muito alguma coisa diferente, tipo o que deram para a Alice no País das Maravilhas? Porque eles crescem para apavorar, e ficam pequenininhos para entrar sorrateiros em tudo quanto é cantinho, igual a ervinhas daninhas. Vivem mesmo num mundo de fantasia.

Mas nós não. Sabemos ler, procurar distintas fontes de informação, temos capacidade de reflexão. Estamos vendo o país parado, os negócios estancados, a inflação treinando o galope pocotópocotó. Parecemos mais samurais cortando tudo. Corta isso, corta aquilo, deixa disso, não paga lá, se estoura nos juros.

Enquanto isso, os caras faltam fazer amor gostosinho com os bancos durante anos, nunca banqueiros lucraram tanto, nunca entidades estatais distribuíram tantas benesses, se envolveram com tanta corrupção, e nunca, ainda, tantas benesses foram queimadas, inclusive com petróleo, por exemplo, no caso Eike Batista e seus xs. Já estou logo dando nomes aos bois porque há um exército dissimulado, vindo das profundezas desse paraíso artificial criado – para eles deve estar tudo bem – pronto para acusar quem não os ache lindos, xingando de nomes de várias aves, como tucanos e abutres. Eu sou só um passarinho fora da gaiola, chamado Saudade. Saudade de quando pensamos em um mundo melhor.sweep%20under%20rug

Mas também tem Alice no País dos Espelhos. Aí acredito seja onde reside a inspiração dos homens de marketing que capitaneiam o mal, distribuindo-o com a maior cara de pau e muito dinheiro. Buscam no espelho tudo de péssimo de seus próprios rostos para apontar o dedo em outras direções. Olham para a Marina e a acusam de ser ligada aos bancos quando, se você pensar bem, ela está é conseguindo salvar uma herdeira, a Neca Setubal, desse destino tão cruel de família. Nunca vi petistas serem tão agressivos, por exemplo, com os Moreira Salles e sua dinastia, o cineasta Walter, ou o cineasta João, esse último até autor de um filme sobre a campanha do Lula. Quando é com eles, tudo pode, tudo é certo. Tudo é democrático. Afinal, a cantilena é que tiraram não sei quantos milhões da miséria.

Adivinhe só. Estão destruindo um país da América Latina. Adivinhe qual. Ah, esse aí que você também pensou é uma resposta certa, sim. Porque para piorar ainda há a união do ruim com o pior e com o que há de mais atrasado, principalmente em relação ao comportamento, à modernidade, o que inclui, sinto muito, países até mais distantes, como a fechada China e a rancorosa Rússia.medalstereo

É agora a hora da união. Porque o tapetão vai fazer escorregar, tropeçar, e muita louça pode ser quebrada. Precisamos consolidar uma oposição, parar de nhenhenhem, mineirices para lá, Deus para cá. Se não surgirem estadistas agora, com interesses mais elevados que seus anseios ou seus umbigos, sei não…

Somos todos de um grupo só, lutamos contra 30 anos de uma violência brutal, formamos vários movimentos. Aconteceu que muitos se desgarraram de vez e, na gangorra política, estão aboletados no Planalto e em cima de postes plantados. Esses aí é que são o problema atual, nadando sim no petróleo.

Nós sabemos que o pré-sal é mesmo importante, mas ainda é um ovo em formação lá na galinha; que os programas sociais são fundamentais porque qualquer coisa é boa para quem precisa, como o ar para respirar, mas eles não podem paralisar, criar pessoas deitadas em redes esplêndidas.

imagesNós sabemos tudo isso. Precisamos retomar as mudanças de onde as paramos. Nada mais importa agora, a não ser a união, enquanto é tempo.

Senão, fechem as cortinas para não verem tanta sem-vergonhice e sacanagem com requintes de vingança que virá por aí. A nós restará só continuar a varrer a sujeira para debaixo do tapete. Do tapetão.

São Paulo, eleição Brasil, 2014

Marli Gonçalves é jornalista – Mas antes de tudo, cidadã. Leal a princípios, não a partidos.

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