Vergonha desse país. Por Marli Gonçalves

princeA gente fica meio assim, encabulado, tímido, introspectivo. Às vezes nem comenta, porque já está até chato, mas fica ali matutando, com o assunto na cabeça. Tem sido assim nesse nosso país já faz mais de ano, parece que entramos numa espiral

Qual vai ser a próxima? Qual será a frase que nossa presidente dirá e que passaremos a semana inteira ironizando e sacaneando? Será que ela vai citar de novo a volátil mosquita?

Quem vai aparecer da tumba, para não morrer deitado, e virá com mais revelações picantes de caráter pessoal? A famosa Rose, do Lula? Daria tudo para conseguir essa entrevista, nesse momento o poço dourado dos jornalistas que cobrem política. Se pudesse estaria no rastro dela – instinto de repórter na veia.

Mesmo se eu não a encontrasse, tenho certeza que boas pistas no caminho não falhariam. Guerra é guerra e está visível que nesse momento está deflagrada uma fantástica batalha de ódio e comunicação, uma interessante maratona para ver quem consegue levar o Barba à linha de chegada, aliás, para bem além dela. Ou encontrar quem consegue anular a prova.

Será que essa semana, além do constrangimento de ver o senador Delcídio do Amaral, o preso-solto-morto-vivo, adentrar o Senado, vamos ter o Japonês da Federal lá dentro para buscar algum outro? Ou será que o Japonês da Federal vai ter o ego subindo pra cabeça e vai voltar lá só para fazer selfies, inclusive posando pimpão com os investigados?

Pode ser que na nossa tevê apareça algum comercial novo, vindo da lama, como se a lama envenenada já não falasse mais alto a cada dia que passa; comercial variado e com outros funcionários sorridentes, bonitinhos, assumindo a culpa e a desculpa. Não tem jeito: você também ainda vai ter de ouvir a propaganda de um vampiro de tez bem branca falar que não devemos aceitar propaganda enganosa dos partidos, e que o dele é que é legal. (!)

Por falar nisso, quantas criancinhas não estão comendo nem o lanche que atrai para a educação, porque alguém está abrindo a lancheira no caminho para surrupiar o leitinho, morder a maçã, quebrar o biscoito? Quantos olhinhos cabisbaixos eles mostrarão jurando que não, que merenda escolar é sagrada e aliás eles nem sabiam que existia, como é que iriam roubá-la? O que mais não vamos poder saber enquanto não se passarem 50 anos? Inovador: governo inventa Cápsula do Tempo. Um buraco, as informações dentro de uma caixa, e que só daqui a 50 anos será aberta. Imaginando, né? – a grande importância que coisas deste governo medíocre terão daqui a 50 anos. Ou mesmo hoje.

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Nós nos rebaixaremos tanto que mostraremos os fundilhos ao mundo que nos observa, num misto de pasmo com curiosidade? Quanto mais se abaixa, diz o provérbio português, mais o fundilho se lhe vê. Aliás, não é exatamente fundilho a palavra que usam. Nem mesmo muitos brasileiros temos ainda capazes de encantar. Jogadores também nos envergonham, e era uma de nossas artes.

Que números mostraremos às mães? Quantas serão as crianças doentes? Que acontece que somente agora viram o que a mosquita carregava em seus voos, sem ser incomodada por nada, nem fumaças, nem autoridades sanitárias, ou outra autoridade qualquer, e a lista aumenta, ameaçando severamente a nós todos? Qual bobagem dirá o ministro, se é que ele não vai precisar ir até ali por algumas horas participar de alguma votação importante – para ele?

Vergonha. Se não chove, não tem água. Se chove, acaba a luz. O lixo entope os bueiros, água sobe, as árvores caem, as pessoas se desesperam e nada acontece e assim por diante já sabemos o que vai acontecer assim que o céu ruge.

Que faremos? Se de um lado nos divertimos com os Trapalhões, de outro temos de ver como substituir esse espetáculo dantesco, e o que se vê diante de nós é tosco demais, filme-B, Z.

 São Paulo, 2016, sonhos de uma noite de verãoshame

Marli Gonçalves, jornalista Só cantando, com o grande Nélson Cavaquinho, porque tem coisas que a gente não pode falar. (…) “É o juízo final. A história do bem e do mal. Quero ter olhos pra ver. A maldade desaparecer” (…)

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ARTIGO – Barba, cabelo e bigode. Por Marli Gonçalves

journey-gentleman-faces-animationPensei que a modernidade seria mais pelada, lisinha. Bem, para nós, as mulheres, até que rolou, meio institucionalizada a depilação. Pelos? Só cabelos, que jogamos para lá e para cá no tal jogo da sedução. Só que agora os homens resolveram mostrar seus personagens e foram desencavar a barba. Correndo! – tem até mulher usando também e não é para circo nenhum. A concorrência anda alta.

Eu já tinha reparado, mas sem parar exatamente para pensar no assunto. Olho de um lado, de outro, e vejo pelos, pelos, pelos, em barbas de todos os tipos que se espalham nas faces dos homens nas ruas. Grandes, ralas, tortas, bonitas, horrorosas, pontudinhas, milimetricamente arranjadas, largadas, barbarellas, birimbelas. Coloridas. Brancas, grisalhas, falsas, misturadas, até trançadas já vi. Impressionante. Moda, mesmo, das que devem ficar um tempo. Ajuda na solução de alguma crise de identidade? Pode até ser.

Barba cresceu como símbolo de masculinidade, virilidade. Passaram a identificar muito os militantes de um certo partido que está em baixa, assim como os líderes por eles ainda venerados. Dá para identificar os militantes, até porque não mudam nunca, não evoluem, atarracados num passado histórico do qual ouvimos falar bem, até estivemos por perto, utópico e sonhador, igualitário, mas que não se mostrou capaz quando virou real. Fizeram barba, cabelo e bigode, mas na Nação. Literalmente a estão deixando lisinha.

Mas não é bem sobre eles esse nosso papo agora, e sim sobre os vários personagens que estão surgindo nas ruas e que mostram que a barba é uma nova fantasia masculina. Os homens estão vestindo a barba. Alguns até esticam um cavanhaque, outros, um rabinho de cavalo, e mais recente houve o advento do coquinho. A praga do coquinho. Um montinho de cabelo no cucuruco e voilá, a auto-estima do cidadão se apresenta. Repara.

IEYjAKfO que está na crista da onda é o tal homem lenhador, uma mistura de Genghis Khan com fábula de João e Maria. É aquela barba mais comprida, volumosa, que vem acompanhada do olhar “tenho-um-machado-imaginário-na-mão”. Esse tipo floresceu seguindo estrelas do rock e do cinema, os adeptos, como são chamados pelos bloguinhos de moda dessas meninas que autorizam as “tendências” do alto de seus saltinhos. Pelas barbas do profeta!

Outros personagens: o Barba Negra, terrível pirata; o Barba Azul, assassino de suas mulheres; o Barba Ruiva, personagem do folclore do Piauí, que aparece e agarra para beijar as lavadeiras de roupas na beira dos rios. Tem a barba de pirata. A barba de vilão, aquela que tem um queixinho mais fino, pode vir com bigodinho de pontinha para cima. Já teve a barba falhada de propósito; barba de um dia; barba de dois dias. A barba viking, que atrai aquele chapéu de chifres para combinar. A dos heterodoxos. A dos ortodoxos, dos anciãos, a dos gurus – essas bem brancas, longas. A barba mais famosa do mundo é a de Papai Noel. Não, acho que não. É a barba de Jesus. Ninguém os imagina, tanto Pai quanto Filho, sem barba. Pensa.

Ela é simbolo de status, transmite informações, e exige cuidados. Soube que é como coisa que se cria na cara, igual a gente planta semente em vaso. E que as quatro primeiras semanas são desesperadoras porque dá uma coceira que precisa ser superada a todo custo para alcançar a suprema pelagem. Pelas barbas de Netuno!

Dá trabalho. Vira um hobby. Barba tem de estar cheirosa. Pelo menos tentar ser macia, molinha, e bem cortada. Usar shampoo, condicionador, massagear bastante com óleo de jojoba, semente de uva ou óleo de argan. Não sei se sabem, mas machuca sim. Raspa. Irrita. A resposta àquela velha perguntinha.barber_giving_hairy_guy_haircut_md_wht

Aliás, falo de barba não é porque não tenha mais outro assunto. Ao contrário, que o assunto dos dias têm sido sobre um certo Barba, que está com as dele de molho de uma forma como nunca vimos antes e que esta semana será lembrado muitas vezes, todos os dias, a cada revelação dos anos em que mandou e daquela que ele nos deixou mentindo com a cara lavada. A mesma com que ambos vão aparecer essa semana.

São Paulo, cheio de barbeiros nas ruas, 2015

Barber

Marli Gonçalves é jornalista Tem muitas plantas que são barba, a barba de bode, a barba de barata, a barba de serpente. Tem também o barbatimão, ou casca da virgindade, que não é dos manos, mas, dizem, faz o maior efeito.

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Abril de 1980. Ele, Lula, tinha 34 anos, ia ao Gallery fumar e beber com os ricos. E deu entrevista para a …Xênia! (Lembram dela?)

Enfim, para combinar com o clima dado pela entrevista de Romeu Tuma Jr. ontem ao Roda Viva, lembrei-me de uma publicação que, garanto, raras pessoas têm ou lembram.

Eu guardei, linda e encadernada, a entrevista que Lula deu – publicada em abril de 1980 – para a então polêmica apresentadora de tevê, Xênia Bier. A revista era a ESPECIAL, da qual tive a honra de participar ao lado dos maiores feras do jornalismo, fotografia e artes gráficas do país. Era editado pela Atlântica, de José Pascowitch, irmão de Joyce Pascowitch, e que por acaso também era um dos donos da boate mais badalada  daqueles anos, o Gallery, em São Paulo.

Foi uma das mais modernas e maravilhosas revistas que já foram feitas. Tantos anos depois todos os temas continuam em vigor -e o que é pior, não resolvidos. Um dia falo mais sobre ela e fotografo outras matérias.

As fotos que trago do LULA são do grande Rômulo Fialdini. Eles fizeram uma quebra de braço e tanto.

Publico agora essa lembrança, porque fiquei muito chateada com a  ousadia ( ou, na dúvida, falta de senso) dos dois  jornalistas que insistiram – porque só assim “acreditariam”- que o Barba era sim muito bem relacionado com o poder – em pedir  que Tuminha dissesse o que é que ele teria informado. Qualquer coisa, uma vez, seria um acinte. Dizer bom dia par a aquela gente já era um acinte. Mas o Lula já mostrava a barba, o dedinho cortado, e uma vontade insopitável de chegar ao poder.

Quem viveu, viu.

Cara, quem viveu na época sabe que não era mesmo para qualquer um, como bem descreveu o Tuminha, andar “preso, fumando, com janela aberta e o braço de fora no carro da polícia“.

Vamos e venhamos.

Então, aqui, mostro umas fotos, da capa e internas e destaco uns trechinhos – na época me deram enjoo; hoje continuam me dando ao ver o quanto essa pessoa mudou e está fazendo desse país um inferno. Inclusive como co-presidente.

Divirtam-se! Feministas, igreja, Roberto Carlos foram apenas alguns dos assuntos comentados em dez páginas da edição. Tem um monte, mas esse é aperitivo.

A CAPA:

20140204_145315a FOTO INTERNA – PÁGINA DUPLA:

20140204_145415Mais uma, do então chamado – vejam só!- símbolo sexual

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E ALGUMAS DECLARAÇÕES DE DOER…

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