ARTIGO – A Era do Bate-boca. Por Marli Gonçalves

  Creio que, a partir de janeiro, com a posse do novo Governo, a Era do Bate-boca se torne realidade histórica. Já vem num formidável crescendo, pega pra capar, durante o processo eleitoral. Tudo acaba em bate-boca, por mais que se evite. Na vida, na política, no futebol, nos amores. Mas no maior dessa semana deu orgulho a altivez (e até certa paciência) com a qual a juíza Gabriela Hardt enfrentou o ex-presidente Lula

Com quem você pensa que está falando? Lembra do tempo em que tínhamos de abaixar a cabeça diante de poderosos? Acabou. E não volta mais, não há de voltar. Pois eu lembro bem e faço de tudo para esquecer, hoje batendo é palmas para esse novo momento de não levar desaforo e desrespeito para casa, especialmente as mulheres, que de igual para igual vêm participando em todos os debates. O Lula revoltado que apareceu essa semana dando depoimento no caso do Sítio de Atibaia pareceu claramente achar que a juíza Gabriela Hardt, que substituiu Sergio Moro, baixaria a cabeça diante de sua ex-autoridade. Acho até que ela foi paciente demais.

É o evidente velho hábito – desculpem aí, hein, esquerda, direita, centro! – de achar que mulher é menos, mais facilmente amedrontável. Vimos um Lula destemperado (ok, isso não é tão anormal assim) ao lado de seu pálido advogado silente, enfrentando a Justiça como se ela não fosse para todos, e ali personificada por “aquela mocinha”, como tenho certeza de que ele pensou antes de estar ali cara a cara com ela. Sobrou até para o promotor, várias vezes chamado de você, e para quem ousou até insinuar o que é que ele e ela deviam estar perguntando. E aproveitando para desmerecer com evidente ódio e insinuações o ex-juiz Sergio Moro, que o colocou ali naquele banco. A juíza brincou de Stop; de Wanderléa ao contrário: senhor ex-presidente, pare, agora!

O doloroso processo político que o país vem enfrentando, o momento eleitoral que parece interminável, a sensação de poder das redes sociais e a intransigência colocaram o bate-boca na ordem do dia. Mas há o bom bate-boca, o que poderá nos defender dos desatinos e ignorâncias. Vamos e devemos bater muita boca ainda, principalmente se decisões do novo governo (dos novos governos, se contarmos outros seres reacionários que dirigirão os Estados e alguns de seus parlamentares lambisgoias) nos afrontarem – e algumas já estão vindo recheadas de desaforos.

Debates: saempre bons, para a democraciaA discussão burra que eles chamam de “Escola sem partido”, que sabe-se lá Deus de onde apareceu essa besteira que só atrapalha o foco e a verdadeira busca por uma Educação eficiente; as tentativas de encabrestar os indivíduos e seus corpos numa moral religiosa excludente; as tentativas de criminalizar atos civis e individuais de uma liberdade pela qual tanto lutamos; e, entre outros tantos atos que já podemos prever, o de buscar jogar a sociedade contra a imprensa, a guardiã, trocando-a por falas únicas em caracteres de Twitter, copiando outros topetes do poder mundial.

Motivo para bate-boca não vai faltar. Inclusive de outros países com o nosso, se o diplomata escolhido para Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, resolver levar seus patéticos pensamentos de cabeceira para a política externa. Serão bate-bocas memoráveis.

Por conta disso vamos bater cabelo e bater barba contra os bate-orelhas; bater chinela e os pés pelos nossos direitos. Zunir e chamar atenção até resolver, como as pequenas abelhas bate-chapéu. Que bater panelas virou démodé e bater coxas é coisa íntima.

Não nos intimidarão como fazem os bate-bolas que saem nas ruas à época de Carnaval, personificando o bicho-papão. Quem fará barulho, porque não somos palhaços, seremos nós. Afinal, já estamos acostumados.

Embora claramente prefiramos um bom e velho bate-papo para resolver as diferenças.

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  – Marli Gonçalves, jornalista – Tudo para não entrar se não for preciso…, mas mamãe sempre ensinou a não trazer desaforos para casa e que ninguém é melhor do que ninguém. Também sempre respeitei a hierarquia, desde que ela não tente a submissão pela força.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

Brasil, à espera da posse de 2019

 


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ARTIGO – Confusões, reais, mentais, e outras

Por Marli Gonçalves

Trem bala perdida perdido, polícia sobe o morro e bandido desce, para ver a Marinha chegar. Cloaca falante ganha entrevista. Novo governo será o velho. Agressores são filmados até as pregas atacando e batendo, mas continuam “supostos”. Advogado criminal trapalhão do goleiro Bruno cai, mas porque revelou vício de crack. Dizem por aí, ainda, que a morta está viva, enquanto ninguém sabe da iraniana Sakineh. Acho que ando sacudindo demais a cabeça.

Caramba! Que dias! Ligar a televisão na Bósnia, no Afeganistão ou no Iraque deve ser mais ameno do que tentar copiar os modelos dos coletes azuis à prova de bala dos repórteres globais na linha de tiro. Vão virar moda de verão já-já. Se aumentarem o realismo, melhor tirar as crianças da sala, embora só elas devam saber melhor desviar-se das balas virtuais ricocheteando nas telas, de tanto jogarem o Wii. O Rio de Janeiro continua lindo, mas as línguas malditas ironizam que tudo é apenas planejamento governamental para lançamento de financiamento para compra de carros novos – o modelo Caveirão, o principal. Nós todos, bem no meio do tiroteio.

Em São Paulo, nada melhor. O passeio predileto para as ilhas de consumo shoppings centers pode se transformar momentaneamente em passaporte para caixões de medo, com assaltos ocorrendo mais do que pão com manteiga na padaria da esquina. Lá, na virada, onde a placa de rua está tombada porque alguém errático ou bêbado errou o freio. E assim ficará o poste mais alguns bons dias. Faz sol, chuva, venta, tem granizo, enchente, seca – tudo ao mesmo tempo agora. Não dá tempo nem de ver desenhos em nuvens.

Enquanto isso, em Brasília, os homens dizem que querem abrir a Copa. Os cartolas e Lula e os que vêm aí acham lindo Sergio Cabral e sua discurseira; falam em apoio incondicional. Policiais no cume dos morros cravam bandeiras com caveiras que lembram as escuderias do Esquadrão da Morte. Pelo menos as bandeiras cravadas na Lua devem estar lá ainda.

Nem na época de metaleira, quando sacudíamos bastante a cabeça, me vi tão confusa. Inclusive com relação à análise desses acontecimentos. Estão certos? Errados? Ataques de guerra momentâneos contra situações que levaram anos sendo claramente construídas nas nossas fuças (e avisávamos, e alertávamos) serão eficazes? No morro onde milhares de pessoas normais vivem lado a lado com bandidos, apenas duas escolas.

Me perguntam: e você, daria aula lá? Não agora, responderia, certamente que não. Mas há mais de 30 anos entrava tranquila para alfabetizar em favelas, inclusive os “contraventores”. O que há? Os bandidos eram mais civilizados? Bandidos traficantes são piores do que os bandidos sequestradores, assassinos, assaltantes? Não há mais paz possível nem entre eles e sua gente? Será que a guerra é só contra o tráfico?

Esse pensamento me provoca arrepios e as dúvidas que exponho, sem saber para que lado pender. Só girando violentamente a cabeça para ver se, primeiro, acordo deste pesadelo. Se fosse só isso… Homofobia em ascensão, atendimento de saúde em queda. Falação de projetos sociais, dezenas de moradores de rua assassinados violentamente nos últimos meses em Maceió, vidas encurtadas de forma mais rápida do que eles próprios pensaram ou tentaram.

Um novo governo eleito que, antes da posse, já é mais do mesmo. Sou otimista, pretendo acreditar na boa vontade, mas eles não ajudam. Viu ou soube da famosa “entrevista” que o presidente que vai embora “concedeu” aos blogueiros progressistas, como se auto-intitulam os chupa-ovos qualquer coisa, topa tudo por dinheiro e afagos? Não é que o Cloaca ganhou linhas e linhas de celebridade instantânea? Amou ser chamado de Cloaquinha, por Lula! E os outros? Nossa, qualquer-coisa perde. Tudo gente que passou os últimos anos mandando e-mails, excelentes para estudos psiquiátricos, se é que me entendem. Uso o Cloaquinha como exemplo e representante da laia. Saber o nome dele e o que faz só vai piorar o tal buraquinho sujo. Se você souber dos outros…

Ao mesmo tempo, a linda Irlanda não está mais às voltas com IRAs, nem a Espanha com seus ÊTAs. Agora a coisa está feia para todos. O mundo bate cabeça. Nos Estados Unidos, Obama aqui a pouco vai ser chamado de afrodescendentezinho (que eu também sei ser politicamente correta) safado. Já tomou uma cotovelada. Evo Morales já deu pernada. Chavez dá piti. Melhor pensar no casamento do Príncipe Williams. Com que roupa vai a Carla Bruni?

Para completar, sabe o que o deputado Jair Bolsonaro, aquela belezinha, andou falando? Que pais precisam agredir um filho homossexual para mudar seu comportamento. Onde que ele falou? No programa “Participação Popular”, na TV Câmara, que discutiu a “Lei da Palmada” – projeto de lei, também ridículo, que proíbe punição corporal dos pais às crianças, como se eles pudessem fiscalizar”! “Se o filho começa a ficar assim, meio gayzinho, [ele] leva um couro e muda o comportamento dele”, afirmou. Quer mais? Bolsonaro foi reeleito, pelo PP, e vai continuar lá, onde faz parte da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Deslize? Não! Ele reafirmou, depois: “Se o garoto anda com maconheiro, ele vai acabar cheirando, e se anda com gay, vai virar boiola com toda certeza”. Juro que não é piada.

Não dá vontade de embaralhar tudo? Desculpem, mas fui obrigada a escrever bem confusamente sobre todas essas pendengas. Agora, neste final, queria demais poder dizer “esqueça, que tudo isso é só sonho ou pesadelo”. Mas você sabe que é ainda pior. Assim, só nos resta fazer uma coisa: deitar o cabelo. Uma expressão muito usada há alguns anos e que queria dizer “ficar paralisado”, na cama, com a cabeça no travesseiro. Para não ficar tonto, nem tão confuso. Para ficar imexível. Esperar que tudo passe.

Deita o cabelo!

São Paulo, cidade atacada pelo PCC de forma diferente em 2006, traumatizada ainda em 2010, e agora não pode nem botar banca.

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Marli Gonçalves é jornalista. Até cortou o cabelo essa semana para ver se não era isso que estava esquentando muito a sua cuca. Mas ainda dá para bater o cabelo. Ou para compor um rock, hard rock, extraído das pedras furadas e ensanguentadas dos morros. Ou um blues da imensa tristeza de ver para onde caminha a humanidade.
PS: Mais um amigo/amiga se foi esta semana. No caso, amigo e amiga, que essa tinha dos dois sexos na veia. A cantora, transexual, performer, ativista dos direitos gays e maravilhosa, Claudia Wonder foi pro céu na sexta, 24. Que Deus a abrigue com carinho. Ela fez por merecer, por si e por outros e outras, durante toda a vida.
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