Berlusconi teria fetiche com Ronaldinho

Marli Gonçalves
Um passinho pra frente, dois passinhos pra trás. Avança no tempo. Nas descobertas. E retrocede na sabedoria e mínima noção. Assim caminha a humanidade. Ou melhor, assim dança a humanidade, conforme a música. A gente consegue até ouvi-la em determinadas ocasiões.
“…Besame, besame mucho…Como si fuera esta noche la ultima vez”… O belo bolero que uniu em romance fugaz uma ministra da Economia e um ministro da Justiça chegou até nós na forma de planos mirabolantes e expropriantes do rancor de um amor perdido. O presidente bossa-nova JK nos lembrava e estimulava que criassem uma música doce, suave, cantada baixinho. Os hinos ufanistas nos torturaram por mais de duas décadas, interrompidos por rompantes do yê-yê-yê e protestos tropicalistas. Sim, nossa história é música, sim. E dança. Nossos quadris estão sempre rebolando, um bambolê danado.
Mas, convenhamos, há muito não aparecia algo tão ritmado e expressivo do que o nome da dancinha predileta do primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi – a Bunga-Bunga. Detonou a nossa ingênua Conga la Conga, de Gretchen. Detonou a dancinha da descida na garrafa de Carla Perez e seus 105 cm de potência. Não sobrou nada nem para a coitada da eguinha pocotó. Rebolation!
Bunga-Bunga pode ser uma dança africana do começo do século. Ou será caribenha? Pode ser uma flor, uma ilha. Daqui para frente será o nome de muitas coisas, como de bares, boates, bronzeador, até uma cerveja cairia bem. Cerveja Bunga-Bunga, desce dançando. Excitante.
Mas hoje, na verdade, Bunga-Bunga é só a dancinha que enrascou Berlusconi. Segundo uma das bunga-bunguetes, Ruby, ele pedia que as meninas (variadas, várias idades e nacionalidades) fizessem tudo para ele, nuas, brincando entre si, e bem perto, como lhe teria sido ensinado pelo ditador líbio Muammar Gadaffi (é, essa bola da vez que está na berlinda agora, e se defende mandando matar e censurar). Acreditem. O italiano velhinho safo que vai se fritar na mão de três juízas ainda precisou aprender! Será que quando veio ao Brasil dançaram Bunga-Bunga para ele? Temos aqui formatos nacionalizados, variações bungais.
Brincadeiras e fantasias à parte, que o Carnaval vem aí, além de me divertir com o ritmo Bora-Bora da Bunga-Bunga, pensei como músicas e danças são marcantes em períodos e gerações. Como também podem ser marcantes na visão do relacionamento entre o homem e a mulher. Lembrei-me da valsa dos salões antigos. As mulheres de longos com anquinhas, o silicone da época; os homens, elegantes, com um braço para trás, em volteios, gentilezas, mesuras e salamaleques para as damas. É o mestre-sala e a porta-bandeira na avenida, o homem fazendo deferências, conduzindo a mulher, com respeito e paparicos. Lembrei-me também da exposição – até pudica – das pernas no cancan. E revi os sonhos de liberdade expressos nos vôos de Isadora Duncan.
As mulheres vêm atravessando todas essas fases, em busca de seu lugar no palco, no tablado e no chão da fábrica. Cantaram e dançaram “as dores e as angústias de ser uma mulher”, de Atenas, ou Geni. Ou as que ganharam seus nomes eternizados em poemas de Tom, só pela graça que emanavam. A ovelha negra da Rita, e o auê de seu lança-perfume. Ao lado de tigresas, frenéticas, camaleoas olhando com seus peitos direitos, Marinas morenas. E Amélias. Os sertanejos voltaram com o amor em rimas fáceis para todos cantarem. E o axé, para levantar do chão, beijo na boca, seja lá quantos e de quem for.
Conseguimos. Estamos aí, inclusive cantando lindamente, com muitas cantoras que amam outras mulheres, mais livremente. Gretchen já casou um sei-lá-quantas, vezes, e ainda faz o chica bum, girar na Conga la Conga. Elza Soares dá entrevistas sobre sexo com o marido jovem como receita de vitalidade.
Presidentes mulheres mandam aqui e em outras plagas. Há juízas, ministras, governadoras, prefeitas, senadoras, deputadas. Acaba de chegar uma maestrina para reger a maior orquestra. E no Rio a mulher com nome de miss põe a polícia na máquina de lavar e torcer corruptos. As mulheres estão chegando. Abram alas!
Mas, com tanta música que ainda há para inventar, cantar e dançar é terrível ainda precisarmos ouvir falar em algumas de nós tendo de viver de fazer Bunga-Bunga para ricos babões, político bundão, em troca dos trocados. Ou estrelato. Ou apenas pela submissão e pelo medo.
• (*) Marli Gonçalves é jornalista. Há muitos e muitos anos uma senhora se aproximou de mim, pedindo um autógrafo. Como assim? Eu não era a Gretchen? Que absurdo você tão famosa mentir para não dar um simples autógrafo!- a mulher gritava. E realmente brigou comigo. Fiquei apavorada. Outras vezes também me confundiram. Eu tinha cabelão, os olhos fundos, grandes, e o nariz, digamos, expressivo, que aumentavam a confusão. Mas sempre fui mais rock n`roll. Melhor assim. Muito melhor.
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“Todas as garotas ficavam nuas durante a bunga-bunga, e eu tinha a sensação de que elas estavam competindo umas com as outras para fazer com que Berlusconi as notasse, com performances sexuais cada vez mais ousadas”, lembra Ruby, citada no diário italiano.
Ela é peça-chave do processo que corre na justiça italiana contra Berlusconi, acusado de contratar seus favores sexuais quando Ruby ainda era menor de idade – embora tanto ela quanto ele neguem.
Berlusconi também é acusado de abuso de poder, por um episódio em que obrigou a polícia a libertar Ruby, detida por roubo.
O julgamento do primeiro-ministro, que declarou não estar nem um pouco preocupado com o processo, começará no dia 6 de abril.
Em outro trecho do depoimento, Ruby descreve como foi seu primeiro encontro com o premier italiano.
“Naquela noite, Berlusconi me disse que a bunga-bunga era um harém, o que ele copiou de seu amigo (o ditador líbio Muamar) Kadhafi, e que consistia de garotas tirando a roupa e concedendo-lhe ‘prazeres sexuais'”.
“O primeiro-ministro me levou até seu escritório, e me fez entender que minha vida mudaria completamente se eu participasse na bunga-bunga”, acrescenta a jovem.
Ela conta ter se recusado em uma primeira ocasião, mas acabou se unindo ao “harém” de Berlusconi da segunda vez em que o visitou, em março – mas garantiu que sua condição era manter-se vestida.
“Eu não tirava a roupa e não tinha relações sexuais”, afirma. “Eu era a única garota vestida, e apenas para ter algo para fazer eu levava para o primeiro-ministro um Sanbitters de vez em quando”, contiua, referindo-se a um popular drink não alcoólico vendido na Itália.
Não há menção no relatório sobre o que Berlusconi usava nessas ocasiões.
Não houve acusações judiciais relacionadas com as festas “bunga bunga”, que, no entanto, se tornaram motivo de inúmeras piadas na Itália nos recentes meses.
Berlusconi admitiu que é “um pecador, como todo mundo”, mas acusou os juízes moralistas e adversários puritanos de orquestrarem uma campanha contra ele.