ARTIGO – Em cartaz, o filme de nossas vidas. Por Marli Gonçalves

Onde? Filme rodando, diariamente, em branco e preto e colorido, em nossas cabeças, em horários especiais. Quando estamos sós, quando sabemos da morte de tantos, ou de mais um alguém que fez parte de algum capítulo inesquecível

Às vezes apenas um filme de terror. O medo espreitando em cada esquina, em cada necessidade de sair de casa. Naquela dorzinha de cabeça que você sempre teve, mas agora ela é quase paranoica se persiste. Em cada espirro ou tosse, antes bem normais principalmente em quem vive em cidades poluídas como São Paulo. Sente frio, vira calafrio, põe logo a mão na testa para sentir se está com febre; se possível, verifica a oxigenação. Palpitação, taquicardia, ansiedade, sono agitado, pesadelos muito piores do que os imaginados em “À meia noite levarei sua alma”, “O massacre da Serra Elétrica”, ou em filmes de vampiros, zumbis (esses, então, tenebrosos) e tantos outros rodados enfocando doenças, hospitais, vírus, invasões extraterrestres e…pandemias. A sensação não é só de longa metragem, mas de seriados, e com várias temporadas, maratonadas, corridas por horas, mas pela vida, para nos manter, de alguma forma, por aqui.

Às vezes apenas um filme melancólico. A gente agora fica sabendo de quem até há muito não se tinha notícias, e agora sabe desse ponto final. O filme roda. Aquele telefonema que não deu – do que teriam conversado? Aquele prometido encontro adiado tantas vezes – “Vamos nos ver?” – e que agora em outras situações nessa pandemia se repete assim: “Quando acabar tudo isso, vamos nos encontrar, hein?”. Teremos tempo para tantos encontros que vêm sendo prometidos? Já tive vários deles, cancelados. Por essa força maior do fim.

E tudo isso não acaba, não acabou, piora, vem e vai. E a pessoa foi. Não deu tempo. Por onde anda mesmo aquela foto linda que a gente tinha, juntos? E toca o filme na cabeça lembrando cada momento, a vontade de homenagear e que na hora você fica até sem palavras tantos são os trechos do filme a ser montado, se possível fosse editá-lo.

Ir às redes sociais hoje é ser informado de mortes, às pencas. Terrível.  Grande parte, sem dúvida, de pessoas que você nem conheceu, mas seus amigos, sim. Suas mães, pais, avós, amigos, irmãos. Você vê as imagens, as fotos, sente a dor deles, gostaria de dizer algo que os acalentasse, mas como? Não há emoji – há pouco apareceu um, significando “força”, mas é até irritante. Melhor, se usar símbolo, o da carinha chorando. Muitas vezes, inclusive, melhor mesmo é ficar quieto, passar batido. Mandar uma boa vibração, mesmo que a pessoa não saiba – é, garanto, do que ela precisará para continuar a rodar o seu próprio filme.

Às vezes, um filme romântico. A morte de alguém que você já amou traz outras cenas, às vezes acompanhadas de música, além de bons momentos lascivos, se os viveu. Se não, se platônica foi essa paixão, resta riscá-la de vez do seu caderninho. E quando ainda ama muito e, embora possa por vários motivos estar distante, fica sabendo que essa pessoa está no leito de um hospital lutando pela vida? Talvez ela não tenha chances, talvez nunca saiba do roteiro e das cenas que você planejou e ainda tinha tantas esperanças de rodar. Ou reprisar.

Vivemos certamente um dos momentos mais emblemáticos de nossas histórias, embora agora entendamos que tudo sempre pode ainda piorar, e que outras gerações já chegarão com essa marca vinda da destruição acelerada da natureza, da incapacidade humana ou de sua incrível capacidade para o mal. A morte do menino Henry Borel, agora mais clara, elucidada com detalhes, nesse momento de comoção nacional materializa em si a agonia das já quase 350 mil mortes em nosso país, que parecem pouco sentidas.

Como se todas fossem esse menino, um brasileirinho que sorria, pulava, cantava, mas não conseguiu comunicar a tempo o que sofria diante de quem deveria amá-lo e proteger. Deixado nas mãos de quem, exatamente como quem agora governa o país, violento, cheio de papos de religião, ética, moral, de um lado, e que quando virado ao avesso, espremido, dele só sai violência, sangue, morte, frieza. Ou tentativas de escapar, entregando o “corpinho”. Ou frases que calam terrível e dolorosamente em todos nós, como a que o assassino ousou dizer ao desolado pai de Henry: “Vida que segue, faz outro filho”.

No final deste filme pavoroso que assistimos, ao vivo, além do que se passa em particular em nossas cabeças, dessa realidade toda, será que conseguiremos, depois, sei lá, fazer outro país?

Porque este aqui, este cenário geral, a locação onde rodamos os nossos filmes particulares, não anda nada bem; e não há maquiagem que corrija esses protagonistas.

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MARLI

MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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Caneta na mão, agenda. Não pode perder nem um pouco desse lançamento. Música, história, Adoniran, tudo. Por Celso de Campos Jr. Espalha!

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Viu? Acho que o belo Scabia (ex-Mercury) se preocupou porque sabe das artimanhas da mulher, pronta para aparecer a qualquer custo, até do amor

FONTE: COLUNA RADAR- VEJA ONLINE –

fhaddadNotificação do ex-marido

Daniela e Malu: notificação

Daniela e Malu: notificação

Em tempos de discussão sobre biografias autorizadas, todo cuidado é pouco: meses atrás, logo que foi anunciado que publicaria Daniela e Malu – Uma História de Amor, que acaba de ir para as livrarias, a editora Leya recebeu uma notificação judicial.

Marco Scabia, ex-marido de Daniela Mercury, que não queria ter seu nome citado na obra. Não foi, assim como nenhum ex foi, por decisão das autoras.

Por Lauro Jardim

Domingos Pellegrini faz bela constatação. Chama de “Procuramos Esconder” o tal instituto daquela outra, insuportável, que juntou artistas pela censura. #desgosto

nota de Lauro Jardim- coluna radar – veja online

Leminski libertário

Leminkski: família quer censurar

Censura de família

Depois de receber um não da família de Paulo Leminski à publicação do seu Passeando por Paulo Leminski (O Bandido que Sabia Latim, de Toninho Vaz, também foi vetado), e disponibilizar o livro na internet, Domingos Pellegrini, dono de dois prêmios Jabuti, tem uma sugestão:

– O Procure Saber deveria se chamar “Procuramos Esconder”. Leminski tinha um espírito libertário. Ele seria a favor da liberdade às biografias e contra uma biografia que o mostrasse muito certinho.

Por Lauro Jardim

ARTIGO – Vidas molhadas, por Marli Gonçalves

read_e0Quando não há um assunto para dividir o mundo em duas partes ranzinzas alguém inventa. Aí toca falar nele até torrar o saco. Falta irem para um duelo na porta do saloon, decidir a bala, no tapa, coisas que nem deviam estar na pauta, principalmente entre quem deveria estar aí defendendo a liberdade, dizendo não ao autoritarismo. A bola da vez é a discussão sobre uma malfadada autorização que os autores teriam de ter dos biografados ou suas famílias para escrever sobre suas vidas. Vê se pode! Censura, não! Quer ser famoso sem se molhar? 

Se você vier me perguntar eu nego. Eu? Não. Não fiz xixi na cama, não comi meleca, nunca roubei nada. Nunca fiz nada ilegal, nem nunca traí ninguém. Como a gente gosta de falar, brincando, desde Tim Maia, “Não bebo, não fumo e não cheiro. Só minto um pouco”.

Ora, direis, falar a verdade! O que será de verdade que está se passando na cabeça dessa turma que se reuniu ao Roberto Carlos para querer proibir – enfim, manter proibidas, já que é assim que, absurdamente, estão nesse momento – as biografias sem um “ok”? Estariam esses nossos ídolos com efeito retardado ou apenas querendo atrasar ainda mais esse nosso travado país? Estariam todos ficando velhos ranzinzas, um dos meus maiores temores? Depois a gente fala que é birra de tia velha e eles chiam, mandam seus jovens cães de guarda latirem.

Porque uma coisa é certa: eles próprios estão manchando a biografia que seria feita – de alguns, porque tem gente aí no meio só tirando casquinha já que não mereceria nunca mais do que poucos minutos de atenção.

jlwriting_table_e0Esse é um daqueles assuntos sobre os quais não se pode ter qualquer dúvida. Não existe um meio termo, só a cabecinha. Ou existe a liberdade de imprensa ou não. E essa segunda alternativa a gente já conhece qual é. Não sei se você aí está acompanhando esse bate boca, mas ouvi umas argumentações que estão piorando ainda mais a briga de insuportáveis, o burufum, entre elas a de que o biografado devia receber. É. Tipo royalties. Seria feito algum tipo de contrato maluco, tipo para cada podre que o autor quiser revelar “sem autorização” um pagamento, tipo indenização.anim0014-1_e0

Sobre o contrário, livros que estamos vendo ser publicados aos borbotões nesses duros tempos políticos, biografias chapa branca total, que inventam vidas lindas e heroicas que até viram filmes, também fartamente financiados, nenhuma palavra. Ninguém pensa em indenizar a gente por esse deserto cultural que estão implantando.

O grupelho (fico super chateada, porque realmente tem gente cuja arte muito respeito) tem também outro argumento que me dá nos nervos, usando a coitada da massacrada Constituição. Eles têm uma lábia para usar a combalida quando lhes convém. Para se esconder e posar de legalistas. Então dizem que querem a proibição para preservar os direitos individuais, intimidade, patati e patatá.

Bom, o que a gente pode esperar mesmo de um país que tem a Dona Marta como Ministra da Cultura, com toda aquela sua empáfia? O que se pode esperar de um país que tem um Zé Dirceu correndo para defender controles? De mídia, imprensa, biografias e, se possível fosse, da Justiça, do tempo no fim de semana, do que a gente pensa dele, do mensalão e tudo o mais. Só ele é que não controla nada. Nem a mãozinha, ou o ideário político imposto a qualquer custo.

Tadinho. Deve ter ficado aborrecido com o (ex?) amigo Paulo Coelho que mandou a lenha na organização, igual o nariz das donas, da feira de Frankfurt programada para homenagear o Brasil, mas que acabou só assistindo a um festival de troca de desaforos. Deve estar querendo apagar o charuto do (ex?) amigo Fernando Morais, um de nossos maiores biógrafos, que também já se posicionou a favor da liberdade. Deve ter jogado fora todos os livros de Nelson Motta, Ruy Castro, os discos de Alceu Valença e outros que ousam pensar diferente dele, do “rei” e dos tropicalistas que esqueceram de seus próprios atos, e mandam a gente esquecer o que escreveram e fizeram.

Tenho uma péssima notícia para dar a esse grupo. As biografias deles já estão escritas, e disponíveis na internet – basta gugar. Tudo bem que não são tão bem escritas como seriam se esses nossos grandes autores o fizessem, mas estão lá.

Mais: há roteiros prontos. E aí eu trouxe para ajudar a quem quiser começar a escrever uma biografia, mas que espero que escolha um personagem que mereça mais do que esseszinhos, e que seja democrático.

Elementos para elaboração de uma biografia: Nome da pessoa/ Nomes dos pais/ Data do nascimento/ Local do nascimento – cidade, Estado, País (se estrangeiro, quando veio para o Brasil?) onde se radicou? Casado(a)? Nome do cônjuge/ Quando casou-se? / Onde?/ Quantos filhos / Quem são eles?/ São casados?/ Com quem? A que se dedicam?/ Quantos netos? Cursou alguma escola?/ Onde?/ Quando? /Qual?/ Nomes das escolas/ Que atividades exerceu? / Pertenceu a entidades culturais, filosóficas, beneméritas, assistenciais?/ Quais?/ Quando?/ Exerceu algum cargo público?/ Eletivo ou de carreira?/ Qual? Em que época? / Pertenceu a algum partido político? Qual? Quando? / Citar particularidades ou fatos interessantes da vida do biografado/ Citar atividades ou fatos em que se destacou na comunidade/ Citar contribuições que ofereceu para a comunidade/ para o desenvolvimento. Faleceu?/Quando?/ Onde?/ Onde foi sepultado?

Como vimos, fácil fazer biografia de quem merece, e sem perguntar se pode. Quem está na chuva é para se molhar, não é não Caetano? Segura seu pierrô molhado, ou se perca de nós. Desapareça.

São Paulo, 2013

Marli Gonçalves é jornalista Nunca suportou a censura. Tantas coisas não pode nunca ler ou saber por causa dela!

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