Você sabia que em Xapuri, no Acre, tem uma grande fábrica estatal de camisinhas? Gabeira foi lá, fotografou e escreveu sobre isso essa semana

FONTE: SITE OFICIAL DE FERNANDO GABEIRA

As informações básicas:

“Em Xapuri, terra de Chico Mendes visitei uma fábrica de preservativos construída pelo governo estadual e que fornece 100 milhões de camisinhas para o Ministério da Saúde.

A fábrica emprega 170 pessoas, paga aos seringueiros três vezes mais pelo látex e é a única do planeta a fabricar camisinhas com produto de árvores nativas. Não se sabe ainda se os resultados econômicos vão compensar. A produção vai diretamente para o Ministério da Saúde e representa 20 por cento das compras federais de preservativos”.

E AS FOTOS, DO FERNANDO GABEIRA:

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Pobres, junto com o Eike e outras aventuras do BNDES. Leia esse comentário do Gabeira, que grifei em alguns trechos

1253527972_moneyEike e o dinheiro público

Fernando Gabeira

Num pais democrático era razoável que o parlamento convocasse uma audiência para que o governo explicasse seu nível de exposição na derrocada do império de Eike Batista.

Qual o volume de dinheiro público que foi enterrado nessa aventura do pais do nunca antes?

O BNDES fala em R$ 10 bilhões em empréstimos, mas esclarece que nem tudo foi desembolsado, que há garantias etc.

Acontece que as noticias que correm por aí precisam ser publicamente discutidas por uma questão de transparência.

Além do empréstimos, o BNDES teria participações nas empresas de Eike.

A Caixa Econômica teria emprestado às empresas de Eike.

queimando dinheiroFinalmente, parece que foram destinados também R$ 3,8 bilhões de um Fundo da Marinha Mercante para financiar o projeto do Porto de Açu.

As noticias quando o empréstimo foi decidido falavam R$ 2,7 bilhões.

Imprecisões que mereciam uma discussão ampla mas o colapso do parlamento brasileiro nos priva desse momento vital em qualquer democracia.

No momento Renan Calheiros tenta explicar suas viagens em aviões da FAB. Henrique Alves também está enrolado com viagem em avião da FAB e os R$ 100 em espécie roubados da mala de seu assessor.

Os dois e grande parte dos deputados e senadores que, se não se rebelam contra eles, estão apenas fingindo que ouviram as ruas.

É preciso saber o nível de exposição real do governo, o quanto foi investido o quanto potencialmente podemos perder.

Se o risco público diante de um só empresário é de cerca de R$ 20 bilhões, quem explica isso?

queimando dinheiro.2gifMuitos ironizam Eike Batista porque ficou menos bilionário. Não se esqueçam: todos ficamos um pouco mais pobres com essa aventura.

Eike Batista: o representante de uma era que estamos enterrando. Leia o artigo de Gabeira. Impecável, sobre os nossos prejuízos com o megalômano

mickey-mouseEike personagem de uma época

Fernando Gabeira

Eike Batista é um dos grandes personagens do pais do nunca antes.

Nunca em nossa história, um magnata foi tão presente. Quando acordo e vejo a Lagoa, está lá não Eike Batista mas a ausência do seu projeto de despoluição.

Parceiro do governo federal, cliente do BNDES, amigo do peito de Cabral -avião prá cá, avião pra lá- o jovem que deixou a universidade alemã para fazer fortuna no Brasil tem uma vida romanesca, em que não faltam belas mulheres.

Conheci o Porto de Açu, uma realização fantástica do sonho mineiro de alcançar o mar. Pelo menos, os minérios ele pode levar diretamente ao mar, através de um duto que vai de Conceicão do Mato Dentro (MG) a São João da Barra (RJ).

É uma obra imponente que passei o dia fotografando para uma reportagem de jornal.

Uma parte da restinga foi preservada e o porto mantinha um viveiro para plantar novas mudas. Tudo parecia bem.

Três meses depois voltei ao lugar e documentei, num vídeo para a Band, como as lagoas doces estavam ficando salgadas e como o sal arruinou a plantação de pequenos produtores de abacaxi da região.

O sal veio das areias molhadas que foram retiradas do mar e empilhadas para aterrar a área do complexo.

Acompanhei também o projeto de renovação da Marina da Glória, documentei as obras do Hotel Glória.

Era uma operação articulada: Eike queria a Marina para valorizar o Hotel Glória. Não deu certo.

Onipresente, Eike queria times de vôlei e basquete, lutas, seu domínio parecia sem limites.

Orgulhoso de ser rico tinha um carro dentro de casa e abria suas portas para as câmeras. Algo que me parecia meio ostentação comparado com os milionários de uma Suécia protestante, sempre procurando a discrição.

A riqueza do Eike Batista no pais do nunca antes, lembra-me uma história contada por Roberto Damata.

Dois escritores americanos, Joseph Heller e Kurt Vonnegut visitaram a casa de um multimilionário num fim de semana. A cada objeto que viam, dizia para Heller: isto aí custou mais do que tudo que você ganhou com seus direitos autorais. Heller ouviu calado algum tempo e respondeu:

-Tenho alguma coisa que ele não tem.
-O que?
-A noção do suficiente.

No pais do nunca antes, movido a megalomania, Eike Batista foi o cara da progresso econômico, sempre de mãos dadas com o cara da política.

No passado, ironizávamos a ditadura militar com a expressão nunca fomos tão felizes. Agora, entra em declínio o período do nunca fomos tão fodões.

A poção mágica dos royalties. Gabeira mostra com clareza a loucura geral que se estabeleceu no país. Isso? Royalties! Aquilo? Royalties…

oilrig1O milagre dos royalties,

por Fernando Gabeiragusher

Publicado em 25.06.2013 – post do blog www.gabeira.com.br

Todo mundo se mexeu com o calor das ruas. Dilma, depois de recuar na Constituinte específica para a reforma política, fixou-se no projeto que destina os royalties à educação.

O Ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, usou a tática do PT para negar o recuo de Dilma: ela não disse exatamente isso, vocês é que entenderam errado.

Renan Calheiros decidiu criar o passe livre para estudantes. Também com o dinheiro dos royalties do petróleo.

Os royalties são uma espécie de poção mágica para encantar os expectadores. Esses royalties ainda não existem.

Será que estão falando dos royalties que usam agora? O que vai acontecer com os outros setores para onde esse dinheiro seria destinado normalmente?

São é claro os royalties do pré-sal que estão em jogo no discurso de Dilma e Renan, algo que levará anos para se materializar.

Não há explicações e a imprensa também não as pede. Um grupo de deputados quer royalties para a Saúde.

Vão ser criados dois grupos do bem: um querendo salvar a educação, outro tentando salvar os hospitais. Com o que? Com a poção mágica dos royalties do petróleo.

1oilrig2O único que deu resposta precisa foi Joaquim Barbosa, prometendo para agosto o julgamento do mensalão.

Na sua entrevista, Dilma sempre ressaltava que se o povo continuar mantendo a pressão vai obter as mudanças que deseja.

E sugeriu o recall de candidatos, uma ideia democrática que funciona na Califórnia e outros estados.

O chamado mundo institucional se mexeu. Os três poderes falaram e só Joaquim Barbosa passou credibilidade.

Aécio fez um bom discurso, pediu que se expliquem os gastos da Copa. Mas não constatou a aberração institucional: o Congresso não têm esses dados e alguns bilhões já foram gastos nos estádios.gusher

A oposição amarelou nesse tema e só Romário se dispôs a encarar a Fifa os organizadores da Copa, questionando-os sistematicamente.

É a velha história que envolve um medo: o do PT dizer que a oposição é contra a seleção brasileira e esvaziar os seus votos.

Tanto o PT como a oposição avaliariam mal o silêncio das pessoas que viam todo o oba-oba da Copa, ouviam cifras de bilhões e sabiam que o dinheiro estava saindo do seu bolso.

Por delicadeza, dizia o poeta, perdi minha vida. Por medo do PT e sua máquina insidiosa de propaganda, a oposição não contestou os gastos da Copa.

Agora quem somos para o mundo?

Um país de políticos megalomaníacos, preocupados com suas obras faraônicas, e um povo que pede uma nova agenda de gastos públicos, mais equilibrada e sobretudo cumprida sem desvios.

Os marqueteiros de Dilma devem ter ficado satisfeitos com aquela história de ontem, a Constituinte. Morreu hoje. Não importa. Vão inventar outra.

Os marqueteiros de Renan dirão que ele vai se tornar um ídolo dos estudantes porque apresentou o projeto do passe-livre.

Com exceção de Barbosa e um ligeiro despertar de uma oposição que não soube enfrentar o PT, os movimentos institucionais foram apenas cortina de fumaça.

Dilma não tem nada a dizer. Ou melhor nada que não possa desmentir no dia seguinte.

Renan é um esplêndido cadáver político que se recusa a sair de cena.

Quando escrevi isso uma vez, alguns dos seus admiradores, certamente um assessor, escreveu que me equivoquei pois Renan ressurgia na presidência do Senado.

Para mim é um walking dead, aliás um dos mais influentes na grande comunidade de walking deads que virou a política nacional.

Hoje, a Câmara derrubou a destinação de R$ 45 milhões para a tecnologia de comunicação na Copa.

Dilma diz que não há dinheiro público para Copa e camuflou o pedido numa medida provisória.

Vamos ter que discutir seriamente o que fazer com a Copa. O tema fica na agenda. Se desistimos da Copa , se vamos fazê-la para não perder o dinheiro investido e, nesse caso, como fazê-la.

No momento em que a poeira baixar na crise política, volto ao tema.

manchanegra

Gabeira, explicando precisamente os nós do front e a incapacidade demonstrada para desatá-los. Assim, menos de 24 horas depois…

cbm1q6v1A proposta da Dilma

Publicado em 25.06.2013- BLOG DE FERNANDO GABEIRA –

Dilma vai recuar da proposta de constituinte exclusiva para a reforma política. A ideia durou 24 horas. E, no entanto, não é uma ideia desastrosa. Dilma a transformou nisso por várias razões:

Foi precipitada e anunciou o tema sem consultas;

É o beabá da política que ela parece ignorar;

A proposta veio do PT e desperta desconfiança geral;

O PT quer o poder e isolar quem não pensa como ele;

É a tática dos burocratas da esquerda.

Eles são tão patéticos que nem imaginam as mudanças espontâneas na sociedade. No mundo fechado do PT, existem filas para ocupar cargos e elas são organizadas não a partir do talento pessoal mas da disciplina.

Foi por isso que o Lindinho disse num palanque com Cabral e Pezão: política tem fila. Na cabeça do Lindinho, as pessoas entram na fila, beijam a mão do Lula, como ele fez na tevê, ganham uma senha e esperam o momento de ocupar o poder.

Ainda bem que houve algo de novo e inesperado como em 68.

Tudo isso também é contra as pessoas que só pensam na estabilidade de um sistema de dominação, só jogam na certeza de que as coisas nunca vão mudar.

Na verdade, não acreditam em mudanças. Confiam apenas nas suas estruturas petrificadas. Seus cérebros estão programados para não pensar o novo mas apenas turbinar sua carreira dentro das hierarquias partidárias.

A nova geração de quadros do PT é boa para a época da televisão HD: Lindinho, Gleise Hoffmann e Haddad, por exemplo. Mas nada tem na cabeça exceto a disposição de obedecer.

Dilma foi a São Paulo pedir conselhos a Lula. Quando penso que um presidente do Brasil chamou a oposição iraniana de torcida de futebol e os dissidentes políticos cubanos de criminosos comuns,- quando penso nisso, digo para mim mesmo: vou lutar toda minha vida para impedir que essa gente ocupe o poder sozinha.

Jason de Caires Taylor: conhece esse trabalho? Fui buscar um video de umdocuemtnáruio deste excepcional artist aque trabalha com o mar, as algas, os homens, tudo no fundo do mar

A música já faz você viajar no trabalho  de Jason de Caires Taylor.
Quem me chamou a atenção para ele – que eu não conhecia até agora – foi um post do Blog de Fernando Gabeira.

Veja. Vale a pena. É até emocionante.

Ficha Limpa para empresas:proposta de Gabeira,que fala sobre corrupção na área de Saúde faz tempoooo! Leia.

FONTE: SITE OFICIAL DE FERNANDO GABEIRA – www.gabeira.com.br

Corrupção e hipocrisia na Saúde

Na porta da Toesa, em 2010.(foto Marcos Veras)

O governo do estado e a Prefeitura do Rio resolveram cancelar todos os contratos com a Toesa e Locanty, alem de Bela Vista e Rufolo, empresas denunciadas pelo Fantástico como agentes da corrupção na saúde pública.

 A suíte da denúncia de corrupção se fixou numa questão: como evitar que aconteça de novo. Mas é necessário responder outra: por que os governos insistem em prosseguir seus negócios com empresas denunciadas pelo Ministério Público?

Todos aplaudiram o projeto de Ficha Limpa na política. Não seria interessante também aceitar a ideia de ficha limpa nas empresas que servem ao governo?

Ambulâncias foi um dos primeiros negócios da Toesa.(foto Marcos Veras)

Cansei de denunciar a Toesa e cheguei a conseguir um helcóptero para sobrevoar o pátio da empresa e mostrar as ambulâncias acumuladas . Nenhuma reação.

Ao ver o Sérgio Cortes, secretário da Saude, afirmar na televisão que a prática das empresas, denunciada pelo Fantástico, é condenável fiquei com uma sensação de fato incompleto.

A Globo sabe que Sérgio Cortes sabe. Ele foi acusado de ter participado do processo de corrupção . Dificilmente a curiosidade jornalística não se perguntaria na época: se há tanta corrupção na Saúde o secretário é totalmente inocente?

A matéria do Fantástico prestou um grande serviço, pois mostrou como funciona a corrupção nos hospitais e órgãos do governo.

Foi possível denunciar tudo isso sem comprometer o governo amigo. O secretário se mostrou indignado e o governador Cabral cancelou todos os contratos.

O governo também foi surpreendido a julgar pelo desenvolvimento das matérias da Globo. Gostaria apenas de registrar minhas sinceras dúvidas.

Não é um possível um entrelaçamento tão amplo de empresas como Toesa e Locanty( contratos de R$400 milhões no conjunto) com Estado e Prefeitura sem que suspeite de corrupção disseminada no governo. E ainda nem chegamos na Facility, cujo dono vive em Miami e tem inúmeros contratos com órgãos oficiais.

As coisas dependem agora do do Ministério Público. Os funcionários que aparecem no vídeo vão pagar toda a culpa. As empresas vão dizer que não sabiam; o governo, que não foi exposto diretamente, vai se livrar se fornecedores que o comprometem e encarnar um movimento moralizador.

Todos sobrevivem: o governo que não aparece na matéria e as empresas que vão atribuir o suborno a um desvio pessoal do funcionário. A Globo que faz uma denúncia muito competente, mas sem comprometer os governos do PMDB com que simpatiza.

A corrupção na saude pública mata. Mas o grau de perfeição a que chegaram empresas e governo e a precisão cirúrgica das denúncias me levam a suspeitar que ela não será realmente combatida no Brasil.

Isto porque falta a manifestação mais esperada de todas: a dos usuários que arriscam a vida no sistema mas ainda não se deram conta de como ele é perverso, nem se interessaram em protestar de forma organizada

Vocês têm de ler isso. Sobre o caso Adriano. Sobre a polícia. Sobre a imprensa. E sobre nós, sobretudo.

fonte: Blog do Gabeira no estadão
29.dezembro.2011 08:01:26

O dedo da fama e a morte dos anônimos , por Fernando Gabeira

Não escrevo para defender nem atacar Adriano. Não escrevo nem para ficar em cima do muro no caso Adriano.

Escrevo apenas para registrar o intenso trabalho técnico da policia  e o interesse da imprensa pelo caso Adriano, numa cidade onde 93 por cento dos crimes não é  investigado.

Assim como o espetáculo envolve a política, ele passou a comandar também o trabalho policial. Embora grave, o episódio não foi mais que um tiro no dedo, recuperado pelos médicos.

Era preciso investigar se Adriano atirou em Adriene, esse é o nome da moça que viajava no carro do atleta. Mas os recursos empregados no caso não se aproximam nem de longe dos casos em que as pessoas perderam não só uma parte do dedo, mas a própria vida.

É compreensível que a policia se mova com empenho. Ela depende, assim como os políticos, de transmitir a sensação de que está trabalhando. E um caso desses é ideal: está tudo ali, o acusado, a pistola, a vitima e os holofotes.

Nessa mesma semana, um adolescente foi morto por soldados no Complexo do Alemão, a Miss Brasil 2010 fraturou a coluna num desastre de automóvel e um jogador morreu ao se chocar com um caminhão no Rio Grande do Sul.

Todos os fatos foram registrados de forma discreta. Mas o tiro no carro de Adriano ganhou um destaque especial.

Quando vivia no Rio, Adriano era considerado uma espécie de Papai Noel, pois sempre se metia em pequenas confusões e recompensava generosamente quem os livrava delas.

O episódio do tiro na mão foi uma espécie de “cheiro de sangue” que atraiu vários predadores naturais, desde a moça que levou o tiro até a imprensa que viu o touro ferido e foi conferir se o golpe que recebeu era mortal.

A imprensa é assim porque cada vez mais depende de gente famosa para sobreviver. Mas alguém precisaria se interessar genuinamente pelos crimes que não são investigados, independente da fama dos acusados ou das vitimas. Essa é tarefa de órgão público.

Os corpos não param de aparecer em porta mala de carro, nas esquinas desertas, nos rios e estradas.

Na tevê, os filmes policiais mostram detetives interessados nos crimes a partir da complexidade da investigação. Na vida real, por mais complexo e intrincado, o crime só ganha atenção se a opinião pública se interessa por ele.

Uma vez, meu apartamento foi arrombado e levaram as câmeras com que trabalhei na Alemanha, na derrocada da Iugoslávia e da antiga União Soviética. Fui ao distrito dar a queixa e ficou por isso mesmo.

Alguém me sugeriu, entretanto, telefonar para as autoridades e pedir ajuda. Quando é gente conhecida, eles mandam perícia e tiram impressão digital, disse o conselheiro. Não há recursos para todos os casos, concluiu. Resolvi me resignar com a perda.

Não há recursos para cobrir todos os casos. A maioria fica na sombra. De que valem vidas anônimas diante do pedaço do dedo de uma carona no BMW de um craque?