ARTIGO – Paraísos artificiais. Por Marli Gonçalves

Nos paraísos artificiais que vivemos, não precisa nem de drogas para esses efeitos, alguns alucinógenos, outros nem tanto, reais de doer. Drogas – e das pesadas, batizadas, misturadas com coisa ruim – são essas que nos enfiam diariamente goela abaixo. Não pode, pode. Decreta-se. Publica no Diário Oficial e a gente aguenta. Tudo fora da ordem, na desordem, e seja lá mais o que for.

 paraisos artificiais

“Trabalhar que é bom, ninguém quer, né?” – meu pai sempre dizia isso quando via umas situações – e olha que elas não eram nem de perto parecidas com as que estamos vivendo em realidade, verso, prosa, metaverso, universo paralelo, supermercado, justiça e bem mais. Faço uma adaptação: “Protestar na rua contra tudo isso, ninguém quer, né?”.

Me desculpem os carnavalescos, mas se tem coisa que considero a mais idiota dos últimos tempos foi esse Carnaval artificial, fora de hora, coisa mais esquisita, decretada, assim como todos os acintes que vivenciamos. Não, não sou daquelas que detesta carnaval, gosto até dos bloquinhos, mas tudo tem hora; e a hora não era esta. Ficou uma coisa isolada, e olha que andei por aí algumas horas pelo menos para ver se encontrava alguém, podia até ser uma criancinha com algum adereço, fantasia, alguma pluminha, aquele ar folião. Talvez até mudasse de ideia se encontrasse blocos espontâneos, fossem pequenos grupinhos. Nada. Aqui em São Paulo a coisa realmente se concentra na avenida que não é mais avenida, o Sambódromo. Com alguns ecos. Onde “permitiram”. Não sei no Rio.

A mim, tudo soa falso. “Jeca”, até, se me permitem. Não é porque estamos saindo de dois anos do horror da pandemia que tinha de obrigatoriamente ter o que estão chamando de Carnaval, e Carnaval não é. Pior, vou dizer: estão tentando programar mais outro, para julho. Para satisfazer os blocos. E eu que sonhei tanto com o dia em que, livres do vírus (o que ainda não estamos), iríamos às ruas cantar e dançar – na minha cabeça haveria um dia que isso aconteceria. Não por decreto, como esse ministro da Saúde miserável anuncia, dando pauladas na pandemia que ainda mata mais de cem pessoas por dia, e no mundo fica no vai e volta.

Muito louco esse momento, todos os dias, coroados com o perigoso presidente sem noção fazendo graça/desgraça e troça com a Justiça, desafiando a Constituição, dando indulto para seu amigo ordinário e que, como ele, não tem apreço algum pela democracia. Não, o talzinho não foi injustiçado, nem martirizado, nem preso apenas por ter roubado um pedaço de carne ou shampoo; nem é miserável – essas coisas sociais, como  miséria e o desespero,  não incomodam esse amontoado que temos de chamar de governo  e que está louco para fechar o tempo e continuar nele. Também não é liberdade de expressão ameaçar ministros e suas famílias, convocar ataques, juntar gente para soltar fogos no Supremo Tribunal Federal. Acreditem, por favor, seja como for, com os que estão lá, questionáveis, egocêntricos, mandados, o STF ainda é o último poste em pé de proteção que temos.

Que 2022 seria um ano difícil, nenhuma novidade. Ano de eleições, de Copa do Mundo, de consequências pós-pandêmicas, de economia titubeante e até guerra longe que ecoa aqui. Mas insuportável até para nosso bem estar psicológico – como anda – não era esperado. Perigoso em seus caminhos políticos. Ainda temos de aguentar na tevê propaganda de partidos famosos por sua adesões seja ao que for disputando agora quem é mais… conservador! De doer. Um diz que é o verdadeiro; o outro diz que é o primeiro, sempre com um amontoado de afirmações desconexas e gente tão falsa quanto seus cabelos grudados e o apelo a ver quem é mais reacionário, quem atrai o que há de pior se criando e procriando celeremente fora do cercadinho.

Viva Baudelaire! Que preguiça! Estão tornando o paraíso Brasil um pesadelo tal que a nossa reação quando acordados vem sendo jogar a toalha.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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#ADEHOJE – ACABOU O MÊS. GAIDÓ ENTRE NÓS. E TUDO NA MESMA

 

#ADEHOJE – ACABOU O MÊS. GAIDÓ ENTRE NÓS. E TUDO NA MESMA

 

SÓ UM MINUTO – Acabou. Já acabou o mês de fevereiro e a gente continua igual que nem, tudo parado, esperando o Carnaval passar. Ou a Páscoa, ou o próximo Natal, talvez? Ou mais tragédias, decisões ministeriais absurdas, vaivéns? Até quando? Lá veio PIBinho de 1.1%. Vergonhoso para um país com essas dimensões e riquezas, mas atacado pela ignorância e gestão de quinta categoria. O país do futuro que nunca chega.

Juan Guaidó está aqui no Brasil para uns encontros e, talvez, para ver se consegue voltar à Venezuela por aqui. A grande tensão do momento é como será esse retorno, já que Maduro diz que, se ele voltar, será preso. A gente se preocupa com o nosso, com o dele, com o país de todos, que a coisa está esquisita para todos os lados. Agora tem pendenga também entre a Índia e o Paquistão. E explosiva, já que são potências nucleares.

ARTIGO – Rolezinhos e rolezões. Vamos dar um? Por Marli Gonçalves

op3O povo sai às ruas, ordeiro, em multidões para cantar, dançar e seguir o trio elétrico em um movimento que é preciso, sim, parar, para ver e entender. Algo novo está se formando e pode ser bom, pode ser que sim, pode ser que não. Estamos gostando de ficar nas ruas gastando o menos possível, escuta sóRiAyGAB6T

Eu fui ver. E achei muito interessante e esclarecedor. Lembrem que estou em São Paulo, não falei em Banda de Ipanema, nem em Salvador, nem em Ivete, nem no Galo da Madrugada. Aqui os blocos de verdade só saíam de alguma forma meio tímidos, como os históricos esfarrapados, ou para lascar como os que se enturmam em uma alcoolizada Vila Madalena. Com algum famoso até tinha mais divulgação.

Este ano, não. A coisa estourou. O fim da semana do Carnaval e as pessoas ainda estavam nas ruas centrais “enterrando ossos” num movimento meio desorganizado, mas muito real. Foram dias que bastava um caminhãozinho com um alto-falante, e lá se vai atrás o grupo cantando sucessos muito antigos, outros muito novos, marchinhas, mesclando com funk, rock n´roll, sertanejo. Até bloco de música eletrônica vi passar. Impressionante o número de blocos e grupos, interessante a criatividade de seus nomes, de suas motivações, fantasias e – preciso dizer – diversidade. Todas as opções, inclusive sexuais, todas as raças, todos os credos, todos os tamanhos, altura e largura.

Na cidade que ficava vazia meio fantasma no Carnaval, pelas ruas, no metrô, nas estações, nos pontos de ônibus, os bloquinhos: víamos homens musculosos com vestidos justos – homem, sempre que se veste de mulher, vai no fetiche e pensa que é preciso sair bem no tipo chamado periguete; perucas coloridas, muitas bailarinas e seus frufrus, algumas havaianas (desde menina, sempre gostei de fantasia de havaiana), asas de anjo, véu, grinalda e buquê; outros resolveram ir de “redes sociais”. Vi gente fantasiada de perfil de Tinder, de Instagram. De super-heróis. Fantasias baratas, leves. Muitos carregavam pesadas sacolas de supermercado, bolsas térmicas e mochilas abastecidas, repletas de cerveja. Na outra ala da crise, uma onda enorme também se espalhou, de novos e oportunos vendedores no mercado, e que apareceu empurrando carrinhos com isopor repletos de cerveja e uma recém descoberta bebida de catuaba, sucesso que só de olhar já deixa meio tonto.

Vivemos outros carnavais. Não consigo concluir se foi só retrato desse ano duro que passamos e do ano duríssimo que viveremos, em uma outra forma de manifestação, com todas as cores livres e misturadas e sons muito além de hinos cantados a capella. Precisaremos esperar os próximos movimentos desse tabuleiro, mas algo me diz que é sim continuidade, expansão de uma nova forma de extravasar. Os meninos ocupando as escolas e parando as avenidas, desafiando os policiais com um certo e irônico sorriso já era um sinal. Os aposentados ocupando a Paulista com uma comissão de frente formada por macas já era prenúncio. A classe média empunhando bandeiras pela mesma avenida.gente corendo

É para desopilar o tal do grito engasgado? A vontade de nos alienarmos de vez diante da súcia que se nos apresenta, dessa matula que temos de ver às nossas custas; dessa farândola, da corja. Da choldra. Coletivos que uso para não xingar e não parecer deselegante como tem hora dá vontade, e como resmungamos vendo o noticiário da tevê anunciando impostos para resolver erros, e a realidade de como os desvios nos atrasam.

Há vários rolês marcados já para os próximos dias. Chamamos de rolezinhos os dos grupos de garotos de periferia invadindo shoppings, liderados por um famosinho, feito em redes sociais e vídeos.

Haverá, enfim, bons rolezões? Rolê é ir dar uma volta, um passeio, um giro. É o bife enrolado, enrolados igual estão nossos governantes, ex-governantes e até os ex-futuros governantes que já ficam pelo caminho e não conseguirão nem alçar voo, derrubados por revelações surpreendentes do que fizeram nos carnavais passados.

A programação será mesmo intensa.

São Paulo, ano bissexto, 2016

Marli Gonçalves, jornalista Só para lembrar: rolê é diferente do footing, aquele do interior, feitos nas praças onde os rapazes giram em um sentido enquanto as moças passam em outro, cruzando apenas olhares furtivos. Aqui a gente já está precisando chegar nas ruas e praças de mãos dadas e andando todos em uma mesma direção.

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