ARTIGO – Escovar palavras em busca de ossos. Por Marli Gonçalves

ESCOVAR PALAVRAS EM BUSCA DE OSSOS

MARLI GONÇALVES

Precisarei, contudo, de uma escova de cerdas de aço para seguir o ensinamento do mestre Manoel de Barros. Escovar palavras. Preciso desembaraçá-las, dar-lhes uma forma para que não ofendam os mais sensíveis. As que me vêm à mente para descrever as cenas da tragédia e do mar de lama de Brumadinho são muito duras, nervosas, indignadas. E agora será preciso que até lá cheguem também palavras de esperança e beleza, como a da chuva de pétalas de rosas com as quais os bombeiros homenagearam os mortos e desaparecidos

Tomo emprestada do poeta Manoel de Barros (1916-2014) a expressão que cunhou em suas palavras recordando a infância, quando viu homens “escovando ossos”, e que depois aprendeu serem arqueólogos que buscavam vestígios de antigas civilizações naquele chão onde viveu, em Cuiabá. A cena o fez querer escovar palavras e escrever, escrever, escrever as coisas que via e sentia.

Para falar dos acontecimentos e consequências do rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais, que ceifou centenas de vidas, sobre feridos, sobreviventes, desaparecidos soterrados que virarão para sempre terra, perdidos, misturados, levados para as correntezas, guardados sob dezenas de metros de rejeitos, preciso escovar as palavras. Elas choram, agoniadas.

Que palavras levar àquelas famílias que dia após dia estão ali em busca de alguma certeza que na verdade já têm, a de que não mais verão seus filhos, maridos, mulheres, pais, mães? Um dia, talvez, se aparecerem as pessoas que escovam ossos. Que pacientemente buscarão vestígios, não de civilização, mas de barbárie.

Essa semana consegui forças para ir à estreia do monólogo Meu Quintal é Maior do que o Mundo, brilhantemente encenado pela atriz Cássia Kis, com direção de Ulysses Cruz. Com simplicidade emocionante levaram ao palco a poesia de Manoel de Barros. Imperdível. Está no Teatro Popular do Sesi, em São Paulo, até meados deste mês, e depois percorrerá o país.

Uma coincidência, terrível, ouvir aqueles poemas não poderia ter sido mais atual para o cenário que se descortinou na verdade, na nossa realidade, sobre a natureza humana, a natureza das coisas, a natureza da natureza, e sobre a impiedosa marca da rudeza com a qual a ganância destrói sonhos e chãos. O que o poeta, se vivo estivesse, diria desses ossos enterrados, das vidas levadas, dos rios invadidos, das árvores sem pássaros, dos clamores das palavras em conchas?

Precisamos pedir a escova de cerdas de aço para não assistirmos tão inertes às explicações toscas dos culpados, que agora resolveram lançar balões de bondades, alguns com promessas de dinheiros que não pagam, que agora nada valem; balões, como se eles pudessem elevar aos céus os perdidos na lama escura. Precisamos escovar as palavras, aliás, desenrolar as palavras e fazê-las de flechas para responder aos que nada viram, nada fizeram, e ao presidente da poderosa empresa da represa, das ações na Bolsa, dos lucros das escavações das riquezas minerais.

As sirenes não soaram, senhor presidente, porque foram engolfadas? Engolfadas e levadas com as centenas de funcionários que almoçavam no refeitório e prédios plantados no caminho da morte que escoou? Como é? Como disse? Que o rompimento foi muito rápido, imprevisto? Ele devia, sei lá, ter telefonado antes, em nome da barragem, mandado e-mail, talvez uma mensagem por WhatsApp, como uma carta de um suicida? – “Senhores, há muito aguardo que vocês tomem providências. Tenho os pés rachados, não suporto mais segurar a pressão. Vou vazar. Tentei achar os alarmes, mas não alcancei. É que eles estão lá embaixo junto com as pessoas e tudo que vou ter de engolfar, no meu caminho na Vale, no Vale, o da Morte. Um abraço para o senhor que disse `Mariana, nunca mais´. Só não sei que desculpas usarão desta vez; só sei que elas, creio, não servirão mais para nada. Adeus.”

Não há desculpas. Não há palavras que possam ser escovadas para amainar o desespero. Temos forças apenas para balbuciar, dirigindo-nos aos socorristas, todos, que como caranguejos há dias rastejam na lama em buscas que nem eles mesmos sabem mais do que: Obrigado. A determinação de vocês nos faz chorar, acreditar que nem tudo está perdido, mesmo depois da lama derramada. Vocês escovam a esperança.

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Marli Gonçalves, jornalista – Indignada. #nãofoiacidente. Assim, também jogo a escova fora.

Brasil, de Mariana e Brumadinho, ano após ano

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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Escovar palavras

Manoel de Barros

Eu tinha vontade de fazer como os dois homens que vi sentados na terra escovando osso. No começo achei que aqueles homens não batiam bem. Porque ficavam sentados na terra o dia inteiro escovando osso. Depois aprendi que aqueles homens eram arqueólogos. E que eles faziam o serviço de escovar osso por amor. E que eles queriam encontrar nos ossos vestígios de antigas civilizações que estariam enterrados por séculos naquele chão. Logo pensei de escovar palavras. Porque eu havia lido em algum lugar que as palavras eram conchas de clamores antigos. Eu queria ir atrás dos clamores antigos que estariam guardados dentro das palavras. Eu já sabia que as palavras possuem no corpo muitas oralidades remontadas e muitas significâncias remontadas. Eu queria então escovar as palavras para escutar o primeiro esgar de cada uma. Para escutar os primeiros sons, mesmo que ainda bígrafos. Comecei a fazer isso sentado em minha escrivaninha. Passava horas inteiras, dias inteiros fechado no quarto, trancado, a escovar palavras. Logo a turma perguntou: o que eu fazia o dia inteiro trancado naquele quarto? Eu respondi a eles, meio entresonhado, que eu estava escovando palavras. Eles acharam que eu não batia bem. Então eu joguei a escova fora.

 

 

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#ADEHOJE – LULA NÃO VAI LÁ. E O DESENROLAR DA TRAGÉDIA

#ADEHOJE – LULA NÃO VAI LÁ. E O DESENROLAR DA TRAGÉDIA

SÓ UM MINUTO – Hoje o Ministro Dias Toffoli, presidente do STF autorizou o ex-presidente Lula a viajar para encontrar parentes e homenagear, Vavá, que faleceu ontem. Não deu para ir ao velório e ao enterro, tantas idas e vindas. Foi uma peregrinação até conseguir, o que aconteceu só na instância máxima. Mas Lula embirrou e disse agora no começo da tarde que não virá mais. Lula viajaria com a Polícia Federal para São Bernardo do Campo e poderia encontrar sua família, mas numa instalação militar da região. Vamos ver como será isso. Na tragédia de Brumadinho começam a parecer os rostos e histórias das centenas de vítimas. O porta voz dos Bombeiros, bárbaro, Pedro Uihara, que está fazendo um trabalho excepcional merece os nossos aplausos de hoje. A Vale agora resolveu divulgar um saco de bondades e decisões que já devia ter tomado faz muiiiitttooo tempo.

Lumas do Brasil! Hoje é o dia do Bombeiro Nacional. Ôôô belezas…

2 de julho! DIA DO BOMBEIRO

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fonte do texto que conta a história da data: http://www.smartkids.com.br

Em 2 de julho de 1856 foi criado, no Rio de Janeiro, o Corpo Provisório de Bombeiros da Corte, que teve por comandante o major João Batista de Morais Antas.

Por isso é que no dia 2 de julho se comemora ainda hoje o Dia do Bombeiro, numa rememoração desse dia e como homenagem ao constante devotamento e aos atos de heroísmo praticados por todos os que pertencem e tem pertencido a essa exemplar corporação, na qual o povo cegamente confia.

As guarnições do Corpo de Bombeiros são várias em diferentes pontos da cidade, estão sempre prontas a acorrer para onde se faça necessária a sua ação, quer para debelar incêndios, quer para salvar vidas, humanas ou mesmo de animais, em quaisquer circunstâncias.

O bombeiro é um grande amigo de todos nós.

Por isso é de plena justiça a comemoraççao do seu dia, à qual todos devemos associar.

ARTIGO – QUE VERGONHA, SÊO CABRAL. Por Francisco Simões

Leia mais este desabafo sobre a situação dos Bombeiros no Rio de Janeiro. Perceba que eles precisam da solidariedade do povo, das pessoas que eles vivem para salvar, mesmo com o minguado salário que recebem.

“QUE VERGONHA,  SÊO CABRAL”

Então o senhor vai à TV e com rompantes de revolta e postura de um autocrata chama os bombeiros de “safados”, “bandidos”, “vândalos”, entre outros adjetivos que me deixaram horrorizado?

 Então o senhor manda prender mais de 400 bombeiros, enquanto milhares de bandidos estão por aí, à solta, a assaltar, a matar, a invadir residências, a promover tiroteios em comunidades matando inclusive crianças com as tais balas perdidas? Ainda ontem aconteceu novamente na Vila Kenedy. O senhor soube?

 Sua autoridade, sua “valentia”, usadas sem dó nem piedade para cima de bombeiros, a categoria mais bem avaliada pela população brasileira, aqueles cujo trabalho, cuja dedicação, é salvar vidas pondo em risco, sempre, as suas próprias, pelo menos de minha parte mereceu repulsa, não aplauso.

 Hoje de manhã, na rádio CBN, um cidadão colocou esta pergunta: “O que levaria tantos bombeiros, pertencentes à categoria de militares, sempre ordeiros, disciplinados, que arriscam suas vidas para salvar tantas outras em terra ou no mar, aplaudidos constantemente pela população, a tomar aquela atitude de outro dia? Antes de se lhes jogar alguma culpa, julgo que deveriam entender as razões de tal explosão da categoria. Motivos certamente bem sérios devem ter havido.”

 Pois o senhor Cabral é que deveria dar alguma resposta, em vez de ficar a esbravejar impropérios injustos, meio apopléctico, atrás de câmeras e microfones.

 Quando o senhor promoveu aquela invasão ao complexo do Alemão com imensa  parafernália, com aquela exibição de força descomunal, momentos depois nós todos assistimos a centenas de pessoas fugindo pelos morros e o Secretário de Segurança justificou dizendo que lá não interessava um banho de sangue, mas livrar a comunidade deles, a população ficou pasma.  

 Pensam que somos todos néscios? Sabe para onde foram aquelas figuras que os senhores deixaram escapar impunemente? Pois pergunte a outras comunidades, a outros bairros, a outras cidades do interior do Estado, senhor Cabral. Quando o senhor autorizou aquela invasão do complexo do Alemão com toda aquela força, tanques blindados inclusive, etc, estava declarada sim, uma guerra. Guerra, senhor Governador, é pra ganhar no todo, não de forma parcial, como fizeram. O resto é pura demagogia, ou exibicionismo.

 Se os bombeiros cometeram algum excesso ao invadir o Quartel General deles, por outro lado eles estavam numa explosão de impaciência visto que os ouvidos moucos de V. Senhoria jamais escutaram seus apelos por melhores salários, ou por salários mais dignos, e não os míseros 950 reais que recebem. Hoje se sabe que Estados com arrecadação inferior ao Rio de Janeiro pagam pelo menos o dobro a seus bombeiros, desde o começo da carreira. 

 O senhor, e mesmo o ex Comandante dos bombeiros, jamais tiveram interesse, ou sensibilidade, para conversar com representantes da categoria, é o que têm dito algumas lideranças da categoria.  Afinal o seu salário deve ser infinitamente superior a essa miséria que os bombeiros recebem, e o senhor nem precisa correr risco de vida. Nós, como povo, pagamos, e pagamos muito caro, inclusive pela sua segurança, certo?

 Com certeza faltou habilidade até para negociar com os invasores do Quartel, e quando o senhor deveria estar lá, não, o senhor estava encastelado em seu palácio. Então mandam um oficial, representante da PM, para conversar com eles? Que é isso, sêo Cabral? Depois da reeleição está se lixando para uma categoria que em vez de dar trabalho, costuma mesmo é arriscar a vida numa labuta sempre árdua e heróica? Que vergonha.

 Aí o senhor se junta a mais uns três ou quatro assessores e vai à TV bradar contra os bombeiros e determina a prisão deles, prisão mesmo, pois ainda estão em cadeias do Estado, xinga pais de família que trabalham duro, sol a sol, não vivem de demagogia política, e diz que eles sofrerão processo? Que é isso, sêo Cabral?

 Botar uma tropa de elite da PM que deve agir, porém em outras situações, pois não estão preparados para dialogar e sim para bater, atirar, etc, chegou às raias da irresponsabilidade. Não cabe nenhuma culpa aos militares, mas a quem deu a ordem, e o senhor sabe quem foi. Que vergonha.

 E não querendo descer do seu falso pedestal, o senhor quer agora tentar substituir bombeiros em algumas atividades com militares que não estão preparados para exercê-las?! Que irresponsabilidade, sêo Cabral? Ouvi lideranças dos bombeiros denunciarem isto hoje da manhã na rádio CBN.

 Estou vendo que o apoio ao movimento dos bombeiros a cada dia aumenta mais, não só de pessoas da mesma categoria e de outros Estados, como de professores, etc. Seu pai, um intelectual, foi vítima da ditadura, mas o senhor, que veio depois, preferiu a carreira política e não foi à toa!! Vê-se bem por sua atuação…

 Seu pai eu respeito, nos meus quase 75 anos, pois conheço bem o trabalho dele em prol da cultura brasileira, em geral, e em particular no que concerne ao melhor de nossa MPB. No senhor eu não votei e jamais votarei.

 Lamento todo este quadro de coisas que o senhor criou, agora quero ver como vai desatar este nó. Só espero que esteja preparado para dar o braço a torcer e não insista nessa insanidade que é a prisão, em celas, em cadeias do Estado, de mais de 400 bombeiros, repito, a classe mais apoiada pela população. Quanto aos políticos, o senhor sabe bem o que o povo pensa a respeito!!

 – Francisco Simões.   (07 / Junho / 2011). Francisco Simões é o máximo. É escritor, poeta, amigo, sabe de tudo e vive no Rio de Janeiro. E-mail: fm.simoes@terra.com.br

FOGO!Viva os bombeiros! Uma carta aos jornais que diz tudo. O horror da forma como esses homens vêm sendo tratados. Por isso explodiram

O PAN do Rio custou 4 bilhões de reais, 10 vezes mais que o orçamento original. Para isso não faltou dinheiro. Agora os gastos com a copa e as olimpíadas estão “liberados” em busca de um título de futebol e “heróis olímpicos”. E não faltarão recursos. Já para os verdadeiros heróis brasileiros, os bombeiros, professores, militares, médicos, entre tantos, nunca há recursos. Eles que deveriam ser reverenciados, são humilhados, submetidos a péssimas condições de trabalho, vilipendiados, agredidos, presos e mortos. Enquanto o poder central se preocupa com estádios de futebol, auto-aumentos, encobrir atos corruptos, mordomias de toda sorte, estes brasileiros passam todo tipo de necessidade e ainda procuram manter a dign idade e a prestação do serviço. Que o exemplo do Rio de Janeiro desmascare perante a opinião pública, quem são e como agem os políticos hipócritas e que sirva para que de modo pacífico a nação faça valer seus direitos.

Luiz Nusbaum