ARTIGO – Escravos de Jó… Por Marli Gonçalves

bagladyTem expressões tão arraigadas que é só dar uma “letra” que o resto vem correndo atrás. Essa cantiga infantil, uma delas. Independente de quem é Jó, se ele tinha ou não escravos e, especialmente, o que é caxangá, ela lembra exatamente como têm sido os nossos dias, tira daqui para por ali. De lá, para pagar o acolá. E música especialmente para mim, que ando com ela na mente, e que estou me sentindo a própria caxangazinha, carregando caixas de mudança, tirando dali, pondo aqui, deixando ficar lá

Juro que hoje pensei em escrever – e vou, também – uma coisa mais geral, pessoal, sem falar de política. Só que é quase impossível. Não é que, além de tudo, a cantigueta também fala em guerreiros? Acaso você viu que o Lula e o PT chamam a turma de presos e condenados de “guerreiros”? Pois é, eles devem estar fazendo zigue-zigue-zá.

homEnfim, deixa essa gente para lá porque só servem mesmo para nos atrasar e chatear. Esperneiam. Berram mais que leitão de véspera, antes de virar pururuca. Como diz um amigo, esse aqui deve ser o único país onde o sistema judicial é discutido e achincalhado em praça pública; e pelos condenados. Condenados estes que ficam soltos dando entrevistas, posando para fotos, apontando o dedinho, ou presos, mas tratados como reis. Fora o campeonato para saber quem rouba mais, se são os chupins, ops, tucanos, ou a turma dos ideais perdidos na Terra do Nunca (… antes nesse país…), ops, os petistas.FPAPsmall

Por causa de tudo isso, mais algumas gotas de gerenciamento manco, e admitido pelo próprio ministro esta semana, a economia vai de mal a pior. E não me venham com índices, pesquisas de aprovação, muito menos com falas sobre os que “saíram da linha de miséria”. Balela. Mentira. Enganação. Basta olhar as ruas neste Natal. Basta ver as pessoas. Nem precisa ser repórter. Saia por aí perguntando. Todo mundo devendo. Todo mundo reclamando. Todo mundo cortando, cortando. Todo mundo fazendo piruetas dignas do Cirque Du Soleil. Na boa, mesmo, só vi festinhas de firma, boca livre. Até a Cidade de São Paulo está murcha, sem brilho, sem luzinhas – só umas lá, outras cá, uma grita a outra não escuta.

Como sou brasileira e, ainda por cima, mulher, independente, de linhagem SRD, etc. etc., estou atingida também. Detesto mudar. Mas estou sendo obrigada a fazer a terceira mudança em 5 anos, porque os proprietários estão enchendo os olhos e a bolha embolhando cada vez mais. Tendo de resolver de forma meio doméstica que depois conto qual está sendo, assim que me recuperar. Mas que, resumindo, me levou a neste momento estar às voltas com duas mudanças, uma reforminha, uma troca da cuidadora de meu pai que andava batendo pino e eu poderia querer é bater nela, trabalho do dia a dia (inteiro aliás, que jornalista não descansa), manter o blog e abrir um pequeno novo negócio com uma amiga, El Gran Bazar! Tem mais detalhes, mas melhor deixar para lá. Não quero ver você aos prantos na calçada comigo, no meio fio, coisa de que tenho tido vontade umas dez vezes por dia mais ou menos.children_sled

Virei a louca das caixas. Não posso ver uma dando sopa na rua que paro e pego. Tento organizar tudo, mas sempre tem alguém que estraga. …”Escravos de Jó jogavam caxangá. Tira, põe, deixa ficar, Guerreiros com guerreiros fazem zigue-zigue-zá”…

Foram as caixas que me lembraram a cantiga. Fui ver mais: Jó é aquele personagem bíblico do Antigo Testamento, dotado de grande paciência, o mesmo do “paciência de Jó”. Deus teria apostado com o Diabo que Jó, super rico, uma espécie de Eike, mesmo perdendo as coisas mais preciosas que tinha (filhos e fortuna), não perderia a fé. Assim aconteceu, segundo a Bíblia. Ou supostamente, como está na moda escrever para não se comprometer.

Ah, e tem a polêmica do caxangá. O que é. Até agora, para mim, eram pedras. Que eles usavam como fichas, tipo dados, movimentando de lá para cá. Nénão! Parece que é um siri. Que eles deviam jogar morto, porque siri “morde”. Tem outras teses: caxangá, em tupi-guarani, seria “mata extensa”. Jogar mata? Tem quem fuma mato, mas jogar…

Pode também ser um chapéu de marinheiro. Ou, ainda, dizem, um adereço usado pelas mulheres alagoanas sabe-se Deus onde. Continuaremos sem saber, porque, convenhamos, que não dá para jogar para lá e para cá nem o mato, nem o chapéu, nem o adereço, nem as mulheres.

Por falar nisso, reparou na nova moda de fim de ano? Deve ser por causa da novela, da Tetê pára-choque, para-lamas: as mulheres estão usando flores no cabelo, e tiaras rodeadas de flores.

Acho ótimo. Já usei faz 40 anos; com 15 anos andava por aí com uma linda, que eu própria fiz com as flores roubadas dos vasos de arranjos de flores artificiais de minha mãe.

Me sentia como uma rainha coroada. Só que na época tinha o sentido: usava quem queria a Paz e o fim da ditacuja que nos esmagava.

Agora, só quero a Paz. E bom senso aos homens de Boa Vontade.

lemonadeSão Paulo, Natal, acabando o horroroso 2013

 

Marli Gonçalves é jornalista – Virando uma pessoa compacta, compactada. Lembrando de matemática moderna, intersecção – operação pela qual se forma o conjunto de todos os elementos que são comuns a dois ou mais conjuntos. Entendeu, né?

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ARTIGO – Mãos ao alto, por Marli Gonçalves

noelIsso, aquilo e aquilo outro: tudo é um assalto! Não reaja. Ou reaja, mas temo que não vá adiantar muito. Somos assaltados, roubados, furtados e outros ados (e idos) todos os santos dias. Em vários locais, sentindo, percebendo ou não. Pior: oficialmente, por empresas credenciadas e pelo próprio governo. Afinal, impostos se pagam para quê?

Você aí faz compras? Come? Já deu um pulinho no supermercado, sei lá, este mês? Não é para já entrar com as duas mãos para o alto, até antes de passar no caixa? Se é que vamos passar pelos caixas, porque na toada que estamos indo, de alta de preços, de descontrole inexplicável, iremos ao supermercado ou à quitanda só para fotografar – não está na moda, fotografar-se e postar na internet? Vamos posar com o tomate. Abraçando o mamão. Beijando um pedaço de queijo. Sorrindo, ao lado de uma peça de carne. Fazendo de conta que estamos tomando um iogurte.

burglar_stealing_safe_md_clrAh, não, que loucura é essa minha? Como vamos fotografar se aquela conta ininteligível que as operadoras mandam está cada dia mais alta e indecodificável? Postar na internet? Teremos que sair por aí procurando algum rico com wi-fi, igual a caçadores de borboletas.

O despropósito é total. Não há mais referência, padrão de comparação, nem vergonha na cara. O contágio tem sido célere. Se cada um pede o que quer, e acha otário para pagar, vai aumentando o preço, uma bola de neve, que já envolve também o pagamento dos serviços. Sabe quanto um pintor está cobrando? Fora o preço da tinta! Uma latinha, quase cem reais. Se for cor especial, com nome bonitinho como “vermelho pitanga do agreste” ou “amarelo raios de sol do Oriente”, prepare-se: o galão vai te depenar.imageget.asp

Eletricistas, sapateiros, tintureiros, encanadores, todos, enlouquecidos. Dá até palpitação receber o orçamento. De algum lugar tem de sair dinheiro. Temo que também nisso possa ser encontrado o dedo mindinho do governo que se vangloria de ter alçado pobres para a classe média. Compraram carros em 72 vezes, não calculam juros, não têm informações suficientes para avaliar, estão no momento farra e impulsionando o país para um buraco que quem viveu bem lembra, o buracão da inflação. Galopante. Tudo criado dentro de um ambiente falso, com índices manipulados, e assovios de políticos populistas. Bolhas, bolhas e bolhas.

BanditMas comecei a falar sobre esse assunto porque tive um trauma pesado essa semana. No mês passado liguei na minha operadora de celular, a principal, aliás, porque são tão ruins os serviços que temos de ter pelo menos duas opções para nos salvar em emergências. A conta estava uma fortuna – cortei, passei uma linha para pré-pago, diminui os kabaites e emebaites. Dediquei três horas para isso, contando as ligações despencadas, os atendentes gerúndicos, a infernal musiquita de espera. Passado o mês fui feliz da vida abrir a conta e, surpresa, me cobravam o dobro, duas fortunas. Até chorei. De desconsolo. Revoltada, peguei mais uma hora para ligar, reclamar, brigar – Ô, stress! Enfim, consegui que admitissem o erro básico, claro, deles: eu não tinha um plano; esqueceram. Então, cada telefonema que dei no mês – ainda bem que só falo o necessário – foi cobrado. Já reparou quanto custa cada minutinho? Furto. (A diferença entre furto e assalto é que no furto não há o contato com a vítima, entende?).r_santafocus

Estou vendo amigos postando relatos parecidos, muito p da vida e, esperançosos, acreditando na interferência quase divina das agências reguladoras Anatel, Aneel, ANS, letras que nos faltam quando mais precisamos.

robberOs seguros-saúde que temos de manter porque no hay gobierno aumentam quanto querem. A conta de luz que prometeram que baixaria o preço… Sentados, esperamos. No escuro. E o gás? Já reparou que cobram até o que você não usa? Sim, como se fosse uma franquia. Some, vá somando. No dia do pagamento, suma.

E o que a gente não vê, mas está sendo roubado? Tipo gasolina no posto. Esse problema eu resolvi: tenho um posto de estimação, de confiança. Cada vez que não consigo chegar lá e uso outro fico impressionada como as bombas viram armas e assaltam, cobram e não entregam.

x_santa1A lista é grande. Tem a conta do restaurante, que quando a gente vai checar está quase sempre mais salgada do que o prato que se comeu. E os preços mais embutidos do que salsicha e linguiça? Você vai comprar uma coisa e mal sabe que está pagando por outra que não tem nada a ver, e que foi colocada indelicadamente nos custos gerais.

Mãos ao alto! Isso é um assalto!

Mas esses meliantes que estou denunciando raramente são presos, e não sou eu quem vai pedir que voltem – para quem lembra – os “fiscais do Sarney”. Éramos nós!

São Paulo, preços na hora da morte, e 2013 não acabou

Marli Gonçalves é jornalista – Encontrei uma expressão popular bem louca para definir nosso orçamento: anda mais justo que boca de bode. Cada vez vamos ficar mais por fora que umbigo de vedete.

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