ARTIGO – Os normais dias seguintes. Por Marli Gonçalves

 

 À esta altura você já deve ter se dado conta – assim como eu – de como é dura a realidade dos fatos, e que ano após ano a gente acredita que eles vão mudar como mágica à meia noite de um Ano Novo. E assim levamos a vida, dia após dia.

Teve mais uma vez quem pulou sete ondinhas, vestiu branco, saiu carregando uma mala em volta do quarteirão para chamar viagens, comeu lentilhas, chupou caroço de romã. Fora a calcinha, que essa é de praxe. A minha deste ano foi amarela. E a sua? Ah, você usa cuecas? Coloridas? Acredita que já tentei praticamente de todas as cores nessa longa vida? Testei até não usar. Nunca veio, nem o amor da vermelha, nem o dinheiro da amarela, nem…  Esse ano para o ano que vem, andei pensando, vou tentar a verde, da esperança. Qualquer coisa direi que estava lutando pelo meio ambiente, contra o aquecimento global, pela legalização, coisas assim…

 Tem também a de acender velas, tomar passes, oferecer oferendas, de não comer nada que cisca pra trás, e o que mais? Banho de ervas? Roupa nova? Estourou uma champagne, viu a rolha voar, com aquele estampido bom, abraçou e beijou quem estava por perto, e assim foi a tal noite feliz – sempre acho que é essa a Noite Feliz, não a de Natal, sempre mais envolta em tristezas.

Espero que não tenha acreditado na possibilidade de fogos de artifício não terem barulho. Balela! Só o dia que forem apenas virtuais, projetados, e acredite, a gente vai odiar. Nada como vê-los como são, sempre foram, explodindo em cores, formatos – aquele momento, aqueles poucos minutos especiais em que viramos crianças de novo.

Fez lista de decisões? Escreveu ou ficou só na cabeça, na intenção? Aliás, já pensou ou olhou para ela nesses poucos, mas longos dias, que já correram e ocorreram de forma assustadora? Devo perguntar ainda se já desistiu de algum item e sacou que tinha exagerado, exigindo muito de você mesmo. Acontece. A gente se promete cada coisa!

Ano após ano parece que tudo se acelera, e que os efeitos de Ano Novo estão cada vez mais efêmeros. Antes, aliás, costumava-se dizer por aqui que o ano só começava depois do Carnaval, mas já faz algum tempo que isso mudou, creio que desde que a globalização se instalou de vez entre nós, fazendo o país acelerar para não ficar mais trás ainda do que já está. Fica aí esperando, sem fazer nada, trabalha não, pra ver se as coisas caem do céu.

Bem, você também já ter conferido: que eu saiba, não ganhou a tal Mega da Virada. Esse ano, joguei – e eu nunca jogo na loteria, mas a mulher do horóscopo falou que podia ser, que havia propensão, probabilidades. Não custava nada acreditar. Um ponto, e olhe lá, em cada aposta.

Enfim, as rédeas do destino a gente até segura, mas o cavalo empina sempre em mais direções do que a vã consciência pode explicar. Passou a meia-noite, e já na outra meia-noite estávamos preocupados com o luto da guerra, com o que os dirigentes mundiais se divertem, com os botões que apertam, as ordens que gritam, com as bobagens que proferem aos borbotões, isso sim. Descobrimos ou lembramos que não somos os únicos agentes de nossos caminhos, onde inclusive andamos deparando com tantos seres do mal que dá vontade de nem sair de casa e passar o ano é gritando socorro.

Aguenta firme aí, temos mais 50 semanas. E pelo que já vimos, assunto não vai faltar.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Os humores e os certos nojinhos. Por Marli Gonçalves

EwwwwwForam me chamar, eu estou aqui, o que que há? Desisto. Não vou ficar quieta. Você liga a tevê e o que querem te vender, além de linguiças, carnes, carros, bancos modernos e móveis solúveis em pouco tempo? Desodorantes. Desodorantes íntimos. Outros, nem tanto. Querem que você tenha nojinho de si próprio! Sai fora.

Sensação de calcinha limpa todo o dia, e a moça sorridente em suas inúmeras atividades diárias, além de tropeçar em um coitado de um gato quando acorda, correndo para ir ao banheiro para logo pôr o tal negocinho protetor. Zap. O moço bonito passa o desodorante e, logo depois, passa o próprio dedinho nas suas próprias axilas, para horror da voz feminina em off que o repreende severamente: “é estranho”, sentencia, deixando-o com cara de otário que caiu do caminhão de mudança. Zap. Agora tentam vender um shampoozinho rosinha para calcinha, mais uma tranqueira especial, separatista, que ordena um verdadeiro isolamento dessa peça tão charmosa e de personalidade, mas fadada a tomar banho longe das outras e em outros aposentos.

Não bastasse a repressão rigorosa aos nossos eflúvios, toma ouvir falar da polêmica comercial do comercial da comercial perfumaria do Dia dos Namorados, voltado ao público gay. Delicado, feito com cuidado, mas o seu aroma chegou aos empertigados narizes desses políticos de última, que sempre me parecem desdenhar, mas quererem comprar – se é que me entendem. Enfim, como nunca vai mais parar de piorar, surge gente atribuindo àquela mulher, glorinha, chic, chique, que ela teria falado uma pérola que até os porcos desdenhariam. “O único problema que vejo nesta campanha é que os gays não usam Boticário, e sim, perfumes importados”. Tá bom, não foi ela, mas é que como a moça só conhece bicha rica/chique, e gosta de sair distribuindo regras e condutas, até que combinou. Ela não perderia um patrocinador desses. Não deve ter dito isso mesmo. Tem de dar um pulo no meio da Parada Gay para ver quem e como são os gays brasileiros, a massa, aplaudi-los por suas audácias no meio de duras realidades.

Há muitos anos conheci uma moça – foi até próxima – mas da qual me lembro mais por um único detalhe: ela usava um sabonete para cada parte do corpo, de tanto nojinho, um pouco de TOC, outro de imbecibilidade – sim, tinha esse componente. Lembro que era de tal forma reprimida que certamente nunca tinha se tocado, ou mesmo se admirado nua. É o que querem que a gente pire, tal sorte de produtos que estão sendo lançados para tirar nossos cheiros, os corporais, os que deixamos no meio ambiente e os de nossas roupas. Alguns produtos são tão fortes que parecem Pinho Sol, Lysoform – pioram a emenda e o soneto. Quem usa transporte coletivo poderá atestar tranquilamente o que digo. O quanto sofrem com perfumes, loções e desodorantes mata-ratos.

Gifs 3D bem legaus 6Estão confundindo higiene, a fundamental e indispensável higiene, o banho, a limpeza, o asseio, e forçando a mão para que tenhamos os tais nojinhos de nossas próprias exalações e emanações. Há ginecologistas alertando para o perigo – ficar mudando muito o cheiro tira tesão, façam atenção. Somos humanos, mas temos muito ainda de bicho e de instintos naturais que se dissolvem se disfarçados assim. “Cada pessoa tem seu cheiro que é responsável por ativar áreas do cérebro relacionadas à excitação e ao orgasmo. É preciso cuidado ao mascarar o próprio cheiro, o que está diretamente relacionado com a sexualidade”– explicam. Fora as alergias cada vez mais terríveis dos pacientes que têm chegado aos consultórios. Tudo também na conta de que há tanta repressão que as mulheres não se tocam nem para se lavar, preferindo esses artifícios que acabam com o pH da pele. Os homens, então, ah, esses também não sabem bem limpar as suas coisas direitinho.

Nessas de saber mais sobre esse aspecto, me deparei com a – de alguma forma, genial – base da medicina hipocrática, a teoria dos quatro humores, e que originam também a palavra que tanto usamos e apregoamos, humor.

Segundo a teoria, que prevaleceu até praticamente o Século XVII, os líquidos que correm dentro do nosso organismo quando desequilibrados levavam às doenças e dores. Divididos em qualidades, sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra, vindos, respectivamente, do coração, sistema respiratório, fígado e baço, determinariam até nosso próprio temperamento. Como os quatro elementos, ar, fogo, terra e água, quentes e frios, expressariam tanto pessoas amáveis e alegres, como irritadas, ou desanimadas, por exemplo. As com mais fleuma (das veias linfáticas) seriam moderadas, frias, “diplomáticas”. Daí até outro termo, quando dizemos que alguém calmo ou impassível, até elegante, tem fleuma.nojinho 3

As curas viriam do controle desses líquidos- com ervas de efeitos diuréticos, purgantes, sudoríferos e soníferos. Rolava até uns sanguessugas para ajudarem no serviço em busca do equilíbrio perdido. Interessante.

(Fim do momento Marlizinha também é cultura… )

Liberdade para nossos humores! Nossas seivas, eflúvios! Chega de deixarmos nos forçarmos aos certos e errados que criam desajustes com nossos próprios corpos, vergonha de nossos próprios cheiros. Imposições tão depreciativas que têm levado tanta gente mais rápido para debaixo da terra; “lá”, nada disso tem muito valor, muito menos perfume. Gordos, magros, siliconados, bombados – todos vão para o mesmo destino. Alguns estão indo embora até muito mais rápido, de tanto que quiseram ficar bonitos e cheirosos.

Papai-Noel-desmaiando-com-cheiro-ruim-da-meia_1340Relaxa. Como tão bem e freneticamente disse Rita Lee, legal é ser bonito e gostoso, para você olhar, cheirar e quere. “Eu sou uma fera de pele macia, Cuidado, garoto, eu sou perigosa…”

São Paulo, no Santo Antonio`s Day, 2015

Marli Gonçalves é jornalista – – Um grande amigo, alucinado por cinema, dizia, maroto: “Se até a Elizabeth Taylor peida, porque eu não posso?”

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Veja isso e cuidado ao desembarcar em Brasilia. Eles estão olhando as calcinhas…

windsockteclandoFiscais acusados de assédio moral, no aeroporto de Brasília

A Receita Federal está às voltas com denúncias de humilhações e assédio moral no desembarque de vôos internacionais, em Brasília. Fiscais até obrigam passageiros a sentar-se diante de computador e preencher a própria autuação. Um deles, identificado por Jânio, irritado por nada encontrar nas malas reviradas de um jovem casal, retirou e desdobrou calcinhas da moça, uma a uma, com sorriso provocador e nervoso nos lábios. Parecia tentar forçar o rapaz a perder a calma.

Já foi melhor

A atitude dos fiscais da Receita surpreende quem estava habituado à cordialidade desde a inauguração de voos internacionais, em Brasília.

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Aviso prévio

A Receita prometeu “levantamento” de denúncias contra seus fiscais. E informou que o contribuinte pode denunciar abusos a sua corregedoria.
 
FONTE: COLUNA CLAUDIO HUMBERTO