ARTIGO – Carta às 77.649.568 eleitoras brasileiras. Por Marli Gonçalves

Mais precisamente às 77 milhões, 649 mil, 569 eleitoras, contando comigo, que estou e estarei bastante atenta às questões relacionadas às mulheres e a outras que poderemos influenciar muito com o nosso voto, agora em 2020, e em todas as eleições para as quais as brasileiras forem chamadas a opinar; e somos maioria. O voto é uma arma, pacífica. Precisamos usá-la. Por nós, mulheres, pelas nossas famílias, por todos os brasileiros, por um futuro mais digno.

ELEITORAS

Prezadas,

Vejam que estamos em 2020 e ainda não somos respeitadas e nem representadas na medida em que somos a maioria da população brasileira. Nem nos cargos legislativos, nem em outros, incluindo Executivo, Judiciário e, ainda, nem na sociedade, nem dentro de empresas, ou no comando, nem no respeito. A população brasileira é composta por 48,2% de homens e 51,8% de mulheres. (Dados IBGE/ PNAD Contínua/2019). Em termos eleitorais, somos 52,49% do total; os homens, 47,48% do total. (TSE/2020). Podemos ser a decisão, pela melhoria para todos.

Acredita? Por aqui, por exemplo, as mulheres compõem apenas 10,5% do conjunto de deputados federais. E de um total de 192 países, o Brasil ocupa a 152ª posição no ranking de representatividade feminina na Câmara dos Deputados, ficando até atrás de países como o Senegal, Etiópia e Equador.

A eleição deste ano, para prefeitos e vereadores, é aquela que está mais perto de nós, de nossa ação. É a que cuida de nossa região, onde vivemos e onde passamos nossas vidas, onde está a nossa casa, as mesmas casas onde um número absurdo de mulheres continuam sendo assassinadas por seus companheiros e ex-companheiros, e onde a proteção policial e as promessas de proteção ou garantias não têm passado em geral de apenas promessas. Você está vendo isso, não? Sentindo na própria pele, talvez?

São Paulo, por exemplo, registrou 87 mortes por feminicídio apenas no primeiro semestre de 2020. O maior número de casos desde a criação, em 2015, da lei que especifica o crime – é o homicídio praticado contra a mulher em decorrência única e exclusiva do fato da vítima ser mulher (misoginia e menosprezo pela condição feminina ou discriminação de gênero, fatos que também podem envolver violência sexual), ou em decorrência de violência doméstica. No Brasil todo dados preliminares mostram aumento de mais de 22% nesse crime, em relação ao ano passado, que já era absurdo, e apenas contando os primeiros meses do ano. Uma situação ainda claramente mais agravada pela pandemia, quarentena e necessidade de isolamento social, crise econômica, etc.

Esta é apenas uma questão, mais específica. Temos todo um país a resolver, atrasado com relação a tudo, Educação, Saúde, Saneamento, aprimoramento da cidadania. Não é só uma questão de cotas – temos 30% de cotas nas candidaturas, mas sempre manipuladas, usadas para obtenção do Fundo Partidário, com nomes que muitas vezes, usadas como laranjas, nem as próprias mulheres sabem que as colocaram para votação nas chapas partidárias. Anime-se inclusive a se candidatar, vamos!

Junte-se a todas as mulheres do mundo!

Meu apelo é para a consciência; não é reserva de mercado, nem obrigação de votar apenas em mulheres, mas que o façam, participem, votem, e em pessoas sérias, que estejam comprometidas verdadeiramente com a sociedade em geral, sejam de que gênero ou raça forem, idade ou classe social. Será esse comportamento que levará à melhoria das condições, não só na política. Nos fazer ouvidas.

De qualquer forma são as mulheres que sempre têm a maior noção do que todos enfrentamos, fatos tão agravados este ano e que terão ainda ampla repercussão pelos próximos tempos: desemprego, falta de assistência, necessidades especiais e de direito reprodutivo, segurança – as mulheres são sempre as primeiras vítimas. E é cada vez maior o número de nós chefes de família, como principais responsáveis pelo sustento.

Chega de nos contentarmos com migalhas, segundo plano, pequenas conquistas que chegam de forma tão lenta, e que nos são devidas há décadas.

Animated%20Gif%20Women%20(63)Peço encarecidamente que se informem, não acreditem em notícias falsas, pensem com suas próprias cabeças, sejam independentes, respeitem-se entre si, estendam a mão a outras mulheres ampliando nossa ação, explicando como se dá a igualdade de direitos, e quais são esses direitos, que as mulheres, merecidamente, tem até em maior número por conta de sua fisiologia. Estenda a mão e atenda os gritos de socorro ao seu redor.

Vamos parar de achar normal o que não é – e nesse momento nada está normal; estamos vivendo num país perigosamente flertando com o retrocesso em vários campos, e onde até nossas acanhadas conquistas estão em risco, desmerecidas diariamente que vêm sendo.

Chamo você para o nosso encontro mais importante este ano: domingo, 15 de novembro, primeiro turno; e domingo, 29 de novembro, segundo turno, onde houver. Se arrume toda, chama a família, aproveite para arejar as ideias. Pensa bem em quem vai acreditar. Ah, e use máscara, que até lá ainda estaremos em perigo.

Todas nós contamos especialmente com todas nós.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Ajoelhar e rezar. Nossa Senhora, seja agora a nossa Padroeira. Por Marli Gonçalves

Nossa Senhora Aparecida, encarecidamente rogo para que faça valer suas consagrações e a energia que tantos milagres já fizeram. Mas desta vez o pedido é maior. É uma voz em uníssono, nem que seja apenas por meros instantes, de 207,7 milhões de brasileiros. Ah, pode somar aí mais uns milhões de outros que, mesmo não sendo brasileiros, gostam de nós, e creem na sua intervenção, a única intervenção que todos, de uma forma ou outra, acreditamos, a divina.

 nossa senhora aparecida, ROGAI POR NÓS!

É tamanha a angústia, que chega até a ser inexplicável, chega a doer no peito, uma enorme tristeza, ansiedade, apreensão. Como se sentisse que algumas portas de dimensões desconhecidas tivessem sido destrancadas, abertas, e delas estivesse emergindo o que de pior há no ser humano – sua inesgotável capacidade de ser cruel, egoísta e disseminar o mal.

Pois olha, tanto, tão forte, que eu pensei. Já pensaram em escrever uma carta para algum santo? Pois não é que não sei se por essa mistura toda de Dia da Criança e Dia da Padroeira, com Dia de eleições e outras datas, semanas de brigas, eu quis escrever um pedido, e logo para a Nossa Senhora Aparecida? Aqui em casa, muito por influência da minha mãe, todos fomos criados muito ligados à Nossa Senhora, ao seu manto azul, à sua imagem que parece refletir exatamente o nosso país. À sua bondade e abrigo a todos. E se ela lembra minha mãe, só posso reconhecer nela o que de melhor há.

Imagem encontrada, pescada do fundo de um rio, despedaçada, cabeça e corpo, vem sendo unida e adorada há três séculos. Novamente destruída em 1978 – ficou em cacos – pelo ataque de um maluco, mais um destes tantos que ouvem vozes apelando pela destruição – foi remontada. Agora, aprisionada em uma cabine de vidro blindada dali só sai uma vez por ano, escoltada.

Pequenina guerreira. Meio estropiada após tantos percalços, feita de barro terracota, 36 centímetros de altura, dois quilos e meio. Ganhou o maior Santuário do Mundo para ela, uma imagem, uma escultura preciosidade que tanta fé impulsiona. Ganhou bênçãos e o reconhecimento de Papas. Da Princesa Isabel ganhou o manto azul ricamente ornado, a coroa de ouro cravejada de diamantes e rubis. Ganhou um Feriado Nacional. Milhares de pessoas chegam a ela todos os dias, com os pés em chagas, joelhos destroçados, caminhando pelas estradas. Fazem filas e sacrifícios apenas para passar diante dela, erguer os olhos e seguir adiante.

Ela é negra nessa imagem, mas há explicações: ou o tempo que ficou no fundo do rio; ou depois, as dezenas de anos que ficou na casa do pescador, sendo adorada pelo povo local, que à sua frente acendeu muitas velas que teriam escurecido sua tez.

A certeza é a de que Nossa Senhora Aparecida está acima de tudo isso – representa o Brasil de todas as raças, cores, credos, idades, times, inclusive. Sim, até teve evangélico que a chutou, mas isso foi um episódio superado. Ela une todos, motiva respeito. Vou dizer mais uma que que acabo de descobrir e que talvez tenha sido a gota d` água para eu pensar em apelar a Ela nesse momento. Nossa Senhora Aparecida, além de Rainha do Brasil, título conquistado em 1904, de ser a Padroeira do Brasil, desde 1931, é também desde 1967 a Generalíssima do Exército Brasileiro. A única.

No instante em que vivemos, nervos à flor da pele, a volta dos tons verdes, insígnias e fardas, em que famílias estão desunidas e que tudo parece ser assim tão só dialético, o Bem e o Mal, o Sim e o Não, me vejo acreditando mais ainda e orando para que se faça luz, que essa luz mostre o prisma tão diversificado.

Que irradie um calor que se espalhe amorosamente e nós, que apenas desejamos caminhar em paz para um futuro, consigamos seguir em frente sem tantos receios por nós mesmos e por todos que amamos ou consideramos. Haja o que houver, que nós todos sejamos respeitados e tenhamos a nossa liberdade individual garantida.

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Marli Gonçalves, jornalista. É a graça que peço. Rogai por nós, Nossa Senhora da Conceição Aparecida! Te chamo pelo seu nome.

marligo@uol.com.br e marli@brickmann.com.br

Brasil, 2018

MP/SP: segurança de jornalistas deve ser garantida. Veja todos os pontos levados à PM

Ministério Público de São Paulo exige da PM-SP medidas visando segurança de comunicadores em protestos

O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) enviou no último dia 15 uma lista de recomendações ao comando da Polícia Militar (PM) com 11 pontos que devem ser seguidos por policiais em protestos com o objetivo de preservar o trabalho de comunicadores.

 A lista foi feita a partir de depoimentos colhidos de comunicadores durante audiência pública realizada em São Paulo em 28 de setembro do ano passado para tratar das violações cometidas durante protestos de rua. A Abraji foi uma das organizações presentes na audiência e apresentou 300 casos apurados de violações contra jornalistas em coberturas de protestos em um período de pouco mais de três anos.

 Também se baseou em pesquisa de práticas internacionais e em nota técnica produzida pela ONG ARTIGO 19. O documento foi assinado pelos promotores Eduardo Valerio e Beatriz Fonseca

A Polícia Militar de São Paulo precisa dar uma resposta em no máximo 90 dias a partir do momento que o documento foi despachado. O prazo se encerra no dia 13 de junho.

No documento enviado, o MP-SP requisita que a PM elabore um protocolo específico para “regular a atuação dos policiais militares em face de profissionais de imprensa e comunicadores em geral, de modo a garantir que a atuação da Corporação seja voltada à proteção daqueles profissionais”.

Pede também a “responsabilização administrativa, por ação ou omissão, em ocorrências envolvendo agressões ou atos violentos contra profissionais da imprensa e comunicadores em geral”, além da “adoção de atividades de formação contínua da tropa quanto à intangibilidade de profissionais de imprensa em manifestações, com treinamento específico”.

Segundo o Ministério Público, o Comando Geral da Polícia Militar chegou a ser convidado a se manifestar voluntariamente sobre as denúncias de violações feitas na audiência pública. Este teria respondido que os ferimentos sofridos por comunicadores em protestos “são decorrentes do comportamento deles próprios, que se posicionam entre a tropa e os manifestantes, negligenciando os cuidados pessoais que deveriam adotar”.

Abaixo, as 11 providências a serem tomadas pela PM, segundo o Ministério Público:

 1. A elaboração de protocolo de atuação ou Procedimento Operacional Padrão específico para regular a atuação dos policiais militares em face dos profissionais da imprensa e comunicadores em geral, de modo a garantir que a atuação da Corporação seja voltada à proteção daqueles profissionais e à garantia do exercício profissional deles, elaborado a partir de padrões produzidos por organismo internacionais especializados. Que a elaboração da diretriz se dê a partir de diálogo com entidades de jornalistas, profissionais de imprensa e comunicadores

E que tal regulamentação contemple jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas e comunicadores em geral, independentemente de sua condição laboral, isto é, tenham ou não vínculo empregatício, pertençam a órgãos de imprensa ou a coletivos de comunicação ou, ainda sejam meros freelancers;

 2 – A elaboração de norma interna que proporcione a responsabilização administrativa, por ação ou omissão, em ocorrências envolvendo agressões ou atos violentos contra profissionais da imprensa e comunicadores em geral, dos oficiais que exerçam os respectivos comandos a que pertençam os praças eventualmente autores das condutas;

 3 – A adoção de atividades de formação contínua da tropa – oficiais e praças – quanto à intangibilidade dos profissionais de imprensa em manifestações, com treinamento específico para que a atuação da Polícia Militar, em manifestações populares e atos públicos, seja direcionada à proteção daqueles profissionais, promovendo-se tal formação em convênio ou parceria com organismos da sociedade civil, estudiosos da academia e com entidades de profissionais de imprensa, jornalistas e comunicadores em geral;

 4 – A adoção de procedimentos destinados à proibição, por policiais militares, de delimitação do espaço de atuação dos profissionais de imprensa em manifestações populares e atos públicos, já que não cabe ao Estado regular o exercício profissional dos comunicadores;

 5 – A submissão dos mencionados protocolos de atuação e dos procedimentos operacionais padrão ao controle externo do Ministério Público e ao controle social da Ouvidoria de Polícias, como forma de se fiscalizar seu cumprimento;

 6 – Na hipótese de prática de crime e consequente prisão em flagrante de profissionais da imprensa ou comunicadores em manifestações populares e atos públicos, a identificação de testemunhas presenciais estranhas ao quadro de policiais e que estejam presentes ao local, pelo oficial da Polícia Militar responsável pela condução à repartição policial;

 7 – Na hipótese de emprego de violência contra profissionais e comunicadores, em manifestações populares ou atos públicos, e inexistindo prisão em flagrante, a elaboração de relatório pormenorizado da ocorrência, do qual conste a justificativa e a autoria da ordem, remetendo-o em 10 dias ao Ministério Público e à Ouvidora de Polícias;

 8 – A adoção de providências para a efetiva proibição, por policiais militares, da apreensão (exceto se utilizada em prática de crimes) ou destruição de equipamentos de trabalho (câmeras fotográficas, aparelhos de telefonia móvel, cartões de memória, filmadora etc) dos profissionais da imprensa ou comunicadores;

 9 – A adoção de providências para a efetiva proibição, por policiais militares, de que apaguem, destruam ou inutilizem – ou determinem que alguém o faça – conteúdos de gravações, filmagens, fotografias e demais produtos do trabalho jornalístico;

 10 – Na hipótese de profissionais da imprensa ou comunicadores serem convocados como testemunhas, quando numa manifestação ou ato público, que sejam cabalmente informados desta circunstância e tratados como tal, nos exatos limites da lei processual penal;

11 – A adoção de providências para a efetiva proibição, por parte de quaisquer órgãos da Polícia Militar, de formação ou manutenção de cadastro ou registro de dados pessoais de jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas, comunicadores ou profissionais de imprensa em geral.

fonte: abraji

Texto adaptado da ARTIGO19*

ARTIGO – A carta de Dilma. Por Marli Gonçalves

writing_love_letterFaz uns três meses que uma tal carta começou a ser escrita e nunca se viu tantas idas e vindas, tantos rascunhos, tantos garranchos, tanto tira e põe, tanta gente se metendo, palpitando, igual ao governo que não fez. Essa carta podia mesmo ser só um ponto final.ARROBINHBA

Cabeçalho: Brasília, (__) de agosto de 2016. Destinatário: Ao Povo Brasileiro. “Desculpem qualquer coisa. Sei que estou sendo afastada pelo conjunto da obra e de minha teimosia, que acabaram desenhando os acontecimentos que vivemos. Grata pela compreensão, e um pedido: não gostaria que se associasse isso tudo ao fato de eu ser mulher. Não tem nada a ver. Apenas me uni a um projeto de poder político que se mostrou patético e falido”. Assinado, Dilma.

Pronto, estava dito.

Mas não. Quer porque quer causar. Sair batendo o pé. Agora a coisa está piorando e a tal missiva ameaça até ser uma espécie de carta-testamento, tipo a de Getúlio Vargas – sem o suicídio, esperamos, claro, que ninguém quer sangue. Dá para acreditar? Mais, a ameaça continua: poderá não ser só uma carta, mas duas! Mais ainda: ameaça listar as lutas da esquerda brasileira que acredita encarnar contra os contrários ao Deus Supremo Lula. Coisa mais antiga, démodé. Fico preocupada se ela não vai acabar fazendo logo um livro capa tão dura quanto sua cintura. Novela a história toda já virou. Toques venezuelanos emocionantes.

Mártir de si mesma, a presidente afastada sugere que não viu que foi quem montou o jogo que perdeu, o mundo se desmoronando à sua frente em erosão constante, promessas e mentiras desmascaradas. Que não ouviu os primeiros berros à sua porta em junho de 2013. Não admite que a cada passo que se revela da mangueira de sucção instalada na Petrobras vem à tona sua cegueira, incompetência de gestão. Ou, o que tem hora que até eu acredito, que foi feita de otária – e o que deve ser duro para a valenta admitir – as coisas correram ali nas suas barbas. Barbas, não, melenas caprichosamente cultivadas na sua visível transformação nos últimos anos.

cartero-echando-cartaO mesmo com relação ao partido, o PT e seus radicais livres, muitos que inclusive agora não mais o são, e estão ou foram presos, com o quais ela nunca pareceu ter afinidade mesmo, mas fazer o quê? Vivem ranhetando entre si. Mas poste não tem vez, nem voz. O problema maior é que caiu a lâmpada que iluminava o poste e o fazia imprescindível.

Igual soluço, a palavra golpe está até cansada de tanto senta e levanta, de tanto que entrou e saiu dessa tal carta que já marcou várias datas para nascer de cesariana, e deu para trás até agora em todas. Parto difícil, alto risco.

Outro dia dessa semana, pelo que se deu a entender, Lula foi até Brasília para conhecer a tal pecinha. Vocês conhecem o Lula? Conseguem imaginar o que é que ele realmente pensa dessa ideia de escrever cartinha, como deve se referir com desdém, o que será que acha? Do papelzinho? O intuitivo Lula deve achar uma papagaiada, entre outros termos menos airosos.

Fora que pelo que se ouve por aí, na tal epístola ela quer – e se voltar, garante que o fará – chamar o povo – esse arrepiante coletivo – para opinar em plebiscito. Um eufemismo para admitir sua própria derrota.

Não quero ser chata, tinha até pensado em ajudar a escrever uma minuta completa para abreviar a angústia que essa carta, ao fim e ao cabo a nós endereçada, deve causar a Dilma. Será que ela levanta de madrugada pensando nela? Será que é ela mesma que a está escrevendo sentada em sua penteadeira, com caneta bico de pena (imagem romântica)? Qual a cor da tinta? Ou escreverá a lápis, apagando detalhes com borracha cheirosa? Usará branquinho?

Spike_writing_in_the_friendship_journal_S4E23Se perde pensativa, desenha casinhas no papel? Escreve os palavrões que pensa? Ou teclará catando milho palavra por palavra? Tira cópias? Parece a carta mais vazada e aberta do mundo, mais que obra de Umberto Eco. Imprime para ler? Destrói no triturador as partes que despreza? Deixa guardada em um pendrive que mantém junto a si, amarrado em uma corda no pescoço?

Escreveu não leu, o pau comeu.

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Marli Gonçalves, jornalista – A melhor de todas é a carta branca, que nos deixa decidir o que queremos. Mas que não damos a governo algum em nosso nome.

Brasil, 2016, Código 55. O CEP não sei. Registrada.
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ARTIGO – Carta aos considerados. Por Marli Gonçalves

close-more-salesEscrevo porque considero muito os meus considerados. E vi muitos deles postando imagens de dentro da manifestação em que se vestiu vermelho e, portanto, em apoio ao atual governo. Se for o seu caso e estiver lendo esta, saiba do meu respeito – não deve estar nada fácil se manter neste apoio, dia após dia. Mas não me chame nem de longe, nem em pensamento, de golpista. E também não vire sua cara comigo, que daqui a pouco, todos juntos, espero: vamos rir muito de tudo issovoleur

Estamos respirando política. E política aqui no Brasil não é muito saudável, cheirosa, nem oxigenada, muito menos confiável. Momento tenso, muito tenso, desequilibrado mesmo. Bambolê. Até aqui creio que todos concordamos. É o mínimo.

Isso dito, deixo claro que também quero ver o Eduardo Cunha pelas costas, e que é um absurdo ser ele o condutor do processo de impeachment. Mas está lá. A mesma Justiça que bate em Luiz, baterá um dia talvez quem sabe logo logo nele. Mas ainda não bateu. Não consigo digerir o esgar irônico de Renan Calheiros. E, cá entre nós, o que é o Aécio? Que é aquilo? Onde foi que ele se perdeu dessa forma? Só fala coisas óbvias, repetitivas, como se ensacasse vento, trêmulo, sem convicção. Ficaria páginas listando alguns outros que se revezam diante de nós nos noticiários. Pauderney. Pauderney! Sibá. O bisonho irmão para baixo do Genoíno, da triste lembrança dos dólares na cueca. Caiado. Bolsonaro. Jaquinho, o baiano, o que diz que quer ser até carregador, atarracado no saco do chefe. Tem coisa mais degradante do que a subserviência? O “rapaz”, como chamado nos telefonemas, o Cardozo, que algo me diz estar em intensas manobras. O tenso Mercadante aloprado trapalhão. A lista é gigantesca.

Mas, meu considerado, por favor! Não fica aí batendo pé, fazendo biquinho, mimimi, repetindo bordões e falsidades se não estiver muito ligado, ganhando, ou ainda se for mesmo um apaixonado ainda não desiludido (ainda, né?). Se está aí acreditando até que deram Metrô grátis para os que protestaram contra o Governo, e você bem sabe que isso não aconteceu, mas continua no transe do social-golpe-direita-esquerda-etc, posso fazer o quê? Adianta mostrar fotos de como teve, sim, trabalhadores de vermelho na manifestação, e também nas faces, rubras, sim, mas por receber dinheiros, carona, uma camiseta e bandeirinha? Promessa de shows. Aliás, showmício.

Óbvio que achei o horror a tal lista de artistas para serem boicotados, assim como, por outro lado, achei o horror a lista negra que foi feita de jornalistas que batem no Governo. Acho simplesmente ridícula essa coisa boba contra a TV Globo – até parece que é tudo por causa dela, ou da Veja! – e os argumentos de vir comparar a corrupção quase trilionária que nos assola a camisetas da Seleção, tirar o pirulito da criança, pisar na grama, não dar esmola e ter babá. Ridículo, gente, arrumem coisa melhor.couple

O que vocês chamam de coxinhas e outras palavras mais pesadas que paneladas se trata de todo um mundo com pressa de olhar o futuro, virar a página, voltar a falar de outras coisas como esperança, parar de passar dias com nós no estômago, amargado com as notícias que não param de chegar. Com as coisas que não param de subir. Com os sonhos adiados como castelo de cartas. Com as dificuldades e falta de assistência. Com a paradeira geral e o soluço dos desempregados, endividados. São os verdadeiros estarrecidos esses que se movimentam confusamente em verde e amarelo. São seus amigos, poupe-se de destratá-los. Sou eu, seu vizinho, seu cliente, seu aluno, seu professor. Não são fascistas. Fascista é a …! Claro, primeiro, se aprender a escrever certo para xingar, o que é raro, raríssimo.

ringleader_yelling_thru_megaphone_md_clrQuem protesta? Quem está sentindo na pele. No geral, gente que quer que essa política que tanto envolve vocês em briguinhas de lé com cré simplesmente exploda, boom, daí o rancor. São alguns dos milhões de desempregados. Gente que não está podendo suportar mais o desgoverno, o governo malfeito, trapalhão, despreparado. É de baixo a cima. É total, está sem pé nem cabeça, sem projeto, sem ministros (?!?) sérios, tudo negociado, sem ações positivas, com as casas que dá, caindo, enquanto se constroem arranjos de sítios e triplex. Estradas parecendo campos de guerra. Um mosquito faz zueira e espalha o terror. O conceito cidadão é desvirtuado, trocado por apupos. As obras paradas, as cidades se deteriorando a olhos vistos.

Querem o quê? Aparece um candidato a imperador romano tentando atrapalhar as investigações – e, portanto, assinando com firma reconhecida a culpa no cartório. Com a mesma caneta, assina, promovido a ministro. Uma esculhambação geral, Casa da Mãe Joana – se já era esquisito ter um presidente dentro e um fora, dois dentro só pode ter sido ideia de um gênio do Mal, coisa que grassa nesse governo que confunde o tempo inteiro o Estado com as suas gavetas de roupas íntimas, quer usar a nossa escova de dentes. Vocês não podem não estar vendo isso.

parler_beaucoupEles, esses que batem no peito se agarrando no galho, mudaram; talvez, se você for jovem, não saiba, mas eles mudaram muito do tempo quando apareceram com propostas de mudanças, e eu também os apoiei. Agora estão sambando na corda bamba porque temem apenas deixar o Poder no qual se atarracaram para sugar tal qual carrapatos. Olha bem. Perceba que a situação chegou a um ponto insustentável. Deixaram digitais em todos os lugares, que são muitos, e que se encontram numa pororoca que estourou foi o país de nós todos.

A proposta é #vamosnosuniroparanaotergolpenenhum. Bandeira branca, amor.

Quer ficar nessa, fica, mas repito, sem me virar a cara nem torcer o nariz que daqui estou só assistindo. Mas uma hora vocês precisarão trocar de líderes se quiserem voltar a ser respeitados. Esses aí têm pés de barro, e a água já passou da canela. Nós, juntos, precisaremos encontrar novos homens de bem, de bem mesmo, se é que me entendem. Digo o mesmo aos exaltados do lado de cá: parem de ignorâncias, por favor, querer atear fogo na caldeira e se mostrando piores do que o que combatem. Sejam mais razoáveis, que os fatos já são bem claros, não precisam salivar.

Considerado, usando uma expressão cativada pelo querido Moacir Japiassu, que a todos chamava de considerado. Considerado é uma daquelas palavras completas em sentido, gorda de significados.

Considerado, considere considerar que todos nós temos alguma boa dose de razão.

Sem mais, cordialmente, eu juro, um forte abraço,

Marli Gonçalves, jornalista Ah, tô na rua sim, porque nunca fui de esperar que ninguém lute por mim, porque bem sei que ninguém lutará. Desejo algo como a lavagem do Bonfim, um novo tempo. Apesar dos pesares.

SP, março, 2016

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Belíssima carta (para Celso de Mello) enviada aos jornais, onde espero vê-la amanhã. Ainda há esperança.

DO DR. LUIZ NUSBAUM

birds“Excelentíssimo Ministro Celso de Mello. É chegado o dia. O dia em que a nação estará atenta à transmissão da sessão do Supremo como se fosse a final do mundial de futebol torcendo pelo Brasil. E o que é torcer pelo Brasil? É ver finalmente triunfar a justiça e os culpados, não só de desviar dinheiro público para campanhas eleitorais como alegam alguns, mas sim de desviar dinheiro público para enriquecimento pessoal, vida nababesca, viagens de jatinhos, jantares regados a vinhos raros e caros, dinheiro este que fez e faz falta na educação, saúde, segurança, infraestrutura, não importando sua colocação social, respondam por seus crimes. Culpados por tentar manter o poder pelo poder, não importando o custo. Por comprar a consciência e o voto de pseudorrepresentantes do povo. Culpados pela corrupção que devasta nossa pátria. Lembrando Rui Barbosa: “Nada mais honroso do que mudar a justiça de sentença, quando lhe mudou a convicção”. “birds

Luiz Nusbaum

lnusbaum@uol.com.br