Farofa, Formiga, Medos. Por Marli Gonçalves

Sou boa na farofa, me garanto. Aliás, minhas comidinhas são bem boas – inclusive sempre foram – bem temperadas, tudo muito natural. Quem provou, aprova. O segredo é curtir gostoso o momento da mistura, a criatividade dos envolvidos. O momento da entrada de cada um, remexidos.

Sexy Cooking GIFs | Tenor

Nossa, como ouvimos falar de farofa essa semana! Eram os ecos de uma festa lá no Ceará e que ainda não entendo bem se é festa, se é festival, se é só zoeira, e que zoeira! Se é jogada de marketing, vitrine digital, uma animada, rica e safada festinha de aniversário. Ou, sei lá, se é tendência sair juntando tudo quanto é influencer e jogá-los juntos para ver se procriam com tantos hormônios e apelos sexuais. É like pra lá, like pra cá, like beija coraçãozinho, coraçãoozinho faz live contando detalhes, mesmo os que rolaram no tal quarto escuro, que essa moçada só descobriu agora. Mas que o dessa farofa aí deve ter sido bem decorado, e sem cheiros, preciso lembrar que grudam, sempre terríveis. Imagino seguranças à porta tentando conter o uso dos celulares, agora parte do corpo dessa geração. Cabeça, corpo, membros, celular.

Sobre a dona da festa, Gessica Kayane Rocha de Vasconcelos, que por motivos óbvios se encarnou como Gkay, até agora não consegui chegar a qualquer conclusão definitiva. Uma parte de mim se impressiona com ela e a sua capacidade de aparecer; a outra não gosta do humor, da voz, do tom, não conheço todos os apitos que toca.

Enfim lembrei muito da farofa, esta, da Gkay, que competiu – e ganhou quilômetros de espaços – até contra jogos da Copa, formação de novo governo, e a minha. A minha memorável farofa, nunca igual a outra; nem conseguiria.

Demorei muito tempo para me habilitar na culinária. Minha mãe, que nasceu e teve infância lá na cidade de Formiga, em Minas Gerais, então uma cidade de roça, pequenina, diferente do que me parece hoje, já acoplada à região metropolitana de Belo Horizonte, me afastava de qualquer tentativa. Pois bem, na sua infância lá na década de 30 do século passado, uma amiga foi brincar perto do fogão a lenha, a panela fervente caiu sobre ela e aí vocês já imaginam a sequência que a traumatizou durante toda a vida, como outros tantos traumas que a levaram, assim que pode, bem pra longe dali para nunca mais querer voltar. Dessa forma, passei pelo menos mais de 40 anos de minha vida com mamãe cercando mais o fogão do que o nosso goleiro cercou a rede. Com mamãe não sairíamos da Copa. Era marcação cerrada.

Isso só mudou quando ela começou a ficar doente, um pouco mais dependente e, pasmem, começou a adorar as coisas que eu fazia. Esses anos distantes do fogão não foram em vão: aprendia. A observava. E uma coisa acabamos tendo em comum. Nada de receita, vamos fazendo o que o coração manda, com o que tem por perto, tudo cortado na hora. Meu irmão odeia que eu diga isso: mas também não tenho o costume de provar antes. Gosto desse jogo arriscado (tá bom, ok, errei poucas vezes, servi um chabu, mas tudo bem porque, como acabamos de ver e tomar na cabeça, nem sempre a vitória é garantida).

Fora tudo isso, o duplo sentido usado aqui e ali, no fundo agora escrevo sobre o medo, esse sentir que nos estilhaça e muitas vezes detém por muito tempo. A farofa-festa mostrou, ao contrário, uma diversidade e até sem-vergonhice de encher os olhos, seja como for, o que dá esperança que essa geração que chega seja ainda mais ousada do que nós que abrimos a clareira.

Quanto à minha farofa… como disse, tem mais. As minhas comidinhas sempre foram muito boas. Pelo menos teve muitos que gostaram. Talvez ainda gostem. Vamos em frente.

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MARLI - FLORESMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Retrospectivas e retroescavadeiras. Por Marli Gonçalves

Final de ano e elas, as famosas retrospectivas, já começam a pipocar, tenebrosas, tenebrosinhas, especialmente se lembrarmos o que passamos nos últimos quatro anos, somando o desgoverno, a pandemia, seus efeitos, as dúvidas que permanecem sobre o que vem aí, como vai ser

Hindsight Bias: Why You Make Terrible Life Choices - Nir Eyal

O sininho que toca é a música com os artistas saracoteando nos intervalos da programação. “Hoje é um novo dia” …Nas ruas, desta vez meio confuso até na 25 de Março e dividindo espaço com a Copa, o Natal tenta se infiltrar, misturando em pinceladas o seu vermelho com o verde e amarelo igual teve de ser nas eleições. Já não são mais muitas as luzinhas chinesas piscando nas janelas e que enfeitavam a cidade, as varandas e jardins, trocadas por bandeiras. Aqui perto de casa, a rua chique está enfeitada com uns parcos anjos com rabinhos em forma de sereia, até singelos perto das decorações que já vi. Uns carregam pacotes; outros, corações. Parecem tímidos, meio apagados. Econômicos, como sói ser nesses tempos bicudos.

Até o Papai Noel dos shoppings agora é mais magro, contido, rendido ao mundo digital e politicamente correto, sem crianças no colo. Rodolfo, Corredora, Dançarina, Empinadora, Raposa, Cometa, Cupido, Trovão e Relâmpago, as graciosas renas, andam postas de lado, talvez até para não criarem mais polêmicas, a marca desses tempos, em que tudo é muito discutido, embolado, cancelado. Chato.

Não demora, ela vem, não tem jeito: ao lado do especial do Rei, a chamada para a retrospectiva jornalística, desconjuro! Mais perdas, mortes, acidentes e acontecimentos funestos a serem recordados em takes bem escolhidos, o que nos faz tentar ficar bem longe porque a memória recente é viva. Mas as quimeras todas, essas, as pessoais, as nossas retrospectivas particulares, começam a se apresentar. Nos cobramos por tudo, começamos a prometer fazer tudo diferente no ano que vai entrar, tentando planejar as coisas como se isso fosse possível.

Com elas, o medo, a lista de sonhos abandonados, e também chega o otimismo e crença que daqui pra a frente tudo vai ser diferente, “você vai aprender a ser gente, seu orgulho não vale nada, nada!” …

Ok, sei que retrospectiva é só do ano que se despede, mas no caso nacional ele soma os últimos, suas consequências, as quais infelizmente ainda sentiremos queimando na pele nos próximos tempos. Como vai ser?

E as retroescavadeiras? – você pode estar se perguntando. Apenas um registro. Aqui em São Paulo elas estão vorazes e barulhentas em todos os locais, bairros, esquinas. Derrubam o passado sem dó, com poucas tacadas, dando lugar a stands de venda tão luxuosos que a gente acha até que são eles os próprios imóveis que estarão no lugar. Impressionante. Não dá para ficar uma semana sem passar em um local – quando volta, a sua memória, sua retrospectiva, o que viveu ou viu ali, simplesmente sumiu, do dia para a noite, não precisou nem passar o ano. Meu medo é essa surdina. Essa transformação acelerada, sem eira nem beira.

Mas vamos que vamos. O show não pode parar. “…Bom é ser feliz e mais nada…”

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Recordações, referências e revisões. Por Marli Gonçalves

Recordações despertadas por gatilhos. São lances de memória que explodem junto com os fatos e as coisas do presente, esse momento que logo vira passado, tão efêmero que é. O passado é assentado em algum lugar da memória, volta em golfadas. O futuro, ah, este é sempre o daqui a pouco.

Deve haver alguma gaveta, caixinha, miolo, não é possível que não seja assim, onde guardamos algumas lembranças, as especiais, que ficam arrumadinhas lá dentro até que algo acontece no caminho da vida, vira a chave e a abre, de lá retirando e nos fazendo reviver vividamente o outrora, seja bom, muito bom ou ruim, muito ruim. Esse gatilho chega com tamanha intensidade que é incontrolável. E só seu.

Aí está a questão que me incomoda não é de hoje. De alguma forma estas lembranças estavam guardadas também com outra pessoa ou pessoas que as viveram ou presenciaram. Deveríamos poder sempre consultá-las quando vêm à margem, de forma que pudéssemos checar se na tal gaveta onde guardadas estavam se modificaram, perderam ou ganharam sentido. Daí necessitar de referência.

Estou perdendo todas as minhas referências, e esse vazio – com o passar dos anos – causa uma profunda angústia. Muitas dessas pessoas partiram, e levaram com elas a possibilidade de comprovação de muitas coisas que eu contaria, por exemplo, em uma autobiografia que um dia talvez ousasse escrever. Chego a ter um pouco de inveja de quem tem mais amigos das décadas de vida. Tenho muito poucos e os mantenho como se fossem joias, mesmo que distantes. Triste que em cada uma das décadas que vivi alguns dos principais coadjuvantes foram levados. Várias formas. Muitos, nas epidemias, de Aids; agora nesta que vivemos de forma tão dolorosa nos últimos três anos. E agora? Quem vai me ajudar a recuperar com mais precisão as aventuras de vinte, trinta, quarenta, cinquenta anos atrás?

Já os amores, alguns desses foram levados pelo vento, ainda nem lembro bem porque ficaram pelo caminho, por melhores que tenham sido no seu tempo. Os terríveis, e os vivi, sou eu mesma que tento assassinar de novo a cada lembrança nas vezes que chegam para a revisão. Alguns, muito bons, estão por aí ainda, mas não posso acioná-los, embora até devesse, por considerar que jamais deveriam ser esquecidos por nenhum dos lados como a mim parecem agora estar sendo – tal a intensidade, forma e o tempo de sua duração.

Tudo isso para dizer que também, igual você talvez, andamos perdendo muitos outros tipos de referências, Gal Costa, Erasmo Carlos, para citar algumas, e as suas mortes funcionaram como as tais chaves que guardavam as gavetas que se escancaram ao ouvir as melodias e letras que embalaram nossa existência em várias fases da vida. Elas escavam o passado sem qualquer controle possível.

Me vi esses dias com pouco mais de nove anos de idade, nas areias da praia de José Menino, em Santos, percebendo quando ocorreu o meu primeiro amor, e o quanto foi platônico. Lembrei o nome! Ivo. Vejam só. Era o namoradinho de uma amiga minha, mas desta não recordo de jeito nenhum como se chamava. Adivinhem, claro, qual música – aparecendo na biografia de Erasmo – despertou e resgatou esse sentimento com todas as sensações daquele tempo tão longínquo e esquecido até essa semana.

Não sei se já contei, também, que passei minha infância ali na Rua Augusta, que era o caminho dos ídolos da Jovem Guarda e todos seus amigos a caminho da então gloriosa TV Record. Quando podia, esperava na porta do prédio que eles passassem em seus carrões. Absolutamente apaixonada pelo Ronnie Von, “Meu bem” (Hey Girl), fazia questão de manter os cabelos lisos e compridos, com uma franja que jogava igual a ele quando cantava, alguns devem recordar exatamente esse movimento; era o príncipe dos sonhos naquele momento. Até há bem pouco tempo, inclusive, ainda me sentia intimidada quando – já bem crescida- o encontrava pela cidade.

Vejam só como eram belos e perenes os ídolos de outros tempos, e o que explica a comoção causada com as suas partidas. E como é grande o medo de continuar perdendo os meus próprios registros pelo olhar de outros. A torcida continua. Aquela. Vocês sabem qual.

https://youtu.be/_SpOyKv02rg

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MARLI GONÇALVES – Foi lindo respirar o ar da torcida pelo Brasil, a primeira vez em anos que pareceu todos torcerem em uma só direção, sem divisões. Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Torcida. Por Marli Gonçalves

Torcida. Por isso. Por aquilo. A gente vive torcendo, uma loucura, nem que seja pra chegar ao fim do mês com as conta pagas. Pelo time, país, melhorias de vida, por amor. Torcida é difícil de ser medida, a não ser quando visível ou em movimento em estádios, nas ruas, nas redes. Mas quase nada é tão dilacerante e solitário quanto a torcida pela recuperação de um amigo ou ente querido.

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Vai ter torcida sim, claro, que o Brasil tem tradição e dias de Copa do Mundo costumam ser especiais, divertidos, diferentes, seja aqui ou lá no Oriente. É só começar, a bola entrar em campo, o primeiro gol. Lembra? O país é repleto de conhecedores, palpiteiros, críticos e técnicos de futebol. A Seleção entra em campo, o Hino Nacional vai ser entoado e aqui e lá estaremos nós, audiência alta, mão no peito, errando a letra, comentando o cabelo e as tatuagens dos jogadores, esperando refrões à capela dos que estarão presentes. Por alguns dias serão esquecidas as pendengas eleitorais, e até o enjoado sequestro do verde e amarelo nos atos antidemocráticos. Basta um golzinho. Um golzinho só.

Também ali não teremos, no fundo, exatamente como interferir. No dia, no calor, no humor dos jogadores, condições físicas, no time adversário, nas sacanagens, faltas, decisões dos juízes, escalações, VAR.  Se vai ter protesto, quem vai ser notícia se desrespeitar as rígidas leis e mandos da cultura local. O pacote completo entra em campo e minuto a minuto dos 90 regulamentares será o olhar a movimentação no campo. O time todo representará o país, juntando corintianos, flamenguistas, palmeirenses, vascaínos, são-paulinos, atleticanos, etc.  – trocam as bandeiras por uma só. O barulho da torcida será a motivação, o empurrão, e assim vamos até onde der.

Mas cada um de nós tem uma torcida paralela, além do futebol.  Um “tomara”. Algo que almeja, preocupa, pede aos céus. Algumas dependem de esforços nesse sentido, trabalho. Poucas, contudo, dependem tanto de fé quanto quando um ente querido cai doente, internado, dependendo de cuidados, eficiência de medicamentos, reação do organismo, controle de órgãos vitais. Dependem de Ciência, médicos e equipes, e enfim e ao cabo dos desígnios de Deus. Ou, do que seja lá de qualquer fé se professe.

Não é a primeira vez que me vejo nessa torcida por alguém fundamental em minha vida. Aconteceu com minha mãe, com meu pai, com o drama vivido no passado por alguns melhores amigos. Décadas de vida já me deram algumas vezes essa experiência difícil e  me fizeram entender o quanto somos nadas,  frágeis e incapazes nesse momento, para tudo o que apelamos, queimando velas, orando, enviando energias e pensamentos positivos que se renovam e se esgotam revezando no baile dos dias, das horas e minutos, em que cada vitória é comemorada mais do que gol; cada derrota, um pênalti perdido ali na boca do gol, e a gente xinga bactérias malditas de tudo o quanto é nome. A seleção em campo nessa luta trocada a cada plantão.

Seguir firme, ansiando e esperando informações que não chegam – e comemorando isto por conta da velha lógica de que notícia ruim chega logo, chega antes. Toda uma vida passa diante dos olhos nessa torcida que, embora individual, se soma de forma muito bela, emotiva e carinhosa a todos os outros amigos que estejam onde estiverem –  e são muitos – preocupados, querendo fazer algo, buscar o inatingível, emanar solidariedade, diariamente buscando a conquista da taça mais importante do mundo nesse momento: a alegria da volta do jogador ao campo de batalha onde os seus feitos e histórias marcaram ou modificaram profunda e particularmente a vida de cada um de nós, e que esteve ao nosso lado sempre que precisamos.

Todos, juntos, viramos Maracanãs repletos. Ou, melhor, no caso específico, um Itaquerão, torcendo por um de seus mais fiéis corintianos.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Bola, bolinhas, verde, amarelo e o vermelho. Por Marli Gonçalves

Olha a bola batendo em nossas canelas, e o complexo esforço para que o país todo faça as pazes com o aviltado verde e amarelo e comece a torcer pela Seleção, digamos numa só direção. Chega a ser até engraçado esse visível movimento todo, especialmente da propaganda e marketing, no sentido de sensibilizar e tentar virar a chave das pendengas eleitorais que ainda se prolongam em inacreditáveis cenas de delírio ufanista.

bola

Bandeira branca, amor! Vai ser difícil, mas não impossível, embora muito em cima da hora, e depois de muito tempo correndo solto o sequestro da bandeira nacional nos embates políticos dos últimos tempos, e do verde e amarelo ligado ao pior ufanismo, nacionalismo e ranço antidemocrático. A Copa do Mundo está aí, a bolinha que agora é toda colorida vai rolar no campo e dependendo do resultado dos primeiros jogos é capaz até de emocionar corações e mentes crentes no tal hexa, uma estrelinha (ironia simbólica) a mais sendo pregada nas coisas.

Vai ter de este ano, já que a Copa pela primeira vez chega praticamente junto com o Natal e suas bugigangas, competir com o vermelho (outra ironia do destino) que normalmente marca essa época.  A propaganda já está enlouquecida com isso, batendo cabeça, digamos dando tratos à bola. Primeiro quer que a gente torça.  Depois que compremos peru, presentes, demos atenção ao Papai Noel, suas renas e tudo o mais. Querem que consumamos pelos dois eventos, de cores mais uma vez opostas.

Alguns disfarçam. A Ivete Sangalo tem aparecido vendendo linguiça para comer durante os jogos. Vestida predominantemente de azul, com pinceladas de amarelo. Mas está massiva a publicidade de carros, bancos, tudo quanto é coisa que precisa  se atrelar ao  povo e ao futebol, implorando para que o país volte a torcer pela tal seleção canarinho, use as caríssimas camisetas oficiais x ou y, faça as pazes entre si e com os símbolos nacionais, consuma. E não pareça ser bolsominion, ou identificado como um, principalmente desses que ainda andam por aí falando e fazendo bobagens.

O problema é que a eleição terminou, mas as maluquices não. Persistem. Parece que só pioram, numa espécie de surto coletivo da extrema direita incentivando a criação de problemas para a posse e o novo governo eleito. Diariamente, ainda, damos de cara com notícias e  centenas de imagens de  pequenos grupos espalhados inconformados rezando em transe, ajoelhados diante de muros dos quartéis, fazendo discursos odiosos e inflamados repletos de fake news, evocando ditadura, intervenção militar, alguns até em acampamentos – sempre instigados e financiados pelos péssimos exemplos do desgoverno que se vai e esvai,  deixando lamentáveis lembranças e lambanças. E bodes como esse, da coitada da bandeira e do verde e amarelo. Já tivemos isso no passado, um tal Brasil, Ame-o ou Deixe-o de tristíssima memória, e que tinha até musiquinha reacionária à moda dos atuais sertanejos.

Para completar, a Copa será realizada distante, num lugar caro, inacessível para uma maioria, e cheio de não pode isso, não pode aquilo, de tirar tesão de qualquer torcida do mundo. As famílias, os amigos, os grupos ainda estão abalados com tantas brigas e pela terrível divisão imposta entre as duas forças políticas que se enfrentaram, e o que pode abalar os churrascos, os encontros, as animadas torcidas nos bares. E como ultimamente o Brasil tem sido para os fortes some-se a isso o claro, visível e preocupante aumento dos casos de Covid. A volta dos aconselhamentos de distanciamento social, de  uso de máscaras e o temor de que essa nova cepa seja mais perigosa e ainda sem cobertura vacinal que a abarque por aqui, em mais um final de ato melancólico da temporada de Queiroga & Cia no Ministério da Saúde, que já levou embora 700 mil brasileiros, isso contando os números oficiais.

A bola de futebol antes branca e preta agora é toda colorida, cheia de marca, mas sem arco-íris para o país do Oriente Médio que não gosta nada dessas coisas. O impasse está aí.

A proposta? Vamos voltar ao clássico branco e preto. O futuro vice-presidente Geraldo Alckmin já até inovou outro dia deixando à mostra suas meias soquetes pretas, de bolinhas brancas. Um sucesso.

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MARLI GONÇALVES – Viva o democrático branco e preto. Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Eu não quero falar de…Por Marli Gonçalves

Eu não quero falar de como me senti depois do resultado geral desse primeiro turno eleitoral. Bem não queria. Dessa ressaca que não passa, e olha que eu não bebo, mas do quanto saí do prumo se é que tinha algum, mesmo sem estar entre os que acreditaram em situação resolvida de pronto. Não quero falar de quanto estou preocupada com o claro retrocesso que incrivelmente acelera e ameaça o país. Eu não quero falar, mas é impossível calar, também inclusive não criticar a forma que a oposição se comunica, errante

eu não quero falar

Eu não quero falar de política, mas nesse momento a política entra por todos os poros e canais e agora novamente com o horário eleitoral e as perturbadoras pílulas espalhadas na programação e para onde se olhe. Eu já não quero saber o que andam fazendo, falando, com quem se encontram, por onde passam, mas é impossível. Como não reagir ao contínuo sequestro do verde e amarelo, às aproveitadoras camisetas da seleção vestidas por pessoas que até então julgávamos razoáveis? Ao noticiário que traz à tona mortais brigas eleitorais entre amigos, nas casas, nos bares, nas esquinas, do nada. Como não se sentir mal vendo a negação descarada do que vivemos, do que perdemos, de quantos perdemos, do construído plano descarado e perigoso de virar a direção à extrema direita?

Eu não quero falar de como estamos desprotegidos e tudo virou uma imensa Casa da Mãe Joana quando não são punidos imediatamente – mas punidos mesmo, de verdade, não de mentirinha com passeios até as delegacias e logo liberados com cara lavada – os empresários que ameaçam seus funcionários de desemprego se não votarem nos candidatos deles, ou os que oferecem dinheiro em troca de votos. Não é fake news, essas denúncias vêm acompanhadas de batom nas cuecas, vídeos, fotos, depoimentos, vítimas.

Nem quero, por falar nisso, versar sobre a quantidade de fake news que estão cruzando os céus do país vindas das duas infelizes direções em que nos metemos, no jogo sujo, divididos palmo a palmo, com mentiras sobre tudo, como se não houvessem tantas verdades tão suficientes a serem usadas, colecionadas durante os últimos anos, dia após dia.

Nem quero lembrar da ingenuidade perdida e enterrada no trabalho de anos lidando com campanhas, com marketing político e seus temas afins, que aprendi e sei bem capaz de tudo. Mas não há como evitar ver a linha ética trespassada para borrar a realidade. Os apoios, as traições, as manipulações maquiadas dos bonzinhos e ruinzinhos, e, enfim, a revelação da cara daqueles que vieram construindo seus podres poderes nas sombras, pelos cantinhos.

Ah, como gostaria de não falar da vontade que dá de sacudir fortemente candidatos de oposição que não mudam o cansativo discurso de sempre. Aqueles que repetem incansavelmente as palavras que poucos entendem, “professoralmente” discursam insistentes sobre temas macro quando o que há é fome, dificuldades reais, economia desequilibrada, preços extorsivos, e do outro lado alguém prometendo facilitar mundos e fundos justamente para esse dia a dia.

Eu não quero falar, mas não posso me resignar quanto à tristeza que dá ver mulheres ali sorrindo do lado de quem as inferioriza, destrata e ameaça, e que assim continuará vencendo ou não, porque alçado a um inexplicável papel de líder. Ver a imprensa atacada e acuada tentando informar com suas parcas atuais condições de luta, e dentro dela jornalistas que um dia foram respeitados jogarem suas histórias no lixo da História.

Eu não quero falar, adoraria poder nem pensar, mas por responsabilidade jurada profissionalmente não posso me isentar e deixar de observar a gravidade da atual situação que quebra ao meio todo um país que continua agindo como se tudo fosse torcida de um imenso jogo de futebol onde há dois times grandes se enfrentando.

E ainda vai ter Copa.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – 2022, que os patinhos na lagoa nos ajudem. Por Marli Gonçalves

2022, Dois mil e vinte e dois, dois patinhos na lagoa, como a gente chama o desenho bonito do número. Um ano que chega se arrumando, tentando se reorganizar, mas por mais otimistas que possamos ser, traz também tantas incertezas que os patinhos da lagoa estarão nadando em círculos

2022 dois patinhos na lagoa

2021 foi realmente um dos mais difíceis anos, e acredito que também deve ter sido o mais difícil de muita gente. O esgotamento geral após dois anos de pandemia; a sobrevivência física e financeira. O equilíbrio emocional perdido nos frangalhos, nos baques de perdas irreparáveis e notícias esquisitas todos os dias.

Difícil mesmo se situar em um planeta bolinha que parece ter sido sacudido por um chute tão certeiro que tantas coisas ficaram sem pé nem cabeça geral, e que já vamos para mais de dois anos de vidas modificadas.

Estamos fazendo um rescaldo e quando já estávamos até mais alegrinhos, boom, chega essa nova cepa ômicron – daqui a pouco, nesta toada, logo se esgotará o alfabeto onde se busca seus nomes para batismo. O fim de ano de todos está balançado, ainda inseguro com suas festas limitadas e o receio do que virá por aí.

Na verdade, já estamos sentindo muito claramente o que tanto temíamos, que essa coisa toda, e põe coisa nisso, não vai passar assim de uma hora para outra. Que as tais ondas ainda podem nos dar um caldo.

Outro dia, até fiz silêncio ao ouvir de um amigo que entende dessas coisas de medicina fazer uma observação pertinente, e que lembrou até de forma bem humorada: se nem os dinossauros resistiram aos primeiros seres da criação, as tais bactérias e vírus!

Com o tempo até desenvolvemos formas de lutar essa batalha, as vacinas entre elas. Mas ainda, infelizmente, não desenvolvemos formas de combater a ignorância que parece agora se alastrar de forma avassaladora sugando a energia de todos nós e, como nos mais terríveis filmes de ficção/ terror, tomando o corpo e a mente de alguns habitantes por ela contaminados e que passaram a circular no planeta disseminando não só a própria ignorância, como o ódio, aumentando todos os perigos enfrentados. Pior, alguns desses seres governam. Chegaram ao poder e nele efetivam como podem seu rastro de destruição.

O Brasil está contaminado, aqui aconteceu, e pelo pior tipo, o malvado, cínico, que se diverte enquanto a natureza queima, as pessoas passam fome, a violência se alastra. Agora, quer dizer, na verdade não só agora, porque as crianças sempre são as primeiras vitimas de tempos obscuros, até elas estão no alvo deste enredo fantástico, quando se pretende negar de todas as formas que possam ser imunizadas.

2022 bate à porta, e parece que não chega com roupa nova. Vem novamente acelerado, cheio de datas para as quais precisaremos estar bem preparados e, embora esgotados, buscarmos forças para o combate. Chega cheio de perguntas: vai ter Carnaval, vai ter Copa? – as mais inocentes delas.

Aqui teremos eleições, e cheias do dinheiro que tiraram do que nos seria mais importante, desviado para campanhas e partidos. Um país que já começa o ano num buraco danado, com crises institucionais, com uma inflação que corrói, ricos ficando mais ricos, pobres mais pobres, e os do meio achatados como sardinhas.

Um redemoinho que já faz com que aqueles dois patinhos na lagoa batam suas perninhas patinhas bem firmes para tentar parar de rodar e conseguir chegar em alguma margem segura. E que ninguém sabe onde está.

Até 2022!

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Marli - perfil cgMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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#ADEHOJE – NOSSAS VIRADAS. E AS DESELEGÂNCIAS DELES.

 

#ADEHOJE – NOSSAS VIRADAS. E AS DESELEGÂNCIAS DELES.

SÓ UM MINUTO – Está tudo tão esquisito no mundo que até a gatinha mal-humorada, a Grumpy Cat não resistiu, morreu essa semana, nos EUA. O frio chegou por aqui. Em São Paulo, a Virada Cultural promete, com Lua cheia azul e tudo.

Zé Dirceu volta para a cadeia. Bolsonaro faz mais uma deselegância, desta vez com um estrangeiro oriental que encontrou no aeroporto.

Flávio Bolsonaro continua pulando miudinho para explicar o que fez nos verões passados quando era deputado estadual no Rio de Janeiro.

Saíram as convocações das seleções para a Copa América , mas especialmente para a Copa do Mundo feminina, que vai ser o grande barato para a gente torcer em junho. Viva Marta, a rainha do futebol!

 

 

 

ARTIGO – A grande jogada e o novo árbitro. Por Marli Gonçalves

Sinto muito. Não deu, bola para frente! Temos, logo agora, outro campeonato para prestar atenção. Formar a seleção e torcer para que ela, essa sim, nos salve desse campo esburacado.

Vou dar uma de louca. A louca otimista. Vai! Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima! Vamos, vamos! Tentar aproveitar e começar do zero agora, como se não houvesse esse ontem, não tivessem ocorrido essas brigas, essas divisões, nem existisse um sem-noção candidato para nos perturbar.

Para torcer agora você não precisa sequer usar o amarelo, para não ter de aguentar aqueles chatos que invocaram com a camisa da Seleção saindo para tomar Sol na rua durante os protestos.  E que vão voltar a atacar, escuta o que estou dizendo. Vão vir com aquele irritante “eu não falei?”. Chatos que quase tiraram ainda mais o ânimo da gente. Pode – e deve – sair de azul, amarelo, verde, vermelho, todas as cores do arco-íris. O Hino continuará um só.

Enfim, demos um tempo, fizemos uma pausa vendo a bola correr de lá para cá e de cá para lá. No fundo, foi devagar, devagar, devagarinho igual na música o que rolou nessa Copa. Fiz as contas: já vivi 15 Copas. Das que me lembro, essa foi a mais esquisita, mais ainda do que a passada aqui no Brasil, aquela desgraça que ajudou muito a esburacar o nosso gramado.

Essa de agora parecia desengrenada – e não só pro nosso lado. Vide o monte de grandões que foram caindo um a um detonando as bolsas mundiais de apostas, as marmotas e outros bichos videntes, a lógica, se é que há alguma no futebol. Foi pegando gosto, vendo até onde dava para ir, tentando sobreviver ao ufanismo radical que tentavam sem sucesso inocular em nossas veias abertas, como de toda a ladina América Latina.

Está claramente diante de nós um Novo Mundo e é preciso enxergá-lo o quanto antes para tentar correr atrás dele enquanto é tempo. É mundo moderno, que usa educação, tecnologia de ponta, procura fontes alternativas de energia, tem consciência de que a natureza revida e que a liberdade é um dos bens mais valiosos para uma sociedade pluralista e melhor organizada. Que só sobreviverá se for em paz.  A tal sociedade globalizada.

Globalizada a um ponto tal que daqui, desse outro lado do mundo, nos próximos dias estaremos todos nós diante da boca de uma caverna funda e inundada que retém o grupo de meninos lá na Tailândia. Do lado de fora da caverna, uma tenda improvisada, uma tela, algumas cadeiras, unem esses meninos às suas mães que ficam ali sentadas o dia inteiro e assistem ao vivo a tentativa de resgate e o desespero de seus filhos, ao mesmo tempo em que oram e dão graças por eles ainda estarem vivos e com alguma esperança. Do outro lado, de dentro do local escuro e úmido, eles acenam para as mães. E para todos nós.

Não é só. Temos muito com o que nos preocupar. Mas precisamos fazer isso com leveza e com muita rapidez no contra ataque.

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Marli Gonçalves, jornalista – Sorria. Brasil, você está sendo filmado. Depois alguém vai ver essa fita.

marligo@uol.com.br/ marli@brickmann.com.br

 

Julho, 2018

ARTIGO – Anestesia geral. Por Marli Gonçalves

Tanto faz como tanto fez. Abobalhados. Inertes. Adormecidos. Lentos. Parecemos autômatos diante dos acontecimentos. Esperamos os dias seguintes, e os seguintes…

Ouvimos, lemos, sabemos ou somos diretamente atingidos, diariamente, por toda sorte de acintes, assaques, misérias, decretos e decisões que visivelmente nos prejudicam – a todos. Leis lidas a bel prazer. Bancos, seguradoras, poderosos limpam os pés nas nossas costas. Vemos gente pela qual temos apreço ou mesmo mal conhecemos, sofrendo ou caindo, miseráveis, seja nos postos de saúde ou nas calçadas, mortas pela violência desmedida e sem fim. Assistimos impassíveis a embates públicos nojentos e é como se nada daquilo nos dissesse respeito, estivesse ocorrendo em outro planeta.

Doenças terríveis que já haviam sido erradicadas – sarampo, raiva, poliomielite! – voltam céleres. Matam. E há quem tenha – para isso, sim – energia e coragem de negar as vacinas; pior, criminosamente tentam ainda argumentar contra elas do alto de suas ignorâncias, e acabam conseguindo, atingem uma importante parcela da população, aquela que a cada dia mais não sabe onde está parada. Apenas está parada esperando o futuro do país do futuro que não chega nunca.

Faltam pouco mais de três meses para a eleição de um novo presidente da República, repito, presidente. Isso, além dos cargos de governadores e deputados que serão regentes dessa desafinada orquestra a partir do primeiro dia do ano que vem. E é como se nada da crise braba que estamos vivendo, das terríveis descobertas de corrupção, roubos, extorsões, pilhagens e pilantragens em geral fizessem real diferença fora dos vídeos feitos com celular deitado. Depoimentos que mostram, sim, um Brasil real, pobre, largado, cheio de recônditos de nomes estranhos, de pessoas e cidades, e onde se fala uma língua que portuguesa não é, com seus esses e plurais esquecidos tanto quanto eles próprios.

O primeiro colocado nas pesquisas eleitorais, feitas com esses nominados aí que pretendem por a mão na direção, aparece; e é um preso com várias condenações e que de lá onde está trancafiado ainda posa de mártir e redentor, perseguido, um Messias. O segundo colocado é um ser abominável, incapaz de nada a não ser de bravatas, que até parecem soar reais nesse verdadeiramente desesperador momento: é como se ele pudesse bater, balear, fuzilar todos os problemas. Nas intenções de voto, vêm seguidos de outros: um amorfo, uma amorfa, um destrambelhado e outros pequenos seres prontos a negociar suas cadeirinhas nos estúdios de tevê por algum cargo. Estão ali no meio do campo, meio transparentes, correndo como os bobinhos, esperando quem sabe qual será a jogada.

O resultado mais plausível nesse instante é que saiam vitoriosos os votos nulos, brancos e abstenções. Afinal, em quem votar nessa seara, nesse deserto de ideias e propostas reais? Mais: como levarmos esses seis meses que temos adiante com um presidente que só consegue cair cada vez mais em desgraça e impopularidade? Que anda com cascas de banana nos bolsos e que vai jogando a cada passo que dá, escorregando?

A apatia é tanta que alcançou o que jamais imaginaríamos possível, as demonstrações populares. O futebol. Ah, que bom, tem Copa do Mundo. Ponto. Ah, que bom, o Brasil ainda está classificado. Gol. Depois do silêncio e da tensão que acompanham as sofridas partidas – como todas têm sido – gritos rápidos nas janelas, uma bombinha aqui; outra ali. Pronto. Ah, acabou o jogo e o Brasil ganhou. Não se ouve mais nada, a não ser a vida tentando voltar ao seu normal. Até o ufanismo das bandeirinhas espalhadas para decorar os espaços pouco tremulam.

O tempo está passando e não conseguimos mover o pé para fora dessa areia movediça que nos imobiliza.

Belisquem-se. Alguém, por favor, ligue o alarme. Bote água para ferver. Dê um antídoto para a população acordar e ver o que ainda podemos fazer; mas de verdade, não pelas redes sociais que parecem ser o que nos anestesia!

Eu só queria muito poder desejar um feliz segundo semestre. Percebeu que o ano já chegou à sua metade?

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Marli Gonçalves, jornalista – Urge ver o Brasil fazer gols em seu próprio campo.

marli@brickmann.com.br; marligo@uol.com.br

SP, julho, toca a sua sirene!

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ARTIGO – Ninguém está falando… Por Marli Gonçalves

E precisamos pensar e falar de tantas coisas. Ninguém tem mais tempo nem de falar, nem de ler, nem de ver tudo o que circula, muito menos de ouvir. Quer dizer, ninguém, ninguém, não é bem assim. Tem quem tenha tempo para tudo isso, inclusive para preferir enviar por tudo quanto é canto nas redes sociais vídeos que gastam mais tempo e dados para serem baixados do que para saber do que se trata.

“… O Sol nas bancas de revista. Me enche de alegria e preguiça. Quem lê tanta notícia?“ …Imagine se o Caetano Veloso  profetizava isso lá há 50 anos, em Alegria, Alegria, como tanta coisa mudou até hoje. Nas bancas de jornal, de um tudo, impressionante, cada dia empurrando mais para lá os jornais e revistas. Outro dia vi uma que vende consertos de sapatos. Viraram pequenos mercadinhos nas esquinas da vida. Melhor que lá no Posto Ipiranga.

Aliás, postos que cada vez também são menos frequentados com o preço sideral da gasolina e outros combustíveis na bomba que estoura nos nossos tanques e bolsos. Aumentando o preço e a temperatura de tudo o que consumimos e que, como vimos recentemente, chega no lombo dos caminhões.  Reparou que o abastecimento ainda não está nada normalizado? Que os preços estão siderais?

É muito louco, meio esquizofrênico. Passamos dias e dias tendo overdose de alguns assuntos. De repente eles somem como num passe de mágica. Foram atropelados por outros sem que tivesse sido concluído o anterior. Exemplos, essa história do frete e preços e os coitados sobreviventes do incêndio no prédio do centro de São Paulo, que continuam lá. Talvez você não saiba, estão lá naquela mesma praça, sem banco,  amontoados em barracas, esquecidos, tendo de roubar banheiros químicos de outros lugares para usar, porque o Governo demorou mais de um mês para lembrar desse detalhe.  Uma situação horrorosa, dramática, vergonhosa.

Ah, e a cada dia é maior o número de pessoas vivendo em barracas, nas ruas, canteiros, praças, avenidas, viadutos e buracos (literalmente) que encontram. Ou vestidas com caixas de papelão, sacos de lixo, jogadas pelas ruas como se lixo fossem. Eles não têm representação política, não são de esquerda, não votam, aliás, nem no PT, nem são vistos pelos aparelhados Movimentos sem alguma coisa. São nômades, não invadem, ocupam; mas as ruas. Não são nem gente, parece; e aquelas crianças já têm seu futuro altamente comprometido.

Pronto, chegamos a mais um assunto que nos fez, vejam só, invejar a Argentina essa semana! As proles. Lá, ao menos está havendo a discussão parlamentar sobre a descriminalização do aborto, com possibilidade até de aprovação de uma lei sobre o assunto.  Adianta sentar em cima do assunto? Não!

(Não me venham falar – acusando-os de não usarem- em métodos contraceptivos, informação, bibibibododó. Essas pessoas não têm o que comer. Muitas são analfabetas. Aliás, acaso você aí já precisou comprar remédios populares nas farmácias? Pois é, simples não é. E as pessoas que cito agora não têm nem identidade, literalmente. Muito menos receitas).

Mais um #precisamosfalar. Descriminalização da maconha.  Fechar os olhos? Tampar o nariz?  Só assim para não perceber que a cada dia corre mais livre por conta própria, em todos os lugares, todas as idades, além das pesquisas sérias sobre seu uso em medicina.

Não aguento hipocrisia, nunca aguentei , e é uma das coisas que mais me aborrecem nesse pais. Esse atraso, essa cegueira moral que tentam impingir – ou com leis que não são e nunca serão cumpridas, repressão errada , ou simplesmente esquecendo o assunto- a toda uma sociedade que precisa avançar sob o risco de acontecer o que já vemos se aproximar, o retrocesso.

Não dá para falar aqui de todos os assuntos importantes, os verdadeiros direitos humanos, atropelados nas estradas da vida e, inclusive, na imprensa que, coitada, esmorece, atacada, pobre, manipulada. Até desbancada.

Estamos precisando fazer de novo uma publicação que até hoje tem seu nome marcado na história para ser usado de novo: Realidade.

Precisamos falar sobre isso, sobre ela, a realidade, nua e crua.

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Marli Gonçalves, jornalista – Enquanto isso, a bola está rolando lá longe, quase do outro lado do mundo.

 São Paulo, 2018

marli@brickmann.com.br e marligo@uol.com.br

ARTIGO – Consulte aqui nossas previsões certeiras. Por Marli Gonçalves

Conjecturas, suposições, adivinhações, augúrios, palpites, prognósticos, profecias, presságios, vaticínios, pressentimentos, predições. E, claro, um pouco de obviedades, sinais, indícios, palpites, estimativas. Com precisão, precisão mesmo, não dá nem pra prever o tempo que fará daqui a pouco, mas a gente quer sempre saber mais pra frente.

2018: qual vai ser a do ano? Fui dar uma olhada. Aliás, eu, você, milhões de pessoas nesse momento tentando achar os fios de otimismo que possam costurar nossos retalhos de vida. Nos dar alguma confiança, esperança, forças, ativar nosso otimismo que foi bombardeado nos últimos tempos. Saber se vamos amar e ser amados, se será mais fácil ou difícil, que riscos correremos. Adoraríamos poder quebrar as surpresas para que elas não nos surpreendam, pelo menos não tanto. Até porque se soubéssemos mesmo o futuro, se nos fosse dado esse poder, iríamos brigar tanto com ele, interferir tanto, que de nada adiantaria. Assim é o destino, que traçamos dia a dia.

Por isso não é bom ficar atentando. Dizem que só se deve buscar essas predições – principalmente as pessoais – com videntes, bruxas, magos, seja quem for tão iluminado que você acredite ou pague para ouvir, com intervalo de, no mínimo, seis meses. Justamente porque tentamos ir ao encontro ou delas desviar, e mudamos tudo. Igual entrar numa rua em vez de outra, escolher uma estrada. Tudo o que passamos os dias a decidir. Pensa: quase tudo poderia ser mudado de um segundo a outro, de um minuto a outro, um dia, um mês. Um ano.

Essa é a realidade, jogada por búzios, cartas de baralho, pedrinhas ou palitinhos. Calculada pela Numerologia. Antevista em bolas de cristal, ou na difícil interpretação do I-Ching. Haverá sempre significativas mudanças políticas, sociais e econômicas nesse mundo em constante mutação. O meio ambiente gritará por socorro da única forma que sabe, em catástrofes, já que seus apelos lentos e silenciosos não fazem mais efeito.

Muita gente nascerá. E muita gente morrerá, inclusive algumas personalidades, aquelas pessoas que são mais notícia que outras, e mais uma vez teremos a sensação de perder gente boa com os ruins ficando. Em geral, quando as pessoas morrem, imediatamente conseguem a redenção de suas falhas, dependendo de quem são ou foram. De herança, ficarão os registros de seus feitos no Google e os seus perfis nas redes sociais se ninguém puder apagá-los.

Sobre se a gente vai ganhar a Copa do Mundo, quem será eleito, preso, julgado, condenado, quem vai ganhar o Carnaval, qual será a situação econômica, qual cura será encontrada, as dezenas de videntes, cartomantes, astrólogos, esotéricos e afins que li se dividem bastante. Dizem que estaremos nas ruas protestando, bateremos panelas novamente, que novos atos terroristas ocorrerão. Claro que o Trump vai fazer “trumpices” brincando de guerra com a Coreia do Norte e com o Oriente Médio. Enfim, tudo o que é óbvio ocorrerá.

Contudo, busquei os fatos incontestes desse ano que chega, e que você poderá usar de acordo com seu entendimento, fé, crença. Às 13h15 de 20 de março, Saturno, bem cansado, passará o bastão para Júpiter. É o maior planeta do sistema. Por isso tudo será grande, explicam. Interessante…

16 de fevereiro, o Ano Novo Chinês chegará latindo, sob a regência do Cão – Cão de Terra, para ser mais específica. Ficará de guarda até 5 de fevereiro de 2019. Lealdade, vigilância e conquista são suas marcas.

O grande Xangô, da Justiça, governará nossas cabeças. Mas será auxiliado por Yansã, Nanã e Exu, numa combinação nada comum, que até para santo arrumar essa bagunça do ano que se vai não será nada fácil.

Creio que também poderemos ajudar. Feliz Ano Novo! Boa Sorte. Em branco, dourado, na cor que puder pintar esse mundo.

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  Marli Gonçalves, jornalista – Ah! Esqueci-me de mencionar que a China avançará a passos mais largos ainda para se tornar a maior potência mundial e o que pode modificar o eixo do planeta. Tá bom pra você? Consulte a “Mãe Marli“ todas as semanas para saber mais.

 

 2018, a gente está aqui agoniado esperando você ser melhor

marligo@uol.com.br
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Tá tudo uma beleza, hein? 16,5 mil trabalhadores da indústria demitidos. Só em junho. E a bola rolando

FONTE: ASSESSORIA DE IMPRENSA DA FIESP

Indústria paulista demite 16,5 mil trabalhadores em broke_man_with_empty_pockets_md_clrFootballkickhitjunho de 2014

Desempenho foi o pior desde 2006. Nos últimos 12 meses, são 96.500 vagas eliminadas pelo setor no estado

A indústria paulista demitiu 16,5 mil empregados em junho, o que equivale a uma queda de 0,64% em relação ao mês anterior, com ajuste sazonal. O resultado é da Pesquisa de Nível de Emprego do Estado de São Paulo, elaborada pela Federação e pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp e Ciesp). Trata-se do pior resultado desde 2006, quando o levantamento começou a ser feito, num indicativo de que a situação do emprego no setor tende a se agravar até o final do ano.
De acordo com Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Fiesp e do Ciesp, responsável pela pesquisa, “ninguém esperava um desempenho tão ruim”. “Nem em junho de 2009, diante dos reflexos da crise econômica de 2008, a queda no número de empregos foi tão expressiva”, afirma.
Para se ter uma ideia, a queda no nível de emprego em junho de 2009 foi de 0,47% com ajuste sazonal, diante dos atuais 0,64% (também com ajuste).
No acumulado dos últimos 12 meses (entre junho de 2013 e junho de 2014), são 96.500 profissionais demitidos.
Diante desse cenário, explica Francini, eventualmente 2014 vai terminar com mais postos fechados que em 2012, quando foram demitidos 52 mil trabalhadores na indústria paulista. Em 2013, foram 36,5 mil profissionais dispensados. “É possível que fiquemos num número entre 2009, quando houve 112,5 mil cortes, e 2012, ou seja, variando entre 112,5 mil e 52 mil vagas eliminadas”.
Setores
Na análise por setores, a pesquisa apontou que o maior número de demissões ficou com a indústria de veículos automotores, reboques e carrocerias, com 3.661 vagas fechadas. Em segundo lugar, veio o setor de produtos alimentícios, com 2.566 postos a menos, seguido por confecção de artigos do vestuário e acessórios (-2.562 empregos).
“Entre os 22 setores pesquisados, 70% apresentaram resultado negativo em junho”, diz Francini.
Regiões do estado
Quando consideradas as regiões do estado, Matão, Presidente Prudente e Limeira foram destaques positivos no que se refere ao emprego. Entre os piores desempenhos, Cotia, Jaú e São Bernardo do Campo.
Em Matão, foram gerados mais 4,63% empregos em junho, movimento estimulado principalmente pelos setores de produtos alimentícios e máquinas e equipamentos. Já em Presidente Prudente, com 0,92% mais vagas no mês, os artefatos de couro e calçados, junto com coque, petróleo e biocombustíveis foram os motores. A alta de 0,9% em junho em Limeira é atribuída aos veículos automotores e autopeças e à celulose, papel e produtos de papel.
Entre as áreas que mais demitiram, foram menos 2,76% postos em Cotia, menos 2,13% em Jaú e menos 1,84% em São Bernardo do Campo. Em Cotia, o baixo desempenho foi puxado pelos móveis e produtos têxteis, com vagas fechadas sobretudo em artefatos de couro e calçados e alimentos em Jaú e veículos automotores e autopeças e produtos de borracha e de material plástico em São Bernardo do Campo.
“Das nossas 36 diretorias regionais consideradas para o estudo, 80% apresentaram resultado negativo no que se refere ao emprego em junho”, conclui Francini.

Neymar: patrocínio de corpo inteiro; só falta jogar por nós, Brasil, patrocinadores oficiais. Tá ficando chato, mostrar cueca/sunga, pedalar pelo Itaú,chuteirinha dourada…

jerryJÁ TÁ FICANDO CHATO…NEYMAR RESPIRA PRODUTO TAL, ANDA COM OUTRO TAL, PEDALA TAL, DORME NO TRAVESSEIRO, USA PAPEL HIGIÊNICO TAL

JOGAR PELO PATROCINADOR BRASIL QUE É BOM…brazilW_animado

(A NOTA ABAIXO É DA COLUNA DO LAURO JARDIM, NA VEJA, ONLINE)

Pedalando com o inimigo

Neymar:  problemas com o patrocinador

Neymar entrou ontem para o clube de jogadores que aparecem usando a marca de uma empresa rival do seu próprio patrocinador.

Ontem, o camisa 10 brasileiro desfilou para lentes do mundo inteiro pedalando bicicletas do Itaú – patrocinador da seleção. Neymar é garoto-propaganda do Santander.

Em 2012, Ronaldinho Gaúcho perdeu um contrato de 1,5 milhão de reais com a Coca Cola por aparecer na sua apresentação no Atlético Mineiro com duas latinhas de Pepsi. É claro que, com Neymar, ninguém imagina que haverá punição semelhante.

Por Lauro Jardim

ARTIGO – Tristes, irritados e sem ter o que cantar. Por Marli Gonçalves

5c05f960blacksnTriste é diferente de irritado. Uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. Contudo, estar uma coisa pode vir junto com estar com a outra. Por aqui, andamos meio tristes e irritados, um pouco envergonhados, o que vem causando essa sensação de mau humor geral e irrestrito. Segue a bola, gritamos GOL, acenamos as bandeirinhas, mas a terrível sensação de estarmos falando com a parede permanece. Ela, “enquanto parede” muda, mudinha, não responde a nenhum de nossos questionamentos

Quantas perguntas e tão poucas respostas. Não são questões simples, e não há meditação nem transcendental que aquiete bem corações e mentes quando estes borbulham. Somos muito complexos. Esperamos que venham coisas de onde não vem nada, nem vento a favor, só encanado. Tristeza. Nos prometem mundos e fundos e lá se vão os fundos, fecham-se as portas. Tristeza.

Resfria. O inverno chega com cara de quem vem embalado e ainda por cima ganharemos narizes e gargantas irritadas, além das extremidades geladas, pés, mãos, orelhas. Nos encolhemos mais, saímos menos, queremos dormir mais, comer mais, beber mais. Queremos o famoso cobertor de orelha, mas nem sempre ele chega, ou você o acha, o que entristece sobremaneira.

Conheço quem é Eu não sou nem um pouco chegada nessa estação. Há várias referências à tristeza de inverno como doença que pode ser grave, o transtorno afetivo sazonal, um tipo de depressão comum que ocorre nessa época. Pode ser uma fadiga com dificuldade de concentração, uma falta de energia. Dormir mais cedo, acordar mais cedo para aproveitar o dia e a luz do sol dizem que melhora.

animated-gif-animals-crying-emperors-new-groove-disney-1360315833Por enquanto a gente vai levando, pulando fogueiras, tomando quentão; e pulando. Pulando mais que pipocas em panelas em dias de jogo. Pipoca de gente só lá na Bahia onde parece que não há nem frio, nem tristeza, nem irritação.

Mas cadê o trio elétrico para a gente ir atrás? Mostrar que não morreu?

Cadê o Chico, cadê o Caetano, cadê Milton, cadê todo mundo? Cadê os compositores e artistas que registravam nossos momentos como ninguém? O que será? Apesar de você. Canção da América. Cio da terra. O que será que será? Eu sou neguinha? Soy loco por ti, America. Cadê Carcará, Divino Maravilhoso? Cadê vocês, Rita, Ney, Ivan , Gil, Paulinho, Marina, Marisa, tantos outros? Onde se escondem que não vêm logo nos tirar cantando e dançando dessa tristeza, desse frio, dessas irritações? Ou nos emocionar com bem feitas canções de amor? Cansaram de representar as nossas gerações? Antes vocês definiam problemas e até cantavam soluções, enfrentavam, até driblavam. Cansaram? Tanta coisa para vocês verem e musicarem.

olhos06bi2Sinto como se cada um, famoso ou não, esteja tentando se salvar por aí, em algum canto. Mas há “brancos” que deixam buracos que vêm sendo ocupados – e em todas as áreas do conhecimento, da sociedade, da política, da filosofia, por qualquer coisa. Coisa de quinta, fugaz. A cada dia o que surge é pouco importante, quase nada material, físico. Sobrevivem algumas horas fora de uma bolha, no máximo uns dias nos ambientes virtuais. Até os quinze minutos de fama se esvaem. Falam tanto de nossa arte no futebol! Cadê a nossa arte?

Rompantes como esses verde e amarelo que colorem agora as nossas ruas junto com as outras tantas cores de outros países são bons demais, mas efêmeros, não deixam legado. Efêmero. Acabando, ficam as questões que nos entristecem e dão raiva.

Até a tal primavera chegar, continuaremos batendo cabeça sem entender um monte de porquês, cadês e sem enxergar onde andam os salvadores da Pátria, o porquê desse silêncio. Acumularemos mais um pouco de desfeitos, somando com esperanças. Aguardaremos pedidos de desculpas que não chegam, atropelados por outras faltas que serão cometidas, ou percebidas, sentidas.

Ficaremos irritados com o que vemos, ouvimos, sabemos e saberemos, porque de debaixo desse tapete tudo pode surgir. Muito tristes pelo que não vemos, ouvimos ou nem saberemos. Aguardaremos algum despertar no horizonte, algo que traga o lindo pendão da esperança.kick

Queríamos pelo menos uma música para acompanhar. Que continuássemos a querer cantar à capela, para nos levar às lágrimas.

Ou para a nossa alegria, alegria.

angry-man-16198121São Paulo, 2014, quase chegando ao segundo tempo.

Marli Gonçalves é jornalista Talvez seja esse o problema. Devia ser mais cigarra e menos formiga.

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Tubarões atacando em alto mar…Carne importada , na Copa?

Alto mar

Tripulante de pesqueiro japonês é atacado por tubarão próximo a Pernambuco

A Capitania dos Portos enviou uma fragata para prestar socorro a Sunarko, um indonésio de 43 anos
fonte : Do JC Online

Com informações da Rádio Jornal

 Um indonésio foi atacado por um tubarão em alto mar, a cerca de 500 quilômetros da costa pernambucana, nesta terça-feira (10). O ataque aconteceu em águas internacionais. Sunarko, de 43 anos, é tripulante de um navio de pesca oceânica japonês. Uma fragata da Capitania dos Portos foi enviada para atender a vítima.

Um médico está à bordo da fragata, que também conta com um helicóptero. Por conta da distância, a embarcação da Capitania deve chegar ao ponto onde o asiático foi atacado às 3 da manhã desta quarta-feira (11). Prém, o navio oriental também se move em direção à costa, adiantando esta previsão.

O Hospital Naval do Recife se colocou a disposição para atender a vítima. O socorro a Sunarko foi pedido por volta das 2h30 desta terça, ao Terceiro Distrito Naval, em Natal, Rio Grande do Norte. A fragata, porém, estava no Recife por conta da Copa do Mundo.

ARTIGO – Um grito parado no ar. Por Marli Gonçalves

getoutUm, não. Vários, muitos, um monte, entalados alguns deles. A boca seca, olho arregalado, o coração inquieto, descompassado, certa aflição, aquela inquietude de nada estar bom, nem lugar algum ser exatamente confortável, vontade de ter o dom da previsão. Só parará quando gritarmos Gol! Só que outros gritos e gritas gerais e danadas também virão, especialmente se a bola não entrar na rede tanta vezes quanto necessário

Gritos qugritando na tribunae se somarão a todos os tipos e formas de protestos dos últimos tempos, tão variados, diários e constantes que parece algo, um pote. Destampado, uma vez iniciado o que expele, não acabará tão cedo o vazamento. Temo especialmente que seja feita, inclusive, qualquer tentativa de tampar esse pote, sufocar esses outros gritos. Que Deus não permita isso nem em leis, nem em golpes, nem em palmadas ou pancadarias.

Fico ouvindo o povo comentar que não vai torcer pelo Brasil, ou que vai torcer contra e acho engraçado como as pessoas mentem sem nem saber mentir direito. Claro que vai se esticar para ver – nem que seja o rabicho do olho, de esgueira. Ou vai sumir para alguma caverna, fazer uma viagem de submarino, meditar no Tibete, uma vez que a Copa é do mundo, e esse mundo todo é bem chegado ao futebol. O que faz tão difícil apenas concluir que o problema é a Copa, desta vez, ser aqui? E que a maioria de nós, infelizmente, só notou agora a burraldice de termos nos candidatado como misses nesse concurso. Acabamos ganhando a faixa, com nossas belezas e gingar. Acostumamos há décadas a torcer, sim, muito, mas com outros pagando a conta geral, e nós, apenas convidados.huge.2.10733

A conjunção astral, no entanto, não está para peixe, nem para tatu-bola, bolinha ou fuleco. A econômica, então, nem se fala. Só pode ser sentida e vocês sabem bem onde o sapato de cada um vem apertando o calo. Os nervos estão tão à flor da pele que até astrólogo, se prever algo de que “eles” não gostem, acaba massacrado pelo rolo compressor que está montado, especialmente na internet, com argumentos assustadores para tentar justificar o nó que aparece no bordado, o macaco caindo do galho.

Essa semana mesmo, depois de passar algumas horas sem saber de alguns protestos por perto, já ia reclamar. Não deu tempo. Soube do protesto dos PMs? Sim, dos PMS, dos policiais, quem diria. E greves? Só falta mesmo as mulheres promoverem a greve dos sexos. Tem só uma greve que tenho certeza que não ocorrerá, porque a categoria ganhou um trauma e tanto no fim da década de 70: jornalistas. Esses (nós) não param. Nem para protestar contra esses seus sindicatos e federações literalmente infestados, inCUTizados. A coisa está preta, e devia estar verde e amarela.

grito de torcidaNão sei explicar com palavras exatas, mas você aí sabe muito bem do que estou falando, mesmo que esteja do lado de lá, e eu tenho muitos amigos queridos e todos bem inteligentes para admitir, mesmo que intimamente, que as coisas vão mal. Aliás, de mal a pior. Não é preciso nomear ninguém, nem acusar, está geral, no ar, intestina, desconfortável, perigosamente chato, triste, e o que não combina com a gente. Piora com as notícias de desemprego, paralisação da economia e, agora, com o índice do IBGE que demonstra que mais de 40 % da população não trabalha mais. É o efeito bolsas. Fiquei pasma e vou repetir: Mais de 40% não trabalha, não quer. Mulheres agora ficam em casa cuidando de filhos porque é mais econômico. Vivi para ver. Depois de tanta luta pelo mercado, pelo respeito. É desanimador.

brazilW_animadogrito de torcidaNão adianta vir e tentar criar paraísos artificiais com propaganda. Viram o filme publicitário federal vendendo, ou melhor, tentando comprar a nossa alegria? Coisa mais falsa só peitos de silicone e promessas de candidatos. Quando a alegria, no país do futebol, precisa ser incentivada… Ah, foi aí que tive a certeza. Pensava que o fato de ver no máximo umas cinco bandeiras por dia em janelas ou carros, era apenas falta de tempo do pessoal. Aqui em São Paulo, a coisa está tão silenciosa que até churrasco estão oferecendo para premiar ruas que se enfeitarem. Oficial, coisa de Prefeitura. Como diz uma amiga, picanha pode? Não é crime eleitoral?

grito cavernaAndei pelas ruas e, claro, vendo vitrines e lojas, que é bom bater pernas e sou mulherzinha. É visível o encalhe, pelo menos até esse momento, dos itens Kit torcedor. Em compensação, há vários meses observo um crescente “chegar” de estrangeiros que não vieram para Copa, não, não senhor! Estão vivendo aqui, pagando em dólar, e temo informar ao mercado que muitos vêm com maior preparo, buscam colocação profissional e dependendo do setor parecem mais bonitos aos olhos dos empregadores. Em quarteirões é possível ouvir o inglês, o francês, o alemão, o chinês, o coreano, línguas africanas. Tenho ouvido conversas em árabe, assim como está extraordinariamente alto o número de muçulmanas com seus véus e puxando seus filhinhos. Uma nova onda de imigração.cheerleader_0035

Gianfrancesco Guarnieri, a quem homenageio com esse título, botou um grito parado no ar nos palcos exemplificando aqueles momentos duros, 40 anos atrás. Nós poderemos emitir esse grito este ano de diversas formas.

Uma delas gritando GOL! As outras formas, bem, você sabe. Mas é preciso se esforçar e gritar, para que a voz saia bem clara e a mais uníssona possível, pedindo união, paz, verdade, humildade e revisão de erros, crescimento e, fundamentalmente, um futuro campeão.

A bola já está quicando na área.

São Paulo, ainda cinza, 2014bocafalanteMarli Gonçalves é jornalista Deseja a todos muita alegria, muitos gritos contentes e ainda espera ver um monte de bandeiras sendo agitadas – aquelas cheias de estrelinhas onde está escrito Ordem e Progresso.

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AGENDA MTST ( e outros “S”) de protestos, amanhã, em São Paulo

FONTE: COMUNICAÇÃO DO MTST E OUTROS “S”

broke_man_with_empty_pockets_md_clrO MTST realizará nesta quarta-feira nova mobilização em São Paulo. Será o quarto Ato da Campanha Copa Sem Povo, tô na Rua de Novo.

A perspectiva é reunir 20 mil pessoas, entre trabalhadores sem-teto das ocupações da cidade, apoiadores do Movimento e lutadores de outros movimentos. A mobilização ocorrerá a partir das 17hs, com concentração no Metrô Vila Matilde.

RagDoll-1A pauta do Movimento permanece a mesma, na medida em que não houve resposta positiva dos Governos, focada em Reforma Urbana e Moradia Digna:

– Mudanças no Programa MCMV, fortalecendo a modalidade Entidades e com regras que estimulem melhor localização e maior qualidade das obras.
– Lei do Inquilinato de controle dos reajustes de aluguel urbano
– Política Nacional de Prevenção de Despejos forçados
– Destinação do terreno da Ocupação Copa do Povo (Itaquera) para moradia

As pautas da Campanha – o Hexa de Direitos – estão publicadas na página de Facebook do MTST e da Copa sem Povo.

Moving-picture-fire-breathing-dragon-sleeping-animated-gifsA convocação do Ato tem o apoio dos seguintes movimentos e entidades: MPL, Comitê Popular da Copa, Se não Tiver Direitos Não vai ter Copa, Frente Nacional de Lutas Campo e Cidade, Coletivo Juntos, Fórum Popular de Saúde, Coletivo Construção, Coletivo Domínio Público, Rede Emancipa, Conafer, Nós da sul.

ARTIGO – Atenção: Frágil. Este lado para cima. Por Marli Gonçalves

Índice     Socorro, socorro, socorro. Nunca foi tão fácil, parece, ser literalmente subversivo, no sentido de subverter a tal ordem, seja ela qual for. Causar uma revolução, mas na vida dos outros. “Confusionar”, convulsionar. Nada mais tem cara, liderança, história. Surgem e somem. Somem e surgem. Se São Paulo pode parar como aconteceu essa semana, imagina… na Copa! Ops! Desculpe: imagine o Brasil todo

Quanto mais modernos ficamos, mais vulneráveis estaremos? Ou, o que adianta tanta modernidade se os sistemas de trabalho ainda são do tempo do onça? Que Mané especulação imobiliária, bolha imobiliária, se diariamente milhares marcham ou estacionam suas barracas, tranqueiras e filhos nos primeiros terrenos e prédios que encontram dando bobeira? É perturbador observar o quão fácil ou possível ou previsível está o mergulho em crises.

mousetraplightbulbPor um segundo, pense, se faltar água mesmo no Estado de São Paulo. Por dois segundos, pense, se por um lampejo os metroviários resolverem parar também, assim, de repente, como o fizeram os motoristas de ônibus essa semana, ligando o foderaizer para cima de todo mundo. No sistema de trens nem precisa pensar porque ele já para mesmo toda hora, e quebra-quebra é quase rotina – a rotina das sardinhas do transporte coletivo. Por outros cinco segundos – pense – se houver apagão, se o sistema combalido não suportar a pressão que vem por aí. Aproveita e pensa nas telecomunicações, onde tem canal passando em cima de outro canal, banda, estradinha; não é mais 3 ou 4 G, mas 3 ou 4 D. Agora, por pelo menos um minuto, pense o quanto estaremos fritos se as coisas ficarem ainda mais tensas em vários setores e a gente ainda estiver sendo liderado por frouxos como o prefeito que foi eleito para essa cansada cidade de São Paulo, ou por chuchus inodoros. É, isso pode acontecer – pior, um pouco já ocorre – do Oiapoque ao Chuí.taça quebrando

Já li gente falando que a população está com mau humor. Concordo. Mas não é uma nuvem precisa pairando sobre as cabeças. Não tem direção, não tem lado, posição política, muito menos informação real. Pergunta por aí. São interesses difusos, enevoados, ninguém sabe exatamente o que quer ou não quer, muito menos há parâmetros de lutas que consigam mover a classe média, especialmente a fatia mais esbordoada. Em junho passado escrevi várias vezes que não era verdade, que não tinha gigante nenhum acordando, só bocejando, que era apenas modinha ir até as ruas, marcar com amigos e depois postar nas redes sociais fotos segurando plaquinhas de papel. Uma coisa Rock in Rio. #eufui. Isso ficou claro quando li, naqueles dias, uma matéria regrando qual era a moda quente para ir aos protestos. Desde que me entendo por gente, tudo aqui no Brasil só se avacalha.

tUp71UJ_f4En1R_tumblr_lz64j1kmiR1qdu4dpo3_400Passo o dia lendo ou ouvindo cada bobagem que é melhor calar, e não só para não arrumar inimizades. É o jornal mal lido, a situação X generalizada descuidadamente, o assassinato de reputações sem dó, a facadas de agressividade. É um tal de não ver a política – “não voto mais”, “vou votar nulo”, etc. – só isoladamente, e para xingar. Depois, quando tem eleição, escolhe qualquer um na véspera. Não me admira que a gerente Dilma esteja caindo – esperavam dela, sociedade machista, que por ser mulher teria ordem na casa. Mas ela não é dona-de-casa, e não espanou o pó da sujeira, nem lavou a louça suja dos dois períodos anteriores, deixou tudo acumulado na pia. Também não se mostrou boa cozinheira, nem para contratar direito quem trabalhasse para ela, com ela. Os banheiros continuam sujos; o elevador parado no mesmo andar; isso, sem falar nas compras que deixou fazer.

woman_breaking_eggs_oNada mais tem fundamento. Quando que vocês imaginariam ver marchas vermelhas de sem-terra ciscando no terreiro do próprio PT, criador e criatura? O prefeito Zé Bonitinho todo santo dia recebe visitas, ora professorinhas, ora servidores da própria prefeitura, ora motoristas, cobradores, estudantes, blackblocs. Nesta semana, enquanto a cidade ardia entre muralhas de ônibus parados nas tais faixas que ele mandou pintar a mão, inacreditável a falta de senso, ficou quase uma hora dando entrevista para o Datena – e tomando um pau, de soltar o couro! Como bem observou um amigo, melhor, porque aí ele estava ocupado falando bobagem, sem fazer mais bobagens.

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Cresci temendo um tal botão vermelho que, apertado, buum!, explodiria o mundo. Temia o telefone vermelho do presidente dos EUA, ou uma tal pasta preta, a guerra fria. Mas tudo isso mudou e a surpresa do 11 de setembro deles foi o ápice do “não dá mais pra prever nada”. E se eles que são grandes não podem, imaginem nós que vivemos pequenos, subordinados a quaisquer zinhos que falem o que devemos ou não fazer até com as nossas bolas.

A verdade é que a humanidade, quando se afastou da sua própria condição humana legando a máquinas muitos dos seus controles, facilitou que crescesse uma fragilidade perigosa. Com muitos botões vermelhos e pastas pretas. Por aqui, inclusive, umas delas recheadas de dinheiro.

São Paulo, paralisada, paranoica, e que não pode parar, 2014.

0511-1001-0616-1628Marli Gonçalves é jornalista Neste jogo já está vendo bolinhas em todos os cantos, iguais às da obra da artista japonesa Yayoi Kusama, “Infinita Obsessão”, que chegou essa semana a São Paulo. Achei bem louco saber que, por espontânea vontade, ela vive desde 1977 recolhida numa clínica psiquiátrica. E se eu começar também a ver bolhinhas?

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Atenção! MTST, MPM, MLP e outros “M” fazem várias manifestações amanhã em São Paulo. As informações são deles próprios, fonte direta. E vem mais por aí.

manifPREPAREM-SE!

Amanhã vai ter protestos pela cidade de São Paulo…

https://issuu.com/mtsemteto/docs/cartilhacopasempovofinal?e=0

A Resistência Urbana, frente que inclui o MTST, MPM, MLP e outros movimentos, iniciará a Campanha COPA SEM POVO, TÔ NA RUA DE NOVO amanhã em São Paulo e outras cidades do país.

Esta Campanha realizará uma série de manifestações populares nas próximas semanas até a Copa. As pautas e propostas estão no Manifesto em anexo.

A Ocupação Copa do Povo em Itaquera participará também desta jornada.

Amanhã ( 8 de maio) realizaremos grandes manifestações em empresas que mais lucraram com o dinheiro público jogado na Copa do Mundo: As grandes construtoras, em particular aquelas que abocanharam os recursos da construção e reforma de estádios.

O MST e outra organizações sociais também participarão de parte da atividade.

Pontos de Concentração:
1. Metrô Butantã – 9hs
2. Estação CPTM Berrini – 9hs
3. Praça do Ciclista – 9hs

0001( FONTE – ASSESSORIA DE IMPRENSA DO RESISTÊNCIA URBANA)

Alemanha preocupada com quem tem a coragem de aparecer por aqui na Copa

Parachutespringen (23)MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DA ALEMANHA FAZ ALERTA SOBRE A COPA DO MUNDO NO BRASIL!

(El Pais-27)
1. O relatório fornecido pelo Ministério de Relações Exteriores da Alemanha, na seção “serviços ao cidadão”, e que é lido atentamente por todas as principais agências de turismo do país e turistas que compram pacotes de férias, oferece um quadro desolador do Brasil, gigante sul-americano, e que só é comparável a uma nação onde as leis não são respeitadas e onde o turista corre o risco de ser vítima de ladrões, sequestradores ou simplesmente estar envolvido em confrontos entre a polícia e grupos criminosos, como aconteceu recentemente no Rio de Janeiro.

2. “Em princípio, devemos agir cautelosamente em regiões ou bairros de cidades que são considerados como seguros”, acrescentou o relatório. O Brasil tornou-se uma perigosa armadilha para turistas desavisados que não conhecem a realidade do país. O Ministério recomenda que os turistas alemães não usem roupas chamativas e joias quando forem caminhar pelas ruas, que evitem levar grandes quantidades de dinheiro e que escondam em bolsas artigos eletrônicos, como telefones celulares e laptops. “Em caso de ataque não se deve resistir, porque os ladrões geralmente agem sob a influência de drogas, estão armados e não se deixam assustar com reações violentas”, aponta o “Sicherheitshinweise” (dicas de segurança) do Ministério.

FONTE : DA NOTA DE CESAR MAIA EM SEU EX-BLOG

ARTIGO – Vai folgar, trabalhador! Por Marli Gonçalves

bouwvakkers04Faltando pouco mais de um mês para a Copa do Mundo, esse evento que está nos deixando ansiosos para ver no que vai dar, a grande conversa é se vai ter ou deixar de ter feriado, onde, quando, de que horas a que horas. E como em ano de política tudo pode acontecer, creio que serão muitos dias de não trabalho neste país que está mais parecendo um tatu bolinha, se enrolando todo, tropeçando em pedrasWorkman

Vai trabalhar, vagabundo! O título do filme nacional virou expressão popular…Trabalha, trabalha, nego…A estrofe de Terra Seca, musica de Ary Barroso, 1943, virou lamento ou até ironia quando somos obrigados a trabalhar mais, um pouquito mais, e principalmente quando nos pedem um daqueles trabalhos que não são bem nossos, aquela abusada de chefe, e lá vamos resignados cantarolando o trecho da música que, completa, é triste de fazer chorar de tanta pena do nego véio moiado de suor, sua rotina e velhice.

watchmakerTrabalho. É interessante pensar no Trabalho, assunto de mil facetas e formas, inclusive de leis da Física, onde significa movimento, – e por que não dizer? – da religião. São Paulo está forrada de cartazes de charlatãs e charlatões, se dizendo videntes, mestres ou gurus, prontos , oferecendo-se para fazer um trabalho que consiga o que o desesperado (só pode estar desesperado para procurar uns caras desses) do consulente deseja. Trabalho que é trabalho em umbanda e candomblé tem nome mais bonito. Chama oferenda. Mas aí alguém que queira saber mais, que faça um trabalho, de pesquisa, de escola. Ou de campo, que é quando a pessoa tira a derrière da cadeira e vai ao local dos fatos. Não confundir com trabalho do campo, rural, bucólico e pesado.

Para tudo o que a gente faz e precisa é necessário trabalhar. Até para não fazer nada é preciso trabalhar, certo esforço. A gente também trabalha muito pensando. Para nascer, quem está dentro trabalha para sair; quem está fora trabalha para empurrar, fazer nascer – é o trabalho de parto, o trabalho que enaltece a mulher, especificamente. Sem concorrências.worker19

Por falar nisso, andei ouvindo uns dados sobre trabalho, emprego, desemprego, taxas, e a briga das estatísticas e pesquisas divulgadas pelos governantes desse país maravilhoso que aparece na tevê, um tal Brasil. Nele, tudo só e bom; se acreditarmos no que comerciais com modelos sorridentes informam não há problemas na saúde, nem na educação, muito menos na habitação. Todo mundo tem crédito a hora que quer, sorri, e a inflação é só da nossa imaginação. Sem violência, sem medo, tudo limpinho. Como é que é mesmo? Pais rico é país sem pobreza. Será que só eu acho esse slogan o óbvio ululante, parecido demais com os confusos discursos da timoneira? Vejam bem...

hairMas quero falar de umas preocupações sobre o que ouvi de orelhada. Não haveria tanto desemprego entre jovens porque eles estão ficando mais em casa, só estudando, bancados pelos pais? As mulheres – que tanto lutamos para poder sair para o mercado de trabalho de igual para igual, etc. e tal – estão fazendo as contas e descobrindo que ficar em casa tomando conta dos filhos é mais econômico? É isso mesmo? Confere, minha gente?

bouwvakkers24Não tem alguma coisa errada nisso? Não nas decisões das pessoas, mas nos fatos que as obrigam a isso. Os gastos com transporte e alimentação fora de casa, crescentes. Estudantes que, se estiverem na de aprender mesmo, têm de passar mais tempo estudando? Ou, por outro lado, moçada apática que fica esperando herança, gastando o que tem, sem perspectivas, sem desafios? Uma geração BBB que só pensa em ser famosinho, modelo, aparecer na tevê, cantar funk, puxar ferros? Todo mundo buscando uma imensa loteria. Trabalho que e bom, nada de pitibiribas. Aquele tal de Hércules devia ser um chato, sem ter o que fazer, sem redes sociais, sem baladas, sem rolezinhos.barber

Pouco sobrou do oficio, do amor ao que se faz, o capricho no fazer, a gentileza no trato com o público, no serviço público e no privado. Quem adquire experiência é escorraçado do mercado, e depois flana porque já tem idade – mesmo que hoje se veja tantos rompendo 70,80 com pleno vigor.

Por outro lado, para quem pega no pesado, a situação continua triste. Sindicatos atrelados, sugando contribuições e não entregando. Condições de trabalho e salários baixos, sem formação técnica, sem incentivos. Assédio moral, sexual, total. “Ande na linha”, “olha que a coisa tá preta ai fora”, “se você não quiser, tem quem quer, uma fila”. Nesses últimos tempos está um tal de dar férias coletivas toda hora que não é nada bom; é a famosa folga que o trabalhador passa rezando, e para voltar ao mesmo posto. Não vende, não produz, não vende; não compra, nem produz. Chicote maluco.

bouwvakkers28Não. Folga. O feriadão está aí, e este agora é o dia que todos os políticos ou candidatos põem as manguinhas de fora, em palanques, falando aos trabalhadores, invariavelmente atraídos até ali por causa dos shows populares, ou sorteios. Prometem aumentos, fazem juras de amor.

Os feriadinhos, o montinho do legado pela Copa, também já estão sendo gestados nos gabinetes, e serão ótimos para refrescar os ânimos que andam quentes ou secos, tanto quanto os reservatórios.O comércio está a-do-ran-do, para não dizer o contrário, essa brincadeira com o calendário.

019São Paulo, 2014bouwvakkers05Marli Gonçalves é jornalista Tanto tempo trabalhando, ouviu contar sobre uns tais frutos. Onde é que a gente os recolhe?

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Tenho um blog, Marli Gonçalves, divertido e informante ao mesmo tempo, no https://marligo.wordpress.com. Estou no Facebook. E no Twitter @Marligo

ARTIGO – Cismas de Outono. Por Marli Gonçalves

mulheer faz o jardimAs folhinhas começam a amarelar, as cores todas vão mudando, e o mundo vai retornando às suas atividades lentamente, muito mais lentamente do que poderíamos desejar, em contraponto aos fatos que nos atropelam a cada dia. É uma estação tão intermediária quanto o suspense que teremos até o inverno, até a Copa e até as eleições, tudo ao mesmo tempo agora, como diriam os Titãs. As estações passam e parece que não aprendemos nada com elas

Vontade de às vezes sentar na calçada e fingir que estou na soleira da porta de uma grande casa de fazenda, de onde apenas vejo as coisas acontecerem, matutando. No caso, seria o galo cantando, a vaca mugindo, os porcos roncando e os pássaros cantando. Mas quando despenco para a realidade, mais fácil mesmo é estar sentada na calçada, com os carros buzinando, as serras cortando e com a água suja correndo no meio fio, onde, claro, todas as bocas-de-lobo estarão entupidas.Animated_ThinkingMan

Farm_womanMinha imaginação da bucólica cena rural vem muito da leitura de Monteiro Lobato. Uma casa de fazenda com uma porta enorme e um varandão, daqueles de onde tudo se vê. Tia Nastácia fazendo bolo cheiroso. Dona Benta se embalando na cadeira, contando histórias. Acrescento apenas o fato de no meu sonho eu estar enrolando um cigarrinho de palha, e puxando prosa com os passantes, para saber das últimas. Ah, e chupando cana. Adoro isso, o que só dá para fazer em sonho mesmo. Só virando boneca de pano, que não engorda.BEZanimalsAnimated

O tempo está passando muito rápido. Não dá mais é para não reparar nisso, e acredito que somos nós que pisamos nos aceleradores, atropelando uma coisa atrás da outra. Tanta informação seguida de desinformação de uma forma não vista antes. O que vale hoje já era amanhã. E se até as leis mudam todos os dias, imagine quantas memórias são pisadas nessa correria. Quantas promessas jamais cumpridas. Quantos amores jamais vividos. Quantas coisas não conhecidas.

Wilbur_Thinking__Animation_by_TheEndxTypeANIMEMe vi cismando com tudo isso, o estalo, não riam, foi depois de ouvir no rádio que Michael Jackson morreu em 2009. Tabefe. Não foi ontem? Vocês têm noção de que já se passaram mais de quatro anos? Quer outras datas? Diretas: 30 anos. 50 anos do dia que apagou o país durante 20 anos, e há quem ouse chamar aquela coisa de gloriosa. Quase 12 anos desse modelo de governo que joga uns contra os outros.

Isso está fazendo mal pra a nossa memória, tenho percebido. Porque se você parar para lembrar, capaz será de esquecer de continuar andando e a coisa vem atrás correndo mais do que touro naquelas festas de rua da Espanha, mordendo nossos calcanhares. Olé! Olé! E se isso acontece com a gente que passou pelos fatos, a rapaziada que vem chegando não tem nem tempo de conhecer, quanto mais de revisitar. Podem, portanto, fácil, repetir os nossos erros. Será nisso que jogam?animated_thinking_cap

Temo que isto já esteja ocorrendo. Quando vejo clamores por militares. Quando vejo amigos baterem no peito se autoproclamando conservadores. Quando não vejo críticas à ocupação militar policial nas manifestações. Quando só vejo jovenzinhos segurando cartazes em passeatas sem rumo, seguindo como gado para o matadouro onde morrerão por pancadas no primeiro rolo que pode ser arquitetado por um infiltrado de qualquer sorte: e com policiais ou não, já que eles estão prontos, rosnando, certamente putos pelas ordens superiores de acompanhar a gurizada, emparelhando, andando quilômetros como ocorreu essa semana em São Paulo no anódino ato, mais um, contra a Copa do Mundo.

Vou continuar cismando. Estamos abreviando as estações. As da vida.

São Paulo, fim de verão, 2014 1321706rqp6604q60Marli Gonçalves é jornalista Pretendo continuar cismando com as cismas. Ô palavrinha cheia de significados, sô! Parece que só delas é que pode nascer um mundo novo. Sem elas, quando significam divisão, rompimento, dissidência. Precisamos mesmo meditar, refletir, ruminar ou uma das formas que mais gosto, rassudocar um bocado. Cismei com isso.

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PRAGA DE BRASILEIRO PEGA. E O “CHUTE NO TRASEIRO” DEIXOU MARCA. VALCKE INTERNADO NO RIO DE JANEIRO

FONTE: COLUNA CLAUDIO HUMBERTO

Jérôme Valcke é internado no Rio

Reuters
Foto
SECRETÁRIO-GERAL DA FIFA, JÉRÔME VALCKE

O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, encontra-se hospitalizado no Rio de Janeiro, conforme informou a assessoria da própria instituição. Valcke ficará em observação por dois ou três dias no Hospital Samaritano por conta de uma crise renal. De acordo com o diretor de marketing da Fifa, Thierry Weil, o secretário “está bem” e seu quadro “não inspira maiores preocupações”. 

Artigos que eu assinaria embaixo – 2, sobre essa história toda de Copa. Esse, do Carlos Brickmann

Verás que os filhos teus fogem à luta

Chega de brincadeira: a presidente ficou irritada com Ricardo Teixeira, ficou irritada com a FIFA, ficou irritada com as exigências para a realização da Copa. Mas cedeu em tudo – menos, por enquanto, na meia-entrada para idosos.

Presidente, desculpe a ousadia deste colunista: se está irritada, tome um calmante. Depois, informe ao pessoal da FIFA o que eles já deveriam saber: que o país tem leis e que essas leis devem ser cumpridas. A FIFA é uma entidade privada e tem o direito de reivindicar medidas que aumentem seus lucros. O Governo brasileiro é uma entidade pública e tem o dever de exigir o respeito às leis.

Meia-entrada para estudantes, por exemplo. Este colunista é contra, por não conseguir entender como é que assistir a uma partida da Copa pela metade do preço vá estimular o estudo (ah, sim: a carteirinha de estudante, que dá direito à meia-entrada, é emitida e cobrada pela UNE, comandada pelo mesmo partido do ministro dos Esportes). Mas, quando decidiu realizar a Copa no Brasil, a FIFA conhecia as leis brasileiras. A Ambev produz e vende cervejas, cujo consumo é proibido nos estádios do país. É patrocinadora da Copa – e daí? Se a FIFA aceitasse o patrocínio da Cosa Nostra, iria exigir a liberação da cocaína nos estádios? E a Ambev, só lucra com cerveja? Sua linha de refrigerantes não é rentável?

Este colunista é favorável à realização da Copa no país – mas não a ponto de mudar as leis para agradar os donos do futebol. Se quiserem sair, saiam. O Brasil vive há 61 anos sem realizar a Copa. Não vai sumir se o jejum continuar.

Artigos que eu assinaria embaixo 1, sobre Copa do Mundo. Esse, do Gabeira

Nos anos 60, corria uma história engraçada nos bares frequentados por intelectuais Um garoto transou com um maduro diretor de teatral. Consumado o ato, como diria um escrivão, o garoto se dirigiu ao diretor e disse:

-Quero 100 cruzeiros

-Não, respondeu o diretor

-Quero 50 cruzeiros

-Não

-Quero 20 cruzeiros

-Não

-Tudo bem, me dá dez cruzeiros

-Não

O garoto olhou para a mesa ,estendeu a mão e disse: então vou levar essa caixa de fósforos.

Essa história me vem à cabeça na relação do Brasil com a FIFA. O Brasil decidiu ceder em tudo. Mas vai preservar o direito dos idosos, que terão meia entrada

O Ministro Orlando Silva, do PC do B, não mencionou os estudantes. Como o partido dirige a UNE é possível que não haja protestos pela suspensão da meia entrada durante a Copa.

Os marqueteiros do Planalto vão convencer a todos que Dilma resistiu à FIFA e defendeu bravamente os idosos. Alguns jornalistas vão repassar essa imagem e Dilma, que já está nas alturas pela suposta faxina contra a corrupção, será a heroina da terceira idade.

Esse é o tempo que vivemos. Evidências são envenenenadas pelas versões e poucos se importam com isso; deixaram de ser a materia prima da avaliação , tornaram-se   página em branco , nas quais, a partir de alguns fragmentos tudo pode ser escrito.

Em Cuba já se pode comprar carro novo,  falou muito disso em setembro. Mas 563 pessoas foram presas por razões políticas, quase o triplo da média mensal; a notícia vai desaparecer, após uma discreta menção.

Ressaltar estas prisões, vale sempre uma enxurrada de protestos. Por que não falar de Guantanamo? Por que não reconhecer a importância da revolução cubana e mencionar apenas alguns detalhes negativos, como 573 pessoas presas ?

Por que não olhar para Gisele Bundchen, de biquini, tentando seduzir o marido numa propaganda da Hope?  Aí sim, vemos uma questão de direitos humanos que é preciso equacionar.

São tempos em que a maioria vai para um lado e é preciso coragem e bom humor para contestá-la. A pátria de chuteiras aceita tudo porque já cedeu o principal: a Lei Geral da  Copa do Mundo tem como objetivo máximo garantir os lucros da FIFA e ponto.

Durante anos, a pirataria foi regida por uma lei. As penas serao ampliadas na Lei da Copa. A pirataria não é mais apenas a apropriação dos direitos intelectuais de criadores ou da pesquisa das grandes marcas.

Ao chegar ao futebol, ameaçando os lucros da FIFA, a pirataria ganhou um novo e sério estatuto como crime. Tudo vai ser interpretado assim: Dilma heroina dos idosos é também a defensora máxima dos direitos intelectuais. E o PC do B ao promover a supressão de conquista dos estudantes na verdade é o seu supremo dirigente , pois está estimulando a emancipação da juventude.

Além de ser bonito e rico, o Brasil é um país muito engraçado.

O que achamos disso tudo? Leia esse texto do Kotscho sobre aquela coisa que aconteceu sábado, no Rio, chamada sorteio da Copa

Antes que esganem, quero deixar claro apenas que não tenho nada extamente contra Copa ou qualquer outro grande evento. Mas tenho tudo contra um país ter atrelado seu próprio desenvolvimento a isso, e com tanta já quase visível roubalheira e com tantas “viagens”.

Leia esse artigo do meu amigo Ricardo Kotscho. Opinião e comentários, dos bons!

Se esta Copa 2014 for igual ao sorteio, estamos mal…

POR RICARDO KOTSCHO

Juro que consegui ver do começo ao fim esta chatíssima transmissão do sorteio preliminar das eliminatórias da Copa de 2014. Ao contrário do escabroso filme sérvio que foi proibido, desta vez vi tudo. E não acreditei no que vi.

Com certeza, foi o evento mais chato e menos emocionante já transmitido pela televisão mundial para mais de 200 países desde a chegada do homem à Lua, em 1969.

Sem entrar no mérito de quem pagou a conta da festa que custou R$ 30 milhões, ou seja, nós, os cidadãos contribuintes (na África do Sul, há quatro anos, o mesmo evento custou  U$ 2 milhões), ninguém merece ouvir meu amigo Galvão Bueno narrando por mais de duas horas um não evento, em que não acontece absolutamente nada de interessante ou surpreeendente, e ninguém entende o que está acontecendo.

Foi um tal de zonas, potes, segunda força, grupo mais fraco, Ana Carolina cantando com Ivan Lins, velhos ídolos do futebol brasileiro formando dupla com jovens talentos desconhecidos do grande público, que nem a seleta platéia reunida na tenda da Fifa/CBF/Globo armada na tarde deste sábado, na Marina da Gloria, no Rio, resistiu ao sono.

O próprio Galvão Bueno flagrou o presidente da AFA, Julio Grandone, o Ricardo Teixeira da Argentina, puxando um solene ronco na primeira fila das autoridades. Quase todas as excelências estavam entediadas, com cara de sono, de quem está só esperando para aquilo acabar logo.

Nem a bela apresentadora Fernanda Lima cheia de pique conseguiu salvar o grande espetáculo que não houve. Só Pelé, o embaixador da presidente Dilma, foi aplaudido.

Se é isto que nos espera na Copa de 2014, mesmo que os estádios e aeroportos fiquem prontos, estamos mal…

Fonte: http://noticias.r7.com/blogs/ricardo-kotscho/

ARTIGO – Até a Poliana já desconfia.

MARLI GONÇALVES

Alô! Seu mundo está cor-de-rosa? Os preços baixaram aí onde você está? Tem dinheiro sobrando para alguma coisa? Está conseguindo atingir suas metas e concretizar planos? Sente-se seguro?

Se você respondeu sim às questões acima, parabéns! Descobri. É você o ET que todo mundo anda procurando alucinadamente. Ou é a própria Poliana encarnada e ressuscitada no Brasil. Ou será uma cruza dos dois? A imagem que me ocorre é terrívelmente maledicente, a de um serzinho verde e rosa (puxou o pai e a mãe), vestido com a camisa de algum time de futebol, por causa da Copa, com um calção de seleção canarinho, todo contente porque vai ter Copa, e com um brochinho de estrelinha na lapela. Sexo embrionário, indefinido, e até liberado, tudo porque vai ter Copa. E Olimpíadas.

Otimista, porque vai ter Copa. E Olimpíadas. Seguro, porque vai ter Copa. E Olimpíadas. Pronto para enfrentar tudo e todos, porque vai ter Copa. E Olimpíadas. Certo de que vai dar tudo certo e que vai ficar rico, muito rico, porque vai ter Copa. E Olimpíadas. Pronto para o que der e vier, porque vai ter Copa. E Olimpíadas. Satisfeito sexualmente, porque vai ter Copa. E Olimpíadas. Rico de espírito, porque vai ter Copa. E Olimpíadas.

Aliás, pelo que estamos vendo aqui nos trópicos a coisa por causa disso está tão boa, mas tão boa, que nem é preciso mais jogar na loteria, nem trabalhar, suar camisa. A redenção já está na nossa porta. Há um desenvolvimento desenfreado no nosso país. Não existem mais pobres – está todo mundo trocando de classe social. Ninguém viaja mais de ônibus, só de avião. Todo mundo tem casa própria, carro, comida na mesa, que beleza. Acabou o racismo e o preconceito. Tem tanta liberdade de expressão – mas tanta – e somos tão livres, que podemos ver tudo, assistir até a filmes sérvios inteiros e completinhos, que a gente deixa esses tais Estados Unidos no chinelo nesse quesito Liberdade. Aliás, como é que pode essa gentinha americana ficar por aí pensando em dar calote em todo o mundo?

Coitados. Eles não vão ter Copa. E Olimpíadas.

Talvez sóóóó daqui a alguns anos vão saber como é viver em um país tão legal como o nosso. Um dia eles vão chegar no nosso estágio de desenvolvimento. Poderão até eleger uma presidente mulher. Tadinhos, tão atrasados! Nunca mais eles tiveram essa extrema oportunidade e honra, e quando foi lá não souberam aproveitar como nós. Mas sempre há esperanças. Quem sabe ainda não elegerão um operário? Talvez um metalúrgico, com enorme sabedoria e cultura. Vão saber o que é bom, como vão aprender. Esses caras não sabem nada. Eles não tem esse jeitinho maneiro que a gente tem; nem apreço pela própria história ( vai perguntar escalação de time lá, vai!). Gente! Eles não têm nem bola redonda! A bola deles é até meio oval, tão pernas-de-pau que são.

Eles não têm Copa, nem Olimpíadas.

Juros altos? Aqui não tem isso não. Inflação? Ué! Os preços estão subindo? Não vi não. Quem disse? Não sei não. Bolhas? Não. Não temos risco nenhum aqui no Brasil de nada disso acontecer. Corrupção? Qual é? Vai dizer que aqui, nesse paraíso, onde vai ter Copa (e Olimpíadas) tem disso? Tem não. Você não assiste tevê? Não está vendo como tudo está ma-ra-vi-lho-so?

Aqui vai ter Copa. E Olimpíadas.

Seu calo está doendo? Seu sapato está apertado? Ora, relaxe. Vai ter Copa, e Olimpíadas. Seu patrão resolveu fechar a firma (quem sabe já foi comprar ingressos) e você foi posto no olho da rua? Não se preocupe. Como é que ainda não reparou nas zilhões de chances sendo abertas?

Ô, meu! Aqui vai ter Copa. E Olimpíadas.

Está sentindo solidão? Não se preocupe. Vão vir tantos estrangeiros – gente linda, loura, gostosa, rica, cheia de amor para dar – para cá, que você logo vai encontrar seu par de meias, transar muito, interagir e variar. Ainda não ouviu dizer que há uma fila na porta do país, esperando, loucos para entrar aqui nesse paraíso? Como assim?

Ninguém te disse que eles já souberam de tudo? Que aqui vai ter Copa. E Olimpíadas.

Aquecimento global é coisa do passado, gente. Está tudo dominado. Temos saneamento básico. Nossas crianças – todas – estão sendo educadas muito melhor do que naquele outro país… – como chama mesmo? Ah, Suiça! Nunca nossas indústrias produziram tanto, nunca exportamos tanto, nunca compramos tanto, nunca construímos tanto, nunca fomos tão lindos como agora. Vai ter Copa. E Olimpíadas.

Nossas estradas estão iguais a bundinhas de bebê de tão lisinhas. Nossas estradas são mesmo um orgulho nacional, igual aos nossos aeroportos e portos. Conseguimos nos livrar de todas as burocracias, de todos os cartórios, nem sabemos mais o que quer dizer papelada.

Ah, mais eu tenho uma novidade! Passamos a produzir papelão, como ninguém nunca dantes nesse Universo. Nossos papelões são melhores do que o dos outros. Sabe por que? Sabe por que?

Eu vou contar. Não aguento guardar segredo: é que aqui vai ter Copa. E Olimpíadas.

Nossa bandeira, soube, vai ser reformulada. No lugar das estrelas, bolinhas de futebol e outros símbolos de modalidades esportivas. No lugar da Ordem e Progresso, só uma plaquinha: “Ah, eu tô maluco!”

Seremos, pois, todos, de agora até 2016, lindas menininhas Poliana, e de Maria Chiquinha (para homenagear a Sandy, que resolveu botar a dela na janela). Tudo bem também todos os anos que vêm.

Vai ter Copa. Ah! E Olimpíadas!

São Paulo, onde será a abertura das Portas do Paraíso, 2011 (*) Marli Gonçalves é jornalista. Já começa a ter alergia até em ouvir falar em Copa. E em Olimpíadas. Se só assim conseguiremos melhorar o país, o que dizer? Poliana, nos salve!

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