ARTIGO – Sobre os pequenos e os grandes poderes. Por Marli Gonçalves

Sobre os pequenos e os grandes poderes

Por Marli Gonçalves

poderTerremoto! A terra política – molhada, lama grossa – se dissolve sob os nossos pés. Entreolhamo-nos inquietos perguntando o que vai ser, quem é que pode saber, sabe ou saberá de alguma coisa, uma luz que seja. Os pequenos poderes se mantêm; os grandes se dissolvem. Temo os médios, do que serão capazes

Nesse momento estou às voltas com os tais pequenos poderes, com os “bozós”, com normas e o fantástico Sistema que impõe regras inacreditáveis seguidas cegamente por esse povo invisível – transparentes só até que precisemos circular entre eles. Em um hospital, por exemplo, acreditem, estão presentes em todos os cantos – até mais que médicos e enfermeiras. Estão em todos os lugares, uniformizados, terceirizados, servidores públicos e privados, alguns até armados.

Já os grandes poderes carregando seus egos enormes e que protagonizaram as cenas dessa semana não fazem outra coisa senão justamente aparecer fulgurantes dia e noite arrastando suas plumas e movendo mundos e fundos para puxar a sardinha cada um para o seu lado. Ou escapar das ondas do tsunami que se avizinha.

Os pequenos poderes, por sua vez, são subalternos, cumprem ordens e comandos – que citam como razão argumento e repetem como autômatos. Eles não sabem o que é lógica. O perigo é justamente de onde vêm essas orientações. Porque é só com elas em punho que eles, esses pequeninos, crescem, se acham importantes, implacáveis, legalistas. Atacam.

Por outro lado os Poderes com maiúscula – Legislativo, Executivo, Judiciário –têm se estranhado como nunca, fazendo borbulhas, um tentando afogar o outro, empurrando a cabeça para dentro d`água. Tudo executam sorrindo, fazendo mesuras.

Nessa terra molhada com o nosso suor, chão inseguro, movediço, estranhamento, o que vemos é que a cada movimento brusco afundam todos. Nos levando junto. Protagonistas e figurantes.

Fosse um filme faroeste seriam balas e flechas zunindo para tudo quanto é lado no Planalto Central. Fosse um filme de guerra daria gosto de ver os aviões abrindo suas escotilhas e atirando bombas de delações premiadas, lançadas e chovendo também sobre todas as cabeças premiadas, só não se sabe até quando com a coroa.

Todo mundo manda. Ninguém obedece. Ou obedeceria quem tivesse juízo, diz o dito popular. O mais engraçado está em um tentando mandar no outro, os grandes, e de onde estão saindo as faíscas maiores e mais perigosas no momento em que tanto combustível está jogado no chão.

Repito: temo os exércitos invisíveis dos pequenos poderes e do que serão capazes os seus comandantes ainda tão toscos e primitivos nesse país que não consegue se desenvolver sem tropeçar. Temo os grandes poderes que embaralham as cartas e não sabemos quais escondem nas suas mangas, sejam togas ou ternos.

Nos lembra muito uma canção, de Chico Buarque: O que será, que será? Que todos os avisos não vão evitar/ Por que todos os risos vão desafiar… O que será, que será? Que andam suspirando pelas alcovas/Que andam sussurrando em versos e trovas/Que andam combinando no breu das tocas/Que anda nas cabeças, anda nas bocas?… O que não tem governo nem nunca terá/ O que não tem vergonha nem nunca terá?…

_____________geniOS DO PODER_______

20160813_143252Marli Gonçalves, jornalistaImprensa, uma profissão que até já foi um Poder. Agora só registra o estouro dos fatos que deixou passar debaixo de suas barbas por tanto tempo, durante tão longos anos.

São Paulo, 2016, o ano que estica suas sombras

ARTIGO – Vamos partir para a ignorância? Por Marli Gonçalves

Briga feia, contra a liberdade de imprensaAh, é? Ah, é isso, é assim? É para partir para a ignorância? Vamos todos agora virarmos uns trogloditas, nos socando nas ruas, uns cuspindo em outros? Joga pedra na Geni? Vamos partir para o tacape? Para o tudo ou nada? Que coisa feia, dando exemplo para as crianças, para os meninos e meninas que se divertem sem saber por quê, muito menos do quê em rolezinhos-protestos. qUERO BRIGAR TAMBÉM! CADÊ ELE?

Inacreditável. Estamos mesmo conseguindo andar para trás a passos largos – passos não, saltos, e saltos ornamentais provando que precisamos mais do que muito urgentemente fazer nada mais nada menos do que superar. Parar com isso, com essa animosidade toda. Não, não estamos divididos, pelo menos não em apenas dois pedaços como querem fazer parecer. Há uma infinidade de opções.

Não vamos partir para a ignorância.

De repente o ator conhecido, ultimamente mais por ser petista, burro e destemperado, do que como ator, cospe – sim, cospe no casal que o afrontou em um restaurante de São Paulo. Cospe no homem. Cospe na mulher. (Ele agora vai sentir com quantos cuspes se desfaz uma carreira)

O casal sem noção afrontou o ator petista, burro e destemperado, falando um monte de asneiras e bobagens, acusando o zézinho de ladrão, já que dali discussão civilizada sobre política não sairia mesmo. Vomitaram clichês, mas ainda bem que apenas em gritos, por insuportável sua quantidade.

Aí, o zezinho, o ator petista burro e destemperado, vai para casa e corre para o computador para escrever e contar para seus amiguinhos o quanto estava orgulhoso de ter cuspido no casal. Um grupo bate palminhas. O outro quer queimá-lo em praça pública, esquecendo apenas que ele é apenas um ator petista burro e destemperado. Sem qualquer importância.

Nem muita personalidade teve o ato, já que o projétil salivar já havia sido emitido por um outro “bravo combatente” há poucos dias na cara do imbecilnaro. Imbecilnaro esse que ousou evocar e pronunciar o nome do cão dos infernos em seus segundos de votação.

Quequiéisso?

Acho preocupante e considero um comportamento inadmissível ver amigos, inclusive jornalistas, rosnando e babando contra veículos de comunicação grandes, os poucos que estão sobrando, e propondo que no lugar se busque a informação para beber só nos poços alternativos – maioria, água que se diz pura, mas na verdade já vem contaminada com enormes equívocos históricos. Ou de origem e financiamento.

É desonestidade intelectual e uma inusitada sordidez de ataque. Sabem que não é o que dizem, que não tem golpe nenhum, que erraram, que o país está parado, que a maioria os quer ver pelas costas seja por causa de pedaladas, dos pontapés, fora só uma, fora uma e o outro, os dois, desde que saiam da frente, nos deixem superar. Transformam-se em chacotas, fantasmas dos líderes que já foram. E eles não têm altivez para ao menos tentar solução, não semear a discórdia, parar de incentivar o confronto, e muito menos patrocinar os escrachos que vêm sendo feitos pela molecada, tão naturais e espontâneos que até assessoria de imprensa têm.

Uma coisinha, um cisco, vira uma tese sociológica e acadêmica chaaata, muito chata, de como forças conservadoras através de uma matéria com o perfil de uma sortuda estão operando para que as mulheres brasileiras todas regridam em suas conquistas e voltem a ser apenas belas, recatadas, e do lar. Coitada da mulher sortuda que parece saída de uma cândida fotonovela – se bem que com essa ela já toma o primeiro tranco para perceber o que vai vir daí por diante, o rojão grosso que terá de segurar.

Precisaria de uma mágica, um milagre para mudar os nossos políticos tentando fazê-los lordes – difícil. Penso nisso quando lembro que vi o espancador Pedro Paulo jogado na fogueira da ciclovia de pluma levada por Netuno. Atento ao marketing de quem ainda pensa(va) em ser candidato ousou, mexendo na aliancinha no dedo – balbuciar que “talvez” houvesse algum problema com a obra, e chamando de “incidente” aquela tragédia. Tragédia cuja imagem que restou – os dois corpos das vítimas jogados na areia da praia, e ao lado uma normal partida de futebol – essa sim, levada ao mundo essa imagem informou mais sobre como estamos do que as mais vigorosas teses intelectuais.

Nós já partimos para a ignorância. Quando a humanidade se acostuma com trevas, ficamos nos abalroando no escuro. Pisando uns nos calos dos outros. Chutando bem abaixo da linha do Equador.

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SP, 2016

Marli Gonçalves, jornalista Lágrimas roxas pelo ídolo que nesta semana se fez partículas. Achem engraçado, mas na minha cabeça tinha o Prince como uma espécie de gêmeo, porque nasci poucas horas depois dele aqui nesse país tropical. Acostumei-me a acompanhá-lo como um ser “quase” como eu, negro, rico, extraordinário, virtuoso, arrojado e famoso.

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ARTIGO – Perdidos no espaço. Por Marli Gonçalves

largeBom seria se fosse ficção científica. Se fosse uma ampla discussão sobre física quântica, vácuo absoluto ou relativo. A narração arrastada de uma concorrida partida de xadrez, o tabuleiro, os peões; os cavalos; a torre; a rainha; o rei. O fim. O xeque-mate. Felizes seremos se, tal qual no Livro das Mutações, I-Ching, os passos dessa luta sejam como uma dança de guerra, mas rogo que tragam ensinamentos para os passos de cada uma das batalhas que se sucederão.

Intuo que não será ponto final, que marca a pausa total, o fim de um tempo, de uma história, de uma revelação. Apenas ponto e vírgula, que dá a deixa para continuar na mesma toada. Tudo muito confuso, nas jogadas, nos jogadores, nas rodadas e nas rodas de conversa. Apenas nos entreolhamos e com olhares ansiosos esperamos na plateia o espetáculo que já sabemos de antemão – haveremos muito o que criticar. Qualquer desfecho trará aplausos e vaias.

Corramos para as montanhas, para algum lugar alto de onde possamos ter vista ampla para o que acontece na planície. E de onde possamos descer rapidamente para interferir, caso haja necessidade.

Não falo desses dias, ou melhor, não falo só desses dias aí, agora, à nossa frente, no nosso nariz. Falo de um todo desmantelado, do quebra-cabeças que cai espalhando suas peças, e acabam se perdendo algumas e que podem inviabilizar qualquer nova montagem. Quais serão os encaixes para cada uma das possíveis alternativas? Ninguém sabe. Nem os que estão se movimentando nos campos de batalha reais, nem os que parecem não querer tirar seus óculos virtuais e preferem viver olhando só o imaginário, o idealista.ovnis na praia

O real é doloroso. Está doloroso e ao nosso redor, e em cada um de nós em alguma forma. A diferença é que quem quer mudar agora, imediatamente, o lado tingido de verde e amarelo, já definiu e elegeu o culpado, o mau governo, esse projeto de poder que definha e se debate, que deixou rastros, provas, ações e desações, tomou medidas, dirigiu as cenas desse filme triste. Filme que mistura gangsteres, histórias de amor, épicos, violência, dramas sociais, cenas manjadas, assaltos cinematográficos, cenas escatológicas e muita, muita comédia, que é o que mais aparece agora no final. Mas tem quem não viu esse filme, ou se viu não entendeu, ou se entendeu quer se fazer de bobo, ou acha mesmo que está tudo bom – e sei lá, é preciso respeitar.

Não há efeitos especiais – e olha que é impressionante a tentativa de usá-los sub-repticiamente – que surtam efeito no público calejado; talvez toque só nos mais fracos ou nos distraídos, que acham que as pessoas que falam nas propagandas com aquelas bocas cheias de dentes brancos existem fora dali, nas portas dos bancos oficiais, nos postos de saúde, hospitais, escolas, abrindo as portas de lindas casinhas com chaves mágicas, e nem vida nem casa.

Não pode haver portas abertas de palácios só para os que aplaudem, que comem na mesma mesa, que estraçalham coxas com apetite, tocam sinos bajulantes. Se chegar à sacada verá lá fora outros milhões de narizes para cima, ouvirá os cantos discordantes, talvez até algo mais de lá seja atirado com revolta. Não adianta nem cercar o palácio com jacarés famintos, nem com cães enraivecidos.

Porque demora-se tanto? Porque todos não vimos bem antes o que já se desenhava enquanto mentiam nos atraindo às urnas, como bois a matadouros? Porque ali já estávamos como agora – sem opções ou caminhos seguros. Uma verde demais. Outro já caindo de maduro. Um abatido em pleno voo. Uma se sentindo com coração valente. Que protagonistas são esses, pior, e que continuam eles os protagonistas dos próximos filmes? Listados no rol de coadjuvantes veremos de novo os mesmos e os piores atores e atrizes atuando nos piores cenários, e às vezes com péssima iluminação.

Não é novela, que se desenrola muito em cima do que o público vai reagindo; se fosse já estaria mais próxima de um final e com a próxima sendo divulgada. É filme. De longa-metragem, talvez com várias sagas, e até de filmes que já vimos.

A luz apagou. Está no ar. Agora precisamos ficar em silêncio assistindo. Tá, pode tossir, comentar ao ouvido de quem está ao seu lado. Só não pode ficar cochichando muito que atrapalha e, por favor, não ria fora de hora, que nunca se sabe quem vai rir por último.

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Dias difíceis, dias cheios de ansiedade, muitas cenas para rodar. Abril, 2016, São Paulo

Marli Gonçalves, jornalista Vou continuar em paz, aqui, tentando dar uma tradução mais ao pé-da-letra possível dos filmes que assisto, com paixão por desenhos animados que duram por toda uma vida e não tem nem final. Só na moral.

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ARTIGO – É mentira! Por Marli Gonçalves

DIA DA MENTIRAÉ MENTIRA!

MARLI GONÇALVES

Estamos cercados por elas, as mentiras. Femininas (não existe os “mentiros”), traiçoeiras, sinuosas, às vezes muito más; outras, até que de salvaguarda, compreensíveis. Elas podem enganar, iludir, e até serem comidas, como as mentirinhas que somem em nossas bocas assim que as emitimos, ou os biscoitinhos que comemos bebendo um bom café. Mas a mentira traz verdades; uma delas, a que tem perna curta, nunca vai muito longe.

 Dizem que todo dia mentimos, todos nós, pelo menos alguma coisa, nem que seja, creio, para nós mesmos. Mas como a gente mente que isso é verdade, há um dia no ano em que ela se libera, festejada, repetida, criada, se glorifica e, inclusive, podem ser geradas aquelas mentiras bem grandes, irreais. O alvo dela pode ficar bravo, pode ficar surpreso, ou mesmo rir muito ao reparar na esparrela do Primeiro de Abril.

Adorei o que o Wikipedia traz sobre o Dia da Mentira – ou Dia das petas, Dia dos tolos, ou Dia dos bobos. Sobre ela propriamente dita: Mentira é o nome dado às afirmações ou negações falsas ditas por alguém que sabe (ou suspeita) de tal falsidade, e na maioria das vezes espera que seus ouvintes acreditem nos dizeres. Dizeres falsos quando não se sabe de tal falsidade e/ou se acredita que sejam verdade, não são considerados mentira, mas sim erros”.

Leu? Lembrou de algo, de alguém, da política? Entendeu porque estou tocando nesse assunto aproveitando o toque para chamar sua atenção? Leia de novo. Veja se não é exatamente o que está rolando nessa crise que nos desgoverna. Todos mentindo para nós. Não é de hoje. Por isso nossos sonhos parecem sempre estar à nossa frente – sonhos tem pernas longas.contra o emporcalhamento da cidade

Os que estão aí mentem para permanecer grudados e continuar construindo castelos onde o pé de feijão acabou com a fome, com os miseráveis, com as injustiças, e juram (sim, quem mente jura muito, repara, e se já tem de dizer que jura…) que nesse reino todos lhes deveriam ser gratos, cordatos e segui-los tocando bumbo e os adorando, incensando. E a flauta toca e um monte vai atrás, enganados como na fábula.

Eles estão insistentes. Insistem em afirmar que é golpe, o que será amplamente votado, decidido, esmiuçado – tudo dentro da lei que ainda tem gente que presta observando esse processo. Gatos pingados, certo, mas em posições chave e de salvaguarda da ordem democrática.

Se todos tivessem o poder de ler o futuro, seja na bola de cristal, na borra do café, nas cartas ou búzios veriam que está em andamento um plano urdido, preparado com um requinte típico dos tratantes, os que vivem das mentiras. As fogosas mentiras estão sendo misturadas às Verdades, essas senhoras vetustas que sempre encobrem parte de seus corpos com as dúvidas. Misturadas, verdades e mentiras podem entrar em ebulição.

Na palma de nossas mãos, os riscos. Pesquisas, que são feitas justamente para revelar posições mais próximas da verdade, mostram que o que se quer agora é mudança. Para o quê, vamos ver.

Talvez desmorone tudo, também é verdade. Mas quem não arrisca, não petisca, me perdoem achar essa palavra que já vem com um partido sinistro dentro.

Nascemos e vivemos mesmo cercados por mentiras. É Papai Noel, Bicho Papão, que seremos felizes e realizados, que podemos ser como bem entendemos, que somos livres, fora os que nos ensinam, a nós, mulheres. Que a Justiça prevalece. Que a imprensa é imparcial. Tá na cara que são mentiras deslavadas.

Quer verdades? Exemplos: banco não dá nada para ninguém, todos têm culpa no cartório, muitos se vendem por 30 dinheiros, por um cabide de emprego, alguns acreditam mesmo em mirabolantes planos de poder latino-americanos.

Tem uma frase de Churchill sobre a mentira, e que me lembrou muito a carta mandada às embaixadas dizendo que está sendo tramado um golpe no país e aquela entrevista ridícula que a presidente concedeu aos correspondentes estrangeiros. “Uma mentira dá uma volta inteira ao mundo antes mesmo de a verdade ter oportunidade de se vestir”.

Mas não poderão ficar mentindo o tempo inteiro, senão...
Mas não poderão ficar mentindo o tempo inteiro, senão…

Certo. O problema é que eles mentem tão mal que a verdade já está correndo o mundo. Nem precisa mais ser submetida ao detector de mentiras, hoje tão desenvolvido. Já em 1945 seriam pegos pelo pesquisador John Reid, que desenvolveu o primeiro monitor de movimento para a cadeira, e que media as reações detectando-as. As cadeiras estão de tal forma se mexendo hoje, querendo depor alguns traseiros, que estourariam o aparelho do cientista.

  • Marli Gonçalves, jornalista Dita muitas vezes pode até se transformar em verdade. Mas o que já foi revelado que era mentira deles todos jamais os deixará que nos façam de trouxas novamente. A realidade é a mais dura das verdades.

SP, esperando abril, 2016

gapa

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ARTIGO – Carta aos considerados. Por Marli Gonçalves

close-more-salesEscrevo porque considero muito os meus considerados. E vi muitos deles postando imagens de dentro da manifestação em que se vestiu vermelho e, portanto, em apoio ao atual governo. Se for o seu caso e estiver lendo esta, saiba do meu respeito – não deve estar nada fácil se manter neste apoio, dia após dia. Mas não me chame nem de longe, nem em pensamento, de golpista. E também não vire sua cara comigo, que daqui a pouco, todos juntos, espero: vamos rir muito de tudo issovoleur

Estamos respirando política. E política aqui no Brasil não é muito saudável, cheirosa, nem oxigenada, muito menos confiável. Momento tenso, muito tenso, desequilibrado mesmo. Bambolê. Até aqui creio que todos concordamos. É o mínimo.

Isso dito, deixo claro que também quero ver o Eduardo Cunha pelas costas, e que é um absurdo ser ele o condutor do processo de impeachment. Mas está lá. A mesma Justiça que bate em Luiz, baterá um dia talvez quem sabe logo logo nele. Mas ainda não bateu. Não consigo digerir o esgar irônico de Renan Calheiros. E, cá entre nós, o que é o Aécio? Que é aquilo? Onde foi que ele se perdeu dessa forma? Só fala coisas óbvias, repetitivas, como se ensacasse vento, trêmulo, sem convicção. Ficaria páginas listando alguns outros que se revezam diante de nós nos noticiários. Pauderney. Pauderney! Sibá. O bisonho irmão para baixo do Genoíno, da triste lembrança dos dólares na cueca. Caiado. Bolsonaro. Jaquinho, o baiano, o que diz que quer ser até carregador, atarracado no saco do chefe. Tem coisa mais degradante do que a subserviência? O “rapaz”, como chamado nos telefonemas, o Cardozo, que algo me diz estar em intensas manobras. O tenso Mercadante aloprado trapalhão. A lista é gigantesca.

Mas, meu considerado, por favor! Não fica aí batendo pé, fazendo biquinho, mimimi, repetindo bordões e falsidades se não estiver muito ligado, ganhando, ou ainda se for mesmo um apaixonado ainda não desiludido (ainda, né?). Se está aí acreditando até que deram Metrô grátis para os que protestaram contra o Governo, e você bem sabe que isso não aconteceu, mas continua no transe do social-golpe-direita-esquerda-etc, posso fazer o quê? Adianta mostrar fotos de como teve, sim, trabalhadores de vermelho na manifestação, e também nas faces, rubras, sim, mas por receber dinheiros, carona, uma camiseta e bandeirinha? Promessa de shows. Aliás, showmício.

Óbvio que achei o horror a tal lista de artistas para serem boicotados, assim como, por outro lado, achei o horror a lista negra que foi feita de jornalistas que batem no Governo. Acho simplesmente ridícula essa coisa boba contra a TV Globo – até parece que é tudo por causa dela, ou da Veja! – e os argumentos de vir comparar a corrupção quase trilionária que nos assola a camisetas da Seleção, tirar o pirulito da criança, pisar na grama, não dar esmola e ter babá. Ridículo, gente, arrumem coisa melhor.couple

O que vocês chamam de coxinhas e outras palavras mais pesadas que paneladas se trata de todo um mundo com pressa de olhar o futuro, virar a página, voltar a falar de outras coisas como esperança, parar de passar dias com nós no estômago, amargado com as notícias que não param de chegar. Com as coisas que não param de subir. Com os sonhos adiados como castelo de cartas. Com as dificuldades e falta de assistência. Com a paradeira geral e o soluço dos desempregados, endividados. São os verdadeiros estarrecidos esses que se movimentam confusamente em verde e amarelo. São seus amigos, poupe-se de destratá-los. Sou eu, seu vizinho, seu cliente, seu aluno, seu professor. Não são fascistas. Fascista é a …! Claro, primeiro, se aprender a escrever certo para xingar, o que é raro, raríssimo.

ringleader_yelling_thru_megaphone_md_clrQuem protesta? Quem está sentindo na pele. No geral, gente que quer que essa política que tanto envolve vocês em briguinhas de lé com cré simplesmente exploda, boom, daí o rancor. São alguns dos milhões de desempregados. Gente que não está podendo suportar mais o desgoverno, o governo malfeito, trapalhão, despreparado. É de baixo a cima. É total, está sem pé nem cabeça, sem projeto, sem ministros (?!?) sérios, tudo negociado, sem ações positivas, com as casas que dá, caindo, enquanto se constroem arranjos de sítios e triplex. Estradas parecendo campos de guerra. Um mosquito faz zueira e espalha o terror. O conceito cidadão é desvirtuado, trocado por apupos. As obras paradas, as cidades se deteriorando a olhos vistos.

Querem o quê? Aparece um candidato a imperador romano tentando atrapalhar as investigações – e, portanto, assinando com firma reconhecida a culpa no cartório. Com a mesma caneta, assina, promovido a ministro. Uma esculhambação geral, Casa da Mãe Joana – se já era esquisito ter um presidente dentro e um fora, dois dentro só pode ter sido ideia de um gênio do Mal, coisa que grassa nesse governo que confunde o tempo inteiro o Estado com as suas gavetas de roupas íntimas, quer usar a nossa escova de dentes. Vocês não podem não estar vendo isso.

parler_beaucoupEles, esses que batem no peito se agarrando no galho, mudaram; talvez, se você for jovem, não saiba, mas eles mudaram muito do tempo quando apareceram com propostas de mudanças, e eu também os apoiei. Agora estão sambando na corda bamba porque temem apenas deixar o Poder no qual se atarracaram para sugar tal qual carrapatos. Olha bem. Perceba que a situação chegou a um ponto insustentável. Deixaram digitais em todos os lugares, que são muitos, e que se encontram numa pororoca que estourou foi o país de nós todos.

A proposta é #vamosnosuniroparanaotergolpenenhum. Bandeira branca, amor.

Quer ficar nessa, fica, mas repito, sem me virar a cara nem torcer o nariz que daqui estou só assistindo. Mas uma hora vocês precisarão trocar de líderes se quiserem voltar a ser respeitados. Esses aí têm pés de barro, e a água já passou da canela. Nós, juntos, precisaremos encontrar novos homens de bem, de bem mesmo, se é que me entendem. Digo o mesmo aos exaltados do lado de cá: parem de ignorâncias, por favor, querer atear fogo na caldeira e se mostrando piores do que o que combatem. Sejam mais razoáveis, que os fatos já são bem claros, não precisam salivar.

Considerado, usando uma expressão cativada pelo querido Moacir Japiassu, que a todos chamava de considerado. Considerado é uma daquelas palavras completas em sentido, gorda de significados.

Considerado, considere considerar que todos nós temos alguma boa dose de razão.

Sem mais, cordialmente, eu juro, um forte abraço,

Marli Gonçalves, jornalista Ah, tô na rua sim, porque nunca fui de esperar que ninguém lute por mim, porque bem sei que ninguém lutará. Desejo algo como a lavagem do Bonfim, um novo tempo. Apesar dos pesares.

SP, março, 2016

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Quando o presidente do STF precisa de calmante…

 
Ministros e advogados andam preocupados com os sinais de abatimento do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski. Ele parece muito preocupado com a situação do País.

O site Diário do Poder flagrou Ricardo Lewandowski comprando calmante na farmácia Pacheco, na quadra 403 Sul, em Brasília, quarta à noite. Ele ainda pediu um copo d’água e tomou o remédio ali mesmo.

 

FONTE: COLUNA CLAUDIO HUMBERTO – DIÁRIO DO PODER

ARTIGO – Sem a menor ideia. Por Marli Gonçalves

brasil53SEM A MENOR IDEIA

Por Marli Gonçalves

Também não sei. Não sei de nada. Mesmo. Não estou escondendo jogo, creio que nem eu nem meus colegas que estão na cobertura disso tudo, sabem nada. Nem no que isso ou aquilo vai dar, se que é vai dar. Você me pergunta e a minha aflição fica ainda maior. Não é só de política e de economia que falo. Mas de tudo, pensa. Quem tem ideia do que vai acontecer aqui e acolá? Mãe Dinah, onde está você, Mãe Dinah? O que é mesmo que você falava, Zaratustra? Nostradamus, e aí? Por favor, qual é o oráculo mais perto?

Mais perdido que Adão no dia das Mães. Mais perdido que azeitona em pão doce. Mais perdido que cachorro em dia de mudança. Mais perdido que cachorro na procissão. Mais perdido que cebola em salada de frutas. Mais perdido que cego em tiroteio. Mais perdido que cão que caiu do caminhão de mudança. Mais perdido que marinheiro na Bolívia. Mais perdido que surdo em bingo. Mais perdido que Tarzan numa reunião de consórcio. Mais perdido que agulha no palheiro. Mais perdido que pitanga em pé de amora. O brasileiro. O terráqueo.CUSTO BRASIL

Mais perdida que canetas, isqueiros e outas coisinhas que somem como num passe de mágica. Mas não estou só, não é mesmo? Ando vendo gente racional, organizadinha, que sempre conseguiu pensar e controlar tudo – e agora suando frio. Onde quer que se vá, sempre nos entreolhamos. Deu bobeira e de alguma forma borbulham as questões: aonde vai parar tudo isso, o que vai acontecer, ele vai ser preso, ela vai renunciar, aquele outro vai delatar, quem vai ser o próximo, qual virá agora, quando vai ser cassado, quando vai tomar vergonha? Quem a gente pode pôr no lugar? Por que a caretice está se alastrando? O calor será maior? E o frio? Vai chover, vai secar? Quem tem razão? Quem vai sobrar para contar a história? Quem vai conduzir o bonde? Quem vai ganhar lá? Quem vai ganhar aqui?

brasilParecemos todos aqueles adolescentes divididos entre indolentes, querendo que o mundo se acabe em melado, e os que querem ansiosamente participar, agir, experimentar, perder a virgindade, mas que também não sabem o que vão ser quando crescerem. Andamos brigando uns com os outros como crianças mimadas, por coisas e pessoas que não valem a pena. Batendo pé e fazendo birra pelo que – não tem jeito – não sei como, mas precisa mudar, vai mudar, porque chegou a um limite insuportável, ao momento do impasse. Alguma coisa precisa rolar, a gente precisa continuar, e para isso o futuro tem de se adiantar.

Daí você pergunta: o que vai acontecer? Não tenho a mais remota ideia, se tem mais gente que vai com uma cor, como temos amigos que ainda não entenderam ainda, terá sido lavagem cerebral? Se vão para as ruas, se tem alguém que ainda vá se ruborizar marchando no exército homogêneo das utopias que falam em igualdade social, acabar com os miserês, mas no qual os generais têm pés de lama, mãos de batedores de carteiras e um gogó que começa a nos fazer rir para não chorar.

Não sabemos o nome, ainda, desse momento que desenhamos para a história mais uma vez: se revolta, se revolução, se agitação. Que não seja golpe, que golpe é sempre coisa muito ruim, que sobra muita gente para fora. Que não seja por conspiração, que a luz é sempre mais bem-vinda para desinfetar.

Que seja tranquilo, que possamos nos orgulhar, que não nos faça passar ainda mais vergonha, que seja eficiente, que inclua nossa beleza e diversidade, que haja Justiça e ponderação. Que abra nossos caminhos com imagens bonitas que ilustrem os próximos livros da história contemporânea, e que estes fiquem na estante, no futuro, ao lado de biografias que ainda estão sendo construídas, de estadistas que estão sendo gestados, chocados em algum ninho.Se liga, Brasil!

Mas que não venham de ovos de serpente.

SP, março de 2016; aliás, 13 de março em diante

Marli Gonçalves, jornalista Você me pergunta o que estou achando. Não estou achando nada, só perdendo, e isso precisa parar. Não tá tranquilo. Não tá favorável.

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ARTIGO – Nós, os novos inconfidentes? Por Marli Gonçalves

forc_ani_grTenho arrepios severos cada vez que ouço falar em impostos, taxas, qualquer coisa parecida com “tungarem mais dinheiro ainda de nossa sofrida carteira”. E nesses últimos dias essa forma de solução das bobagens que eles andaram fazendo arrancando do meu, do seu, do nosso, tem sido dita insistentemente. Tiveram a cara de pau até de chamar de investimentos, e dizendo que adoraremos contribuirrevoltas

Acabei lembrando a derrama, a forçada e violenta forma de cobrança de tributos com que os colonizadores portugueses coletavam parte do que se obtinha na exploração dos minérios, aliada à “quinta”, que ainda tirava o naco de 20% dos ganhos. Daí foi um passo para lembrar a revolta popular, de Tiradentes e dos Inconfidentes, de tudo o que a História do Brasil já registrou e que terminou de forma tão cruel e sangrenta. Você também deve ter ouvido muita gente aí do seu lado falar que, caso resolvam impor mais impostos, deveríamos nos unir, todos deixarem de pagar, que não está certo pagarmos ainda mais pelos erros que vêm cometendo, trapalhada após trapalhada.

Ouviu também, né? Não se fala outra coisa.

Pois eu ouvi de gente respeitada, de pessoas maduras, honestas e trabalhadoras, homens e mulheres sérios que vocês não imaginam nem engrossando passeatas em verde e amarelo, muito menos empinando balões de bonecos. Mas eles estão dispostos a reagir e mostram, como no passado, ter de fazer isso para não sucumbir à ganância dos governantes. Uma questão de sobrevivência, explicam. Já enxugaram o que podiam, dispensaram seus “escravos”, temem não ter o que dar aos seus filhos. Não veem o que já pagaram até aqui revertido em benefícios – sem saúde, sem educação, sem infraestrutura. Estão insatisfeitos, indignados, sentem-se roubados, espoliados e enganados.

tumblr_n9apgtX0jk1rwq84jo4_400Achei nessa parte de nossa História – a Inconfidência Mineira – muita coisa parecida com a que estamos vivendo agora em pleno século XXI, incluindo até os delatores que, em troca de se livrarem, a si, aos seus bens, atiram mais gente ainda no fogo da caldeira, dando combustível para que essa fogueira esteja cada dia mais furiosa. Só não encontrei ainda os heróis.

Obviamente faço esse paralelo muito mais pensando no que aprendemos de melhor ali, na honra, na coragem dos insurretos, nos mitos que se criaram, do que na desgraça de uma solução militar, como a que fechou o tempo por longos 25 anos.

Não é de hoje que a ideia de conspiração ocorre nas horas mais tumultuadas da política nacional como a que vivemos nos últimos meses, e que alguns analistas já associaram até ao Titanic. O navio afundando e a ordem para que a orquestra continuasse. O problema é: com quem? Não há grupo coeso, mas miríades deles e fica difícil se encaixar em alguma conjuração. Pelo menos eu ainda não senti liga, e sigo apenas com alguns amigos aqui e ali com os quais tenho afinidade de pensamento. Não posso me juntar a quem defende liberdade pelo poder, quem perdeu por incompetência e vê na crise chance de emplacar, quem ainda acha que o mundo se divide em bons e maus, esquerda e direita, com quem usa a religião para constranger e proibir.

Procura-se um modelo de República, de ideias arejadas; uma nova e simples Constituição; ideias e filosofias que se coadunem com o tempo, com o chão que pisamos, com o futuro que acreditamos em poder erguer, com justiça social verdadeira. Algo integrado ao desenvolvimento global, progresso, sem esquecer o ar que respiramos, o chão que pisamos, os oceanos que se aproximam crescendo sobre a terra.

Quem sabe encontraremos juntos?img_pd_143329_9msqit

São Paulo, em um conturbado setembro de 2015

Marli Gonçalves, jornalista – Onde andarão nossos novos heróis, os poetas de nosso tempo, os idealistas que ainda não foram cooptados pelo sistema?

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ARTIGO- Alguém. Por Marli Gonçalves

gentePor favor, apareça, senhora ou senhor esse Alguém – nós aguardamos ansiosos! Esse alguém tão falado essa semana precisa aparecer, antes que não sobre ninguém para contar essa História. Achei bem engraçado esse apelo do vice-presidente. Caramba, ele é o vice-presidente! Se ele que é ele está por aí chamando alguém, melhor gritarmos Socorro! Help! SOS!

Não posso dar os nomes desses alguéns. Vamos deixar indefinidos. Mas, essa semana, ao ouvir o clamor de Michel Temer, não pude deixar de lembrar uma velha história de imprensa que ouvi há tempos de alguém que sabe das coisas. Um grande jornal, aqueles problemas administrativos de sempre que acabam desolando a redação e, em uma reunião, o dono, o próprio, clama: “Alguém tem de fazer alguma coisa!”

“Empregados fantasmas se apresentem! ” – Respondo, quando me pedem coisas que, puxa, faz você!

Nunca esqueci, já brincava com a expressão “Alguém precisa fazer alguma coisa” (tem de falar em tom imperial) vendo aquelas situações meio absurdas onde os próprios culpados por ela fazem cara de santo jogando a culpa em alguém que não teria feito o que eles próprios já deviam ter feito e há muito tempo. Malandragenzinhas e espertezas.

No nosso dia a dia de jornalistas escutamos apelos, recebemos mensagens que invariavelmente nos contam coisas, novidades, notícias sigilosas, “exclusivas”, “furos”, muitas informações inclusive que nós mesmos tínhamos acabado de publicar – uma espécie de telefone sem fio, que é como anda esse mundo onde ninguém presta mais atenção em nada. Tanto faz como tanto fez.

Vivem reclamando em nossas orelhas como é que a imprensa não faz nada, não diz nada, não publica nada. Alguém tem de fazer alguma coisa e só vocês podem – e escutamos uma quase crítica. Acham mesmo que temos a força do He-man: Pelos poderes de Grayskull!

Mais ou menos o mesmo do que dizerem vai lá, se joga do precipício.version-cd109b964c51ec46ef650963383e89ec

Viram o programa do PT? Vivem reclamando que a grande imprensa distorce, patatipatatá, mas quando precisam o que é que usam na tevê? Os jornais. Nessa hora não servimos para embrulhar peixe.

Quem é Alguém? Quem pode ser alguém aí, tão especial, mas que ainda é diáfano? Esse ser que não se apresenta logo no portão de embarque? Parece aquele povo que ainda não saiu do armário e que diz que vai se encontrar com uma pessoa, vai sair com uma pessoa. Falou isso, pode crer. Pode dar a ela de presente de arco-íris, uma coisa mais delicada, a compilação de Orange is the new black – coisas assim.

Todo mundo quer ser alguém. Talvez por isso mesmo a oposição esteja tão acirrada, haja tanta rejeição ao atual comando. Muitos estavam quase sendo alguém, até ajudados pelas benesses sociais indiscutíveis, e agora caíram do cavalo, ou tropeçando no que ele deixa no caminho. Vide os financiamentos dos estudantes, as mães cheias de filhos vendo a bolsa da família se esmilinguir, e um monte de promessas virarem desencantos. Investimos contra porque há alguém culpado por chegarmos a esse ponto.

Será que tem alguém olhando pela gente? Pensamos assim quando lembramos de quem já nos deixou e acreditamos que esse alguém está lá no céu nos ajudando. Parece que pensar assim nos torna mais fortes. Alguém lá em cima gosta de mim.

Estamos no terreno duro do chão. Não podemos mais fingir de ver alguém que não aparece, porque ninguém cai do céu. E quem aparece quer jogar no nosso colo a bomba para aparecer depois cantando como o Roberto Carlos, esse cara sou eu.

Fingem que não ouvem as panelas, que não somos alguém, fingem que não veem alguém nas ruas.
Ninguém merece. Sabem com quem estão falando?

São Paulo, agosto de 2015gente se mexendoMarli Gonçalves é jornalista Na rua dia 16, porque certamente encontrarei alguém que sabe que, juntos, podemos sim fazer muito. Inclusive achar alguém que aceite essa batata quente.

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ARTIGO – Raiva do nada, raiva de tudo. Mas não podemos babar. Por Marli Gonçalves

HomemMulherPauMacarao_gifPreste atenção enquanto é tempo. Raiva é sentimento ruim, que faz mal à saúde e especialmente ao fígado, de onde não podem sair suas explosões porque se perdem em violência desmedida. Estamos vivendo um momento muito delicado. Decisões não devem ser tomadas com a cabeça quente, mamãe sempre me dizia. Para não se arrepender depois do tarde demaisdoodle-style-ticking-time-bomb_small

Aprendi muitas coisas apanhando da vida. Continuo aprendendo, apanhando, mas sempre tentando evoluir, ter um prumo, certo equilíbrio, um mínimo de coerência. Para isso, antes de mais nada, como todos, preciso controlar a raiva. Todo dia, que raiva não é coisa que se cure de vez nunca. Aliás, convenhamos, nunca faltam coisas para nos dar raiva, muita raiva. O caso é como lidar com isso, quando o sapato está apertado, as bolhas estourando, e alguém vem e ainda pisa bem pisadinho. Garanto que tem tanto disso para cima de mim que chego a pensar que apertei- devo ter apertado muito – o pescoço ou outra parte de algum padre em alguma encarnação.

Raiva é querer quebrar tudo (se fizer barulho, estilhaçar, ribombar, então, quanto mais melhor! – Vira show), ficar com sangue quente, bater na mesa, chutar tudo pela frente, fazer cara feia, ser agressivo. Existe porque parecemos maiores, mais fortes e intimidadores quando estamos com raiva, mas isso é bobagem, e em alguns casos mais radicais pode ser apenas mera covardia. Cachorro que ladra não morde; se tentar, pode levar uma paulada. Cachorro com raiva é doença. Raiva em gente é sentimento que pode transbordar perigoso. Canaliza!

O Brasil está na corda bamba, em uma das piores crises de sua história, com as dificuldades se avolumando nas mãos de um governo incompetente e cheio de chupins. Mas digam-me do que adianta, dois, três pingados raivosos irem berrar impropérios na cabeça da presidente, nos Estados Unidos, se filmando para mostrar para a galera? Qual é o bem que faz sair xingando petistas em restaurantes e locais públicos? O que adianta enfiar menores na cadeia se nada é feito para ajudá-los a viver sem roubar, traficar, matar, e imitar os mais velhos? Do que adianta ficarem se xingando nas redes sociais, se ameaçando, inclusive escrevendo umas bombas que primeiro atingem a eterna e coitada língua portuguesa?

irritados-620x450Só aumenta a intolerância, e estamos andando para trás nesse quesito de forma expressiva.

Se a Marieta Severo é otimista, qual o problema? Se o Zeca Camargo achou excessivo o show em torno de uma morte do moço que – sim, uma parte do país não o conhecia, eu, inclusive – no que isso vai mudar nossas vidas? Por que mudar o nome das pessoas escrevendo com xingamentos, gostar e aplaudir quando algo de mal lhes acontece, desejar que morram? Isso não é humano. Não é sapiens. Isso é apenas ser troglodita.

raiva2Luz subindo, comida subindo, remédios subindo, tudo subindo. Dinheiro sumindo. Moro aqui, vivo em cidade grande que tem sido vítima diária da incompetência desses seres que andam corroendo nossas esperanças. Todo dia uma notícia ruim, esquisita, uma parte do tapete que se levanta mostrando muita poeira. Sei bem o que é ter raiva. Vivem me atiçando.

Mas descobri, dando uma estudada sobre ela, que é muito particular. O mundo exterior é apenas uma desculpa. A raiva começa e acaba na gente mesmo. Pode acabar até matando seu hospedeiro, há estudos e filosofias que garantem: raiva e outras emoções correlatas como o ressentimento, frustração, indignação, irritação, amargura e ódio, são estados emocionais que podem afetar muito o fígado, um filtro que fica, portanto, entupido, na minha simplista explicação.

Raiva é coisa séria. Se guardar, pode explodir, e sem qualquer controle. Se exalar, pode fazer uma catástrofe. Tem quem carregue raiva por tantos anos que vira deprimido, anda por aí devagar, fala até com voz suave, mas cheia de raiva por dentro que você percebe só no olhar. Mas como ninguém nem mais se olha!…

Pronto, dei a volta. Tudo isso só para dizer uma coisa: raiva não muda um país.

Não adianta só gritar, nem esculhambar. Tem de agir. E para isso precisaremos ter calma, muita calma nessa hora. Em política, até raiva é combinada, dizia Ulysses Guimarães, com toda a sua sabedoria.raiva

São Paulo, 2015

Marli Gonçalves é jornalista – – Pode ter raiva. Só não pode babar, nem espumar. Nem morder ninguém. Nem pensar que isso vai resolver esse problemão que enfrentamos.

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