Devaneios reais do jornalista Carlos Brickmann. Para lavar nossa alma, depois de tanto descalabro.

Você encontra a coluna inteira do Carlos Brickmann,que será publicada amanhã em alguns jornais de todo o país, no nosso site www.brickmann.com.br

VALE A PENA!

E eles, cavalões, comendo

O imperador romano Calígula nomeou seu cavalo favorito, Incitatus, para o Senado – naquele tempo, o Congresso só tinha uma Casa. Há quem diga que Calígula nomeou Incitatus para demonstrar seu desprezo pelos senadores da época, um bando de gente sem espinha que só queria os favores do trono; há quem diga que, sem prejuízo de sua opinião sobre os parlamentares, Calígula nomeou Incitatus porque estava doido (o que também era verdade). Incitatus tinha 18 assessores, dispunha de fortuna pessoal (colares de pedras preciosas), usava mantas nas cores reservadas ao imperador. Custava caro, Incitatus; mas até que seu mandato saiu barato, porque besteiras pelo menos não fazia.

Bons tempos, bons tempos. Incitatus se contentava com feno e alfafa, não dava muita importância às honras com que o cumulavam (uma estátua de mármore em tamanho natural, por exemplo, com base em marfim), e ao que se saiba jamais pleiteou cargos na administração nem fraudou o Orçamento. Jamais recebeu sequer os salários referentes ao cargo; ignorava solenemente os múltiplos auxílios, ajudas, verbas, passagens. Nepotismo, nem pensar. Sua ficha era limpa, cândida – como cândida deveria ser a túnica de um candidato sem mancha.

Que os leitores perdoem este colunista pelas divagações históricas de fim de ano, que obviamente nada têm a ver com o presente. E pelas lembranças poéticas. O título deste artigo foi inspirado no Rondó dos Cavalinhos, do grande Manuel Bandeira: “Os cavalinhos correndo/ e nós, cavalões, comendo”.