ARTIGO – Padecer no Paraíso. Por Marli Gonçalves

 

O que isso quer dizer exatamente, se é bom ou ruim demais, só o sabem as cinco letras que choram, e provavelmente de raiva quando elas pensam em dar boas chineladas, com vontade de falar umas verdades

Lá vêm, aliás já estão em todos os locais e em todas as formas com os apelos de compre aqui, dê isso, ela vai adorar aquilo, ofertas que nada têm de ofertas. Referências à bondade, beleza, candura, entrega, amor incondicional, quanta alegria e felicidade! Só padece quem não tem? Só padece quem já perdeu a sua? É para quem não quis ser mãe cortar os pulsos?

Ano após ano, essas datas estabelecidas para render homenagens e que viraram grandes momentos comerciais servem muito para a gente ter ideia de como anda a nossa sociedade. Algumas dessas datas avançam pouco, ano a ano tão iguais, tão integradas e indiscutíveis que é o caso de alertar para que paremos um pouco para pensar que raio de paraíso é esse, além da adocicada palavra.

As mães estão felizes? Cada vez que ouço, por exemplo, a quantas desanda a educação no país, ou  mesmo fico sabendo quanto está custando a mensalidade de uma escola privada, de uma universidade, ou mesmo o preço de um livro, eu, que não tenho filhos, me solidarizo com as mães do mundo real. Sempre acho que aí tem o mundo real, verdadeiro, dia a dia brabo e complexo, inseguro; e o outro, da fantasia, da propaganda enganosa, das crianças embonecadas, das celebridades que tornam seus partos e filhos bem tratados em filtros de luz nas fotos e patrocínios, e que ninguém mais nem fala que é para a poupança, pro futurinho.

O que todos eles vão ser quando crescerem? Nada saberão sobre o pensamento, sobre a filosofia, a história, o pensamento? Saberão fazer as contas, ler e entender sobre o que tanto falamos? Voarão em foguetes? Passearão por outros planetas? Descobrirão curas para doenças hoje letais? Saberão a importância da liberdade? Terão aprendido a respeitar as mulheres, a igualdade? Ou terão sido engolidos pelos dispositivos digitais com os quais convivem desde tão cedo? Terão de passar pelo que estamos passando? Conseguirão usar a roupa que estamos usando?

As coisas em volta vêm mudando com extraordinária rapidez. Mas o ser humano ainda é frágil e ao mesmo tempo insano. Em um país que não respeita o mínimo da dignidade e de suas próprias leis, os fundamentais direitos sociais e reprodutivos que deveriam dar condições de decisão às mulheres sobre o que querem mesmo e, se querem, se terão condições de ter e criar seus filhos é cruel mostrar a elas só o lado paraíso – é clamar pelo seu padecimento.

Não para de crescer o número de adolescentes grávidas principalmente nas classes mais baixas e que talvez vejam nisso apenas a beleza de poder afinal ter uma boneca, de carne e osso, e ainda a possibilidade de criar uma família, saindo da sua, desistindo da sua. Como falar em controle da natalidade no país do Bolsa Família, que renega a educação sexual, que fecha os olhos para a realidade do monumental número de abortos ainda clandestinos, que não oferece qualquer salvaguarda a essas pessoas invisíveis? Que não sente os nove meses, nem enxerga o inferno da depressão pós-parto?

Como as mães lidarão com a visível revolução de costumes, de gêneros, as novas e variadas formas de amor? Dizem que seus corações aceitam tudo, perdoam tudo, que defendem seus filhos como as leoas, mas lembro que estas contam com o apoio de outras leoas, e ainda não é muito clara a solidariedade entre as mulheres.

Dia das Mães deveria ser momento de ampla reflexão sobre a condição da mulher, mas não se vê nessa época serem feitas pesquisas sobre o que realmente acontece, como se sentem, suas angústias, a visão do mundo que vislumbram. Esse seria o grande presente: uma radiografia do que é ser mãe hoje no Brasil, no Sudeste, Sul, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Perceber que a Mamma África vive entre nós.

——————————gravida anda

Marli Gonçalves – jornalista

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

Maio de 2019

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E eles teimam em negar que nossa situação vai levar a batermos muitas panelas. Que rezem para não ser neles.

women35“Parece o Dia da Sogra”

De um comerciante, diante da crise, sobre as expectativas de vendas
para o Dia das Mães

FRASE PUBLICADA NA COLUNA DE AZIZ AHMED – CONFIDENCIAL – O POVO/RJ

Dia das Mães no El Gran Bazar! Preços legais e bons negócios

vestidos 2Bazar na Rua Oliveira Dias, 366, rua exatamente atrás da Igreja São Gabriel, no Itaim, faz vendas especiais para o Dia das Mães, com preços que chegam a ser “de mãe”. Peças de 10, 20, 30, 40, 50 e 100 reais, originais e de qualidade. Casacos, casacões, jaquetas, paletós e tricots exclusivos podem ser encontrados entre sugestões para todas as estações do ano. A promoção especial só vai até o dia 10 de maio, próximo sábado. Chegue antes.

estampas especiais em chemises e vestidosEl Gran Bazar! ocupa uma sala no primeiro andar de uma mansão na Rua Oliveira Dias, 366, no Jardim Paulista, SP, e onde também funciona um “Família Vende Tudo” que dá só uma vontade: de comprar tudo. Melhor, com a comodidade de também poder marcar a visita com a Elaine Lanzelotti, especialista em moda, que terá o maior prazer em sugerir peças – entre uma enorme variedade de roupas, sapatos e acessórios de marca, vendidos a preços mais do que justos, justíssimos, baratésimos. Basta ligar para (11) 9-8981-7725.coletes e casaquinhos

É bazar, é brechó, casa de antiguidades e relíquias. É tudo. É vintage e muito mais. Apresenta vestidos, camisas, tricots, saias e blusas, conjuntos, pegnoirs e robes, inclusive em tamanhos maiores. Sapatos, sandálias, botas, acessórios, bolsas. Destaque para as peças de inverno, que se aproxima e deve ser rigoroso.

 

sapatos

Estamos em um espaço maravilhoso numa rua tranquila, arborizada, perto de tudo e, ainda, uma mansão onde em todos os cômodos há verdadeiras joias para decoradores, arquitetos e designers – comenta a jornalista Marli Gonçalves que, ao lado de Elaine Lanzelotti, resolveu juntar tudo de bom em um lugar só. “Dá para se `montar` para qualquer ocasião, com modelos exclusivos, bons tecidos, grandes marcas.

Elaine Lanzelotti, que já trabalha com peças especiais há oito anos foi quem tratou de toda a organização. São roupas, entre outras, do Lino Villaventura, Maria Bonita, DUEE, Cândida Andrade. Mariela Burani. importadas, nacionais, tricôs especiais. Botinhas e botas de cano alto, 7/8, além de roupas novas, mas há algumas peças fashion que podem ser usadas nas produções as mais variadas, do clássico ao arrojado. Também podem servir para produções de cinema, tevê, internet. É só combinar.

bomba de gasolina para enfeiteFAMÍLIA VENDE TUDO – Móveis, salas de jantar, cadeiras inglesas sec.XIX, cadeiras de design em perobinha do campo e jacarandá, mesas de centro e laterais modernas e antigas, lustres e luminárias de diversos estilos, tapetes orientais, sofás e poltronas, aparadores, quadros, fragmentos, bronzes, livros, porcelanas, cristais e pratarias, muitos objetos de decoração e utensílios domésticos. O passeio pode servir para achar aquela peça especial, rara, ou comprar, por exemplo, um Blu-Ray por R$12,00.

SERVIÇO:

EL GRAN BAZAR e FAMÍLIA VENDE TUDO
PROMOÇÃO EL GRAN BAZAR! ATÉ SÁBADO, 10 DE MAIO. HORÁRIOS:

lumináriasEL GRAN BAZAR! – Até sábado, das 11hs às 18hs.
FAMÍLIA VENDE TUDO – 10hs às 17hs, Aberto aos sábados.
LOCAL:
Rua Oliveira Dias, 366, Jardim Paulista, São Paulo- SP
A RUA FICA EXATAMENTE ATRÁS DA IGREJA SÃO GABRIEL, PERTO DE TUDO.
Celular Elaine Lanzelotti: (11) 9-8981-7725 (para marcar horário e atendimento especial)

Imprensa:
Marli Gonçalves
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ARTIGO – Apelos de mães, por mães, para mães. Por Marli Gonçalves

mae faz aviao para bebeJá vi, ouvi e li cada anúncio de presente ou glorificação do Dia das Mães de chorar, um mais sem senso e apelativo do que outro. Ao mesmo tempo choro mesmo é de ver, ouvir e ler cada vez mais quantas são as mães desesperadas por terem perdido seus filhos no meio do caminho na inglória batalha da vidamothers-day-160

A pior, sinceramente, , é o filme de uma marca de cosméticos, todo horário nobre. Na imagem a mulher, jovem e bonita, aparece na cena inicial calçando chinelos de hospital chique e, vejam só, uma narração dramática anuncia: sem maquiagem, sem se preocupar com vaidade, sem cabeleireiro (mas com um marido bem maravilhoso segurando a mão, numa das induções mais falsas da propaganda ultimamente), nas cenas finais ela está numa sala de parto ainda, onde aparece conhecendo seu bebê, e linda, no “dia mais importante de sua vida”. Apelação pouca é bobagem. Até parece que andam precisando vender a ideia de que ser mãe é a grande glória à qual nenhuma mulher pode abdicar sob o risco de ser considerada inexistente. Será? Manutenção de mercado consumidor? Reserva?

A concorrência é forte demais para ver quem é mais piegas, quem apela mais para vender qualquer coisa que a sua mãe “vai adorar”, que essa data rende igual Natal. Esse comercial que eu cito reduz a mulher de tal forma que preciso frisar. Desculpe, hein! Mas tem muitas outras coisas que a gente pode fazer sem pensar em maquiagem e etceteras além de ter filhos. E o dia mais importante de nossas vidas pode ser também o dia que percebemos, por exemplo, que nossos filhos sobreviveram à selva urbana, conseguiram concretizar algo. O que anda bem difícil na barbárie geral.

doll005Todo ano é a mesma coisa. Parem para prestar atenção, além dos armários, telefones, panelas, eletrodomésticos surge nas entrelinhas o que o mercado realmente pensa da mulher, de quais são seus desejos, de como ela é vista ainda, de como lutam para que assim sejam mantidas. Mesmo com tantas mudanças, tantas conquistas e desafios, encarando o touro a unha, com suas jornadas de trabalho, a mulher é reduzida a uma risonha mãe à mercê de objetos que a cativem.

Agora já estamos precisando apelar ao contrário. Mulheres, se não puderem, não tenham filhos. Porque, se vocês se descuidam, essas lindas crianças nem bem se entendem como gente saem por aí, roubando e matando, com algum tipo de arma que pode ser inclusive o fato de terem sido tão mimados que viraram bestas incontroláveis. Não é fácil ter filho nesse sistema de saúde, nem tranquila será sua sobrevivência nesse novo século que já vem marcado inclusive por desastres naturais.housework3

Por favor, não acreditem que tantas bolsas dadas pelo governo sejam justas – não sejam compradas por elas, pelo populismo de políticas sociais executadas por quilo. O sapato não vem junto com a bolsa, não faz par. A cada dia está mais difícil criar um filho. O planeta está se exaurindo e pouco adianta o povo sair por aí falando em sustentabilidade e racionalização. Mas sem planos para a educação, sem criação de mercados e empregos e com uma severa substituição da mão de obra por máquinas.

mday14Fora isso, especialmente, pense que vai ter – por obrigação – uma cabecinha para moldar, um espírito para entender e incutir a necessidade de um caráter firme, e voltado para a paz.

Isso, além de caro, muito caro, dá trabalho e nem sempre tanto prazer. Todos os dias são Dia das Mães. Sejam elas biológicas ou adotivas; sejam elas solteiras ou casadas. E mais: tenham filhos ou não.

São Paulo, 2013, simplesmente maio. Já, maio.  

SORRY___Marli Gonçalves é jornalista– Sem filhos, porque como filha logo, desde menina, já sentiu que contos de fadas só nos livros. Nem nos filmes convence. Presta atenção.

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ARTIGO – Mamãe, e com todas as letras. Por Marli Gonçalves

Até mais alguns muitos dias nossos ouvidos ainda vão aguentar tudo quanto é tipo de apelo para consumir, comprar, presentear, oferecer, dar. Os caras aproveitam essas datas, bem comerciais, para associar mãe a cada tipo de coisa que vamos, venhamos e convenhamos…

Mamãe: cinco letras que choram. Desde bem menina ouço essa frase e só agora me toquei que ela parafraseava uma música linda dos Anos 50, Adeus, adeus, adeus, composição de Silvino Neto, eternizada nas vozes de Francisco Alves e Orlando Silva. A minha mãe, como boa canceriana, sempre foi muito emotiva, gostava de fazer draminhas que me lembram até hoje os boleros. Falava muito nas tais letras choronas, e num tal padecer que não era em paraíso nenhum. Era normal dela ouvir, naqueles momentos que brigava comigo ou com meu irmão, quase ameaçadora, mas sempre premonitória: “Vocês vão ver. Quando eu não estiver mais aqui é que vocês vão me dar valor, sentir minha falta, lembrar que eu tinha razão”.

Ah! Não me diga que você também ouve ou ouviu essa frase? Mãe é mesmo tudo igual. Só muda o endereço. E o que é pior: elas sempre têm razão mesmo. Na grande maioria das coisas.

Pois bem. Minha mãe me disse adeus há nove anos. E todos os dias, por uma coisa ou outra tenho mesmo saudades e me lembro de algumas das suas falas e feitos, que ela era bem danada. Baixinha, gordinha, mineira, minha bichinha era arretada. Não gostava e não levava desaforo para casa, de jeito algum, uma das características mais fortes que puxei dela, além do tamanho e do peso sempre a ser controlado.

Por exemplo, lembrei esses dias o quanto ela odiava essas palhaçadas, como chamava dia das mães, dia dos pais, dia do c… (a língua era afiada também): “Uma falsidade que só serve para deixar as pessoas tristes” “Dia das Mães tem de ser todo dia, porque o que a gente aguenta de malcriação dos filhos!…”, resmungava. Pensando no mundo todo, porque a gente com ela sempre pisou bem miudinho.

Na verdade, esse monte de lembranças tem vindo à minha cabeça desde que há mais de um mês começaram as campanhas publicitárias chamando e convencendo o pessoal a gastar. É um tal de mãe linda abraçando bebê fofinho, frases de efeito para vender linguiça e cerveja em supermercados, jingles chatos martelando. Um tal de mãe é isso, mãe só tem uma, avó mãe da mãe. Compre um carro, uma blusinha, uma bolsa, sapato, celular, geladeira. Se for no shopping tal, e gastar gostoso, a partir de, pode até levar brilhantes. Claro, só se for sorteado um daqueles cupons infernais. O barato agora é mostrar as mães sempre jovens, lindas, cabelos ao vento, dentes brancos, sorridentes, ricas, magras, sem sofrimentos de parto, dinheiro para dar e vender, maridos apaixonados.

Coitadas das mães reais. Devem se sentir um lixo vendo aquilo. As mães reais têm mesmo pouco espaço na mídia. A não ser quando se manifestam por seus filhos assassinados ou desaparecidos.

A gente não vê muito aquelas que tiram da própria boca para alimentar os filhos, as mães que são “pais” e paus para toda a obra, as abandonadas, as que quiseram continuar solteiras, aquelas que não têm com quem nem onde deixar os filhos, as desesperadas porque os filhos seguiram direções contrárias, inclusive à lei. Mães que trabalham fora e passam o dia inteiro muito preocupadas ou se culpando por não ter tempo de dar atenção, as mães da dupla, às vezes tripla, jornada de trabalho. As tantas mães prostitutas que vêm para a cidade grande para ganhar algum para mandar, em geral para a mãe que cuida de seus filhos lá bem longe.

Essas imagens não vendem perfumes. Entendo. Mas se o Dia é das Mães também não podem ser esquecidas, nem lembradas só na hora das bolsas-família que as transformam em verdadeiras parideiras de salários. A cada filho ganham um pouco mais – parece aquelas ofertas de Leve 3, pague 1. E toma sustentar o malandro, que comparece só para fazê-la ser mãe mais uma vez.

Enfim, por mais que você seja preparado, terapeutizado e psicanalizado, datas como essa do Dia das Mães que chegam acompanhadas do tremendo massacre das campanhas publicitárias só servem realmente para nos deixar tristes, muito tristes. Não só quem não tem mãe, ou perdeu a mãe. Também entristece a quem gostaria de poder dar à sua própria mãe todas aquelas coisas. Não há musiquinha doce nem brinde de sanduíche que console.

E o que é pior: se você quiser ir almoçar fora no tal domingo, e não tem mãe, melhor arrumar logo uma postiça, para pelo menos arranjar um lugar na fila. Se tem, já vá se preparando, porque nunca haverá comida igual a dela, quentinha, feita com amor, saborosa. E ela vai fazer você saber disso, resmungando, pondo defeito em tudo, inclusive reclamando do preço da conta e fazendo cálculos do que poderia ter comprado com aquele dinheiro.

Isso, claro, se for uma mãe real, não dessas de propaganda. Muito menos dessas propagandas ridículas que estão no ar.

São Paulo, um verdadeiro berço, 2012
Marli Gonçalves é jornalistaPor essas e outras nunca quis ser uma.

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ARTIGO – Contradições, resistências e rock n`roll

                                                                                                  Marli Gonçalves Sou a própria contradição, mas para quem vê e não sabe. Todo mundo tem direito a pelo menos uma contradição nessa vida; jogue pedras e cuspa rãs quem nunca as teve. Claro, elas devem ser moderadas, e, se possível, evolutivas, para melhor, mas não me venham com preconceitos e bobeiras

Mais uma semana ouvindo que o Bin Laden não morreu, que querem ver o corpinho com as barbas de molho, que o coitadinho, velhinho, estava desarmado, meu saco de paciência estoura. Aliás, ele – o meu saco de paciência – anda meio que mais no limite do que os cestos de lixo espalhados pela cidade, transbordantes, enfeites do descaso urbano pendurados em postes.

Não sei se os surtos vêm da água que bebem, mas tem gente sofrendo de crises infantis do tipo São Tomé, que só acreditam vendo, ou acometidos de gugudadá de muxoxo porque a sociedade civil pressiona e avança, acima da cabeça dos coronéis e pistoleiros e pistoleiras em cargos públicos, eleitos ou indicados pelos seus pares. A decisão tomada pela Supremo, por unanimidade, reconhecendo juridicamente a união de pessoas do mesmo sexo, nos dá certo alento. Algumas gotas pingam das torneiras da Razão.

Ninguém vai obrigar ninguém a casar. Até porque inclusive entre os gays há de praxe uma certa alta rotatividade nas relações, que pode até vir a melhorar. Mas se acabar vai perder a graça. Também não precisa ser gay para entender, apoiar, assim como não é exatamente uma questão religiosa.

Contudo, não é porque sou da Paz que rejeito as regras da guerra. Vivemos em conflito, até com nós mesmos! Padres não viram castrados ao serem ordenados. O desejo chega; não manda recado, nem marca hora. É assim que tudo pode ser, um dia, a nossa realidade, por mais distante que esta pudesse parecer. Não diga dessa água não beberei, com ou sem bolinhas. Se não fui acho que devia ter ido – sempre rola.

A propósito, o tema é respeitar. Mudar, fazer, acontecer, decidir – ou não. Os dias passam. E a geminiana aqui se encontra em sua plena piração anual, que acontece de qualquer jeito. A sorte é que ganhei de presente de Deus um espírito mutável.

Depois dos 50, preparem-se as que quiserem ouvir, fica mais, digamos assim, visível a pressão externa por mudanças, a avaliação, uma certa apreensão com os próximos dias, e não é mais só pela espera da menstruação – de quem gostava muito, e que ando até com saudades da rotina, agora inconstante.

Antes que esqueça, inclusive, explodam-se as convenções. É o que acho. Sou, no bom sentido, moleca; nasci moleca e moleca permanecerei de espírito. Sempre vivi a contradição entre a imagem que os outros vêem e julgam – e o que sou exatamente. Sofri, apanhei, perdi e acabo sendo sempre muito prejudicada por isso, o que me faz sempre evitar fazer juízos “visuais”. Cansei de ser chamada de maluquinha, meio louquinha, figura, exótica (é, usam muito essa palavra para mim), ou qualquer outro termo apenas idiota ou condescendente que na verdade busca desmerecer-me, mesmo que sem esse claro propósito. Só o velado, o odioso velado.

Escuto. Pisco. Sei. Faço de desentendida para viver. Tento apenas escapar de que não me atrasem ainda mais a vida por isso. Controlar o que posso, mas só posso com o que é declarado, claro. Queria ver é fazerem metade do que faço, da responsabilidade com que encaro as tarefas que me são confiadas, das renúncias que fui e sou obrigada a fazer.

O mundo é dissimulado demais da conta. Pensam que foi fácil chegar até aqui – com vários arranhões, decerto – mas sendo ainda espontânea, otimista e independente? Sem riquezas e posses, sem olhos claros, e de altura pouco mais de metro e meio? Solteira, sem filhos? Para azar e horror dos que gostam de teses imutáveis, sempre fui estudiosa, sempre fui obediente e boa filha (perguntem por aí, se duvidam), boa irmã, boa amiga, solidária como posso. Trabalho, literalmente, e sem parar, desde os 15 anos de idade, quando pretendi, mas nunca consegui, comprar uma motocicleta, mondo cane. Fui uma das primeiras – ao menos que conheço – a andar de moto, de skate, por aí, e a conviver com garotos sem que isso significasse nada além de amizade. Não havia raça proibida. Nem religião. Nem estado civil, sexo. Tudo isso no meio de uma ditadura. Ou isso ou aquilo. Sempre optei pelos dois, ou três, ou mais quesitos. (…piscadinha marota…)

Sim, quiseram casar comigo, mas me desvencilhei, segura de que só – eu e minhas contradições – seria feliz, porque também sempre achei no caminho gente querendo é me mudar, me prender, tirar o sorriso de minha boca e o brilho dos meus olhos. Alguns conseguiram. Mas fui buscar de volta a tempo. “Atroz contradição a da cólera; nasce do amor e mata o amor”. (Simone de Beauvoir).

Aos 8 anos de idade, me joguei na lama por odiar uma roupinha de marinheiro branca e engomada que me obrigaram a usar; a partir daí invento minha própria moda. Quando tem gente vindo, já fui e voltei. Fui e voltei. Voltei e fui, mesmo sem sair do lugar. Nem tão solta como quis, mas sempre com os livres e os livros. Amei e amo muito, inclusive casos que duraram algumas décadas, sem ter o amado, apenas o amante, de todas as cores, credos, carteiras, com cabelo ou não. Apenas algo que me encante.

Sou rock n`roll, mas também sou jazz, e pretendo manter a resistência.Tudo é possível, e aqui no Brasil ainda mais, o lado bom de nossa gente.

Somos nós as contradições vivas, e quem é que sabe disso além de nós mesmos?

São Paulo, astral de 2011, quase virando mais um numerozinho do velocímetro

(*) Marli Gonçalves é jornalista. Usa minissaia e aproveitará bem, até o último instante, tudo o que puder.

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O Baú de Minha Mãe”,  artigo que escrevi em homenagem à minha, à sua, para todas. Para ler, clique AQUI

ARTIGO ESPECIAL DIA DAS MÃES – “O baú de minha mãe”

O baú de minha mãe

Ele se abre para mim, sempre em horas mágicas. Me transporta, e me dá calor e alento, ou presentes que caem como bênçãos do céu onde mora hoje

Marli Gonçalves*

Os presentes são mágicos. Aparecem de repente embora existam há anos, vivendo seus ciclos em caixinhas;  ou mesmo já nasceram na ideia dela do que seria o meu futuro, do que eu poderia precisar. Hoje entendo isso. De repente – como já disse – eles aparecem. Ou abro as gavetas e os vejo com os olhos de nunca antes, daqueles que encontram um amor antigo. Ou um amor à primeira vista.

Do baú de minha mãe saem mais do que pérolas, um anel de ouro, um bule ou um vaso bonito. Saem presentes tão presentes que surgem como bênçãos na resolução do dia após dia, de conseguir passar e ultrapassar. Sobreviver com dedicação. Mais um. Mais um. E eu vou envelhecendo e entendendo. Hoje entendo melhor tantas coisas!

Você,  minha mãe, apenas comprava e guardava – numa poupança particular  – e quase incompreensível. Quando as coisas não saíram bem, muitas delas você vendeu, silenciosa como comprou e triste ficava por não conseguir repor nada naquele vazio. De qualquer forma, nem percebia que sempre que podia me alimentava com as histórias de sua vida sofrida e dos passos que dera, bons e maus, e que percorreram quase todo o país. Eu via fantasia na fuga com o caminhão do circo, debaixo da lona. Sonhava com o baú de mágicas cheios de traquitanas. Ria de alguns truques que você dizia que aprendera, e com as histórias da chinesa  linda da qual só existe uma foto e que colocava arroz cozido numa tigela em cima do telhado. Ou da dona da pensão dali, daqui. Sobre as pessoas que viravam a cara, quando você precisou. E me contava também das mãos estendidas que encontrou, mandadas por Deus, nas horas em que mais necessitava.

Você, linda, de elegante branco, Corcovado na moldura de seu corpo garrafinha – dessas, tenho só duas fotografias em papel já amarelado; acho que as duas únicas imagens dessa época que podíamos raramente e que nos deixávamos fotografar só para marcar a cadência do tempo. Nunca se falou muito de detalhes, que até hoje escapam como segredos que levou e nem quis me contar.

Só hoje consigo ter a certeza da saudade imensa. De como minha mãe sabia que seria assim e tudo certo ou errado me dizia como um dia eu iria sentir. Por que as mães são tão sábias, tão videntes? Elas dizem e acontece; ou avisam e você, já esperto, se livra.  Comigo muitas vezes foi assim: foi por lembrar dela alertando que me safei, “confiando desconfiando”, “com um olho bem aberto”.  Por isso se fala também em praga de mãe ser maldita, terrível. Elas têm um poder.

Talvez por isso nunca tenha querido ser mãe. Talvez até por medo desse poder tão grande. Ou por ter certeza que é preciso mesmo muita coragem para fabricar uma criança dentro de si.

A minha criança ainda sou eu própria quando gargalho abrindo esse seu baú cravejado de sentimentos, e revestido do mais puro calor dos seus dedos quando me acariciavam. Não é uma bailarina de uma caixa de música, mas toda a sua dedicação, o que dança à minha frente.

Você virou flor. Você vive na nuvem do céu. Aí você não pode sofrer mais. Fez aqui tudo o que podia. E eu penso em você todo dia.

  •  Marli Gonçalves é jornalista

Março de 2011 – texto escrito para Revista Colombo

COCA-COLA investe nas mães. Pede para sair, Wagner Moura! Põe o RC aí, vai…


WAGNER MOURA ESTRAÇALHANDO ( LITERALMENTE ) UMA MUSIQUINHA BONITA

ps. atualizando : a banda do wagner moura chama “sua mãe”.
a música é de Isolda

A criação é do Andrucha Waddington e agência WMcCann