Artigo – Os nomes das coisas e as coisas dos nomes

Marli Gonçalves

Todos têm uma linguagem particular, um dialeto especial para falar e se entender com cada uma das pessoas e coisas com que convivemos. Trocamos as palavras, descrevemos imagens, usamos referências. Enfim, falamos em códigos, e cada vez mais faremos isso, com o crescente cerco e invasão à privacidade. Mas também porque é muito divertido trocar uns nomes.

                Há mais de seis anos, quando estou no trabalho com o Carlinhos Brickmann, nenhum dos dois faz esse ato inglório de “ir ao banheiro”, essa coisa tão popular. Um avisa ao outro que vai ver a Doutora Raquel, conversar com a Doutora Raquel, receber um fax ou e-mail da Raquel. Sem mais detalhes, por favor. Só para você entender, Raquel foi uma douta-especialista-cagaregras que conhecemos juntos, mas tão chata, tão chata, que dava até dor de barriga cada vez que precisávamos ouvi-la. Uma coisa meio Suplicy, Agarol, óleo de rícino. Que, entre nós, virou linguagem. Pegou. Expressões que trazem em si todo o seu significado. Comunicação total.

Ao mesmo tempo, se alguém nos oferece parceria, já nem nos entreolhamos. Já está combinado. Isso certamente vai querer dizer alguém oferecendo alguma coisa para a gente trabalhar, não ganhar nada, talvez perder, e, se der certo, um dia – talvez – dividir louros. Só louros, que o dinheiro fica com o outro parceiro.

Com meu pai, converso sobre o papagaio-de-botinas, que é o Lula. Se falo de certas pessoas com meu irmão só ele sabe exatamente a quem estou me referindo. Isso quando não usamos só as primeiras letras de um xingamento rigoroso, que fica até educado visto assim: PNSC. Não, não é nenhum partido político. Partido político seria o PNNC.

Coitado de quem escuta uma conversa dessas e sai sem entender nada. Pelo telefone se fala pouco e sempre em código. E ultimamente o sentido das coisas anda tão mudado e mutante que daqui a pouco só haverá comunicação possível com a linguagem dos guetos e recantos. E só entre eles. Na Internet há uma gama de expressões a cada dia ficando mais sofisticada, de RTs a FFs, com @s e #s; no mundo do crime, do lado do mocinho e do lado do bandido, outra. Na universidade, o acadêmico. Cada qual puxa para um lado. Estudos e estudos sobre morfologia e palavras podem ser substituídos por expressões e comportamentos. Isso acontece de forma ágil, acompanhando a cultura. Pop!

Deus criou as coisas. E quem as nomeou? Camponeses, povos da floresta, pessoas em situação de rua, em situação de risco, excluídos, incluídos, terceiro setor, sustentabilidade – tudo já foi conhecido por outro nome. Foi o marketing quem fez isso? Socialista não é mais socialista; comunistas, muito menos. Nem preciso falar sobre os liberais, democratas e outros tipos. E toca usar letrinhas, pior do que a mania que reina em repartição pública. Eles não ganham; têm DAS. Nesse meio tem muito LDO, MP, AR, IR, GLST, PQP, por aí. Em 3-D, 2-D. LCD, LED. KY (para aguentar o tranco)!

Acho que a gente faz isso a vida inteira porque desde criança, no fundo, somos incentivados a trocar os nomes de coisas com que os pais não sabem lidar, inclusive sobre os nossos próprios órgãos sexuais, nosso pipi, periquita, bumbum. Soltar pum.

Nomes são importantes. Para as mulheres, nomes de cores de esmaltes. Outro dia descobri que as empresas têm pessoas especializadas em inventá-los – cada vez mais buscam influenciar o comportamento. Ainda bem que não sabia disso quando usei o Deixa Beijar, Paixão, Ciúme, Orgulho e Fúria. Agora tem até Pink vigarista.

Já contei que dou nome a tudo. Inclusive. Tudo. Nas minhas coisas e nas dos outros. Adoro sugerir nomes de bichos, de marcas. Mas nome é nome, não é troca de sentido – ao contrário, pode representar muito mais exatamente o que estamos querendo dizer, descrever. Teve tempo que, quando a gente ouvia falar em desburocratização das empresas e auditorias, sabia que o que viria eram demissões em massa. Também conhecido como enxugamento, racionalização, downsizing. Ou passaralho.

Tudo isso para dizer que ando mesmo preocupada – e você também devia estar – com o sentido das coisas, principalmente das coisas sem sentido. Elas estão tomando muito de nosso tempo, quando a gente podia ir direto ao assunto.

São Paulo, vila, cidade, megalópole, e da aldeia global.

Marli Gonçalves é jornalista . Sempre atenta, procurando. Mas nem sempre acho. Tenho um grande e querido amigo que, neste exato momento, caminha pelo trajeto de Santiago de Compostela, na Espanha. Escolheu o lado mais árido e solitário da caminhada e creio que ele está lá procurando alguma resposta. Algum sentido. A ele dedico minha própria busca.

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Perguntas que não calo, nem quando espirro

Marli Gonçalves
 

Pausa. Aperta o play. Tem um monte de equipamentos que são assim. Ficam parados algum tempo e depois dão defeito. Outros, ao contrário, pareciam mortos, mas ao se dar a partida sem muita fé, a surpresa: ressuscitaram. Mistérios eletrônicos. Agora posso entender que deve ser alguma coisa que emperra, enferruja, muda. As paradas são sempre muito significativas e emblemáticas. É uma rotina que se quebra, uma outra prática que é necessário estabelecer. E o que é pior: de fora, de outro ângulo, você já começava a ver outras coisas. Umas boas, outras, nem tanto.

Como quando a gente usa o binóculo para averiguar redondezas, preciso criar coragem e por o pé para fora da porta. Abro. Olho de um lado. De outro. Dou três passos e quero voltar, perdida entre dois mundos. É de arrepiar. Pouco mais de 45 dias o tempo que fiquei fora do ar. Aqui, mas fora do ar. Acabou março, abril se esparramou e maio anuncia junho.

Duas ou três vezes nesse período fiz experiências que logo se mostraram cansativas. Mas eu sabia que eram só pausas e que logo voltaria para a caverninha que fiz , abrigada na casa de meu pai. Na rua, muita gente para ver passar, muito barulho, buzinas, brigas… Numa dessas escapadas trouxe comigo, de volta para casa, e sem convite, uma gripe forte. Tanta coisa – podia, sei lá, ter achado dinheiro. Um príncipe encantado. Não. Achei foi uma gripe mesmo, daquelas de tirar pedaços do cérebro, usar caixas e caixas de papel, derrubar, entortar.

Não estava de férias. Talvez fosse diferente, porque em férias a gente vive aventuras, come errado, tem febre, diarréia. O de praxe. Mas tudo está bom.

No meu caso, mais reclusa, no hospital ou em casa, todos os dias, religiosamente, visitei o mundo via computador. Como vivemos sem isso? Como viveremos com isso? Fui ao escritório, por acesso remoto. Vi e li o que as pessoas faziam via Twitter e Facebook. Festas que perdi, com fotos e filmes, mas também não sei se iria. Os portais me atualizavam dos fatos. Dei espiadelas nos pontos de webcams espalhados pelo mundo. Escrevi e as letras foram para um monte de gente em um monte de lugares. Comentei muito umas coisas no meu blog. Mas era como se fosse só um fantasma, uma coisa Chico Xavier que está na moda.

Agora é hora de me materializar. E de voltar para a realidade desse mundo cruel, cheio de perguntas que não calo: quem deu a menininha para a procuradora bruxa? Quem autorizou essa adoção? Foram feitas entrevistas? Quem conversou com ela, investigou se ela poderia? Pelo que entendi era uma adoção oficial. Será que a carteirada ou carteira dela tilintou?

Não calo! Quais critérios são usados para a contratação de vigias de bancos e suas portas ignóbeis? Há muito tenho próteses que apitam. Já subi a saia e fechei o tempo. Podia ter tomado um tiro. O cara tem um marcapasso e é negro. Tenta entrar no banco para receber a miséria de uma aposentadoria por invalidez e recebe a morte. Racismo, desconsideração, descontrole. O que é isso?

Romeu Tuma Jr, que deveria ser guardião de princípios de justiça, vive quebrando-os. Aliás, todo o Ministério da Justiça nos últimos anos está aterrador, descontrolado como o seu organograma, contaminado pela sarabanda toda. Várias PFs, símbolos que não se encontram, descaminhos. Agora, imagine que ele, Tuma Jr., disse que é muito grande a amizade dele com o chinês (desculpe, não há descrição melhor do que essa, disponível), independente de saber se o chinês é traficante, contrabandista ou contraventor. Surpresa. Basta olhar. Vocês conseguem imaginar o Tuminha Jr. fazendo, por exemplo, uma viagem de turismo aos Lençóis maranhenses com esse amigo? Vem bombardeio aí, porque a Secretaria Nacional de Justiça estava meio se fazendo de tonta – e por ali têm passado muitas decisões importantes, que agora necessitarão ser revistas. A blindagem do tiroteio já começou. E ele, Tuminha, nos manda “tirar o cavalo da chuva”.

Não calo, não calo. Dilma, Tia Dilma. Quantas trapalhadas para tão poucos dias de campanha! Que divertido. Sinceramente, estou adorando. Aceite mesmo as sugestões de moda e estilo que o presidente está lhe oferecendo. Dê bastante declarações e entrevistas, principalmente para o seu pessoal. Acho que eles relaxam você, e aí você aparece – muito mais transparente e despreparada. Convida o Temer! Vai ser uma delícia ver a simpatia e fotogenia de ambos nesse mundão de Deus.

Mas, por favor, joguem limpo. Tirem a mão do coldre. E eu não calo a pergunta: quem está fiscalizado a publicidade massacrante que vem sendo feita do governo desse país tão legal, tão rico, tão produtivo, tão desenvolvido, tão diplomático, chamado Brasil?

E vocês aí! Ainda esperam que eu queira voltar correndo para a realidade?

São Paulo. Aperta o play.

Marli Gonçalves, jornalista. – Tenho muitas outras perguntas e que vou continuar fazendo. Sempre fui curiosa.

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Diário de Bordo – Pré-faca 2

Daqui a pouco o pior: ficar em jejum puro e absoluto.

Engraçado é que todo mundo está mais nervoso do que eu. Estou acompanhando atentamente as reações, e que vem sendo as mais loucas. Já perguntei porquê, mas me disseram que está tudo bem, que não devo me preocupar. O pior é que sei disso.

Hoje soube mais uns detalhes do médico que vai me operar, Dr Edmilson Takata, da Paulista, que me recuso a chamar de Unifesp.  Soube mais de sua tranquilidade e isso me tranquilizou ainda mais.

Ah, outra coisa: já vou pedindo a todos que tenham alguma coisa a ver. Por favor, me ponham para dormir antes de mexer no garfo e faca, nos serrotes, e fazer aquele barulho horroroso da instrumentação.

Por enquanto é isso. Beijos, que daqui a pouco ainda vou tomar um bom leitinho para começar a jejuar, essa coisa que mais me faz lembrar Jesus.

Já fiz todos os salamaleques possíveis, também.

Diário de Bordo – pré-faca

Agora faltam menos de 24 horas.

O coração está tranquilo, a mente inquieta. Será que já pensei em tudo?

Duas malinhas prontas, uma pro hospital, outra para um estaleiro de dengo na casa do pai, com roupas largas, velhas, confortáveis.

 Minhas queridas roupas de monstro, de estar à vontade. Admito: coloquei o “Linguado” de pelúcia na mala e já embrulhei meus dois travesseiros de estimação.

Sugestões de livros, música? Ninguém quer me dar de presente o novo CD da Sade?

Medos? Os de sempre, os de todos.