ARTIGO – Tá tenso. Tá, sim, senhoras e senhores. Por Marli Gonçalves

Tá tenso aí? Tem até rolado uns medos mais esquisitos? Anda olhando para os lados, já não atende celular na rua nem por decreto? Anda de carro com os vidros fechados ou, se tem recursos, mandou fazer blindagem dupla? Se arrepia só pela aproximação de uma moto ou uma bicicleta?

TENSO

Está tenso. A impressão não é só minha ou sua, parece ter mesmo a ver com o clima geral. Pior, clima local, nacional, mundial. Parece que estamos todos dentro de um barril de pólvora e que se alguém riscar um fósforo pode explodir, e ainda bem que não estamos perto de rebanhos bovinos e seus puns inflamáveis que mandam tudo aos ares.

Mas vamos falar de Brasil. E, ainda, mais perto, também de São Paulo que acaba representando o que deve estar ocorrendo em outras centros urbanos, embora em outra escala. Parece que alguma coisa está sempre sendo urdida em algum lugar – isso aqui me referindo à política, a aquele pessoal horroroso que nos infernizou durante quatro anos e que não queria largar o osso e agora pretendem não nos deixar esquecê-los de vez. A gente respira um incrível e silencioso ar de conspiração, que nos impede até de curtir um pouco mais o ar pacífico, alegre e leve que sentimos quando os tiramos do poder. Eles insistem em infernizar e o ar chega a ficar fétido quando o atual governo federal não faz ou faz/ fala/ inventa sandices, infelizmente ocasiões que ainda são numerosas. Imediatamente qualquer assunto, por mais bobo que seja, é ampliado pelos agentes do mal nas redes, fermentado, acrescido ainda de fake news e outras provocações. Eles estão aí, vivos, que não nos distraiamos.

A economia não vai bem no mundo inteiro, mas claro que o que a gente sente mesmo de verdade na pele é a nossa, a que está perto, a que nos impede de comprar, planejar. E não tem nada bom, os índices mostram que um rolo compressor aparenta estar aquecendo motores atrás de algum poste, empresários mal humorados, demissões assustadoras, previsões de tempo ruim. Tudo isso também dimensionado e alimentado pela ideia do quanto pior melhor, da direita, da esquerda, do centro – assim se fatura em cima, vocês sabem que essa é a comida da política ruim.

Vou fechar o foco mais aqui em São Paulo e aí vamos falar de Segurança Pública, do Centro da cidade, dos moradores de rua, dos viciados da Cracolândia, das ondas altas de volta, com sequestros, roubos, assaltos, golpes de tudo quanto é tipo, gangues, da pedrada, da cotovelada. Tudo coisa pra a gente até ter saudade dos tempos que falávamos apenas de trombadinhas. Agora são trombadões sem qualquer poesia que nos lembre os meninos do trapiche de Jorge Amado em “Capitães da Areia”.

É preciso também, no entanto, que se ressalte: o número de ideias de jerico que está saindo da cabeça das autoridades responsáveis parece que vem de contusões de tanto eles próximos baterem cabeça entre si. Essa semana foi pródiga. A começar pelo projeto de levar moradores de rua para trabalhar em propriedades rurais de pequenos agricultores, com o governo se comprometendo a comprar deles parte da produção.  Não parece uma ideia linda, fofa?

Pois, pelo menos a mim, parece a implantação de um projeto de nova forma de escravidão, porque obviamente a fiscalização do funcionamento é praticamente impossível.

Todo dia uma coletiva anuncia algo: então, já cercaram de grades a icônica Praça da Sé; a bela Catedral está com a sua frente adornada por viaturas. Como espalharam a Cracolândia, boa parte dos efetivos se ocupa em passar o dia correndo atrás dos montinhos de viciados e traficantes que se agrupam, correndo e voltando sempre ao mesmo local quando eles viram as costas. Sobre os moradores de rua, enquanto um secretário dá entrevista falando em tratamento humanizado, poucos quilômetros adiante as câmeras das tevê mostram barracas e itens do povo da rua sendo jogados violentamente em caminhões. Têm sido frequentes os relatos de truculência policial.

Tá tenso, bem tenso, porque tudo isso junto está piorando nos últimos dias quanto até o comércio já bem prejudicado tem baixado portas para evitar arrastões que já ocorreram na região central. O medo, o temor e o terror se espalham. Mas fiquem espertos. A diferença é que agora tudo parece muito organizado, comandado de cima por poderosas forças e organizações criminosas que se fortaleceram cada vez mais justamente nos últimos anos enquanto quem devia agir continua pensando em soluções que nunca chegam. Ou quando são tentadas são só mais ideias de jerico.

___________________________________________________MARLI CG ABRIL

MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon).

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Mil e Uma Noites e Dias. Por Marli Gonçalves

Pois não é que já se passaram mais de mil noites e dias desse pesadelo da pandemia, que agora marca o antes e depois de todas as coisas? Estamos praticamente completando três anos daquele dia terrível em que o mundo praticamente fechou suas portas e nós fomos obrigados a nos confinar. Todos somos Sherazades.

Mil e Uma Noites e Dias. Por Marli Gonçalves

Tudo mudou nessas mais de Mil e Uma Noites e Dias que não juntam, infelizmente, material para obra bonita de histórias poéticas que se desenrolam como fios de um novelo, embora o assunto continue ainda prendendo nossa atenção de alguma forma dias e noites, como no conto persa. Todos nós acabamos sendo como Sherazades buscando manter nossas vidas todas as noites e todos os dias nesse tempo que apenas agora de alguma forma começa a se dissipar. Mas nunca mais seremos iguais a quando tudo começou. Nossas vidas, hábitos e até as manias foram absurdamente transformadas.

Chegou mais um ano e desta vez não houve cepa nova ou fato que cancelasse ou proibisse o Carnaval que novamente ocupa as ruas e avenidas – o último, o grito, as aglomerações, as fantasias e máscaras bonitas ocorreu de 21 a 25 de fevereiro de 2020, quando ouvíamos os ecos de uma doença estranha lá longe, na China. Parecia que o pesadelo jamais se espalharia e que seria apenas dali a imagem tenebrosa das cidades quase fantasmas, isoladas, desertas. Mas logo no dia 26, uma Quarta-feira de Cinzas, pierrôs e colombinas já se preocupavam: o primeiro caso era conhecido no Brasil, e a gente já começava a rever mentalmente tudo o que fez no Carnaval e a temer a contaminação. O terror total, global, foi comunicado pela Organização Mundial da Saúde, OMS, em 11 de março daquele ano, quando a palavra pandemia se tornou clara em todas as suas letras, necessidades e ordens.

A realidade que vivemos nesse tempo foi ainda pior no Brasil, onde no balanço geral somos recordistas de perdas, ao lado dos Estados Unidos. Foram quase 700 mil mortes até hoje, e de acordo com números oficiais, números os quais precisamos desconfiar quando vivemos em meio a negacionistas, problemas políticos, gente burra, atrasos no desenvolvimento e chegada de vacinas. Essas que só foram realidade no país, aplicadas, em 17 de janeiro de 2021, e assim mesmo de forma precária, embora renda ao Governador de então, João Doria, um de seus feitos mais positivos, em associação com o Instituto Butantan, que desenvolveu a CoronaVac.

É preciso situar todas essas datas para avivar a memória, para ajudar o entendimento desse tempo difícil, estranhamente exatos 100 anos depois de outra pandemia ocorrida, século passado, mas desta vez ainda mais desoladora e transformadora, e que marcará várias gerações. Nossos olhos, contudo, não esquecerão, creio, nunca, as cenas dos hospitais, da falta de oxigênio, o pouco caso de autoridades, as covas a céu aberto. Nossa memória não esquecerá tantas vidas perdidas, amigos, familiares, histórias interrompidas.

Todas as relações foram afetadas. Nossos corpos foram afetados, nossa saúde mental abalada e de uma forma que ainda saberemos qual foi essa extensão, embora já a pressentimos. Nos ensinaram como lavar as mãos, formas de higiene. Nos orientaram a usar máscaras que antes estranhávamos ver como rotina em alguns países. O home office, trabalho em casa, foi estabelecido e agora há várias empresas que precisam até ameaçar para que seus funcionários voltem aos seus postos de trabalho, sob risco de demissão.

No mundo online nacional, onde muitos ainda não têm qualquer acesso ao mundo digital, equipamentos, nem mesmo ao sinal da internet, houve baques profundos na Educação. A economia mundial abalada, e nesse tempo soma-se uma guerra que diziam breve, mais tragédias ambientais, a fúria da natureza fazendo queimar, chover, tremer, e também matar de montes, como na pandemia.

A Ciência, aqui tão desprezada, pelo menos, retomou um lugar de importância e o desenvolvimento de imunizantes mais eficazes nos ajuda agora a começar a, enfim, tirar a fantasia de Sherazades, trocá-las por outras neste reencontro – justamente e simbolicamente novamente no Carnaval.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).

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ARTIGO – Se até o santo desconfia. Por Marli Gonçalves

Quando a esmola é demais, o santo desconfia. Nós, também. Os pobres, mais ainda. Se liga, que nem é esmola, ninguém é santo, e o dinheiro que está entrando e vertendo nesse jogo enganador, populista, sórdido, é seu, meu, nosso. Estão batendo nossa carteira na cara dura, buscando votos, roubar a eleição, deixando o país ainda mais na tanga do que já está.

esmola demais, santo desconfia

Somos nós que abastecemos esse cofre cada vez mais arrombado esta semana e que já vinha sendo dinamitado sem dó. Se as notas, tal qual os bancos fazem para proteger os caixas eletrônicos de assaltos, fossem manchadas de tinta rosa, aí que a gente ia ver o que é pink money, e não seria a criativa economia LGBTQIA+. Mostraria a devassa do verdadeiro cangaço reinante na política, escangalhando nossa economia, ao qual sucessivamente estamos sendo submetidos, A PEC Kamikaze foi só mais um passo na direção do abismo, e de muitos outros que nos derrubam ao despenhadeiro.

Quase cinco bilhões de reais já tinham sido destinados aos partidos políticos – essa miríade de letrinhas sem ideais que se confundem e se fundem – para essas próximas sofridas eleições deste ano. No Congresso Nacional, nessa que é uma das piores legislaturas de que se tem notícia nas ultimas décadas, pelo menos as que vivi, e olha que já vi coisa bem ruim, falar em situação e oposição parece até piada. De lá só chega alguma péssima notícia, manipulação, retrocesso em questões sociais, corte de verbas para áreas essenciais, reuniões clandestinas, orçamento secreto com distribuição de emendas, sabe-se lá de quê, para onde vão, e mesmo se chegam a algum lugar. E por qual preço, qual apoio, qual fala mais reacionária que outra; qual explicação mais esdrúxula para isso tudo passar, lindo, liso, votação após votação. Com números chocantes.

Falam em ajudar os pobres, os mais vulneráveis, inventam um tal estado de emergência, estupram a Constituição, e são todos filmados fazendo isso. Não disfarçam nem ao datar o que fazem em ano eleitoral – auxílios, sem cálculos reais, e com data precisa de vencimento, fim desse ano mesmo, dirigidos em busca de votos de quem, por graça e alguma sorte, em filas na chuva e no sol, chegar a receber a tal esmola, ops, apoio, cala boca, fumaça nos olhos, decantada, especialmente por esses que nos delegam que os próximos meses até outubro serão tenebrosos, violentos, e que até lá vão inventar de um tudo para melar qualquer decisão, entre as muitas que estarão em jogo.

Não vai funcionar, porque as pessoas não são bestas. Sabem que falta tudo, comida na mesa de milhões de brasileiros, remédios básicos, cuidados mínimos com o que é nosso em todos os terrenos, todos os campos. A inflação corroendo qualquer mínimo esforço por melhoria de vida, juros destrutivos, ricos ficando cada vez mais ricos e fanfarrões, enquanto ouvimos as mesmas cantilenas. Pior, agora também já são ouvidos berros horrorizados. De quem precisa, de quem dá e de quem tira.

Assistimos – e inacreditavelmente, ainda impassivos – ao desmonte geral do pouco que conseguíamos construir nos poucos anos vividos de democracia capenga depois da ditadura militar que nos enlutou por mais de duas décadas, e que de novo tentam fazer ressurgir das cinzas em focos que não conseguimos extinguir, que se esconderam em baixo de peles de cordeiro. Até porque nosso extintor não funcionou nem para promover um mínimo de educação política, formação de novos quadros. Olhe bem: na geral são aqueles mesmos, de sempre, no comando, e do que se costuma chamar situação e oposição; os outros aparecem apenas como fantoches, sobrenomes de continuidade, ou nomes aos quais se adaptaram como pastor tal, cabo xis, coroné não sei quem – que nos lembram a miúda política eleitoral geral, o Pedro do Açougue, o Claudinho da Geladeira, o Manoel do Posto. Em sua maioria, ainda, homens, com poucas mulheres, muitas apenas a reboque.

As costas largas da pandemia já se mostram pequenas para arcar com todo o peso que aproveitadores desse momento desgraça nela descarregam, até como se realmente estivessem preocupados com isso, com as ondas que continuam crescentes, mortais. Mas não conseguem nem conter nem explicar a loucura instalada, agora ainda com tremenda violência política e com ideias delirantes brotando da cabeça inclusive de militares assanhados e doidinhos para fazer que sejam sacadas as armas que espalharam.

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Marli - perfil cgMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Sansão e as sanções. Por Marli Gonçalves

Deu-se que lembrei nada mais nada menos do que de Sansão, aquele, o guerreiro bíblico, da força descomunal nos cabelos, da loucura por mulheres bonitas, que viveu a vida em guerra e vinganças.

Sansão

É sanção sendo atirada de um lado a outro. A palavra da semana, igual aos bombardeios cruzando o globo. Eu não compro mais isso, você não recebe mais aquilo. Ameaça vai; ameaça vem. Vamos ver no que vai dar o tira e põe. Sobra, claro, para todo o mundo, que acaba entendendo o que é sanção bem na própria pele, vide o absurdo aumento dos combustíveis que vai impactar ainda muito mais nosso suado e surrado dinheirinho. Na cadeia inflacionária descarrilada – e que só por acabar de ser informada do aumento já sai apitando nas esquinas, nas feiras, no supermercados num batida maldita que só trará mais miséria. E universal.

Muito louco como quando passamos por tempos difíceis como os que estamos vivendo coletivamente, de guerras, doenças, notícias esquisitas, de um tudo ao mesmo tempo agora, vem à nossa cabeça a lembrança de cada coisa, Igual sonho que puxa da memória o inimaginável, sabe-se lá onde estava guardado, e para onde volta depois.

O tal Sansão, antes que esqueça de frisar, não é personagem do cotidiano pessoal, já que por acaso histórias bíblicas, a própria Bíblia, admito, é para mim um estranho emaranhado de personagens, e não gosto nem um pouco de mexer com religião. Aliás, ultimamente só de ouvir falar em mito tenho urticária.

Lá, muitos personagens se destacam mais que outros, viraram expressões populares de fatos, como Caim e Abel, traição, assassinato entre irmãos. Muitos outros exemplos.

Aficionada, sim, mas pelas mitologias, onde também seus personagens esbarram entre si, gregos, romanos, cada povo contando seu lado. No caso, Sansão tudo a ver com Hércules, ambos fortes, másculos, violentos, e com mulheres tecendo suas histórias, em um caminho da destruição, da luta pelo poder, ordenamentos, opressão, divisões políticas e crenças.

Sansão nasceu durante uma guerra, com sua nação lutando contra os filisteus. Já nasceu com a missão de ser o libertador de Israel, um Nazireu, homens israelitas dedicados a servir a Deus. Eles tinham que se abster totalmente de álcool, nunca tocar em um cadáver ou cortar o cabelo. Daí seus longos cabelos serem tidos como símbolo de força – dada por Deus, aquele que dá e tira. Força que teria acabado e ele sendo aprisionado, cegado e torturado por confiar em uma mulher, que conhecemos como Dalila, que o vendeu por moedas aos inimigos ao descobrir seu segredo e tosar sua cabeleira. Seu final foi a própria morte, mas levando consigo um bom punhado de inimigos, assim que o cabelo cortado cresceu. E entrando para a história infinita como um herói bíblico. Cheio de recados com moral.

Resumi bem, porque assim vejo a guerra. Vítimas de todos os lados e banho de sangue, pelo poder. Claro que hoje temos ainda o terror nuclear, aquele boom do qual ninguém quer ser testemunha. Mas o crescendo que assistimos de explosões, foguetes e êxodo de milhões parece coisa antiga, aquela mesma que juramos há mais de 75 anos atrás que não se repetiria. O que mudou, o que é mais “moderno”, são as forças de cada lado, globalizadas, as nações envolvidas que ultrapassam o continente em questão, os tiros políticos com as balas de sanções que atingem distâncias muito maiores. Dezenas de gigantescas empresas e corporações que abandonam a Rússia nesse momento vão manter seus funcionários com salários, segurança, amor, carinho, leite e pão nesse período que já se mostra incalculável, seguidos acordos de paz fracassados?

Sanções também são censura. Não é que eu acabo de me por em risco falando do Sansão? Acredite: a Câmara votou urgência em projeto que proíbe o uso da palavra Bíblia fora do contexto desses caras que dela se apossaram.

“Fica terminantemente proibido os termos ‘Bíblia’ e/ou ‘Bíblia Sagrada’ em qualquer publicação impressa ou eletrônica de modo a dar sentido diferente dos textos consagrados há milênios nos livros, capítulos e versículos utilizados pelas diversas religiões cristãs já existentes, seja católica, evangélica ou outras mais que se orientam por este livro mundialmente lido e consagrado como Bíblia”,  primeiro artigo do projeto de autoria do tal deputado Pastor Sargento Isidório (Avante-BA).

Aí vocês me perguntam. No meio de tanta coisa importante para se fazer, cuidar, resolver? Veja bem. E vou piorar a situação quando explicar que eles fizeram isso porque acreditam piamente que há quem esteja planejando uma Bíblia gay. Sem comentários.

O que foi que nós fizemos de mal para termos de aguentar essa sequência assassina de bombardeios de ignorância, preconceito, descasos, bobagens, retrocessos dia e noite aqui em nosso sofrido país?

Não admira os cabelos brancos revoltos pululando na cabeça de uma população que só queria deitá-los e dormir em paz. E que acordam sem eles, sem forças.

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ARTIGO – Ah, é Guerra? Por Marli Gonçalves

É muita coisa junta atraindo, merecendo e roubando a nossa atenção. Pandemia, mortes; guerra, mortes; violência, mortes; usinas nucleares em chamas, o mundo todo envolto em dramas, pó, chamas. Gente chata. Busca por sobrevivência. Me diz: quanto tempo você está conseguindo ficar pensando só em sua própria vida? Planejando qualquer coisa? Como se concentrar sem ser egoísta?

ah, é guerra!

Um dia após o outro, com calma. Respire fundo. Tenha pensamentos positivos. Concentre-se. Reze, reze muito. Apegue-se ao presente. Não será por falta de conselhos, mesmo que alguns sejam praticamente inexequíveis nesta altura dos acontecimentos.

Não teremos mesmo muitas outras opções, pelo menos não nos próximos dias, talvez meses, e que não se permita que essa agonia prossiga por anos. O ar irrespirável da guerra, mesmo que lá a mais de 11 mil quilômetros de distância, nos tira o fôlego, e especialmente o tempo de pensar em nossas próprias vidas, problemas e soluções.

Por aqui, os dias do Carnaval, que já não estava aquela beleza, ficaram muito piores ainda com os ecos da invasão russa à Ucrânia, não bastassem os gritos de perigo da pandemia, seu vírus e suas cepas continuamente renovadas. Nos últimos anos aqui em São Paulo o Carnaval tinha virado uma temporada de alegria, com diversão, blocos na rua – as pessoas nem mais viajavam tanto, abandonando a cidade, abarrotando estradas – e agora já vimos tudo isso de novo. Como se todos que pudessem sair, corressem para algum lugar onde pudessem relaxar, esquecer, ouvir o canto de pássaros, mergulhar com peixinhos. A cidade aqui ficou uma tristeza só. E olha que em 2021 já tinha sido punk, mas agora somou-se pandemia e a guerra lá, com ecos por aqui, e que já nos aperta e morde os tornozelos.

É uma guerra não contida só em suas fronteiras. É uma guerra que envolve os brasileiros, seja por estarem lá, ou por perto, ou no todo ameaçado continente europeu – e isso é muita gente, contando seja com familiares, ou mesmo nossos amigos – tanta gente que havia se pinicado daqui em busca de futuro. Para completar, a política errática do desgoverno Bolsonaro, que não sabe se vai ou se fica, se pula ou corre, e que abraça, para nossa tristeza, o lado dos ditadores. Não, não vou deixar de criticar uma inacreditável parte da esquerda nacional ainda capaz de vomitar tantas sandices, abanando o rabo russo, como se esse lhe coubesse em um caso tão claro de violação de direitos humanos e espalhamento de terror.

Quem não se sente perdido nesse mar de bombas, fake news, autoritarismo, oportunismo ideológico e de outras nações, violações, alarmes tocando dia e noite, mais um êxodo migratório gigantesco e desconfortável?

Tudo isso em 2022, logo já em seu início. Ano que se já não era simples para nós, piorou, quando aguardamos ansiosos uma eleição ainda indecifrável, com lista de candidatos pouco atrativos e nessa grudenta divisão que nos assola há anos, limitante e emburrecedora, capaz de nos por aqui, também, em uma guerra particular.

Ah, não quero ouvir falar de guerra! Ah, não quero saber de números da pandemia! Ah, não quero saber de noticiário!  – Tenho ouvido tanto isso, que acabo entendendo a apatia em que nos encontramos. E exageram.

Para vocês terem uma ideia, acreditem ou não, ouvi da gerência da academia que frequento – a mocinha foi capaz de dizer aos meus ouvidos que a terra há de comer, como se diz –  que as tevês estavam ligadas em canais de esporte por conta do “ambiente esportivo”. O que passava quando reclamei, coisa que parece as pessoas esqueceram como é, submetendo-se silentes a tudo, e era de manhãzinha? Das cinco tevês, três sintonizavam uma mesma e sangrenta luta de boxe; as outras duas, comentaristas sportvianos sentados nas suas mesinhas, e visto em tevês claro que sem som. As boquinhas se mexendo.

(…e eu só queria ver o mar, por exemplo, nas ondinhas das surfistas do Canal OFF, ou uma Ana Maria Braga com suas receitas deliciosas, um desenhinho animado, uma previsão de tempo…).  

A guerra não é aqui. Mas vai sempre ter alguém ou algo bombardeando nosso mais que valioso momento reflexão.

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ARTIGO – Os bufões da guerra. Por Marli Gonçalves

Um amigo, sábio, silencioso, tranquilo, sempre muito equilibrado, de repente o vejo publicar no Facebook uma série de imagens de bufões, palhaços, saltimbancos. Apenas elas, sem qualquer texto. Nesta loucura que vivemos, até demorei um pouco para entender o claro recado que ele deixava – sua opinião sobre a guerra que assistimos atônitos

bufões da guerra

Mas entendi, e com clareza. Há mesmo vários bufões envolvidos nesse conflito mundial que desembocou na invasão da Ucrânia pela Rússia, e não estou querendo aqui fazer qualquer análise dessas super sérias de geopolítica ou histórica, que já tem bastante gente fazendo isso, alguns com aquela velha cara de “conteúdo”, de sabichões.

Faço apenas o registro atual de que nesse conflito e em tantos outros que vivemos eles estão lá, os bufões; pior, no poder, com poderes. São variados. Há os poderosos como Vladimir Putin, da Rússia. Os que caíram de paraquedas, como Volodymyr Zelenky, que preside a Ucrânia desde 2019, e que, portanto, era até há pouco apenas um ator humorista, alçado ao cargo por sorte e porque a política internacional também têm os nossos mesmos problemas – o voto tentativa no novo, no desconhecido, no salto no escuro, para tentar fugir da política tradicional, a aposta no tal diferente. Isso quando podem votar livremente, e o que não é o caso em locais como China, Coreia do Norte (do bufãozinho esquisitinho), a Venezuela de Maduro, e mesmo da Rússia, que ali também liberdade não há. Uns toda hora tentando derrubar outros. Com bombas, tanques, foguetes, envenenamentos, ataques hackers, poderio nuclear, estrangulamentos econômicos, patadas.

Tudo sem a menor graça.

Só que depois do inefável Trump, os Estados Unidos, a super potência, elegeu Joe Biden, o que tanto aplaudimos, mas que também rapidamente virou decepção com aquele eterno sorriso embutido, olhinhos fechados disparando ameaças de pouca efetividade. Claro que você está aí lembrando de vários outros nomes e interesses envolvidos nesse furdunço e entendendo como essa salada muito pouco divertida se transformou no maior conflito armado desde a Segunda Guerra.

Vai sobrar para nós. Aliás, já está sobrando com queda de Bolsa, aumento do barril do petróleo, escassez de produtos, problemas para a importação de trigo, e a angústia de centenas de famílias brasileiras com seus membros ilhados no meio de tudo isso.

Temos um bufão especial para chamarmos de nosso. O presidente Jair Bolsonaro se esmera em nos enrubescer e envergonhar ainda mais diante do barulhento e mortal cenário internacional com o seu comportamento irresponsável – que não encontrei palavra melhor para definir, no mínimo, a forma como está conduzindo o país nesta situação. Mais uma vez destoamos, inclusive de nossos vizinhos. Agora é torcer apenas para que a situação atual não se agrave ainda mais, torcer pelo cessar-fogo. Esperar para que mais essa ferida cicatrize. Mas a marca vai ficar. Já ficou.

Não sei se por conta da superficialidade das redes sociais, se por conta da pandemia que deixou todo mundo atazanado, das constantes crises econômicas, de uma confusão de extremos ideológicos, ou se da cultura do ódio que novamente vemos surgir, a verdade é que ninguém mais leva a sério nada.

E tudo é muito sério. Parece que tudo pode. Nem os próprios bufões são levados a sério entre eles, em parlamentos, grandes mesas, parlatórios, pronunciamentos, reuniões, em suas grandes entidades. Em seus próprios países.

Nós não os levamos a sério.

Ultimamente surgiu mais uma chatinha modinha de linguagem. O tal “é sobre isso”é sobre aquilo”, que talvez você já tenha notado, usado toda hora para resumir argumentos numa discussão, de forma a clareá-los. E encerrar a discussão.

Então, lá vai. É sobre isso. Ninguém mais se leva muito a sério, nem na hora do voto. Não se leva mais a sério nem os perigosos bufões. Mas os bufões, ah, estes pessoalmente se levam muito a sério, e querem permanecer poderosos, custe o que custar, já não são mais só apenas os bobos da corte. Vide os nossos.

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ARTIGO – Máscaras, Carnaval e nossas agonias. Por Marli Gonçalves

Uma pressa que pode nos custar muito caro essa de liberar o uso de máscaras justamente nesta época e quando surgem novas ondas em todo o mundo, que podem rapidamente se transformar em tsunamis. Estamos em um país descontrolado e agora mais uma nova e terrível cepa liga o alarme da prudência em volume máximo

  Aconteceu exatamente assim no ano passado, lembram? Quando as coisas começaram a melhorar um pouco o povo já botou as manguinhas de fora incentivado pelos malucos negacionistas e ignorantes que nos desgovernam. O resultado: 2021 foi um massacre, e logo em abril o número de mortes já ultrapassava as ocorridas em todos os meses anteriores. Já chegamos em 614 mil mortes, ao todo. Diga esse número em voz alta, para entender o tamanho. Lembre de quantas pessoas perdeu; perdemos. E não aprendemos.

Parece até que queremos um repeteco, e não haverá fogos de artifício, pular sete ondinhas, fantasia e samba no pé, bloquinho e desfiles que mostre acerto nas decisões que vêm sendo anunciadas. Isso, claro, quando há alguma decisão.

Antes até da liberação – aqui em São Paulo prevista para 11 de dezembro o fim do uso de máscaras em locais abertos – já está insustentável e visível que os cuidados estão sendo largados pelos caminhos. Basta olhar o número de máscaras jogadas pelo chão nas ruas, como exemplo. A dificuldade de termos de explicar para os engraçadinhos em que data estamos. Nas academias – a que frequento me dá uma boa ideia – as máscaras caem dos narizes; os funcionários enfrentam o ódio quando alertam os egoístas seres. Tem mais essa: alguns alunos cariocas, e como lá liberaram a farra, os caras querem esticar o mapa e usar isso como argumento, acredite quem quiser.

Ultimamente as pessoas não ouvem as notícias inteiras, assim como, também, ou só leem as manchetes ou só o que lhes convém. Fazem questão de não assimilar a realidade. Tristeza maior é ver jovens não indo se vacinar, ou ainda “esquecendo” o calendário da segunda dose. Deprimente ver pessoas que além de não se vacinarem, ainda saem por aí fazendo campanha mentirosa contra as vacinas, ou mesmo disfarçando que tomaram, já que, do meu ponto de vista, na realidade está praticamente nulo esse controle.

Nesses tsunamis, vacinas ainda são a nossa única tábua de salvação. Eu conto ou vocês contam que, se nem quem tomou as três doses, como é o meu caso, está totalmente garantido, imaginem eles! Pior, podem estar, como nos piores filmes de ficção, andando por aí, sendo os agentes da morte, de transmissão. Vermes.

Estamos no fim de mais um ano bem difícil, onde já não há mais espaço nem para piorar. Inflação crescente comendo nossos tornozelos, miséria grassando, violência aumentando, sistemas em colapso. Governo que continua testando nossa paciência de uma forma nunca vista. Entrada de ano eleitoral, com personagens surgindo e sem propostas viáveis para qualquer via de direção.

Uma grande campanha agora seria “Vamos salvar 2022”. Mas pelo visto vamos ter de apelar mesmo é para Todos os Santos, e em nome de nossa saúde mental.

Ou você ainda não reparou que está todo mundo meio que pirando por aí?

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Confusão geral, teu nome é Brasil. Por Marli Gonçalves

Os Trapalhões, os mais reais que poderiam existir, estão entre nós. Pior, no governo, mandando e desmandando. Nos deixando lelés. Duvido que você já tenha visto tanta confusão junta, ao mesmo tempo, em todas as direções. Tantas mentiras, literais trapalhadas, falta de rumos, interferências indevidas, prejuízos gerais.

confusão

Na geral dá aquela esquisita sensação que tudo quanto é desgraça, notícia ruim, acontecimentos estranhos têm a ver com essa situação geral. Gente, até tubarões aparecendo no litoral. Pernambuco? Não! Em São Paulo. E machucando gente no rasinho. Chuva de poeira. Florestas sendo destruídas. Populações dizimadas, fome, miséria, números bons caindo; números ruins crescendo. Muita coisa está fora da ordem. Inclusive nossas cabeças vivendo tudo isso.

“Os Trapalhões” estão entre nós. Os Trapalhões metem o nariz onde não são chamados. Onde são chamados, inclusive nas urgências, não aparecem nem para dar explicações – já que não as têm, óbvio. Está alucinante a absurda forma com que esse governo federal vem tratando todos os temas, e a loucura acaba se espalhando por todo o território, nos levando a um tempo cada dia mais terrível, vergonhoso, inacreditável. Violento.

Um fala, o outro nega; um decreta como se fosse a Casa da Mãe Joana, sem consultar quem de direito que reclama e fica no ar. Todos os dias revelações de malfeitos ou de desleixos, mas são tantos e tão numerosos que nos dias seguintes acabam soterrados por outras de fatos ainda mais absurdos, o que impede a resolução daqueles lá atrás. E assim vamos indo, e num ensurdecedor silêncio e desorganização social. O Trapalhão-mor vocifera bobagens por onde anda, seja no Oriente ou Ocidente.

Senão, vejamos, só essa semana: vacinação e Enem.

Vacinação: porque que acaba aparecendo uma boa pulga atrás de nossas orelhas? Alguém está ganhando com isso? Sabe aquele governo negacionista que atrasou a compra de todas as vacinas e que só depois de muita pressão mexeu a bundinha e agora quer, como diria o Gil do Vigor, se regozijar em cima disso como se tivessem virado os mais competentes do mundo? Pois bem, a vacina de uma dose só que parecia perfeita já não é mais – tem de tomar mais uma e da outra. A outra também precisa de mais uma. E a primeira, do Butantan, que foi a pioneira e que tanto ajudou, fica esquecida porque o cara lá não gosta do cara daqui. Aquela que teria tecnologia fornecida para ser produzida aqui, cantada e divulgada em verso e prosa pela Fiocruz, necas de pitibiriba.

A Anvisa reclama que não vem sendo consultada. Os prazos são mudados de acordo com o humor de alguém no Ministério da Saúde. Uma hora, depois de seis meses, outra, depois de cinco meses, para o reforço; segunda dose já foi de três meses, agora já nem sei mais, qual de qual, quando. Os governos estaduais e municipais acabam correndo atrás para atender, muitas vezes sem nem ter as doses das vacinas nos seus postos. Casa da Mãe Joana é pouco.

Fora isso, cadê o plano de 2022? Onde estão os contratos? Vamos ter um novo plano de vacinação ou será novamente a loucura que já vivemos? Vai comprar de quem? Já tem contrato? Já estão reservadas? Estão vendo, acaso, que o mundo inteiro está em pânico? Conseguem acompanhar o perigo do relaxamento geral? Vamos fazer um samba para o Carnaval? Olê, olê, olê, olá! Dingobel, olha o Natal. Isso vai longe ainda.

Enem: 37 servidores pedem demissão e afirmam que as provas estão sendo manipuladas. Repito, 37, trinta e sete. O tal ministro pastor de risinho sarcástico que comanda a pasta da Educação, servil, apoia o que o ser vil falou de agora o exame estar com a cara do Governo. Deus nos livre! O nome disso é claro: Censura.  Interferência. Desmonte de tudo o que funcionava de alguma forma. Até no Censo estão querendo meter o bedelho nos questionários.

Bate-cabeça. Com tudo isso, quem consegue deitar o cabelo em paz? Me digam. Quem?

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Gritos da Terra. Por Marli Gonçalves

Ensurdecedores, gritos vindos de todos os cantos, boa parte deles serão descritos agora em seus aterrorizantes detalhes durante a COP26, que acontece nesses próximos dias na Escócia. O Brasil tenta tapar os ouvidos, mas levará muitos puxões de orelha.

GRITOS

Vulcões eclodindo, tremores, tempestades vermelhas de areia e pó, incêndios, secas e inundações fora de época, temperaturas e fatos anormais, prejuízos nas lavouras, fome, miséria, pandemia, populações dizimadas, retrocessos políticos de toda a ordem, e uma lista interminável de gritos da Terra, em todos os idiomas. Milionários que antes queriam sair apenas de seus países, agora querem ver se arrumam até um outro Planeta para fincarem suas boquinhas, seus poderes e suas fortunas.

E nós? Diante do mundo todo em encontros anteriores prometemos e não cumprimos nem um pouquinho, até pioramos, as metas que ajudariam – a nós mesmos e ao planeta  – a baixar a temperatura e a rapidez do declínio trazido pelas mudanças climáticas a cada dia mais visível, sofrido, sentido, mortal. Ao contrário, nos últimos anos a tal boiada vem passando solene por aqui, matando, desmatando, queimando, derrubando, de forma devastadora. Agora, com uma pastinha vazia debaixo do braço, chegaremos lá no encontro para tentar dar alguma satisfação, autoridades contarão suas mentiras, com dados e percentuais que a gente nunca sabe bem como conseguem calcular de forma tão enviesada as suas desculpas esfarrapadas.

Passaremos com cara lavada pelos ambientalistas que com suas coloridas faixas, pedidos e protestos já ocupam as entradas e onde, também lá, o nosso atual desgoverno será achincalhado, e claro que ainda haverá quem ouse chamar isso de indevida interferência externa nos negócios nacionais. E, como estamos sendo desgovernados por um brucutu, nada surpresos ficamos em ver o machão marrento desistindo de aparecer, como se isso pudesse poupá-lo. O próprio vice-presidente, Hamilton Mourão, afirmou que  “jogariam pedra” em Bolsonaro se acaso ele aparecesse por lá, foi ele quem disse, justificando a ausência do ser não-vacinado, embora o presidente tenha mesmo viajado à Europa, mas para a Itália, receber uma homenagem que inventaram para ele numa cidadezinha governada pela direita, com… 4739 habitantes. Ah, sim, nós estamos pagando por isso. Bem caro.

Só gritando muito, mas em português, alto.

Nem precisamos esperar um encontro internacional tão importante para gritar, uma vez que por aqui todo santo dia temos o que lamentar, pisam sem dó em nossos pés e calos, nos dizem barbaridades, tomam decisões que lamentaremos por muito tempo ainda, e não vemos em qual direção apelar para que um mínimo de bom senso recaia sobre os dirigentes – e aí, ressalte-se, em todos os níveis.

Os próximas dias e tempos nos ameaçam com outros fatos perturbadores, fazendo com que nem adiante apelar aos celtas e suas simpatias de Halloween: inflação descontrolada, greve de caminhoneiros, aumento ainda maior do preço de combustíveis, desabastecimento, fim do Bolsa Família e desencaixe total do novo Auxílio Brasil, descrito por todos os economistas como uma bomba-relógio  que, se der algo a quem precisa, e excluindo muitos, o fará com uma mão e tirará solerte com a outra. O bang bang geral parece querer tomar as cidades de assalto.

No Dia de Finados choraremos os mais de 605 mil mortos, entre eles, certamente, pessoas que já fazem muita falta a mim, a você, a todos nós. E, no dia 15, quando deveríamos festejar a sonhada República, poderemos mesmo é estar nas ruas gritando porque diariamente só vemos serem praticados atos bem pouco republicanos.

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Calores políticos e o dia a dia nacional. Por Marli Gonçalves

Já reparou? Há meses a temperatura vai esquentando, esquentando, isso durante a semana, e chega na quinta-feira a gente achando que “agora, vai”, e toma um banho de água fria. Logo no sábado o povo na geral já está em outra, esqueceu o ponto onde estávamos parados, o assunto muda, ameniza, e assim seguimos tudo de novo e de novo, e lá vem segunda-feira, fim de mês, mais feriados.

calores politicos

Está chato, numa repetição constante de padrões e sem mudanças ou soluções. Chamo de os calores políticos das quintas-feiras. Hoje mesmo, uma sexta, enquanto escrevo, a coisa ferve, o mercado “nervosinho”, bolsa de valores cai, o dólar vai visitar o espaço, levando as outras moedas estrangeiras e os sonhos de milhões de pessoas na mesma nave. Os sonhos ficarão largados lá no espaço, gravitando, junto com o lixo de outras tantas desilusões. A nave até pode voltar ao normal, mas esse normal sempre joga mais um pra fora, em um jogo cruel. Assim seguimos para o próximo nível, se é que se pode dizer que tem nível o que temos passado na condução política e institucional nacional.

O país entrando em uma espiral radical na economia. Na saúde, os números mortais avançam mais lentamente, ok, mas ainda avançam na média de dois aviões lotados caindo diariamente em cima do otimismo com que se noticia médias móveis; bem móveis, aliás. Parece a dança das quadrilhas de festas juninas com todo mundo levantando os bracinhos para um lado, depois para outro. Melhorou! ÊÊÊ! Mas pode piorar. Olha a cobra! Estão pondo fogo nas matas! Olha a chuva! ÊÊÊ! Mas a chuva não chegou nas represas! ÊÊÊ! Vai faltar água! ÊÊÊ! A gasolina subiu novamente! O gás também! ÊÊÊ! Vai faltar! Caminhoneiros ensaiam greve. ÊÊÊ! Desistiram. ÊÊÊ! O presidente virou paz e amor. ÊÊÊ! Debochou de tudo e novamente faltou só mostrar caixinha de cloroquina para as emas do Palácio. ÊÊÊ!

Como se déssemos seguidas chances para o azar, tentando a sorte. Mas nunca funciona. O dólar não baixa mais. A Ciência, sem verbas, inviabilizada. A inflação sobe-sobe e corrói, literalmente, nossas entranhas e o que já estava ruim só piora. Volta mais forte a fome, a exclusão, a miséria e a insegurança que quem tem olhos e ouvidos as encontra personificadas nas ruas; claro, desde que levante os olhos do celular onde parece trafegar quase que exclusivamente invejáveis vidas boas, belas, felizes, viajantes aliviados em imagens escolhidas, que ganham um monte de coraçõezinhos, curtidas, repiques e comentários escritos em português sofrível. Fora isso? Ok. Um pouco de humor e muito ódio.

A CPI da Pandemia que agora fecha o relatório que se bobear vai dormir em alguma gaveta, animou muitas dessas semanas – serviu para chamar a atenção e parar alguns crimes em andamento, há de se admitir. Ficam ali registradas, pelo menos para a história, algumas das frases que ecoaram: “só uma gripezinha”, “não tenho nada a ver com isso”, “e daí?”, tantas, ainda repetidas em suas variações e negações, que parecem ter se tornado rotineiras e, pior, normais. Dele só se espera coisas assim. Mas não devia ser essa a situação, e é o que faz com que os fatos se repitam, sempre pesados, mais asquerosos, mais perigosos, mais desgastantes.

Claro, sem esquecer que tudo isso envolve direita, esquerda, centrão, STF e outros poderes, um Congresso Nacional constrangedor, a imprensa perdida entre ser ou não ser, num falatório daqueles de outrora nos botequins, mas agora aberto, ao vivo, nas manhãs, tardes e noites. Tudo aparenta normalizado. Um dia esquece o outro.

Para finalizar a semana, não dá para deixar de registrar ainda a tal primeira-dama Michele Bolsonaro –  aquela que não se mexeu nunca para defender as mulheres,  como nos casos de violência, ou no caso dos absorventes, para citar alguns, nunca botou os pés em uma UTI – aparecendo vestida, acreditem, de palhaça, em uma solenidade cultural ao lado do troglodita Mário Frias. Mas, aliás, qual foi o figurino de palhaça que ousou escolher? Com avental, logo o que lembra o usado pelos honrosos e premiados Doutores da Alegria, cujo trabalho com tantas dificuldades tanto ajudam a quem necessita e que devem estar tão ou mais atônitos do que eu fiquei ao ver a cena, sem contar a visão da Damares sorridente, o desmonte cultural e o estrago geral. Os palhaços verdadeiros devem ter borrado com lágrimas suas maquiagens.

Lá vem mais uma semana dessa montanha-russa Brasil. Sei que não aguentamos mais gritar tanto de medo na descida acelerada. Eu sei, mas não podemos perder a voz.

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – O Homem não está nada bem. Por Marli Gonçalves

O homem não está bem; não está nada bem. O homem está confuso, nervoso, não sabe o que fazer, anda inseguro, percebe que está perdendo poder e que já não é mais invencível, daí reagir muitas vezes perigosa e virulentamente. O homem vê que a cada dia tem de dividir o poder com serenidade. Percebe que os tempos são outros e que há reação a qualquer de seus desmandos.

Sei que tudo isso se enquadra muito bem no que vivemos, e que claro deve ter vindo à sua cabeça a figura do presidente que essa semana, parece, criou, percebeu e sentiu a temperatura máxima, e essa não era um filme da tarde de domingo, muito menos do feriado nacional com tantos significados e que conseguiu transformar este ano em um dia de ódio e horror, terrível e tenso para os brasileiros.

Tudo bem que não dá para deixar passar isso em branco, vendo o desfile em verde e amarelo de tanta gente paramentada abanando a bandeira, confusa, enganada e/ ou apenas ignorantes em busca de um líder, sendo usada sem dó por oportunistas, pessoas más, para não dizer outras coisas, com pretensões da pior espécie, querendo fechar os horizontes da liberdade e da democracia. Brincando perigosamente com o futuro.

Claro que esse Homem aí, o que conclamou e tramou o que espantados assistimos, também não está bem, não está mesmo é nada bem. Mas isso não é de hoje. Esse aí nunca esteve bem, e em nada do que fez, nem como militar, muito menos como político, ocupação que exerce há mais de 30 anos sem brilho, e que por golpe de sorte e das condições daquele momento eleitoral foi posto no poder máximo.

Mais do que evidentemente não estar bem, repara só: esse Homem está bem maluco – não é impossível que acabe numa camisa-de-força – desorientado, inconsequente, e literalmente atirando para tudo quanto é lado na tentativa de se manter nele, no tal poder que, parece,  subiu para sua cabeça e, pior, para a de todos os seu filhos, parentes, amigos e ministros que o seguem nessa balada insana seja em cima de palanques, na frente da câmera de suas insensatas lives ou no cercadinho que se tornou o ponto de encontro da turminha que o anima.  E num país que se desmancha, precisando tanto de um governo.

Muito chato. Só imagino e adoraria saber detalhes de qual foi o real bastidor, os fatos que o levaram a apelar para a pena de Michel Temer para criar uma nota pública que pudesse por panos quentes e frios, pelo menos por hora, na perigosa confusão que armou. Queria ser a mosquinha que pudesse ver a real, que normal não foi, não caiu do céu esse arrego que deve estar causando forte azia e indisposição, inclusive em quem saiu atrás dos trios elétricos do horror achando que estava abafando.

Mas, enfim, pulando esse assunto que já deu, o que é visível é que o homem, o ser masculino, esse que já não aguento mais ver aparecer diariamente envolvido em tantas notícias de crueldades e feminicídios, talvez até por conta e somada a situação nacional, não está nada bem, e se debate angustiado. Com o avanço do movimento feminista, com a entrada cada vez mais expressiva  das mulheres no mercado de trabalho e lutando por sua independência e participação igualitária, as bases do tal domínio do macho estão ruindo à nossa frente, sendo levados pela onda de força que vem sendo demonstrada pelas mulheres, especialmente nesse momento de superação, da pandemia, onde fomos tão e mais brutalmente atingidas.

É preciso destacar esse momento importante. Porque dele poderá vir, finalmente, um novo mundo e quero estar aqui para presenciar e celebrar o resultado dessa luta de toda uma vida. Torcendo para que essa lufada, enfim, sopre cada vez mais forte aqui e em todo o planeta.

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Os nossos loucos (primeiros) dias de setembro. Por Marli Gonçalves

O que será, que será? Posso quase apostar que muito barulho por nada, que vão dar com os burros n`água. Sempre aprendi que cão que muito ladra fica rouco e não morde. Poderemos esperar, contudo, que uma primavera floresça – sementes também têm surgido em meio a esse setembro que já chegou, veio se esgueirando entre tantas ameaças. O golpe deles já foi esse: exatamente como queriam, passamos os últimos dias falando dessa gente, de suas ameaças e boquirrotices.

loucos dias de setembro

Nem contamos até 10 – nem precisa, porque já andavam armando confusão desde bem antes deste mês. Coisa chata, como se não tivéssemos tanto a resolver no nosso dia a dia. Como se o país estivesse a mil maravilhas e não com uma inflação galopante e ameaças reais, as de falta de água, de energia, de saúde, vacinas, e tudo o mais.

Mas setembro chegou e com ele umas luzes poderosas que ainda podem realmente mudar algo, se forem coesas. Vindas da total perda de paciência com o desgoverno e inquietude agora bastante expressa objetivamente pelos empresários líderes dos principais setores da economia, surpreendentemente até do agronegócio, que souberam até afugentar e se sobrepor aos medrosos que pularam fora com medo de puxão de orelha e bicho-papão. Os que ficaram firmes em seus manifestos sabem que tudo vai melhor com democracia e paz. Claro, sempre melhor para eles, diga-se de passagem. Mas têm poder.

Quando até os bancos e banqueiros se mexem, o sinal está claro. E de qualquer forma ele ainda está fechado para nós, os que assistimos ainda inertes ao andamento desse espetáculo deplorável, o momento da política nacional que tanto nos fraciona, estilhaça; não é mais nem que nos divide, porque agora tem de um tudo.

Tem os adoradores, os que antagonizam, com seus erros de cada lado. Adoradores! Seja de um, seja de outro, se me entendem. Aí não tem conversa, nem explicação, apenas uma espécie de amor platônico. Precisam de um paizinho que os guie, acima de tudo, seja o que fazem ou fizeram, mesmo que tenha sido em situações justamente que nos levaram ao desastre atual.

Entre os adoradores estão os que ainda não conseguem perceber ou já estão se dando muito bem com o fundo do poço; tem os que pensam igual, e sonham dia e noite, rezando ou não, para que retrocedamos em tudo ao século passado no que ali havia de pior, de atrasado. Do outro lado, os que ainda não admitem qualquer outra nova possibilidade, mesmo que próxima do razoável para unir – só enxergam um homem, sua barba e, ultimamente, também as suas coxas firmes. Tudo bem, vai, que ninguém mais pode fazer tanto mal quanto o atual perturbador geral da Nação está fazendo.

Perigosos, nessa miríade há os que acham que estão, como meu pai diria, por cima da carne seca, sendo que no fundo estão é como nós, à mercê de tudo de ruim. São os que – só pode ser – cegos e surdos, mantêm-se ocupados em se desfazer de informações sérias, da imprensa, que xingam cada vez que esta os chama à realidade. Gostam das mentiras que os alimentam, e imaginam uma Pátria toda verde e amarela, não gentil, armada, onde pensam que um dia poderão se dar bem. São agressivos e a maioria dos que devem ir sem máscaras às ruas dia 7 para apoiar a familícia, já que a vida comezinha deles também não lhes dá outras diversões além da beligerância com que tratam temas sociais ou de comportamento.

Agora surgem – o que até positivo é – os mais ou menos, que há dois meses preparam outra grande manifestação, mas para o dia 12: arrumadinhos, esses, entre eles muitos arrependidos com o apoio que deram a Bolsonaro em 2018, tentam consertar o que acabaram criando. Têm e mantém críticas aqui e ali a algumas decisões do Poder Judiciário, STF incluso, ao Congresso, se apresentam como centro e centrados, numa pauta confusa, e buscam uma pista, uma terceira ou quarta via, mas que tenha afinidade com a mão inglesa, direção à direita. Também prometem fazer barulho e são organizados.

Enfim, há opções para quase, ressalte-se, quase, todos os gostos. No dia 7 até com locais diferenciados para não se estranharem ainda mais.

Passando tudo isso pode ser que surjam novas brechas onde, então, poderemos – nós, o que ainda não acharam espaços confiáveis – nos encaixar.

Aí, então, será a primavera.

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Estamos numa fria. Por Marli Gonçalves

Entramos e estamos numa boa fria, numa gelada, num enorme saco sem fundo. É tanta coisa acontecendo de esquisito, de ruim, e sem que possamos resolver de vez ou tomar medidas rápidas e objetivas – a solução não está só em nossas mãos, mas na de todos e em tantas mudanças e acertos – que só resta, sei lá, espirrar. Espirrar com muitos desses culpados de nossa frente

Saltos, piruetas, manobras espetaculares no asfalto, nos tatames, no mar, fôlego na piscina; as mulheres arrasando, a garotinha em cima do skate, a outra bailando com movimentos precisos bem na cara de suas próprias dificuldades. Orgulho, vitórias, e não só, também as derrotas, trouxeram distração para mais de 100 metros nas notícias e madrugadas olímpicas. Vimos novamente, felizes – mesmo que por instantes – a bandeira nacional tremulando sem que ela nos causasse essa certa repulsa que tanto fizeram que conseguiram nos fazer dela até enjoar nos últimos tempos.

Soubemos das incríveis lutas e histórias de superação dos atletas – os vimos felizes e também desolados quando ficaram pelo caminho em suas modalidades. Pelo menos ali acompanhamos um país se esforçando, lutando para se firmar e melhorar. Temos mais alguns dias para acompanhá-los e torcer.

Mas agosto está aí, sempre teremos agosto. E já está vindo embalado pela pandemia que continua matando muito mais de mil pessoas por dia e querem que isso pareça normal, quando vemos outros países indo e voltando de medidas restritivas nesse vaivém estonteante. Aqui, o pimpão prefeito do Rio de Janeiro, por exemplo, decretou que vai estar tudo bem até o outro mês e até já marcou feriado e festa. Uma vergonhosa corrida de Estado contra Estado, cada um querendo parecer melhor que outro, em campanha aberta, como se não bastasse o furdunço que virou o Governo Federal.

Às vezes acho que a água que os dirigentes e responsáveis pela condução do país tomam contém mesmo alguma coisa a mais – só pode ser. Não atingimos ainda nem os 20% de imunizados com as duas doses. Há ainda um inacreditável número de pessoas contrárias às vacinas ou que não voltaram para a segunda dose, quando necessária, como o é para a maioria. Ainda vemos quem tenta escolher qual marca tomar – e muitos desses estão tombando pelo caminho. O Ministro da Saúde ousa proclamar vitória e ações do governo, como se não tivéssemos já quase 560 mil mortos e mais de um ano e meio de pandemia muito mais cruel por causa dos erros deles.

Agora, as aulas vão voltar – e não se tem a menor ideia de como resolveremos os sérios problemas da Educação, da evasão, do atraso no ensino. O Ministério? Além de uma fala maluca do ministro, outro batendo no peito por feitos não feitos, pôs no ar uns anúncios moderninhos. Volta também o showzinho diário da CPI que, quando acabar, teremos um relatório enorme, e precisaremos torcer muito é para que ele não vá dormir em alguma gaveta.

Quem chacoalhou esse país para ele estar assim tão dividido? Quem abriu a tampa do bueiro para tantas absurdas ignorâncias? Um queima o Borba Gato; outros vêm e jogam tinta vermelha nas homenagens a Marighella e Marielle. O fogo queima nossa memória. As mentiras e notícias falsas se espalham e ecoam. O presidente monta um circo para dizer o que já sabíamos de suas acusações sobre as eleições – que ele não sabe de nada, não prova nada e isso é só mais um assunto para manter o percentual cada vez mais baixo de quem o segue, ainda achando que ele presta, mesmo vendendo seu mísero poder para outros míseros carrapatos que grudam em tudo que é governo, seja de qualquer lado do colchão. Não adianta virar, desvirar, por ao Sol.

É inverno e até o frio intenso e recorde que há muito não aparecia ataca o Sul e o Sudeste, expondo nosso total despreparo para qualquer situação extrema e a miséria que grassa nas ruas que acomodam friamente mais milhares de recém-chegados. Os preços disparam, sem controle, enquanto turistas fazem horrorosos bonequinhos de neve e a geada acaba com as plantações.

Estamos mesmo numa fria na qual entramos sem saber ainda como sair dela, estranhamente escaldados.

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ARTIGO – Sob e sobre ameaças. Por Marli Gonçalves

Vivendo sob constantes ameaças, e que só aumentam, vindas de todos os lados. Não bastassem as lutas para controlar a pandemia, o surgimento de novos vírus e outras doenças esquisitas, os problemas com energia, água, temperatura, economia, no Brasil vivemos mais um pesadelo, o político. Qualquer homenzinho, ou serzinho verde oliva, agora aparece cheio de marra, e ameaçando a democracia.

Ameaças

Temos muitas dúvidas, perguntas, pedidos de esclarecimentos, e temos ouvido quase sempre as mesmas não-respostas. Repara quantas vezes, nós, da imprensa, perguntamos, perguntamos. “Mas até o momento não obtivemos resposta”. Todo dia. As revelações, gravações, denúncias, fatos e fotos, falas e gestos se sucedem.  Parece que estão brincando de governar, e estão; sem rumo. Mas jogam pesadamente pelo poder – e com as nossas vidas.

Para quem já viveu momentos difíceis, apenas uma clareza: antes, sabíamos exatamente o que, quem, como estávamos combatendo ou de quem deveríamos nos defender. Agora, apenas a ignorância grassa e é como se o inimigo morasse ao lado, e possa surgir nos surpreendendo. Os descobrimos entre pessoas próximas, amigos, familiares, numa divisão sem igual. Contaminam todos os ambientes.

Os ataques podem ser tão sub-reptícios que até uma deputada acorda machucada, com fraturas, e sem saber exatamente o que ocorreu denuncia poder ter sofrido um atentado. Muito louco? Não, se pensarmos que agora tudo é mesmo possível, inclusive para quem amigo deles era; e inimigo deles, virou. O que aliás tem sido muito comum: o abandono desse barco que navega sem sentido e em uma tenebrosa maré. Maré obscura, armada, violenta.

Ultimamente, não sei como, descobriram uma palavra que usam para tudo e que duvido saibam exatamente qual o seu sentido: “narrativa”. Escuta só uns minutinhos de CPI. Escuta um minutinho do discurso de justificativas e negações deles. Até o presidente, que não é o maior afeto ao vocabulário humano, outro dia disparou “narrativa” para lá e para cá. Lá vem ela: tudo que os afeta é narrativa incorreta.  Só a deles – e que vem eivada de ódio e erros – é que deveria ser ouvida.  Tentam adestrar com decorebas os seus bovinamente seguidores, pouco importa o que falam, mesmo que logo depois contradigam-se.  O recheio de informações falsas que usam cria uma espécie de hipnotismo, repetições ao molde de treinamento de animais. Contam um conto, aumentam muitos pontos.

Isso não é ideologia, direita, esquerda, volver, nem centro, nem de cima nem de baixo. Para ser ideologia tem de haver inteligência, conhecimento, estudos, lógica, contraposição, debate. Assim a gente descobre porque é tão difícil lidar com eles, são apenas chucros estes que estão no pódio do poder central, ladeados por muitos outros, instalados em outros poderes. Infelizmente, inclusive na imprensa, muitas vezes a pesados soldos.

Agora a questão é duvidar das urnas eletrônicas, pregando o voto impresso, mesmo que se diga e repita a confiança nessa forma de voto. Não deve passar essa iniciativa. Tomara que não. Mas eles inventarão outras ameaças nesses meses que antecedem a eleição do ano que vem, e que infelizmente ainda não nos apresenta uma lista de candidatos fortes o bastante para recolocarem o país nos trilhos.

“Se urnas são confiáveis, dá um tapa na minha cara”, pede Jair Bolsonaro, ao duvidar do próprio sistema eleitoral que o elegeu, sem apresentar provas.  Será que vai ser preciso agendar? Pode entrar quantas vezes na fila?

Ele que está pedindo. Nós não ameaçamos, mas ainda creio que saberemos como nos defender.

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ARTIGO – Gangorra ou de pulinho em pulinho. Por Marli Gonçalves

Assim vamos indo, de denúncia em denúncia. Aos sobressaltos. De pulinho em pulinho, na gangorra do sobe e desce, do que vai e do que vem. O título da coluna seria “de soluço em soluço”, e que eu já estava pensando bem antes, vocês sabem de quem, começar a soluçar e dar golfadas. Mas não é sobre a saúde do presidente, pelo menos não só, mas sobre o Brasil e os nossos enormes sustos do dia a dia.

gangorras

Troquei o soluço pela ideia que estamos saltitantes sobre fogo e subindo e descendo. Uma coisa, uma hora; na seguinte, já não é mais nada daquilo. Pode ser melhor, mas em geral tem sido é pior. Chega a tontear a quantidade de informações que recebemos, vindas das mais variadas fontes. Ultimamente em on, off, ou ainda com sons de claras gravações de voz ou ainda quando assistimos vídeos completos comprovando as barafundas, negociatas. Fora, com CPI a pleno vapor, documentos, e-mails, ofícios para lá e para cá que vêm à luz, de acordo com a maré, investigações ou interesses.

Ah, falei CPI a pleno vapor. Esquece. Apenas fumacinha, brasinhas, pelo menos nas próximas semanas. Que no meio da coisa quente, pegando fogo, eles resolveram entrar em recesso, que férias não é privilégio só dos juízes e apresentadores de tevê importantes. Fuémm.

Um dia está tudo bem, a economia está “crescendo” – e nos mostram percentuais em geral só de zero vírgula alguma coisinha. No outro, surgem as quedas, mas de dados como níveis de emprego, atendimentos, sempre de percentuais com mais números bem gordinhos antes da vírgula do percentual. A verdade é aquela: só procurar que acha. E temos tantas letrinhas pra procurar, PIB, taxas, juros, inflação, projeções e estatísticas que sempre depende se a procura for por notícia boa, média ou ruim. Depende do dia. Tem dados para todos os gostos. Difícil fica é acreditar em alguns.

Na política, a coisa tá louca. Desarvorada. Há dias com uma série de acontecimentos tão quentes que você acha que o governo não vai resistir nem até aquela noite.  Você fica que nem maluco tentando acompanhar e entender tudo, vê a terra tremer. Aí a noite chega e nada. Você vai dormir, e quando acorda corre para ver se eles ainda “estão por ali”, e lembra que se não estiverem você até ficaria bastante feliz. Mas, na verdade, tudo recomeça especialmente com os arranjos que são feitos na calada das noites.

Nos últimos dias, o DataFolha disparou a fazer pesquisas e o resultado delas –  nada me tira da cabeça  –  creio que  foram as responsáveis por uma boa parte dos soluços do presidente, mostrado em queda livre, perfilado pela maioria da população inclusive como inábil, pouco inteligente, entre outras absolutas verdades reveladas, essas pouco secretas, que no caso não se trata de novela das onze. Entalou. Entupiu. Deu indigestão.

O corpo fala. E o de Bolsonaro estava e está gritando faz tempo. Pelos olhos, pela pele, pelos poros, e até pelos perdigotos. É sabido que soluços podem ter causas psicológicas como ansiedade, tristeza, agonia e depressão.   O corpo somatiza.  Verbaliza que algo não vai bem na mente. E a cura depende, além de medicamentos, do reconhecimento das emoções e sentimentos. E esse reconhecimento, no caso, não ocorre. Só ejeta ódio. Somatização é coisa séria.

Enfim, todos nós somatizamos em algum momento em nossos corpos os sentimentos estranhos. No caso do presidente, fiquei preocupada porque nas minhas pesquisas aqui descobri soluços associados a histerismo. E, pelo menos por enquanto, os médicos o estão tratando com remédios, ou seja, talvez nem tenha mesmo ver com a facada que levou durante as eleições de 2018. Talvez apenas estejam lhe dando calmantes.

O problema é que essa gangorra toda que estamos vivendo não faz bem a nenhum de nós, que ficamos sem saber para onde correr sem que o bicho pegue – literalmente, se pensarmos no vírus que também não para de pregar peças no mundo todo, com seus vaivéns preocupantes.

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MARLI - cgMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Nós, os perplexos. Por Marli Gonçalves

Não demora e logo nos faltarão também até as palavras para definir esse momento, já que atos para o combater – não é nem mais que se esgotaram – tão perplexos estamos que já nem conseguimos sequer imaginá-los. Estapeados todos os dias, nossos ouvidos feitos de penico, parece que todos somos tão burros e otários que não vemos mais nem quando tentam nos fazer de bestas

A cada revelação que surge – e essa semana foi bastante pródiga delas – as informações mais se avolumam, muito além ainda do que parecia impossível ter ainda ocorrido a mais daquilo tudo que todos os dias de alguma forma presenciamos. Não é nem só de agora; há anos criamos verdadeiras camadas de perplexidade em nosso couro, o que nos torna, no meu ponto de vista, um dos povos mais resistentes e resilientes do mundo.

Mas os últimos tempos têm sido realmente implacáveis. Agravados pela pandemia que nos calou, isolou, transtornou e nos fez sofrer perdas irreparáveis, além do medo, insegurança, do temor do insucesso e da derrota pessoal, não há como evitar a quase paralisia, a perplexidade diante deste cenário geral. Dá para entender porque ainda enquanto um povo estamos tão desorganizados, sem reação, cheios de dúvidas, indecisos, e até poderíamos dizer, ainda mais espantados. Perplexos. E a perplexidade paralisa.

Da janela observamos o mundo passar e na falta de alternativa cobramos o ar. O outro, os outros. Exigimos que “algo seja feito”, praticamente esquecendo que esse “algo” precisa contar também com pelo menos alguma efetiva participação nossa.

Acontece que a tal grossa camada criada em nosso couro ao longo do tempo também nos fez mais insensíveis. Para penetrá-la a flecha precisa ser cada vez mais grossa e forte. Aí reside o perigo enorme de estarmos na realidade já deixando passar como normais muitos fatos inomináveis, que nos exigiriam ação e reação imediata.

Mas é que estamos perplexos.

Somos roubados, temos nossos direitos duramente conquistados vilipendiados. Ameaçados pela volta do terror antidemocrático, pela força, enquanto ainda tiram sarro de nossas caras com ironias e gracinhas de péssimo gosto. A inação nos atinge diretamente, e mentiras deslavadas são construídas cuidadosamente para acobertar e misturar malfeitos até que sejam descobertos e, quem sabe Deus um dia, punidos.

A terra que pisamos, a força da natureza que sempre caracterizou o país com seus amplos recursos naturais, e com os quais nos tornamos de alguma forma importantes para o mundo todo, sendo consumidos, queimados, derrubados, escasseados. Gerando lucros para poucos. Não é para progresso, não se iluda. Pelo menos não o nosso, de ninguém não, só mais essa balela que tentam impingir aos mal informados, aliás uma população crescente, alimentada com ódio por esse mal que encobre de sombras o Brasil.

Não só na política. Em pouco mais de um ano retrocedemos décadas em autoestima. Em respeito, interno e externo. Educação, Saúde, Segurança, Saneamento, Meio Ambiente, comportamento, debate, bom  senso, harmonia, paz e convivência pacífica entre ideias e poderes vêm sendo bombardeados pelo esquecimento ou decisões grosseiras, retrógradas, ignorantes, moralistas de araque, divisionistas, e que não servem  a nada a não ser criar um exército de inimigos, que já nem sabem mais o que combatem entre si, e dos quais, daqui e dali, já quase nem conseguimos nos defender, tal a falta de lógica.

Nós, os perplexos, precisamos sair o mais rápido possível desse estado catatônico, incerto, indefinido, inseguro, assombrado, irresoluto, titubeante, abalado, desnorteado, abismado, zonzo – que não faltam definições – em que nos encontramos. Antes que essa perplexidade toda nos aprisione. E essa gaiola não é dourada.

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Marli MARLI GONÇALVES– Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, nas livrarias e pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Avidez por alguma alegria. Por Marli Gonçalves

Uma, uminha, umazinha só. Qualquer porção de alegria, esse produto tão raro nos dias de hoje. Imploramos. A gente tenta, mas não passa um dia sem que alguma notícia esquisita nos abale, por mais otimistas que tentemos ser. Muito impressionantes esses tempos que passamos, agravados pela pandemia que a muitos abala, deprime, e a outros enlouquece

ALEGRIA

Daqui assistimos o mundo inteiro tentando se curar, se recuperar, reviver, renascer e se reinventar e reorganizar desse baque, pesadelo, que vivemos já quase há um ano e meio e onde cada dia de sobrevivência precisa ser efetivamente comemorado. Chegam de fora boas notícias, da abertura, do povo voltando às ruas, incentivado, reconstruindo.

Mas, aqui, quem consegue? Em um dia perdemos parentes e amigos; em outro, quem tanto admirávamos, por quem torcíamos pela recuperação, mesmo que ela fosse até difícil de acreditar se pensássemos bem.  Paulo Gustavo se notabilizou por nos trazer esse raro e cada vez mais escasso produto, a alegria. Chega ser sintomática, emblemática, simbólica, a sua partida no meio disso tudo.

Como conter a emoção? O prefeito da maior cidade do país lutando publicamente pela vida em um leito de hospital, com altos e baixos.

De repente ainda mais tragédias nos abalam como se tivessem ocorrido do nosso lado, e a gente chora, sofre e perde o sono pensando em professoras e bebês assassinados a golpes de adaga na outrora pacata cidadezinha de nome poético, Saudades.

A gente fica revoltado ao ver uma desastrosa operação policial carioca no morro do Jacarezinho, morro que já deu samba mas que agora mostra as suas ruas, vielas, casas e barracos cobertos de sangue que escorre o desespero e o luto de 25 mortes, muitos ainda sequer identificados. Pior: ver, ouvir, saber que tem quem aplauda uma chacina como essa, sem pé nem cabeça já na sua origem. Uma espécie de pena de morte, aceita sem julgamentos, como quem degola, arrasta e espalha pedaços de corpos.

Brasil atual embaçado, o país do esculacho, temo, vá demorar mais do que outros para se recuperar desse tempo amargo e retomar sua tradição de país gentil, do povo generoso, gente alegre reunida, Cidade Maravilhosa, etc. e tal. Não temos vacinas suficientes, e os motivos disso surgem porque estamos com um desgoverno absurdo e cruel, administrados por um presidente bronco, cercado de bronquinhos, e que ainda se diverte ironizando o sofrimento do povo, fazendo da política uma barafunda gincana, onde nós somos caçados, e não surge força capaz de cassá-lo, porque há muitos beneficiados com suas confusões, animados por uma trupe violenta e insistente que sai às ruas espumando por medidas antidemocráticas, alimentados  por informações descabidas que repisam. Que se comprazem em apenas atacar e odiar – a bílis que lhes dá algum sentido na vida triste.

Quando tudo começou, ano passado, estávamos mais unidos. As varandas e janelas abertas emitiam cantorias, os vizinhos começaram a se conhecer e se cumprimentar, mesmo que com acenos, com gestos solidários, inclusive para os mais velhos. A solidariedade se mostrava na preocupação com o outro, fosse com recursos, com comida, companhia, compaixão. Chegamos a acreditar que do tal novo normal surgiria um povo melhor. Que nada poderia demorar tanto. Havia ainda um certo otimismo.

Mas 2021 chegou arrasando e agora já estamos em maio, chorando todos os dias a evitável escalada de mortes correndo para alcançar a marca oficial tão temida, de meio milhão de vidas perdidas. A alegria se esvaiu.

Continuamos, contudo, com todos os erros sendo continuamente repetidos, o negacionismo se espalha contaminando o solo como uma praga para a qual a Ciência não conseguirá solução em laboratórios. Precisávamos ter tratamento precoce, sim, mas para evitar toda essa tristeza. Que pudesse evitar, antes de mais nada, tanto oportunismo e toda a miséria que se apresenta em todas as áreas e que prejudica agressivamente o futuro, esses nossos muitos dias pela frente.

Necessitaremos de alegria, alguma, muita, e que esta seja coletiva. Precisaremos nos unir o mais rapidamente possível para procurar essa fonte para beber, e que agora está soterrada.

Ao menos um pouco de alegria vem da certeza que parece que enfim já começamos a escavar para encontrar essa fonte e que logo jogaremos fora todo o lixo que a encobre.ALEGRIA

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marliMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – O terror, tocado para milhões de corações brasileiros. Por Marli Gonçalves

Distopia tropical. Não é de hoje. Estão tocando o terror aqui em nossa terra, e de uma forma tão intensa e nos atacando de todos os lados, que a gente já nem sabe mais como se defender. Não dá pra ignorar mais de 400 mil mortes, não dá mais para tocar na vitrola só essas canções mortais; queremos samba, mostrar ao mundo que temos valor

Mais de 400 mil razões para estarmos alertas, e prontos para o revide quando conseguirmos nos organizar, embora eu saiba bem o quanto é difícil até decidir por onde começar a batalha que virá, mais cedo ou mais tarde, para quem realmente for patriota, estiver preocupado, informado sobre os passos desse Exército do Mal que avança trazendo tantas sombras e incertezas.

Não esses estúpidos que se enrolam na bandeira, alucinados, que cospem impropérios, conspurcando o verde e amarelo de uma forma tal que hoje chega a nos dar até asco ao visualizá-la. Não essas pessoas sem noção que passam o dia disseminando o ódio e a ignorância, para quem a terra é plana, e dividida apenas nas tristes opções políticas que se colocam à frente. Não essas pessoas que ainda teimam em não ver, não escutar, mas falam, repetindo refrões, teses absurdas.

O terror é geral. Na economia, sem capacidade de ser salva por aquele pequenino e metido ser, o tal Posto Ipiranga, e sua trupe. Na política, onde o perfil miliciano dos que transitam nos palácios de Brasília, se esbalda em tripudiar de tudo o que nos é mais caro, desrespeitando a dor, e as soluções para evitá-la, buscadas pela Ciência como nunca antes. No comportamento, nas atitudes burras e preconceituosas de quem até se acha “de direita”, conservador, mas nem isso, não chegam aos pés nem disso, apenas decrépitos, muitos encobertos por religiões que inventaram, moldando-as aos seus interesses. Deixem Deus fora disso.

Nos vemos cercados por organizações criminosas desvendadas todos os dias, nas manobras, nos roubos e golpes, no pagamento de sistemas de robôs contaminados que disseminam as informações falsas neles inseridas e atiradas como flechas ou balas perdidas. Essas balas perdidas. As reais, que matam crianças e inocentes. As virtuais que matam sonhos, reputações, inteligências, ameaçam o futuro.

Estamos vivendo uma distopia. Uma distopia tropical. Nossa terra seca, pega fogo, destruída diante de nossos olhos. Falamos, denunciamos – e nada. Eles estão lá, e dá até arrepios pensar no que ainda pretendem, no que planejam e decidem entre as suas paredes, nas casas de vidro. Coisa boa não pode ser, porque é bastante claro que pretendem se perpetuar no poder.

Tenho visto muitos otimistas botando fé nessa CPI, Comissão Parlamentar de Inquérito, agora instaurada no Senado Federal para investigar as ações, inações, e os acontecimentos alarmantes ocorridos no último ano, durante essa pandemia, que levaram à essa mortandade e à tristeza de milhões de corações brasileiros que sangram tantas perdas.

Acompanhei muitas CPIs, conheço suas confusões e tramoias. Devo informar que é melhor ter cautela e em paralelo continuarmos buscando avidamente outra formas de fazer esse descarrego. Essa CPI, claro, vai revirar o mar, causar, ouviremos falar dela – e de seus integrantes, que novos nomes aparecerão para o jogo eleitoral – nos próximos meses. Os fatos sobre os quais trabalhará são esses todos, bem conhecidos, dessa lista enorme que clamamos ao vento.

O que ela precisará fazer – o veredicto de culpado para esse que se diz mito, e que ele seja levado a realmente pagar pelo que fez/faz e, infelizmente, ainda fará – será uma grande surpresa.  Temo que vire apenas mais uma CPI do Fim do Mundo, como chamamos uma outra, de outros tempos, e que não levou a nadinha de bitibiriba.

Queremos samba, mostrar ao mundo que temos valor, quem está pedindo é a voz do povo do país, pro Brasil feliz voltar a levar alegria para milhões de corações brasileiros, como tão bem disse Zé Kéti em “A Voz do Morro”.

Nós todos dessa luta somos o samba. Precisaremos sambar em cima deles o mais rápido possível.

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MarliMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – O buraco, blefes e as cartas embaralhadas. Por Marli Gonçalves

Sopraram uma ventania no castelo de cartas. Ele já estava bem desarrumado, é verdade. Mas agora nos vemos jogados em disputas que lembram bem os jogos mais tradicionais, começando pelo buraco, passando pelo mico, rouba-montes…

Jogadores que quando se reúnem no campo usam negras togas, 11 ao todo nessa partida inicial. Um, de casa, se adianta e bombardeia, surpreendendo com carta escondida na manga. No mundo da política e da Justiça, uma decisão judicial da mais alta corte abre uma estrada enorme no tabuleiro e tira do xadrez, pelo menos no tempo de muitas jogadas, uma figura proeminente do jogo nacional do poder. Um estrondo enorme, logo seguido de outras combinações, jogadas, trucos, pifes, pafes, empáfias. Pronto. Agora o jogo é “pegue o detetive” que no dia seguinte já aparece caçado por outra proeminente decisão levada à mesa, que pretende anular todas as suas investigações e jogadas. Um mais novinho do grupo por ali, pula a casa, adiando o resultado. Dois se movimentam no tabuleiro, enquanto os outros observam os movimentos, com cartas fechadas, alguns de outras salas, outras turmas. Segue o campeonato de braço de ferro.

O coringa aparece e discursa.  Fala sobre tudo, mais de uma hora, e a partida transmitida ao vivo se espalha mais do que telefone sem fio. A mensagem assusta o inimigo encastelado, que já não anda bem, nervoso, perdido, meio alucinado com uma equipe de aliados que sabe pode perder rapidamente e ser bombardeado e afundado como se estivesse em uma batalha naval, já que vários dos seus navios, mal posicionados,  já foram avistados. Imediatamente aparece de máscara, anuncia medidas desencontradas, e põe à sua frente um globo terrestre bem redondinho. Quer jogar War, mas um War contra si mesmo, tenta contrapor Estado contra Estado.  Perde a compostura, que já não era muita, ameaça, xinga, esculhamba. Cada vez mais vira piada, jogador marcado, birrento, pouco confiável.

O pessoal do Banco Imobiliário está atônito. O mercado em ebulição, sobe, desce, compra, vende, aumenta os preços. Muitas de suas peças estão imobilizadas, dado o fechamento obrigatório que os tira do ar, limita seus movimentos por muitas jogadas. Jogam dados para o ar, esperam novas cartas, recuam casas, marcam e desmarcam novas partidas.

O buraco é bem mais embaixo. O lixo se acumula sobre a mesa, sem que ninguém consiga arrematá-lo, porque está é muito ruim. Reúne declarações grosseiras, inimizades históricas, impossibilidade de comprar uma nova seleção, e a plateia que é obrigada a assistir de casa jogos tão ruins faz barulho, começa a buscar se reunir. O jogo de paciência, solitário, há muito acabou. A palavra que se forma na Forca é I M P E A C H M E N T.

A cada momento as jogadas ficam mais tensas, duplas se desfazem, canastras são desmontadas, as sequências tão necessárias desfeitas, o jogo geral fechado cheio de blefes, trucos, deslealdades, cartas escondidas, marcadas. Ninguém bate. O buraco vira cratera.

O problema é que não há mais só um morto para pegar e encerrar a partida, “bater”.  São mais de 270 mil mortos, e aumentando a cada minuto, sem que as vacinas apareçam para ajudar o pessoal da medicina que enxuga gelo para tentar salvar mais vidas de todos que estão vendendo o almoço para pagar o jantar.

Olha o mico. De verde, amarelo, azul e branco.

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ARTIGO – 2021, o ano que tanto desejamos. Por Marli Gonçalves

Nunca, creio, pelo menos desde que nasci, e isso já faz tempo, desejamos tanto um ano realmente novo e que ocorra uma mágica –as coisas sendo resolvidas, a pandemia controlada e que uma luz de consciência se abata sobre os governantes. Ou, então, que eles sejam abatidos, pelo nosso bem.

Vamos lá. Concentre-se. Minha ideia é que use aquela horinha mais sua, mais preservada, em que esteja nu, despojado, só você e a água do banho, seja de chuveiro, banheira, latinha, balde, bidê, canequinha.  Reflita. Pensa o quanto queremos nossas vidas de volta e o quanto estamos tendo por aqui dificuldades impostas por maníacos e pela ignorância para conseguir obter isso, além de tudo o mais. Ajude-nos a desejar com ênfase o fim dessa verdadeira guerra em que nos encontramos, diferente de outras, mas tão mortal quanto, e que já chega a 1,7 milhão de mortes em todo o mundo. 185 mil vidas perdidas só aqui no Brasil, e isto contando só oficialmente.

Temos de virar essa página, o mais rápido possível, e do jeito, a realidade e forma que as coisas andam, diariamente tantos desatinos, erros, “bate-cabeça”, teremos mesmo de apelar a algum outro plano. Aliás, outros planos, muitos, reais e espirituais.

Hoje estou querendo focar no espiritual. Sempre ouvi falar da força da mente humana e acredito que aqui, entre meus queridos leitores, poderemos fazer uma boa e positiva corrente para testá-la.

Que as crianças – aliás, não só elas, mas todos os que querem e precisam aprender – possam voltar sem medo às escolas, universidades, bancos escolares, que esse ano perdido precisa ser recuperado e já temos tantas deficiências nesse setor Educação.

Que os palcos possam voltar a brilhar, com arte, beleza e espetáculos que possamos ver e sentir além de telas de computadores e celulares que por mais que se tente não têm a menor graça.

Que todos possamos voltar às ruas, seguros, pelo menos quanto à essa maldita doença, já que outras formas de segurança ainda demorarão, disso não temos dúvidas. Que haja trabalho e prosperidade.

Que os idosos possam voltar a viver seus dias ao lado de quem amam, recebendo cuidados de suas famílias, beijos e abraços.

Aliás, que todos possamos de novo receber carinhos, beijos, abraços, ver os sorrisos, namorar. Que as mulheres possam procriar sem que os meses de gestação sejam de agonia e temores como vêm sendo. Que possamos nos tocar, ter prazer. Sem ter que sair desinfetando tudo.

Que os jovens possam sair, divertir-se, dançar até o chão – mas bem que eles podiam deixar esses bailes funk caírem em desuso por tanta perturbação que causam. Tantas opções poderão se abrir!

Que a Ciência, a razão, o bom senso, a Justiça prevaleçam sobre as trevas que tristemente encobrem nosso país e nos envergonham diante de todo o mundo.

Que as fronteiras se abram, e todos possamos viajar para lá e para cá. Quem foi, possa voltar. Que as portas de nossas casas novamente se abram para receber quem amamos.

Não. Não teremos Carnaval, o tal, aquele de escolas de samba, blocos nas ruas. Mas faremos um desses bem grande assim que conseguirmos a vacina que ainda pretendem nos negar. Ah, aí sim, dançaremos nas ruas como se não houvesse amanhã, mas haverá.

E pelo andar da carruagem, se tudo der certo – e vai dar, porque somos mais – logo nos encontraremos nessas ruas em protestos que precisam ser feitos e que estão apenas represados enquanto eles se aproveitam da fragilidade que tentam perpetuar, porque só assim poderiam continuar se mantendo.

Concentre-se. Vamos! Deseje.

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mARLI

MARLI GONÇALVES –  Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. Nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

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ARTIGO – Por favor, parem, agora! Por Marli Gonçalves

Parem! Essa exaustão contínua, diária, nos leva a caminhos sem volta, nos tornando – a todos – tristes, amargurados. Revoltados. Descrentes. Apavorados. Tudo já andava muito difícil, mas a pandemia chegou para tornar a situação brasileira praticamente insuportável pela insanidade que atinge os que deveriam buscar soluções; pior, aplaudidos por desinformados por essa impressionante turba de ignorantes gestados nesses tempos e que vêm saindo dos ralos.

PAREM

A senhora que cuida da portaria da galeria onde preciso entrar prepara o termômetro eletrônico para medir a temperatura. Ela está sentada. Por isso, me abaixo para facilitar, indicando a testa, o lugar correto para essa medição. Ela aponta para meu pulso. Digo para ela medir na testa. Ela teima. Digo, ou mede na testa, ou não mede, ok? Ela retruca: mas “dizem” que faz mal. Já não estou bem humorada, minha delicadeza desce o morro rapidamente, e respondo com palavras ásperas e em tom mais alto, chamando sua atenção para a bobagem. Cenas assim tornam-se comuns, dá medo até de sair de casa. Mas está decidido: se tiver a ver comigo, perto de mim, respirando o mesmo ar, haverá reação. Seja onde for: no prédio onde moro, no mercado, no transporte, na feira. Uma questão de defesa pessoal, para a qual sempre estarei pronta.

Fico chateada, mas é que ver o descaso, viver em um país que diariamente salta olimpicamente para trás sem que a reação possa ser vista se tornou um pesadelo. Minha paciência anda esgotada.

Enfim, não é só a paciência. Ando bem esgotada, e imagino que muitos de vocês aí do outro lado também estejam e possam entender do que falo com total sinceridade. Não quero por isso arrumar inimigos, ser atacada, xingada de comunistazinha, entre outras mensagens que recebo, muito menos perder leitores arduamente conquistados. Apenas alertar que estamos chegando a um perigoso limite e que precisamos falar sobre isso. Antes que seja tarde demais. E já estamos atrasados para essa conversa.

Quero, adoraria, inclusive, falar a um número maior de pessoas, atingir “não iniciados”, que isso é o que o jornalismo faz, na sua quase impossível busca por imparcialidade. Afaste ideologia, sentido de direção, esquerda, direita, esses conceitos antigos e ultrapassados. Pelo amor de Deus, parem de aceitar qualquer informação dessas, malignas, que correm pelas redes sociais que viraram campos de batalha: uns querendo ser mais famosos e ter mais seguidores que outros, a qualquer preço; redes que, mais do que papel, aceitam qualquer coisa. Parem de não prestar atenção ao que leem; e de ouvir contar e passar à frente teses estapafúrdias embrulhadas em papel brilhante. Respeitem a Ciência, a imprensa séria que está nas ruas buscando informar a realidade, nessa perigosa tarefa.

A ignorância, a maledicência, a cegueira, mata muita gente – não sujem suas mãos e consciências apoiando líderes malditos e suas equipes desgraçadamente desorientadas. Perceba quantos estão tombando, gente boa, amiga, importante, familiar, querida. Gente sua, minha, nossa. Por quantos estamos rezando fervorosamente para que sobrevivam. A situação se agrava de forma acelerada, assim como o medo dessa loteria macabra.

Apoiar o negacionismo, ir contra as regras de distanciamento, isolamento social, não usar máscaras, sair por aí em baladas, compras, esquecer o básico, não é “legal”, “liberdade”, desobediência civil, revoltinha nem revolução. É simplesmente brincar com a morte, com o futuro, com o próximo.

Continuando nessa toada é que, aí sim, vamos assistir o que é revolta, revolução social, desobediência civil – a verdadeira – e que já respiramos, sobressaltados, porque será só ela a solução caso essa situação se mantenha por mais alguns meses, assim, insuportável. E não será nem um pouco divertido, garanto; convulsões sociais não são divertidas.

Então, pensa. Juízes se digladiando entre si, tacando o livrinho da Constituição uns nos outros. Em um momento como esse não dá para perdoar e achar bonito – sem enumerar todos os fatos – um presidente e uma primeira dama que desrespeitam seu povo, inaugurando vitrines com roupas que usaram no dia que desgraçadamente tomaram posse no poder. Se possível, essas roupas deveriam ser destruídas. Não dá para aceitar que o arroz, feijão, o óleo, os alimentos da cesta básica, se tornem inacessíveis, e que sejam dadas regalias a fabricantes de armas. Não dá para aceitar que cargos do governo sejam negociados nas nossas fuças com o que há de pior na política nacional. Não dá para aceitar risadinhas irônicas, negros racistas, o meio ambiente depenado, a Cultura e o Turismo nas mãos de mais um desafinado, que pessoas que comandam a economia sejam tão insensíveis, o astronauta que vive boiando. Especialmente não dá para aceitar que o comando da Saúde esteja na mão de quem parece não saber nem onde está parado – e está parado bem em cima de decisões fundamentais para que possamos sair dessa situação. Brincando, sem vacinas, agulhas, testes, sem transparência. E sem corar.

O lugar que ocuparão na História haverá de ser cruel tanto como fazem por merecer.

Precisamos apelar para que sejam eles que estejam no finzinho. Ou, escute, não vamos aguentar. Isso não vai dar certo. Por favor, parem, agora!

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MARLI

MARLI GONÇALVES –  Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – A incrível marcha da insensatez. Por Marli Gonçalves

Marcha da insensatez acelerada, vil, dá a impressão que o nosso otimismo sobre como sairíamos “melhores” depois desses meses de pandemia fez efeito contrário: encontramos já agora a face de uma sociedade pior, egoísta,  jovens olhando para seus próprios umbigos com cabeças baixas e desmascaradas, as pessoas loucas, desvairadas, pensando que aglomeração é liberdade

MARCHA

Sei, a gente tem a impressão sempre que o clandestino, o escondido, o ilegal é muito mais interessante, divertido, emocionante. Nem adianta negar, que seria hipócrita. Quem nunca?…  Mas o que estamos presenciando não é apenas uma molecagem sem repercussão ou efeito, protestinho por liberdade, blábláblá. Trata-se de vidas que a ignorância está tirando aos borbotões. De uma doença da qual ainda pouco se sabe, mas que se vivo deixa, acrescenta sequelas, e tudo na loteria macabra. Pode pegar qualquer um, pelo ar que se respira. Arrependimento não vai curar depois que o leite derrama.

Vimos – e creio que ainda veremos – marchas incríveis pelas ruas, significativas, mas esse ano assistimos horrorizados apenas a da insensatez. Um país, cidades e estados com leis, planos, normas, indicações, mas quem organiza? Quem fiscaliza? Mesas separadas em restaurantes? Filas com pessoas distantes entre si? Nem na eleição. Medição de temperatura? Quando é feita! – desleixada, e o pior no pulso, porque as malditas informações falsas disseram que na testa dá câncer, e essa coisa pegou no país da ignorância. Não pode torcida no campo de futebol? Ora, sem problemas, o povo põe um telão lá fora e a festa corre solta. Ouvi dizer essa semana que a torcida do São Paulo F.C. foi multada. Aliás, alguém soube de alguma multa real, que tenha sido paga, que tenha havido punição?

Agora, vamos e venhamos: qual parte do Natal 2020 e passagem de ano que vocês não entenderam ainda que será o horror, que não será como sempre, que não poderá ser? Que loucura é essa de se preocupar com compras, enchendo ruas, marcar viagens, “remarcar” Carnaval para o meio do ano? Estamos todos tão desarvorados assim?

A história do uso das máscaras. Muita gente, isso é bom, tem usado corretamente. Mas e os narizes fora delas, as frouxas “para entrar ar” (e muitos vírus), máscaras nos queixos, no pescoço, nas mãos, como pulseiras, penduradas nos retrovisores dos carros? E a invenção das moderninhas, a tal confortável máscara de tricô que as blogueirinhas incentivaram? Claro, toda furada, muito refrescante, e já tá deixando é muita blogueirinha idiota doente. Quem seguiu, também.

(Parêntesis político, por falar em máscaras: cá entre nós, será que agora o tal Russomanno se deu conta do grande erro da assustadora máscara transparente de acrílico que usou na campanha que foi, graças a Deus, por ralo abaixo? No caso dele, cobrir a cara teria sido muito mais apropriado, se é que me entendem.)

Mas quem dera a insensatez estivesse só ligada a fatos da pandemia! Quem dera! Estão acompanhando a tentativa de acabar com os artigos “a” e “o”, trocando por “e”? O tal todes, ao invés de todos ou todas, como exemplo. Acreditam de verdade, mesmo, que assim estarão resolvendo as questões de gênero? Lembram do presidenta da Dilma? Como é que é? Tem gente querendo fazer lei para essa mudança?

Viramos o país do ridículo sem fim, do horror, do medo, da tristeza, do cansaço, com um desgoverno vergonhoso, mulheres violentamente assassinadas diariamente, negros mortos em cada esquina onde se defrontam com policiais ou metidos a, seguranças desclassificados, bêbados dirigindo tão desgovernados como nossos políticos e matando o que não veem pela frente, ou o que suas mentes ou olhos embaçados talvez vejam em dobro. Nosso meio ambiente destruído, apagões não só de energia, mas de qualquer bom senso. Oportunistas espalhados prontos a remarcar sem dó os preços de tudo, tentando retomar seus prejuízos, como se só eles os tivessem tido.

E vamos ficar preocupados com os as e os? Dançando até o chão nos proibidões, como se apenas uma interminável onda existisse, embora já vejamos a outra vindo atrás muito maior? Não tem nada de normal em tudo isso. Nada.

Pensando, talvez, em qual roupa branca usar no réveillon? Desculpem, mas creio que a cor negra será a mais apropriada como uniforme dessa insensata marcha na qual todos acabamos caminhando, empurrados, mesmo que contra nossa vontade.

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ARTIGO – Vacina: vai funcionar contra raiva? Por Marli Gonçalves

Mais do que uma vacina contra o coronavírus precisaremos insistentemente apelar aos cientistas e pesquisadores de todo o mundo para que, por favor, também desenvolvam vacinas, fórmulas, indicação de ervas ou remédios eficazes contra a loucura humana nesse período alucinante que vivemos. E pra que não tenhamos raiva do que aconteceu, acontece e terá repercussão durante ainda longo tempo. Não está fácil, especialmente por aqui, acompanhar o andar dessa carruagem desgovernada.

Ilustração dos desenhos animados, louca beleza cabelos compridos ...

Todos os dias tentamos acompanhar e entender gráficos, tabelas, cálculos, dados móveis e imóveis, flechinhas coloridas apresentadas sobre as tais últimas 24 horas. Um leve ar alegre dos apresentadores tentando passar algum otimismo informa, enfim, termos alcançado um platô, o cume. Mas quando vamos ver com atenção é apavorante, o cume do terror – como tão bem definiu claramente um especialista, essas curvas e tendências nos mostram nada mais do que uma “assinatura do fracasso”.  Lá em cima. Mais de mil mortes dias seguidos, outros milhares de contaminados dia após dia.  Isso contando só números oficiais, que todo sabem bastante defasados.

Os dados mostram números ora estacionando, ora dando pequenas marcha-a-ré, ou engates de primeira, como se fosse algum teste de direção para tirar habilitação. Como não diria, ou diria, Michel Temer, “não tem de manter isso aí”. O tal platô está lá no alto, não tem o que comemorar, relaxar. Mas não é o que o parece ser entendido como informação para a população deste nosso país atrasado, com tal ignorância de consciência social e de coletivo, além da sua enorme população tão carente de recursos que exigir compreensão, “protocolos” e mais sacrifícios chega a ser surreal e malvado.

E daí? E daí que é como se alguém embaralhasse de tal forma as informações, que ninguém sabe direito ou tem segurança é de mais nada. Vêm sendo liberadas atividades aqui e ali, as pessoas já estão tomando as ruas, o trânsito, os problemas do velho normal agora somam-se aos do tal novo normal. Tudo parece meio chutado.  Uma coisa pode abrir cinco horas, outras oito. outras só de dia; ambulantes podem, e já invadem com suas máscaras penduradas no queixo as calçadas das grandes cidades. Tanto pode e não pode como se houvesse alguma fiscalização real sobre o cumprimento dos tais protocolos. Tenho vontade de rir quando ouço falar em multas, punições de estabelecimentos; coitados dos quatro ou cinco escolhidos como flagrados, para dizerem que estão agindo. A real é que a Casa da Mãe Joana está com as portas abertas, escancaradas. E a economia, pálida, sem energia.

Enquanto isso, dá para acreditar? Não sei se temiam a reação ou alguma revolução popular nacional se não acenassem logo com nova data, transferiram o Carnaval de 2021, que cairia de 12 a 16 de fevereiro, e remarcaram para maio do ano que vem. Ou junho, ou julho, ou agosto, sabe-se lá.  Então, combinado: em maio do ano que vem, junto com noivas e mães, arlequins, pierrôs, colombinas, unicórnios, e um pouco mais de dias, que se junte logo às festas juninas, com seus alegres caipiras e quadrilhas. Só não fizeram o papel ridículo total porque ainda, pelo menos ainda, apenas cancelaram as festas da passagem do ano, não tentaram mudá-las de data. Mas não duvidem. Agora não duvido é de mais nada. Depois de transferirem, deslocarem, o Carnaval, tudo pode acontecer.

Datas, todas, inclusive, que dependerão sempre, exclusivamente, da existência de uma vacina. Vacina que a ignorância da negação já ataca, de antemão, com os mais estapafúrdios argumentos.

Enquanto isso um presidente infectado com o vírus passa as tardes pensando como vai aparecer para nos aborrecer um pouco mais, tinhoso que é. Corre atrás de uma ema em seu jardim encantado. Empunha nas mãos uma caixa de cloroquina, da qual aliás não se desgruda mais, e um dia saberemos a verdade atrás dessa história – como um maluco, esperando tomar mais alguma bicada, ser confundido com um prego. Sem ter ao que parece nada o que fazer – nesse desesperador momento – vai passear de moto, parando para conversar bem de perto e sem máscara com os serviçais de seu palácio.  Vive em outro mundo, assim como alguns de seus ministros irreais. O da Saúde, general interino, disse, repito, disse, falou, eu ouvi, você também deve ter ouvido, que assintomáticos não transmitem os vírus para outros, fora ignorar todos os alertas que recebeu e tudo que a Ciência propõe. E ainda tem o ministro Imposto Ipiranga querendo mais…impostos! E queimadas, e o mundo perplexo, e o tempo passando.

Não bastasse já estarmos precisando conviver com a gente mesmo de uma forma que jamais imaginávamos, e que é tão difícil, não temos um dia de paz, nem um dia que não nos envergonhemos de alguma fala, ato, decisão, ou que não tenhamos de fazer de conta que tudo isso vai passar logo. Não tem nem um dia em que não passamos pelo sentimento que tanto mal pode fazer, principalmente por nos sentirmos imobilizados e impotentes: raiva. Ainda não estamos babando, mas falta pouco.

Precisamos poupar energia para pedir uma vacina também contra isso, contra eles. E essa fórmula não parece que será dada nas próximas eleições, que essas –  interessante – ninguém teve coragem de cancelar.

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ARTIGO – Pesadelos no país tropical. Por Marli Gonçalves

O Sol escancarado, o céu azul, a temperatura amena, as noites fresquinhas, quase tudo o que a gente poderia precisar para ser feliz. Mas quem consegue? Com sobressaltos de dia, de tarde, de noite… e de madrugada! Os sonhos são estranhos, os pesadelos reais. Os dias, o tempo, o futuro, alterados.

Mauvais rêve | Mon petit nombril

Nas ruas, um bando de gente louca continua andando pra lá e pra cá sem máscara, ou com ela, digamos, posta ou pendurada em lugares bem estranhos. Precisa dizer que não precisa tirar para falar ao celular? Que máscara é feita para cobrir o nariz e a boca, os principais meios de transmissão dessa doença maldita que veio bagunçar o coreto mundial coma música tenebrosa do terror? Que o horror é invisível?

O inverno deve ser longo: arrebatou o verão, o outono e já se anuncia na primavera do ano que não mais esqueceremos. Ultrapassamos oficialmente um milhão de infectados, quase 50 mil mortos. Por essas e outras que parece que a cada dia, as coisas pioram, e não é só no número, mas com o bagunçado afrouxamento das regras da quarentena, com a forma que as informações (não) são entendidas e em um momento tão delicado.

Pegam o mapa e colorem: vermelho, laranja, amarelo. Regras são baixadas alegremente como se nosso povo fosse suficientemente esclarecido para segui-las sem a devida fiscalização, que todos sabem que não haverá, ou se ocorrerem, só pescam as sardinhas tentando fugir de tubarões. Um dia se fala uma coisa; no outro, já não é mais. Fora as medidas que só podem nos fazer gargalhar, tipo aquela de que os ônibus só poderiam circular com as pessoas sentadas – e que não levou em conta, por exemplo, que ninguém anda querendo sentar nem ao lado, nem no quentinho de outras pessoas. Tem quem prefira só pegar nos ferros; depois limpar as mãos. Por aqui em São Paulo, já caiu essa medida também. Não, ninguém mandou aumentar a frota, para evitar aglomeração e gente pendurada; e os horários escalonados estão bem doidos. As portas se abriram, e as pessoas precisaram sair, com sua fome, seus medos, suas obrigações.

Outro dia, onde entrei, encontrei uma figura, uma mulher – que deixo pra vocês bem imaginarem suas divertidas formas e triste tipinho –  toda metida, sentada no meio de mais gente, sem máscara, e que ousou ficar toda irritada e emproada porque perguntei na hora a ela se era possível que pusesse, então, um farol verde sobre sua “linda” cabeça, já que, ríspida, disse que já tinha contraído o vírus e não precisava mais usar. Ela fechou a cara. Portanto…Volto a perguntar: e vocês acham mesmo que sairemos melhores dessa? Infelizmente o que tenho visto está na linha do “cada um por si”, e já nem falo em Deus, porque nem Ele deve estar acreditando o quanto seu Santo Nome vem sendo clamado em vão.

Meu lado diabinha tem pensado seriamente em começar a espirrar e tossir bem perto desses seres, só de sacanagem. Mas na verdade me sinto – e vejo muita gente que conheço da mesma forma – cada vez mais preocupada e isolada, até para evitar aborrecimentos, já que não tenho um pingo de sangue de barata em minhas veias.

O mesmo sangue que simplesmente ferve ao acompanhar a escalada vertiginosa da crise política. Que chega ao cúmulo do cúmulo, acumulando as digitais de um presidente cada vez mais insano e sua família e equipes envolvidos em tudo de ruim, perdidos, tentando justificar malfeitos diários, muitos até mais antigos, revelados pela imprensa que odeiam com todas as forças.

Dizer que o país está à deriva é pouco: todo o futuro está comprometido. Olha as áreas de Educação e Saúde, os desatinos da área econômica, o relacionamento diplomático, agora também estamos mandando lixo para instituições mundiais, como é o caso do ex-ministro Abraham Weintraub. Os poderes se digladiam entre si, as forças militares se assanham ocupando alguns postos chave. Saqueadores de outrora se aproximam, sedentos e cobrando caro para serem muletas e esteios de poder.

Enfim, um pesadelo, como os que vêm ocorrendo em nossas noites de sono e insônia, desses, que estamos caindo em um abismo, sendo perseguidos, gritando por socorro sem seremos atendidos, pendurados numa corda puxada de um lado e de outro.

O problema é que a tal corda puxada e que se estica está mesmo enrolada em nossos pescoços. O que descobrimos todos os dias, bem acordados. Apavorados.

– “Pamonhas, pamonhas, pamonhas” – um carro com alto-falantes passa agora aqui em frente, percorrendo as ruas. Essa realidade é mesmo muito dura em seus sinais.

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ARTIGO -O novo (a) normal. Por Marli Gonçalves

Ora, não me venham falar nesse tal de novo normal, que as pessoas vão mudar, que aprenderam, que daqui pra frente tudo vai ser diferente, que isso só é letra de música. A realidade é que a natureza humana gosta de viver seus conflitos e que a luta pela sobrevivência ainda é um pisando no pescoço do outro

O que é "normal"?: duração e variação do ciclo menstrual

O estouro da boiada. Como não vivo no campo, aprendi essa semana, vendo como as pessoas estão se comportando logo aos primeiros sinais de relaxamento do isolamento social, e compreendi a expressão – foi o que me pareceu um estouro da boiada. Vendo as filas horrorosas, os apertos e ajuntamentos, as burlas das leis ordenadas, mas sem fiscalização em um país onde faz tempo se aprende a viver ilegalmente. Parece que ficaram os quase 90 dias em casa esperando o sinal tocar, como esperávamos o sinal do recreio na escola, e que passaram esses dias anotando o que comprariam com o pouco que ainda lhes restou, se é que ainda restou. Ou se apenas o que aconteceu é que ficou mais escancarada a possibilidade do fim do mundo, ou da instantaneidade da vida. Partiram para o tudo ou nada.

Nos noticiários vi gente impaciente esmurrando a porta da loja que se atrasou para abrir. Vi também alguns comerciantes reclamando do horário limitado e do número baixo de clientes, como se isso já não fosse de certa forma normal até bem antes da pandemia. Gente atabalhoada tentando tirar o atraso, e esse atraso correndo deles.

Diferente das filas criadas pelo confuso e desatinado governo para dar o auxílio emergencial e quando muitos correram para portas de bancos para tentar garantir aquele trocadinho, o que até valeria algum risco, desta vez se aglomeraram para comprar nas ruas e shoppings populares, bater pernas atrás de presentes para datas que já não marcam é mais nada. Houve também muitos que vieram com sacolinhas e sacolões para comprar o que venderiam em outras filas e aglomerações, em outros locais, nos paraguaizinhos de todo o território nacional.

Máscaras foram o hit da vez nas barracas dos camelôs, mas nem todos as usam no lugar, ou mesmo as usam. Estão faltando beber álcool em gel, como se esse pudesse ser servido em copinhos e, espirrados, fossem mágicos seus respingos. O resultado dessa loucura estará no futuro logo ali, nos números de novos  infectados e mortos, como se não bastasse já termos ultrapassado a terrível marca oficial de 40 mil brasileiros mortos e de quase um milhão de infectados, números ainda acanhados perto da realidade, subnotificados de todas as formas possíveis, inclusive oficialmente, na cara dura.

Repito: e vocês aí achando que uma nova sociedade surgiria dessa experiência que, inclusive, não tem qualquer data para acabar, sem vacina, sem remédios, só desatinos e improvisos. Como? Com um dirigente máximo insano?, que pouco está se lixando para a vida, e que agora – dá até vergonha de falar – incentiva seus seguidores chucros (que certamente poderão, com razão, serem chamadas de gado, se o fizerem) a entrarem nos hospitais para registrar e “denunciar” (!) camas vazias… Qual o próximo passo?

Esse presidente e sua equipe, sim, podem ser chamadas de anormais por não pararem um minuto de multiplicar a ignorância e o perigo. Obrigaram até a oposição a tentar  se organizar e chamar protestos nas ruas, antes ocupadas apenas por uns seres estranhos e feios vestidos de verde e amarelo abanando bandeiras antidemocráticas ou desconexas, montinhos perdidos que podiam ser encontrados tentando  se acasalar e se multiplicarem lá na frente do Palácio da Alvorada; aqui em São Paulo, na porta da Fiesp e em frente ao II Exército.

E os ladrões, espalhados, enchendo os bolsos com o super faturamento de equipamentos e insumos hospitalares? Aumentando preços como se realmente não houvesse amanhã? Bancos posando de bonzinhos nas propagandas e ignorando pedidos de socorro por créditos a juros mais baixos?  A lista é enorme e você aí já deve ter lembrado de mais algum fato entre esses que assistimos estupefatos.

Daqui de meu posto de observação estou é vendo muita gente brincando com a morte, como se ela já não estivesse bastante visível. E fico, acreditem, cada dia mais preocupada e temerosa com a forma dessa abertura precipitada, sem conscientização, como se o vírus tivesse tirado férias. Mas ele ainda está lá escalando a montanha em busca de asfixiar e tirar o oxigênio vital, todo feliz com os pratos oferecidos para sua alimentação, especialmente os pobres.

Para finalizar, não me venham falando em percentual de ocupação de leitos estar folgado. Ninguém quer vê-los cheios. Ninguém quer ficar doente. Não é possível que esse tal novo normal seja tão burro que não possa entender isso.

Normal. O que é normal?

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ARTIGO – Estamos todos ajoelhados? Por Marli Gonçalves

Ou estamos todos sufocados? No mundo inteiro, em fotos simbólicas, nas grandes manifestações contra o racismo, contra a morte, nos Estados Unidos, do negro George Floyd, sufocado pelo joelho de um policial branco por exatos oito minutos e quarenta e seis segundos, as pessoas vêm se ajoelhando.

E os joelhos que também podem matar adquiriram assim mais um sentido, o que não é de submissão a nenhuma autoridade, nem de humilhação. Ao contrário, são momentos de súplica para um basta. Resistência. Um basta ao desprezo pela vida humana, tão claramente exposto essa semana também pela morte, em Pernambuco, do menino Miguel, cinco anos, deixado em um elevador que o elevou, sim, mas ao nono andar de um prédio luxuoso de classe alta onde uma grade se desprendeu em sua procura pela mãe, e o projetou 34 metros abaixo.

Negro, criança, pequenino, havia sido deixado por minutos pela mãe sob os cuidados da loura patroa mulher de prefeito que a havia mandado passear com o cachorro da casa. Bastava que ela, a patroa, o tirasse do elevador para onde correu – mas ela, não, fez pior, apertou ainda o botão para que o elevador subisse. A mãe de Miguel, hoje com razão desesperada, pergunta: e se fosse ao contrário? Os joelhos da sociedade estariam sobre seu pescoço. Enquanto a patroa rica pagou uma fiança e está em liberdade.

João Pedro, 14 anos, negro, brincava dentro de uma casa em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, quando um tiro o atingiu pelas costas, vindo de mais uma desastrada operação policial, dessas que atira para todos os lados, especialmente em comunidades negras, pobres, e que tantas crianças matam, tantas pessoas matam.

Nós nos ajoelhamos para rezar por elas, sempre mais tarde de tudo que poderíamos ter feito.

Vidas negras importam, diz o movimento que se espalha pelo mundo. Vidas importam, todas, ainda não diz claramente o movimento que esperamos de joelhos aqui no Brasil. 35 mil mortos em poucos mais de cem dias da pandemia de Covid-19, negros muitas de suas principais vítimas. Um presidente que diz “E daí?”, que balbucia sem corar que “sente muito, mas todos vamos morrer”, como se essa frase fosse de alguma inteligência e não apenas demonstrasse o profundo desprezo pela população que governa e que é encaminhada para um matadouro, às vezes até com pauladas mesmo.

Como representante dessas vidas negras, é posto um ser asqueroso, que chama o movimento antirracista de “escória” e continua ali como se nada tivesse acontecido, sentado em sua cadeira na Fundação Palmares, talvez se achando de branca candura, sem se ver negro, sem se ver, sem fazer.

Eu quase já não consigo mais respirar esse ar nacional há mais de um ano e meio, desde que esse grupo chegou ao poder buscando asfixiar tudo o que é livre, sensato, conquistado. Que vem dando largos passos em direção a um abismo irracional e de ignorância aproveitando as mortes que incentiva em seus movimentos contra o isolamento social, aproveitando nossa perplexidade com atos e fatos que se sucedem dia a dia mais graves e cruéis.

Está tudo em vermelho e negro. A informação acaba sendo o vermelho sangue que corre nas veias do país que parece não mais querer acreditar nelas, as notícias, os fatos sendo revelados, como se estancar esse sangue com cegueira pudesse paralisar todo esse mal que nossos joelhos sangram de tanto que os dobramos para orar, com fé , em súplicas, pelo entendimento da importância de uma democracia, por Justiça e igualdade entre todos, raças, gêneros, classes, povos.

Ele implorava. Não consigo respirar. Não consigo respirar. Não consigo respirar. Por, repito, oito minutos e quarenta em seis segundos, ele implorou. Os joelhos que asfixiaram George Floyd, cena assistida, gravada, documentada, é muito mais do que apenas americana, muito mais do que apenas contra a violência policial ou o racismo. Ela é a forma sufocante da morte de quase meio milhão de pessoas em todo o mundo nesse terrível 2020.

Estamos todos já quase sem ar, e preocupados com o avanço do sufocamento democrático desse desleal grupo no poder. E o que parece é que esse poder já está tomado. Pelo fatos, posições, pelo silêncio nacional de um povo que se humilha, sendo que um percentual deles, infelizmente, se ajoelha paramentado em verde e amarelo por adoração a (mais um) ídolo de barro, onde ele apenas escorrega, sem cair de vez.

 

 

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ARTIGO – Alvoroço no Alvorada. Por Marli Gonçalves

Virou praxe. No nascer do dia, logo após o toque de cornetas, clarins e tambores nos quartéis ao amanhecer, na alvorada, surge um homem completamente alterado à porta de seu Palácio, o Alvorada. Ele vai abrir a boca, dizer sandices, um ou dois ou mais palavrões, gesticular, ameaçar a democracia e as instituições, pior, por isso ser aplaudido por um pequeno grupo fazendo alarido no seu quintal

Agora esse homem deu até de usar gravata ostentando o símbolo de suas loucuras. Pequenos fuzis em verde e amarelo, como tão bem registrou o genial repórter fotográfico de Brasília e da história, Orlando Brito. Outro dia mesmo, Brito, mais de setenta anos, foi ao chão, teve os óculos quebrados por essa turba que surrupia as cores e símbolos nacionais para enaltecer o obscuro, para tentar que o Brasil novamente anoiteça sem liberdade. Outro repórter, Dida Sampaio, derrubado e chutado.

Não era sem tempo que alguns dos principais meios de comunicação do país deixassem de presenciar essa cena macabra ocorrendo sob o brilhante céu da Capital da República, onde diariamente – além de registrarem esses descalabros – ao tentarem fazer perguntas, recebem de volta ironias, provocações e ameaças que vêm aumentando em escalada, sem que providências sejam tomadas para garantir minimamente sua presença no local. Essa semana muitos deram um basta.

Mas o homem não para. A cada dia mais violento, ameaçador, faz desse show matinal material para os vídeos que planta na internet para serem dispersados por uma equipe que coordena milhares de robôs e gente que se diz “patriota”, entre outros que, coitados, acreditam que os robôs sejam gente de verdade. Nessa semana vimos bem a cara de alguns desses seres digitais capturados na realidade da rede de uma parcela da Polícia Federal que se esmera pela independência.  O homem chiou, os olhos chisparam, mais disparates foram ditos, feitos, anunciados e ordenados em ameaças, inclusive de grave descumprimento da ordem constitucional.

A cada alvorecer mais preocupante, os dias nacionais quando já acordamos em sobressaltos, como se já não bastassem os milhares de mortos, os números que diariamente sabemos no crepúsculo dos dias em meio à pandemia, ao desencontro de ações, dos conflitos entre regiões, do vazio verde-oliva ocupado na Saúde por patentes e coturnos.

A vestimenta da Alvorada traz detalhes que acabam passando, como se lei não tivéssemos mais: talvez vocês não tenham reparado ainda que o homem da gravata com fuzis agora aparece cercado por seus seguranças ostentando máscaras de proteção com a sua figura carimbada, em um personalismo que conhecemos no século passado durante a ascensão do mal do fascismo e nazismo.  O “e daí?” usado alegremente na máscara da deputada que já estaria cassada em momentos normais. E naquela reunião do dia 22 de abril que agora, perplexos, assistimos, vários ministros e autoridades regurgitaram suas ignorâncias em alto e bom som, sem que tenham sido presos. Aliás, o que é compreensível, se ali tivesse havido voz de prisão entre uns e outros não sobraria quem apagasse a luz daquele salão.

O alvoroço não é pouco, e se distribui muito além da alvorada e do Alvorada, das manhãs, tardes e noites, causando inquietação no nosso sono das madrugadas, do Planalto às planícies; entre os Poderes, agora em isolamento social, engaiolados em lives e encontros digitais, reuniões extemporâneas, declarações e notas de repúdio em redes e folhas de papel que não duram minutos respirando até que outras tenham de substituí-las.

Fosse só o homem, mas ele tem os filhos enumerados, porque agora é moda, além do banheiro, o ir lá fazer 01, 02, que já era bem ridículo como expressão. Temos por aqui mais zeros, sempre à esquerda, nunca nos lugares onde no mínimo deveriam estar trabalhando, mas tentando desgovernar juntos, como clones do sobrenome que precisamos urgentemente, e antes que seja tarde, parar.

Nosso alvoroço – dos que prezam pelas liberdades individuais e pelo respeito – tem de começar a ser sentido lá no Alvorada.

Nossa alvorada haverá de ser muito melhor. Do jeito que está, sujeita a trovoadas, poderá nos levar a uma noite terrível. Mais terrível dos que os pesadelos que atormentam nosso sono buscando sobreviver, além da pandemia, além deles, e de todo o atraso e violência que claramente representam.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

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FONTE: OS DIVERGENTES – FOTO DE ORLANDO BRITO

ARTIGO – O epicentro de cada um de nós. Por Marli Gonçalves

Acostumada a vida inteira a resistir às inúmeras pressões, dificuldades, verdadeiras visões do inferno assistidas como jornalista, como mulher, na vida pessoal, admito: me encontro agora com o emocional abalado como há muito não acontecia. Pior: desta vez não está em minhas mãos a solução, mas na de todo um país, completamente desarvorado, triste, confuso, louco, e claramente nas mãos de uma equipe de desajustados. Mais perigosos a cada dia que passa.

Saxofonista. Pano de fundo preto. — Vetores de Stock © JonCrucian ...

Sim, é um desabafo. Sincero, necessário, para não explodir. Sinto também que falo por muitos e muitas em todos os cantos desse país perplexo e assustado, que tem medo não só da mais da morte ou da terrível doença que nos assola a todos, mas também do desenrolar do embaraçado (e embaraçoso) novelo político que torna tudo ainda pior. Não há nervos que aguentem.

Rompi em choro descontrolado pouco antes de começar a escrever. Assim. Ouvia o noticiário de tevê, com todo o cotidiano das histórias terríveis, emocionantes, dos números tenebrosos, dados sobre a ignorância das desobedientes aglomerações, as falas patéticas reveladas, a queda de mais um Ministro da Saúde em meio a esse caos, quando de repente ouvi um som magistral, um jazz. Não vinha da tevê, claro, que dali ultimamente as belezas andam afastadas.

Corri à janela e, lá embaixo, estava, na esquina, um solitário saxofonista que entoava as mais belas canções, Pixinguinha, Adoniran, Tom Jobim, Cole Porter. Junto comigo, outras janelas se abriram juntando seus sons a aquele som mavioso, esse despertar. As minhas lágrimas teimosas rolaram com gosto, como um desabafo necessário, que devia estar ali represado, querendo virar água, fluir.

Somos todos hoje nós mesmos um epicentro – essa palavra que tanto ouvimos – e que veio se mudando, da China, passando pela Europa, Estados Unidos, até nos atingir tão pesada e brutalmente. Somos, cada um de nós, um epicentro de emoções. Tão controversas quanto absolutamente incontroláveis.

É bonito demais ouvir as janelas se abrindo. As pessoas aplaudindo, várias mandando colaborações para aquele chapéu que o músico passava, para amealhar alguns trocados.  Creio que todos um dia merecem ouvir serenatas. Por aqui onde moro, São Paulo, sempre estranhei não ver ninguém nas janelas, as cortinas sempre fechadas. Precisou desse isolamento para descobrirem que elas podiam ser abertas. Para ouvir seja a música do saxofonista, do amolador de facas, ou o som do bater das panelas, dos protestos que se multiplicam, entoados pelos mais ativos. Muito além dos costumeiros alarmes disparados, das ambulâncias e sirenes, do trovoar, das turbinas do aviões que já não cruzam mais os céus.

SAX MUDOSair às ruas não dá mais prazer como outrora. Não há passeio ou destino legal quando se sai apenas por necessidade, para o médico buscando socorro, para o mercado onde os preços nos esmagam a cada dia mais, assim como na farmácia onde borrifam um álcool gel fedido em nossas mãos, como se fizessem algum favor. Não reconhecemos rostos amigos que passam de nosso lado, e os olhos, ah, os olhos descobertos! Nos rostos mascarados demonstram toda essa ansiedade, o pavor, e a tristeza. Claro, isso quando a máscara não está no queixo ou, às vezes, nos mais humildes, tão suja que dificilmente pode proteger alguém, seja de fora ou de dentro.

As insanidades, as frases irritantes, as revelações em gravações, vídeos, as ordens e medidas sem pé nem cabeça tomadas por governantes que se debatem uns com os outros, ver um povo tão dependente de um líder que é capaz de ficar cego, pular num cadafalso, num buraco aberto. E incitados por alguém que a cada dia parece apenas querer provocar a hecatombe, e que ele, sim, no momento é o epicentro de tudo que é ruim, e que nos traz ainda mais angústia. O epicentro do mal.

Como assim? Exames de laboratório feitos com pseudônimo inventado? Airton Guedes, Rafael Augusto Alves da Costa Ferraz, 05? Vocês já tentaram fazer algum exame, sem que tenham pedido inclusive documentos originais, com foto, carteirinhas e etcs? Como alguém pode achar isso normal, aceitar? Dois ministros da Saúde derrubados no meio de uma pandemia sem igual, em menos de um mês? A insistência em um remédio rejeitado pela comunidade médica internacional; o que ele pretende? Até onde vamos deixá-lo chegar? Até onde essa equipe desnorteada e má continuará agindo, enquanto estamos amarrados, isolados?

Precisamos abrir mais nossas janelas para conversarmos pessoalmente entre nós, e nem que seja aos gritos.

Nem sempre tem um saxofonista na esquina. Mas não seja por isso: sempre haverá um Hino pela Liberdade a ser entoado.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

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ARTIGO – Calar? Jamais. Por Marli Gonçalves

Todo dia, toda hora, todas as manhãs, tardes e noites de um momento tão doloroso como esse que vivemos,  ansiosos, preocupados com nossas famílias, amigos, com quem amamos, como sobreviveremos, temos de ainda ouvir a voz estridente e ver os atos de um presidente sem noção e deslocado da realidade nessa acelerada marcha de insensatez. Que ainda ousa gritar para a imprensa calar a boca…

– “Cala a boca, que eu não te perguntei nada”?

Como ousa? Quem pergunta, aqui, somos nós, presidente. E são muitas essas perguntas. Não queremos calar sua boca, mas interromper o quanto antes e enquanto ainda é tempo – e esse se esvai – a sua visível loucura, destempero, incapacidade de liderança. Suas marchas insanas. Suas aparições assombrosas. O terror das milícias que o apoiam, incentivando grupos, violência, agressões e ataques, as carreatas da morte e agora, nessa última versão, suas passeatas com engravatados contra a democracia, invadindo os guardiões da ordem constitucional. Não nos calaremos, mas o senhor poderá, sim, ser afastado.

Ter o poder não lhe fez nada bem, e parece piorar a cada dia, nessa ânsia de querer ter razão, querer se desvencilhar de culpas que já estão em seu colo, explodindo como bombas do Riocentro, daquele período de terror que tanto admira.

Olhe no espelho, senhor presidente. Pegue uma foto antiga sua, nem precisa ser de muito tempo atrás, pode ser de quando era apenas mais um deputado mequetrefe do baixo clero, que de vez em quando aparecia como boquirroto. Até que dava pro gasto. Hoje o senhor está acabado, envelhecido, transtornado, impaciente, seus olhos apenas transmitem ódio e ironia, transmitidos geneticamente inclusive aos seus filhos, os numerados. O ciúme de quem se destaca, indisfarçável. Sua face, rígida, pálida como a morte, não haverá máscara que a cubra.

bocafalanteO senhor não está nada bem. Já não consegue nem mesmo disfarçar. O medo, a raiva, a sua própria ignorância, despreparo para o cargo, para a indicação de sua equipe – já está tudo desfraldado na sua imagem. Nas imagens que produz. No asco que causa na maioria de nós. Nas piadas que já contamos sobre vocês todos, publicamente.

De nós, já está afastado. Somos gente comum, trabalhadores, brasileiros, parte de uma população apavorada com um vírus que se espalha pelo ar, de pessoa a pessoa, causando uma doença de difícil cura, com graves sequelas, e que mata sem dó pessoas de todas as idades, lotando hospitais, já obrigando a que profissionais de saúde escolham quem poderá ser socorrido, macabra loteria.

Qual é a sua? Diga logo a verdade, o que é que ousa pretender? Por que não para de nos prejudicar? De nos envergonhar diante do mundo? O país pagará esse preço por muito tempo, dias que já estão marcados na História.

Por que não dá ênfase à busca de mais testes em massa? À compra de respiradores e equipamentos e contratação de equipes que já faltam em todo o país?  Onde estão as medidas reais para salvar a economia, de que tanto fala? Porque não sabe o que fazer, admita.

O senhor entende que jamais dormirá em paz novamente porque o peso de muitas dessas mortes já recai sobre as suas costas e essa sua insistência em negar a importância do isolamento social, da quarentena, e que tem levado à desobediência da que ainda é a única medida possível hoje para ao menos conter o avanço da contaminação?

Não é capaz nem de ao menos perceber que a cada dia as medidas precisarão ficar ainda mais rigorosas, ao invés de serem relaxadas, e por sua causa? Os governadores e prefeitos um pouco mais sensatos obrigados a diariamente atropelar seus desfeitos e desmandos.

Por que o senhor, essa equipe e gente desconectada da realidade que o segue como zumbis, não veem o que acontece à cada medida improvisada, a cada crise institucional?

Repito: o senhor não está nada bem. E tudo que faz está sendo escrito, filmado, registrado, bastante comentado.

Eu não me calo. E sei que não nos calará. Nem adianta tentar, porque a cada dia somos mais e mais, contando agora com muitos dos que um dia até o apoiaram, e se sentem traídos. E que estão muito bravos, senhor. E desilusão não tem volta.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

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ARTIGO – Socorro, o piloto enlouqueceu! Por Marli Gonçalves

Vivemos agora um dos maiores e mais terríveis desafios da Humanidade – houve outros, claro, mas não estávamos por aqui. E se agora quisermos continuar por aqui, precisamos manter de qualquer forma ao máximo as medidas de isolamento social, quarentena, e de acordo com as organizações médicas mundiais. Os cintos se apertaram, mas o piloto não sumiu; apenas não sabe dirigir, e não pode sequestrar um país

Mad pilot with wings Royalty Free Vector Image

Ninguém está querendo ficar em casa trancado, com crianças fora da escola, sem saber o que vai acontecer, trabalhando como pode, ou não trabalhando, sendo obrigado a não trabalhar por não ter como nem onde. O importante é entender o que precisamos fazer nesse momento, e que não é coisa local, é pandemia, mundial. Grave, grave, muito grave. Com reflexos econômicos imensuráveis, um futuro nebuloso.

Mas estamos vendo tudo só piorar por aqui, inclusive por altas incontroladas de preços, abusos de toda sorte, picaretagens e falsificações em produtos médicos, falta de insumos, o Brasil mostrando sua cara e suas deficiências sociais, econômicas, trabalhistas, de saneamento. Milhares de pessoas que nem casa têm para se isolar, nas ruas, com fome, sem poder contar com os solidários voluntários para lhes dar uma prato de comida, ao menos uma vez ao dia, sem água pra beber, porque os bares estão fechados. E os mandamos lavar as mãos com frequência e usar álcool em gel, como se vivêssemos uma linda fantasia conjunta.

Ninguém quer isso tudo o que está ocorrendo, mas o tal piloto, de cuja mente, dele e seus apaniguados, jorra diariamente uma quantidade de ignorâncias tal que torna mais insuportável esse momento, quer fazer parecer que é indolência nossa. Repare. As medidas que precisa tomar, não toma; as promessas que fez, inclusive econômicas, não cumpre. Nos leva a uma situação verdadeiramente insustentável, inclusive diante do resto do planeta. Esse é o fato.

Governados por um Bolsonaro inepto que conseguiu mostrar de vez a única e principal certeza desse momento, a sua total ignorância, incapacidade de liderar, dirigir, pensar. Suas ações e aparições a cada dia apenas têm servido para aumentar a angústia de todos nós, nos deixando marcas, e nos deixando doentes de muitas outras formas além do coronavírus. Depressivos, violentados, atônitos, escandalizados, revoltados.

Parem, por favor, apenas parem esse homem antes que seja tarde demais. Ele ri de nossa agonia. Nos desrespeita, juntando esses grupos de ódio de ignorantes que mancham, eles sim, o nosso verde e amarelo. Com o vermelho de nosso sangue e o verde de sua bílis nojenta. Covardes que se escondem atrás de robôs, que agora batem bumbos de dentro de seus carros potentes em inacreditáveis carreatas. Que dizem que não querem o Brasil parado e que vão nos matar se obtiverem sucesso nessa empreitada suicida, já demonstrada como muito suicida, e em várias partes do mundo.

Desrespeitam os profissionais da saúde que estão na linha de frente do combate; desrespeitam a Ciência; desrespeitam a lógica. Nos levarão ao abismo se permanecerem nessas cadeiras, nos levarão a claras revoltas locais, farão reviver todas as agruras do século passado, escutem, acreditem. Isso não vai acabar bem. Entramos em um perigosíssimo vácuo de poder.

Não podemos ficar em suas mãos como estamos agora, sabendo claramente que os números de infectados e mortos estão totalmente subestimados, porque não temos a base, nem os testes que possam aferir a realidade, e ela é dura.

Nunca tive problemas com idade, a não ser agora onde querem fazer parecer que quem tem mais de 60 anos pode – e quase deve –  morrer, que não fará falta – alguns safados chegam a declarar isso textualmente, e ainda se acham brasileiros e que o dinheiro deles os salvará. Estaríamos marcados para morrer, não poder fazer nada? Não, somos a História desse país, temos o conhecimento capaz de combater o mal que tenta se instalar.

Sinto uma revolta como há muito não sentia. Sei que não estou sozinha. Todas as noites ouço o som dessa revolta nas panelas que batem e nos gritos das janelas de meu país, nas discussões que tomam as redes sociais. Mas é cada vez mais clara a situação: quando pudermos abrir as portas, e se possível até bem antes disso, agora, e antes que seja tarde demais, essa revolta precisa criar corpo, ser real, e arrancar dali o maluco que tomou a direção e está desgovernado, pretendendo nos matar.

No mínimo, de raiva.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

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