#ADEHOJE – CARNE CARA, E O MUNDO DA LUA DO PRESIDENTE

#ADEHOJE – CARNE CARA, E O MUNDO DA LUA DO PRESIDENTE

 

SÓ UM MINUTO – O presidente fala uma coisa e logo é desmentido. Parece que vive no mundo da Lua, alheio, e só interessado em polêmicas de direita e esquerda. A Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, botou na panela um ingrediente forte ao afirmar com todas as letras e números que a carne vermelha, que aumentou 35% nos últimos dias, não vai voltar ao patamar. Por conta de exportações, da China, do raio que o parta. Há campanhas nas redes apoiando o boicote ao consumo, e troca por ovos, frango, carne suína. O presidente tinha afirmado que era coisa momentânea.

Enquanto isso, na Bahia, o escândalo no Judiciário continua. Hoje foi presa a ex-presidente do Tribunal de Justiça, Maria do Socorro Barretos Santiago, na Operação Faroeste, que investiga suspeitas de vendas de sentenças em grilagens de terras na região oeste da Bahia.

Árvores! Em Santa Catarina assassinaram uma árvore rara de 535 anos para fazer cerca. Em São Paulo, elas caem às centenas. #árvorenãoélixeira, pelo amor de Deus!

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ARTIGO – Temer, por favor, sai daí! Por Marli Gonçalves

Sai daííí! Estamos muito arranhados. A verdade é que só uma coisa é certa: o país não resistirá a percorrer mais um processo de impeachment. Por favor, presidente, já que disse que não tem apego, deixa a gente seguir em frente enquanto o senhor se defende. Por favor, por você, por nós todos.

Se pudesse pedir algo ao papai do céu, ao anjo da guarda, a Todos os Santos, fazer mandinga, seria para que algo iluminasse a sua cabeça, presidente Temer, para que decida pela forma menos traumática, e por conta própria: renuncie. Não, calma, não estou fazendo juízo de valor, nem o condenando antecipadamente, embora seja bem difícil inocentar – acho que deve se defender com unhas e dentes já que garante que pode, e está – garanto – com um dos melhores advogados do país, Dr. Mariz, que pessoalmente tenho na maior conta, respeito e admiração.

Mas não governando; não pode obstruir a estrada como a terra de um muro desbarrancado pelo tremor, pela avalanche. Se não sair nada mais andará para frente; ao contrário, vai ter marcha-a-ré.

Como vê, em poucos dias já foram buscar e estão começando a passar com trator em cima do senhor. Várias vezes. Vai piorar, vão passar com uma locomotiva carregada, que – veja – apita e aparece logo ali depois da curva. Avalie: como vai continuar governando sem paz? Sem base? Com um monte de flechas apontadas, com manifestações dia sim, dia sim? Se já estava difícil sem tudo isso, imagine agora.

Sei que nesse caso o foro privilegiado que dispõe é de suma importância e o senhor se sentiria mais protegido. Mas, ao mesmo tempo, pense. Os foguetes atingiram sua tenda, furaram o teto, e até o STF já pediu sua investigação enumerando motivos horrorosos. Como ser presidente com esse fardo?

O senhor caiu no centro de uma teia maquiavélica, uma cama-de-gato, uma arapuca engendrada de forma orquestrada, premeditada. Admita. Se tentar se debater dentro dela, se enroscará mais e mais, e talvez não tenha chance de sair dessa com um mínimo de dignidade, que tenho certeza, gostaria de resguardar. Caiu o senhor, caíram até aqueles que já estavam caídos, e quanto mais todos se mexem mais o país para. Esse caso une a verdade aparecendo, sim, mas contada por manipuladores, regados a inveja, disputas internas, frutos de disputas insanas entre poderes. Vamos combinar: dessa vez com uma jogada záz-tráz, mortal.

Por favor. Considere isso. Seria uma decisão nobre, mesmo no meio de toda essa lama. Não espere que o tirem aos pontapés, como vai acontecer, seja no TSE, seja no tal impeachment, palavra que me dá até alergia em imaginar tudo de novo. Não dê chance a mais esta acusação – de ter falido um país. A História registra. O jornalismo é o dia a dia.

Mais uma vez, presidente, acredite, dou graças por não ter filhos – não saberia como explicar a eles esse momento que vivemos. Ficaria muito mais perturbada ainda se os visse assistir às cenas que todos estamos vendo. A começar pelos diálogos dos poderosos empresários delatores. Agora piorou, presidente! Os açougueiros foram mais longe ainda. Para se salvarem, aos seus luxos, se prestaram a papéis que não dá nem para dimensionar o nível de canalhice. Agora estão lá fora rindo muito de nossa cara, falando em português primário, enquanto o senhor ainda busca e usa rebuscadas palavras para se defender.

É com essa gente que está lidando agora. Não é mais só com os políticos submissos às suas ordens, os chucros. Não é só com os petistas e afins. Sinta como do dia para a noite foi sendo abandonado. Veja como o bombardeio foi muito bem sucedido, tramado.

Salve sua história, pelo menos a até aqui. Leu o jornalista Jorge Moreno? Mais ou menos: “Prof. Michel Temer chame à razão o presidente Michel Temer”. Acrescento: vamos nos agarrar ao livrinho da Constituição.

Se quer noticias aqui de fora, conto que está todo mundo muito, mas muito mesmo, muito p…, chateado, cansado, e isso é muito, mas muito mesmo, ruim. Ainda tem alguns resignados e à sua volta deve estar cheio de falsos amigos mais preocupados em se manter a salvo do que com o apoio que precisa. Aquelas deprimentes e tímidas palmas que recebeu durante seu primeiro pronunciamento dizem tudo sobre a solidão que enfrentará dentro dos gigantescos palácios.

Por favor, Temer, sai daí. Deixe que nos apeguemos ao pouco que ainda temos, permita que as coisas não piorem, gerando ainda mais miseráveis. Não nos use como escudo, vingue-se depois, mas deixe-nos passar por outros caminhos.

A pinguela ruiu. Salve a República!

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please3Marli Gonçalves, jornalista – Abismada. Preocupada. Impressionada. Envergonhada. Enojada.

Brasil, mostra a tua cara!

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ARTIGO – E agora, brasileiros? Que é que a gente faz? Por Marli Gonçalves

Está aturdido? Percebeu só agora a causa de o país estar nessa bancarrota, e nós bancarrotados? Na lista tinha nomes pelos quais você ainda juraria de pés juntos? Sinto muito. O que a gente pode fazer? Vamos ficar parados, só olhando, ouvindo, achando que tudo isso vai passar e o mundo estará livre de ratos?

O que os olhos não veem o coração não sente. Pois agora não só estamos sabendo, como ouvindo e vendo, em detalhes formidáveis, a roubalheira que parece não ter mais fim e que não temos noção de onde foi exatamente esse começo. Talvez quando nos orgulhávamos do tal “jeitinho brasileiro”. Ou quando começaram a aparecer de todos os lados ídolos de lama, salvadores da pátria, guerreiros dos trabalhadores, do povo, libertadores? Gente parecida com agentes de trânsito que só sabem de esquerda, direita. De uma vez por todas, presta atenção naquela máxima “quando a esmola é muita até o santo…”

Não podemos substituir o coentro pelo cheiro verde, como diria a natureba Bela Gil. Então eu te pergunto, porque também estou me perguntando, angustiada. O que a gente faz, objetivamente? Na prática?

Não quero ser chata, mas informo: primeiro, que vem mais, muito mais por aí, e as revelações serão depuradoras; segundo, que não será a Justiça – nem se ela tomasse anfetamina e de repente aparecesse toda lépida, ágil, e moralizadora – a resolver a pergunta sobre qual país estará saindo disso tudo, que direção tomar. Sozinho não anda.

Continuo vendo na tevê as mesmas caras de pau, com os mesmos bocas-duras, línguas de trapo, os mesmos partidos, com as mesmas cantilenas, como se não fosse com eles o assunto. Desmemoriados. Contra o soro da verdade que, parece, embebedaram os delatores executivos, um relaxante, antes que começassem a dar o serviço. Não posso ter sido só eu que detecto alegria e certo alívio nas declarações, naturalidade sincera, ironia cáustica e vingativa nos detalhes e nos apelidos. Ah, os apelidos! São um capítulo à parte. Definitivos. Eles pagaram, gastaram, mas também se divertiram. Extorquiram e foram extorquidos. Mas botaram no papel – até programa especial inventaram – tim-tim por tim-tim, até porque precisavam cobrar os préstimos. E negócio entre malandros tem leis especiais, fora dos círculos oficiais. Igual droga.

Uma amiga querida, muito querida, está tão indignada que não consegue pensar em outra coisa que não seja o degredo de todos eles, vejam só. Degredo. Lembra que há 500 anos Portugal mandou para cá tudo quanto é gente que não prestava, e que agora seria hora de devolver esses que parecem ser seus descendentes. Suei para explicar a ela que seria uma sacanagem com o local escolhido para largá-los. Como ela está muito brava, também deve ter pensado numa cela gigante, um dragão engolindo a chave.

O problema – e nisso ela concorda – é que nada disso resolveria a questão principal. Como salvar o país que derrete sob nossos pés? Esses envolvidos são lixo que não dá para ser reciclado, altamente infectados.

Como lidar com essa vergonha que nos assola diariamente, nos deixa tão atônitos que acabamos esquecendo que algo precisará mesmo ser feito qualquer hora dessas, e o momento é agora, now? As Organizações Odebrecht acabaram. O Rei pode ser deposto. Não sobrou nem a pedra fundamental.

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20170227_154333

Marli Gonçalves, jornalistaNão. Nunca vi nada igual. Hora que é bom ser como sou, sempre fui, meio do contra. Mas estou anotando todas as sugestões que me parecerem sérias, porque não dá para se acostumar jamais com tanta sacanagem. Lista delas.

Brasil, escandalizado, humilhado, na encruzilhada, 2017

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Nossa conta de luz virou uma sanfona. Um dia aumenta, em outro aumenta. Depois, dizem que vai cair e aumenta…

Conta de luz cai até 19,5% em abril

[O Estado de S. Paulo – 29/03/2017 Pág: B9]


A conta de luz do consumidor em todo o País vai cair até 19,5% em abril, por conta da devolução de uma cobrança indevida de energia atrelada à usina nuclear de Angra 3. A decisão, anunciada ontem pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), atinge todas as distribuidoras de energia, com exceção de apenas três empresas, a Sulgipe, a Companhia Energética de Roraima e a Boa Vista Energia.

A queda ocorrerá apenas em abril. Com a decisão, a conta de luz do consumidor residencial da Eletropaulo, de São Paulo, cairá 12,44%. No caso da Light, do Rio de Janeiro, a queda será de 5,3%. A Cemig, de Minas Gerais, vai cortar em 10,61% a sua tarifa de abril. A Ceb, de Brasília, terá redução de 5,92%. A queda varia entre cada uma das distribuidoras por conta dos diferentes prazos de cobrança da energia de Angra 3. No caso da Eletropaulo, por exemplo, o valor foi cobrado indevidamente por nove meses. A usina termonuclear está em construção no Rio de Janeiro e só deve ficar pronta a partir de 2019, mas acabou entrando irregularmente nas cobranças de conta de luz.

Os valores que serão devolvidos chegam a cerca de R$ 1 bilhão e foram devidamente corrigidos pela taxa Selic dos períodos cobrados. Pela decisão, a conta cobrada por sete distribuidoras do País vai cair entre 15% a 20%, dentre elas Celpe e a Energisa Sergipe. Outras 22 empresas apresentarão queda de 10% a 15%. Para 29 distribuidoras, a redução será de 5% a 10%. As demais 32 apresentarão corte entre 0% e 5%.

‘Erro inédito’. A diretoria da Aneel já havia determinado, em dezembro de 2015, que a tarifa de energia relacionada à Angra 3 não devia entrar na conta de luz, porque a usina – previsto para operar em 2016 – não ficaria pronta no prazo. Por um erro interno da agência, porém, a cobrança acabou sendo incluída na conta. Segundo André Pepitone, diretor da Aneel, trata-se de um erro inédito, mas a agência tomou medidas para que não volte a ocorrer. “Foi um erro, mas não houve má fé”, disse.

A correção dos valores indevidos tinha sido identificada pela agência nos reajustes tarifários da Energisa Borborema, Light e Ampla, que começaram a ter devoluções mensais por conta da cobrança irregular. A decisão da Aneel, porém, foi de zerar a conta de uma única vez, em abril. A agência vai criar mais etapas na análise do sistema tarifário, com novas áreas técnicas para homologar as cobranças.

Cobrança indevida. Em dezembro de 2015, a Aneel foi questionada pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) a respeito de Angra 3. A CCEE é a responsável por fazer a estimativa de custos da conta do recolhimento de recursos do Encargo de Energia de Reserva (EER). Cabe à Aneel aprovar esse orçamento. É por meio desse encargo, cobrado na conta de luz, que Angra 3 seria remunerada quando entrasse em operação. Pelo contrato de concessão, a usina deveria estar pronta e começar a gerar energia a partir de janeiro de 2016. Mas o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) não conta com a usina até 2021. Por isso, a Aneel decidiu autorizar a CCEE a não pagar Angra 3. Ainda assim, a cobrança foi feita e repassada a consumidores. O dinheiro ficou no caixa das distribuidoras de energia e não foi repassado nem à CCEE, nem à Angra 3.

Aneel explica comportamento de sobe e desce da tarifa de energia

Nos últimos anos, o consumidor viu a conta de luz ter um comportamento difícil de compreender. Em 2013, ela caiu 20%. Dois anos depois, subiu 50% e, no ano passado, caiu 10%. Para este ano, a tendência é de redução, mas de menor intensidade. Por que as tarifas de energia variam tanto e são tão caras? O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino, explica que a tarifa de energia é composta de vários itens, como a cesta básica. Um exemplo: a queda do preço do arroz e do açúcar pode ser anulada pelo aumento do custo do feijão e do café.

A mesma coisa acontece com a conta de luz. “Como o valor de cada item muitas vezes varia para cima ou para baixo, o mesmo acontece com a tarifa final”, explica Rufino. Uma vez por ano, a Aneel calcula o reajuste de cada distribuidora de energia. Cada concessionária tem uma data estabelecida. A Eletropaulo, por exemplo, passa por revisão no mês de julho. Nessa data, a agência levanta os custos de geração, que as mais diversas usinas têm para produzir eletricidade, como hidrelétricas, eólicas e térmicas.

A Aneel também calcula os custos de transmissão, de chegar até cada município, pois, às vezes, as usinas estão instaladas a milhares de quilômetros das regiões de consumo. Além disso, a agência orça os gastos para que a energia chegue aos bairros, através dos postes em frente às casas de cada cliente. São os chamados custos de distribuição. Também integram as tarifas de energia os encargos setoriais. Os encargos funcionam como uma taxa que arrecada dinheiro para que o governo possa arcar com programas sociais e subsídios a diversos setores, como a população de baixa renda, agricultura, irrigação e fontes de geração limpas, como eólicas e solares.

Depois de levantar todos esses custos, o governo ainda inclui a cobrança de impostos como o ICMS, que vai para Estados e municípios, e o PIS/Cofins, para a União. Na média, a alíquota desses dois impostos chega a 26%, mas ela pode ser menor ou maior. No caso da Light, distribuidora que atende consumidores do Rio, os impostos têm um peso de 32% na conta de luz. “Chama a atenção também a carga tributária, que historicamente pressiona o preço da energia de maneira muito significativa”, disse Rufino. O diretor-geral destacou, no entanto, que embora a tarifa tenha oscilado muito nos últimos cinco anos, num horizonte maior, de dez anos, é possível perceber que ela teve comportamento muito próximo de dois dos principais indexadores que medem inflação, o IPCA e IGP-M. “Não há uma explosão tarifária. É claro que há uma oscilação.”

Impostos. Para o coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da UFRJ, Nivalde de Castro, a carga tributária explica o alto custo das tarifas. “Com quase todo o País conectado, a melhor maneira de cobrar imposto é sobre a energia. É como o imposto do sal no passado”, afirmou. Boa parte do aumento da conta de luz pode ser atribuída ao fracasso do programa de desconto lançado pela ex-presidente Dilma Rousseff. Em 2012, o governo reduziu em 20% os custos de geração e transmissão de energia, mas se comprometeu a pagar indenizações bilionárias às empresas.

A promessa não foi cumprida e as indenizações ainda encarecem as contas. Para a advogada Mariana Amin, que atua em casos do setor elétrico para entidades de consumidores (Anace) e da indústria (Abiquim), a medida foi um desastre. “As tarifas hoje são fruto de desmandos e de políticas eleitoreiras do passado”, afirmou.

Distribuidora do AM recebeu R$ 3,7 bi indevidamente

A Amazonas Distribuidora, estatal da Eletrobrás que atende o Estado do Amazonas, recebeu indevidamente R$ 3,7 bilhões dos consumidores de energia do País, entre julho de 2009 e junho de 2016. O dado foi apurado pela Aneel, com dados coletados desde 2011. O repasse indevido está atrelado à Conta de Consumo de Combustíveis (CCC). A orientação na agência é de que o Grupo Eletrobrás, que gerencia o encargo, assuma a responsabilidade por ressarcir os valores. / A.B.

ARTIGO – Raiva do nada, raiva de tudo. Mas não podemos babar. Por Marli Gonçalves

HomemMulherPauMacarao_gifPreste atenção enquanto é tempo. Raiva é sentimento ruim, que faz mal à saúde e especialmente ao fígado, de onde não podem sair suas explosões porque se perdem em violência desmedida. Estamos vivendo um momento muito delicado. Decisões não devem ser tomadas com a cabeça quente, mamãe sempre me dizia. Para não se arrepender depois do tarde demaisdoodle-style-ticking-time-bomb_small

Aprendi muitas coisas apanhando da vida. Continuo aprendendo, apanhando, mas sempre tentando evoluir, ter um prumo, certo equilíbrio, um mínimo de coerência. Para isso, antes de mais nada, como todos, preciso controlar a raiva. Todo dia, que raiva não é coisa que se cure de vez nunca. Aliás, convenhamos, nunca faltam coisas para nos dar raiva, muita raiva. O caso é como lidar com isso, quando o sapato está apertado, as bolhas estourando, e alguém vem e ainda pisa bem pisadinho. Garanto que tem tanto disso para cima de mim que chego a pensar que apertei- devo ter apertado muito – o pescoço ou outra parte de algum padre em alguma encarnação.

Raiva é querer quebrar tudo (se fizer barulho, estilhaçar, ribombar, então, quanto mais melhor! – Vira show), ficar com sangue quente, bater na mesa, chutar tudo pela frente, fazer cara feia, ser agressivo. Existe porque parecemos maiores, mais fortes e intimidadores quando estamos com raiva, mas isso é bobagem, e em alguns casos mais radicais pode ser apenas mera covardia. Cachorro que ladra não morde; se tentar, pode levar uma paulada. Cachorro com raiva é doença. Raiva em gente é sentimento que pode transbordar perigoso. Canaliza!

O Brasil está na corda bamba, em uma das piores crises de sua história, com as dificuldades se avolumando nas mãos de um governo incompetente e cheio de chupins. Mas digam-me do que adianta, dois, três pingados raivosos irem berrar impropérios na cabeça da presidente, nos Estados Unidos, se filmando para mostrar para a galera? Qual é o bem que faz sair xingando petistas em restaurantes e locais públicos? O que adianta enfiar menores na cadeia se nada é feito para ajudá-los a viver sem roubar, traficar, matar, e imitar os mais velhos? Do que adianta ficarem se xingando nas redes sociais, se ameaçando, inclusive escrevendo umas bombas que primeiro atingem a eterna e coitada língua portuguesa?

irritados-620x450Só aumenta a intolerância, e estamos andando para trás nesse quesito de forma expressiva.

Se a Marieta Severo é otimista, qual o problema? Se o Zeca Camargo achou excessivo o show em torno de uma morte do moço que – sim, uma parte do país não o conhecia, eu, inclusive – no que isso vai mudar nossas vidas? Por que mudar o nome das pessoas escrevendo com xingamentos, gostar e aplaudir quando algo de mal lhes acontece, desejar que morram? Isso não é humano. Não é sapiens. Isso é apenas ser troglodita.

raiva2Luz subindo, comida subindo, remédios subindo, tudo subindo. Dinheiro sumindo. Moro aqui, vivo em cidade grande que tem sido vítima diária da incompetência desses seres que andam corroendo nossas esperanças. Todo dia uma notícia ruim, esquisita, uma parte do tapete que se levanta mostrando muita poeira. Sei bem o que é ter raiva. Vivem me atiçando.

Mas descobri, dando uma estudada sobre ela, que é muito particular. O mundo exterior é apenas uma desculpa. A raiva começa e acaba na gente mesmo. Pode acabar até matando seu hospedeiro, há estudos e filosofias que garantem: raiva e outras emoções correlatas como o ressentimento, frustração, indignação, irritação, amargura e ódio, são estados emocionais que podem afetar muito o fígado, um filtro que fica, portanto, entupido, na minha simplista explicação.

Raiva é coisa séria. Se guardar, pode explodir, e sem qualquer controle. Se exalar, pode fazer uma catástrofe. Tem quem carregue raiva por tantos anos que vira deprimido, anda por aí devagar, fala até com voz suave, mas cheia de raiva por dentro que você percebe só no olhar. Mas como ninguém nem mais se olha!…

Pronto, dei a volta. Tudo isso só para dizer uma coisa: raiva não muda um país.

Não adianta só gritar, nem esculhambar. Tem de agir. E para isso precisaremos ter calma, muita calma nessa hora. Em política, até raiva é combinada, dizia Ulysses Guimarães, com toda a sua sabedoria.raiva

São Paulo, 2015

Marli Gonçalves é jornalista – – Pode ter raiva. Só não pode babar, nem espumar. Nem morder ninguém. Nem pensar que isso vai resolver esse problemão que enfrentamos.

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Viu essa? Congestionaram o sistema da Justiça para saber quem era o maluco que não queria ver o Lula preso de jeito nenhum

jail 4Pane no sistema
A busca pelo HC impetrado a favor de Lula foi tão grande que derrubou o sistema de consulta processual do TRF da 4ª região. Decretou-se, assim, segredo de justiça durante 48 horas no famigerado processo, para que o sistema voltasse ao normal. Por esta razão, ao consultar o número do processo na Corte não é possível encontrá-lo.

FONTE: migalhas

ARTIGO – Pé ante pé, orelha em pé, pontapé. Por Marli Gonçalves

kitchen25worlddoorEsses dias muitos de nós adoraríamos poder ir bem devagarzinho, pé ante pé, tentar escutar algumas conversas que estarão ocorrendo atrás das portas; dias com aprovação tão baixa e reprovação tão alta fazem burburinho, e a água começa a ferver na chaleira. Quem ouvir alguma coisa, souber algo primeiro, avisa o outro. Não podemos dar com os burros nágua, esse povo aí não vai querer sair com as mãos abanando

“Eles”, o que engloba todos os “eles”, para lá e para cá, direita e esquerda, centro, acima e abaixo, não vão ficar parados na beira do precipício esperando que uma avalanche chegue e os leve de mãos dadas para o juízo final – aliás, falar em juízo, juiz, ter juízo já os arrepia. Se havia um barco sendo construído, veja só o movimento intenso lá no convés. Tentam saber com quantos paus se faz uma canoa para se jogar ao mar. No mesmo barco? Que nada. Muito menos ficar de gaiato no navio, ouvindo cantos de sereia que, bem, encantadora não é.

Será questão de sobrevivência, simples assim, e aí reside o bode. Enquanto os mosqueteiros gritam todos por um, um por todos, ouvimos aqui um Salve Geral, um salve-se quem puder, o último me diz como foi, homens ao mar. Teve uns safanões essa semana e a política brasileira deu uma deslocada, no ar, tempo e espaço – não há como negar que umas vigas perderam a sustentação.

Criador e criatura não se entendendo, o que era privado tornando-se público, quem se dizia valente atrás de outros que assumam sozinhos seus próprios guidões e direção perigosa. Não é pouco, aliado aos números e percentuais apresentados em gráficos inquietantemente claros quase furando o chão com suas setas apontando quedas.

Cadê a expressão popular? Tem barulho de panelas, de assobios, de gritos de protesto, de penas farfalhantes de aves de bico, de uivo de lobos que – e não é de agora – já estavam trocando de pelo, assim como as cascavéis que vêm insistentemente balançando o guizo. Os cordeiros andam acanhados e perplexos: podem ter sido descobertos pulando e povoando magistralmente o sonho de alguém, e neles, nos sonhos, estavam contando as cédulas que também receberam lá em histórias de outras eras.

A panela está de novo no fogo lento, de onde tinha sido tirada para esfriar um pouquinho. Mas agora fica claro que estavam mesmo só cozinhando o galo. O nosso.

PÉ ANTE PÉ “Eles” tirarão rápido seus cavalinhos da chuva, ouviremos o tropel. Rasgam seda, juram de pés juntos. Todos nós só nos entreolhamos, boquiabertos, atônitos. De onde menos se espera é de onde não vem nada mesmo.

Estamos num mato sem cachorro, nem amarrado com linguiça. Fundamental, antes de mais nada, será corrermos para achar e separar cuidadosamente os ingredientes que mais faltam no nosso ragu: gente com capacidade e equilíbrio. Vambora procurar mais rápido, identificar quem são. Rápido, antes que sejamos nós os procurados, em cartazes, novamente afixados nas ruas e praças.

Pode dar jogo: com algumas dezenas de líderes reais, natos, de bem, do bem, pessoas com propostas, sejam cientistas sociais, economistas, comunicadores, cidadãos de índole e leais. Precisaremos apostar em uma formação de equipe, em quem se sobressaia com algum potencial maior.

Os que andam por aí pondo a manguinha de fora estão mais por fora que umbigo de vedete.

Vamos precisar mandar muitos pregarem as bobagens que impunham em outra freguesia, mas com o absurdo momento de intolerância que passamos precisaremos pé ante pé também ouvir o que é que tanto se prega, o que essa freguesia guarda, que exércitos são esses que se formam alinhados por uma fé na mentira.

Tenho fé. Cruzo os dedos, faço figa. Não prosperarão.

Aprovação baixa, reprovação alta. Não vai mesmo dar para deixar passar de ano. Vamos ter de chamar o reforço. Ninguém quer mais essas anotações em vermelho no boletim.

São Paulo, 2015

Door_01_ReactionsMarli Gonçalves é jornalista – – Combinado que um avisa o outro quando ouvir alguma conversa que preste, alguma movimentação que valha a pena, seja séria? Aliás, sabe usar o copo para ouvir através? E mandar sinal de fumaça? Porque nossa telefonia anda péssima e a gente pode estar grampeado; pode até ter boi na linha. Olha só como andam as coisas.
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Outra, do Lauro Jardim. veja que interessante o caminho dessa dinheirama nas mãos dessa senhorinha. Petista, of course

moneyA candidata humilde

helena ventura

A Gráfica e Editora Brasil, do notório Benedito de Oliveira de Neto, o Bené, preso pela PF na semana passada e solto ontem, recebeu nada menos que 40,1 milhões de reais nas eleições de 2014.

A maior parte do dinheiro que entrou no caixa da gráfica de Bené não veio, no entanto, de seus prestimosos serviços ao PT mineiro e à campanha do governador Fernando Pimentel.

O PT de Minas Gerais pagou 3 268 197 reais à empresa do operador; o PSB do Distrito Federal, outros 9 950 reais.

Dos 36,8 milhões de reais restantes, pagos por candidaturas individuais, nada menos que 36,2 milhões de reais vieram de Helena Maria de Sousa, ou Helena Ventura, uma enfermeira de 61 anos que se candidatou a deputada estadual pelo PT-MG e sequer teve seu registro aceito pelo TSE.

Os pagamentos foram feitos a título de “Publicidade por materiais impressos”.

Helena declarou 290 000 reais em bens à Justiça Eleitoral e pretendia gastar, no máximo, 3 milhões de reais em sua campanha. Até outubro de 2014, a candidata arrecadou apenas 26 930 reais, dos quais 1 450 vindos da gráfica de Bené, 22 300 do PT mineiro e 3 180 da Sempre Editora.

De onde veio tanto dinheiro para santinhos e adesivos, não se sabe.

Difícil encontrar um sujeito mais enrolado que Bené, mesmo no PT.

Por Lauro Jardim

ARTIGO – Desmanchando no ar, pisando em ovos. Por Marli Gonçalves

Chove lá fora. E aqui as coisas estão bem quentes. Se gritar, não sobra um, mermão. A sensação de que o que era doce se acabou, que ninguém a ama ninguém a quer está tomando conta do ar. Cada um quer ouvir uma música, só tem uma vitrola, e ela está arranhando o disco.

protestos!As estruturas se abalam. As certezas se desfazem. Se fosse ontem talvez ainda desse até para dizer que está tudo bem, que não é nada, que isso vai passar logo, que é só reflexo da eleição, reeleição, culpa do FHC ou da Costela de Adão, arrumar um ou dois dados sobre como diminuiu o número de miseráveis no Brasil. Mas hoje não dá mais. Não dá mais para brincar com o assunto, relevá-lo. O que já não era lá muito sólido se desmancha, e ninguém sabe como é que vai tapar esse buraco. Ninguém, temo dizer. As horas passam, avançam. Parece que há uma bomba-relógio programada, mas não aparece quem saiba desarmá-la, conheça a senha, quem saiba se corta o fio azul ou o vermelho. O tique-taque está cercado de curiosos querendo meter a mão. Perigo, perigo – diria o robozinho.

people-confusedmanA coisa toda efervescente agora vem de baciada, de montinhos, não é mais isolada, é todo dia, toda hora, uma facada, uma novidade dispensável, uma surpresa desagradável, uma revelação atordoante, uma delação premiada, combinada, preparada, apontada, fogo! – e o fato é que o inferno astral do Brasil se adianta célere. Se a gente pudesse fazer igual na novela e ficar escutando atrás das portas todos os murmurinhos que se formam, será que poderíamos fazer alguma coisa? Juntar algumas pontas desencapadas? Achar alguma tese com cabeça, corpo e membros?

Precisamos das mágicas no absurdo, como diria o Lobão. Mas até esse agora está ocupado agitando massas, pegou gosto pela coisa, só não consegue juntar todos os ingredientes. Até para fazer coxinhas é preciso descascar e amassar bastante batata.

“…Chove lá fora e pode ser a gota dágua para o pote até aqui de mágoa. De muito gorda a porca já não anda/ De muito usada a faca já não corta/ Como é difícil, pai, abrir a porta/ Essa palavra presa na garganta/Esse pileque homérico no mundo/De que adianta ter boa vontade/Mesmo calado o peito, resta a cuca”… O Chico está por aí disfarçando, talvez cantarolando em alguma rua europeia, em contato com o noticiário, já que agora todo dia somos manchete internacional. Parece que o mundo quer acompanhar bem de perto os rolos para dar bem risada na nossa cara, daquela empáfia de anos atrás, com seus cabelos de marolinha.

Como se ninguém tivesse responsabilidade pelos fatos, chegamos aqui na areia movediça, quase no fundo de um poço de onde pode sair um pré-sal, mas alguém tem de ir lá buscar; para isso precisa trabalhar, ser líder, e esse líder precisa nascer.

Sempre achei que essa história de ter dois presidentes, um oficial e outro volitando ao redor, não ia dar certo. Mas não imaginei que até aí o vidro fosse partir e tão rápido. Fogo amigo incendeia, é ainda mais inflamável quando se aproxima do aumento da gasolina, dos impostos, dos cortes, dos apertos, das greves, das promessas sociais esquecidas e metas descumpridas.

MULHER procuraHá uma imensa luta pelo poder sendo gestada de forma intestina já que não há útero que suporte tantos chutes como os que estão sendo dados aqui fora, tantos bebezões querendo mamar, encontrando apenas uma mãe ranheta, sempre irritada, brava, cheia de marra e birra, fazendo beiço, pisando duro.

Somos espectadores. Somos atores e roteiristas. As nuvens cada hora formam um desenho e a luz incide sobre algo criando novos ângulos e visões. Neste teatro, a peça é interativa, e estamos sendo chamados para subir ao palco, ou mesmo opinar de onde estivermos. Se quiser ser espontâneo, participar, falar da plateia, será bem-vindo. Levanta, não fica sentado, pede o microfone, chame as luzes dos holofotes para si. Faremos um jogral. Chama todo mundo.

Vamos tentar fazer uma apresentação inesquecível, impecável, orgulhosa e bem-humorada. No final seremos aplaudidos de pé.

São Paulo. 2015. Ninguém queria estar vendo isso.people

Marli Gonçalves é jornalista – Abram-se as cortinas. Brasil! Mostra tua cara. Quero ver quem paga. Pra gente ficar assim. Brasil! Qual é o teu negócio? O nome do teu sócio? Confia em mim.

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ARTIGO – O povo vai para a rua. Por Marli Gonçalves

PASSEATASpasseataO povo vai para a rua? O povo vai para a rua! O povo vai para a rua. (O povo vai para a rua). “O povo vai para a rua”. As mesmas palavras podem ter sentidos tão diferentes dependendo da pontuação, do lado que se fala, de quem, onde se fala, quantos falam, do tamanho da exclamação e da dúvida. Mas precisamos pagar para ver?Pagar para ver. Ver quem é que recebe para bombardear ou para apoiar, ou quem não recebe, mas também não pensa e sai por aí esquecendo a argumentação sólida em casa. Quem é maria-vai-com-as-outras. Quem vai até o fim. E – o que anda preocupando muito – quem sabe exatamente o que está pedindo e o que significa. Pelo que ando observando, se fosse um quesito para liberar a entrada na manifestação, seria vetado.

O povo vai para a rua. Já está havendo demissões em massa. “Rua!” – é o que milhares de trabalhadores de alguma forma ligados às empreiteiras e à Petrobras estão ouvindo, em muitos cantos do país. Igual castelo de cartas. Para achar pré-sal precisa fazer isso, isso e aquilo, que não está sendo feito e então não precisa construir plataformas, nem navios, nem estaleiros, nem canos de transporte, nem engenheiros, nem secretárias, nem office-boys, nem seguranças, nem ninguém nesta linha de produção. Todo esse mundo também não vai mais comer, comprar roupas, investir, viajar, se hospedar, e la nave va… A cidadezinha ou região que ia ser o centro do crescimento-desenvolvimento-captação-recursos ficou a ver navios, os que não serão construídos, fantasmas. Os que ouviram Rua! e já estão nela, por sua vez dirão “Rua!” para seus próprios funcionários e vão deixar de comprar mais coisas que deixarão de ser produzidas na escala porque apertem os cintos: o consumidor sumiu! Tá ouvindo o barulho? É muita gente, talvez você ainda não tenha se dado conta. Olha só. Uma das empresas, só uma, tem 120 mil empregados. O povo vai para a rua!

COMO A GENTE SE SENTE...O povo vai para a rua! Pelo menos é o que vemos um monte de gente combinando por aí, principalmente no Banco Imobiliário, ops!, quis dizer na internet e redes sociais.

Não queria, mas não estou pondo fé. Primeiro, talvez porque para mim é claro que estamos mais divididos que bandas de laranjas a ser chupadas por boquinhas ávidas. Depois, marcaram para um…domingo! Domingo lá é dia de protestar contra o governo? A gente nunca vai aprender? Nunca mais vamos ter uma oposição organizada e esperta como a que conseguimos quando pusemos abaixo a muralha da ditadura? Ou, outro dia mesmo, em 2013, qual foi o dia mais legal das manifestações? Uma segunda-feira, ora pois pois.

Mas o pior é que o samba pode atravessar – e feio – na avenida. Aqui em São Paulo, na Avenida Paulista, para onde está marcada, o prefeito que adora dar tintas, mui sutilmente trancou a avenida com sua obra de faixas para bicicletas, uma espécie de fixação que ele tem, parecida com a que o Suplicy tem com o seu renda mínima. Mas Suplicy é louco manso, só perturba a vida das pessoas para lá e para cá cantando Bob Dylan com seu livrinho debaixo do braço. Esse prefeito aqui, de esgueira, na maciota, tornou a Avenida Paulista inóspita para manifestações, com suas pedras e blocos, buracos e máquinas. Ah, os ambulantes que estão tornando inviável andar por ela – esses ele deixou porque ajudam bastante a atrapalhar, uns hippies sem noção com o relógio parado há cinco décadas, a grande maioria. Nossa, é mesmo! As maiores manifestações têm sido contra o partido dele! Que coincidência. Como não tínhamos pensado nisso antes?

Mas, mais do que esses problemas físicos ou de dia da semana, o que mais torna nebuloso o que vai acontecer nos próximos dias é o que podemos chamar de sujeito difuso, no caso, confuso também. Impeachment? Intervenção? Oi? Tão lókis? Não beba antes de tentar se manifestar. Formem outro bloco, pelo amor de Deus! Deixa o bloco de agora – e eu garanto que se assim for vai bombar – só formado por gente que quer protestar contra o governo por motivos que todo mundo quer protestar contra o governo, até quem nele votou, e, se bobear, até quem dele faz parte, por vergonha. Não tem unzinho ser contente!

Se for assim, beleza, juntará quem estiver protestando contra a falta de água, as incertezas da energia elétrica, o preço acachapante das coisas no mercado, nas feiras, o preço da carne, a falta de escolas, creches, falta de poda de árvores, de limpeza nas ruas, saúde em pandarecos, os aumentos das contas de luz, telefone, gás, água, ipeteús, ipeveás, ierres, sem qualquer compensação, muito ao contrário – cada dia uma “Elza” nova é revelada, um passou a mão em algo de algum.

Ok, quer “falar mal da Dilma”? Pode. Mas não precisa pedir impeachment, a cabeça dela na bandeja, e uma inevitável instabilidade política que adviria disso, sem dúvida alguma. Vai lá, chama de gorda, feia, descompetenta, descompensada, mas pensando sempre em melhorar o país. Que ela se ligue e melhore, e que o partido a que ela pertence tire essa venda que insiste em usar para cobrir os olhos diante da crise aqui já na ponta do nosso nariz, tipo espinha dolorida. Crise de consciência, de vergonha diante do mundo, de tantas pechas que pregam na Nação, desses modelos ultrapassados de esquerda X direita, de teses econômicas amarguradas.

Leitores queridos, por favor, leiam bem o que estou querendo dizer antes de querer me esganar, esteja você de que lado for dessa pendenga. Eu mesma acho estranho meu esforço e o de muitas pessoas tentando incutir um certo bom senso, chegando até em algumas horas a defender alguns que formam o governo. Tipo essa agora do Ministro que recebeu os advogados, e que alguém tem de ir lá beliscar ele, falando no ouvido “Quem muito explica, cada vez se enrola mais. Fica quieto” . Não gosto nem um pouco dele, que sempre tratou mal e acusou todo mundo com o dedão apontado e que agora bebe uns goles do veneno que plantou. Só es-que-çam: a muié não vai demitir o galã por causa disso.arg-woman-with-wrench-url

O povo já está nas ruas? O povo já está nas ruas! (O povo já está nas ruas). “O povo já está nas ruas”. Vejam o que foi esse Carnaval! Cordas caíram nos trios elétricos da Bahia, democratizando o périplo ladeira acima e abaixo. Em todo lugar, blocos espontâneos, blocos históricos, blocos, bloquinhos (até aqui na porta de casa, numa região que não tem nada a ver com, digamos assim, isso, passou um!), blocões. O Carnaval das ruas, voltando glorioso como deve ser.

As escolas de samba, bem, estas – especialmente a tal Beija-Flor, seu ditador e sua Guiné, suas contravenções e seu Neguinho particular, aquela coisa toda muito chata que ganhou – conseguiram o inimaginável. Só gostou do resultado quem é Beija-Flor. Há muito eu não via petistas, tralhas, tucanos, verdes, apáticos, ecologistas, esquerda, direita, centro, chuchus, reacionários e revolucionários, mulheres, homens, Ets, LGTSSABCs e etcs criticarem a mesma coisa.

São Paulo, 2015, adentrando março sorrateiramente work3Marli Gonçalves é jornalista Confesso, acusado 1,2,3. Este ano lembrei muito da minha maior alegria de infância durante o Carnaval. Ficava nas esquinas com pistolinhas…de espirrar água. Como era bom quando passava um carro com os vidros abertos! Agora, o ano inteiro, nas esquinas, alguns jovens também ficam esperando os carros, mas com uma pistolona, e de verdade. Hoje brincar disso ia ser um tédio, né? Seco. E todo mundo com medo, em carros blindados.

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ARTIGO – Nossas margens de erro particulares. Por Marli Gonçalves

LABRASIL0219De tempos em tempos surgem palavras e expressões que como num passe de mágica passam a ser mais faladas do que donzelas entrando em lupanares. Da mesma forma que vêm, vão, e a gente nem percebe. Mas enquanto estão na moda, que também é cada vez mais rápida, chegam a dar enguias. Mas penso que podemos pegá-las e extrair o que nelas houver de bom. Ou, de acordo com a margem de erro, podem ser regulares. São as variações de nossos tempos.

Tempos duros esses. Tempos até bem chatos. Até que o processo eleitoral passe parece que estamos numa arena nos digladiando, e o pior é não ter uma variante para a decisão. Ou se é um ou se é outro. Não me admira que, na primeira rodadas das eleições, 28 milhões de brasileiros não tenham querido ser nem um nem outro, nem aqueles outros, numa espécie de revolução silenciosa e à qual não vi ser dada atenção especial, o que me deixa muito cabreira. Porque me parece ser o fato mais preciso do momento, um urgh, uma vaia enorme, milhões de desesperanças, desinteresses, desinformação e beijinhos no ombro que se juntaram, nulos ou brancos. Aí não tem nem teve margem de erro.

A semana foi boa para quem consegue manter o humor, os gozadores e gaiatos adoráveis que fazem do limão mais que limonada, e alguns até vivem disso. A margem de erro foi o assunto predileto. Foto de Araci de Almeida, legenda: Gisele Bündchen, de acordo com margem de erro. Hoje é sexta, mas também pode ser quinta ou quarta, de acordo com a margem de erro. Daí por diante. Dei muita risada.

betty boop 20Creio que poderei colaborar com entendimento maior da raça humana, a partir da tal margem de erro. Depois do sucesso de minhas perguntas não respondidas do artigo passado (E se?…) resolvi me dedicar um pouco a esse assunto, para mais ou para menos, o que pode significar, pode significar…nada! Ou tudo. Depende da pesquisa, da região, da sua cara de pau, do seu índice de sinceridade.marvel-s-hawkeye-doing-crazy-superheroine-poses-in-comics-82aba282-b953-4c87-88a5-1f33fafaeb2c

Pensei o quanto a tal margem de erro é a cara do Brasil, o país que não é – o país do Futuro que não chega. Pensa! Tudo anda dentro da margem de erro. Por exemplo, agora, você pode perguntar sossegado, para qualquer mulher, a idade dela. Dentro da margem de erro, dependendo de quem pergunta e para o quê, de qual censo/senso, ela vai responder. No caso, em geral, o “pesquisador” poderá ele próprio classificar a resposta dada como ótima, boa, regular, ruim ou péssima. A propósito, péssima, palavrinha forte, carregada de sentido inquestionável. E que o atual governo, neste momento, está tomando como carimbo numa taxa de 22%. São 22% de gente com opinião, que vê e sente na pele a realidade, que não está no parquinho de diversões, nem no Imaginário Mundo das Estrelas.

door_animatedMas voltando ao nosso assunto e à possibilidade de uso variado da margem de erro que parece até coisa inventada aqui. Ela traz em si um “pode ser também”, que a livra de julgamentos, como se fosse uma afirmação feita antes de um problema. Traz uma elasticidade. Nada é totalmente não ou sim, há uma variação, até condizível com o quanto somos diversificados na vida real.

Se ocorrer, eu disse; se não, de acordo com a margem de erro, tudo bem, era previsto. Corresponderia a uma precaução. Convivemos com a tal margem de erro nossa vida inteira. Onde pode ter alguma variação, oscilação, ela estará lá. Dá para usar para idade, peso (de acordo com a margem de erro você pode ser gordo ou baixo, dependendo do ângulo, do enfoque) ou como está nos parecendo a cada dia mais patente, margens largas sendo usadas para questões éticas. Vide mensalão, e outros escandalozitos que cantam em nossas janelas.

De acordo com a margem de erro, variando para cima ou para baixo, para a esquerda ou para a direita, eles não sabiam de nada, não viram, não perceberam, não têm nada com isso. Ficam indignados, surpresos, vão tomar todas as providências. E, de acordo com a margem de erro, podem até esquecer o assunto.

Assim será até que outra palavra ou expressão entre na moda. Não é que delator, X-9, alcaguete, traíra, agora virou colaborador premiado? Não é que parlamentares, governantes, diretores de estatal, pegos com a boca bem na botija, gente que trabalha com o meu, o seu, o nosso dinheiro, agora virou “agente público”, e não tem nem mais nome nos noticiários? Repara.

De acordo com a margem de erro, variando para cima, no Nordeste, e para baixo, Sul/Sudeste, estão tentando promover no país uma cisão jamais vista, nem quando não tínhamos eleições, muito menos pesquisas.

Disso eu tenho 100% de certeza.

São Paulo, Salvador da Pátria, 2014Brasil42Marli Gonçalves é jornalista – Vou começar a tentar pagar minhas contas com essa tal margem de erro. O problema é que se passa a data, os juros não são só de 2 por cento para cima ou para baixo.

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Área de petróleo fumegante. Vem mais por aí, muito mais. Veja matéria de site especializado. Petrobras incandescente

master-chef-cooking-smiley-emoticonREVISTA VEJA VAI AMPLIAR INFORMAÇÕES SOBRE ESCÂNDALO DA PETROBRAS NA PRÓXIMA EDIÇÃO

Paulo Roberto CostaA revista Veja que circula a partir de sábado vai trazer mais informações sobre o escândalo da Petrobrás e elevará ainda mais o nível de tensão que o mercado do petróleo está vivendo. Desta vez não vão aparecer só os nomes dos “santos”, mas os detalhes de seus “milagres”. Os que negaram com veemência que receberam dinheiro do esquema capitaneado pelo ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, pelo que o Petronotícias apurou, terão que se esforçar para desmentir os fatos e as evidências que serão apresentadas.

O clima interno na estatal pode ser identificado como “terrível”, de acordo com uma fonte do Petronotícias:

“Está de vaca não conhecer seu próprio bezerro. Ninguém assume nada, ninguém assina nada. Espera-se sempre uma notícia ainda pior para a companhia a cada momento”.

Para o mercado do petróleo, todas essas revelações não poderiam estar chegando em hora pior. Simultaneamente à circulação da revista Veja no final de semana que vem, inicia-se o maior encontro da indústria do petróleo no Brasil, a Rio Oil&Gas, que começa segunda-feira, dia 15, no Riocentro, e termina no dia 18. É um encontro internacional que deveria trazer bons ventos. Mas o que se espera é uma verdadeira tempestade de informações, especulações e reclamações contra a Petrobrás, que praticamente paralisou todos os negócios.

Para a abertura, é esperada a presença do Ministro Lobão, de Minas e Energia, que está no epicentro das denúncias, ao lado dos nomes dos ex-governadores Sergio Cabral, do falecido Eduardo Campos e da atual governadora do Maranhão, Roseana Sarney. A presidente da empresa, Graça Foster, também é esperada para fazer uma palestra, mas seu nome está envolvido apenas por ser a presidente atual da companhia.

Contra ela apenas as severas críticas à sua gestão, que levou algumas empresas epecistas a dificuldades quase intransponíveis e, por sua vez, centenas de empresas fornecedoras da cadeia do petróleo a realizarem milhares de demissões. Algumas já em recuperação judicial e outras com falência decretada. Um legado de que, como engenheira e administradora, ela não poderá se orgulhar. Mas quanto à sua honestidade, não se pode jogar lama em sua reputação. Nem mesmo no episódio da venda da Refinaria de Pasadena ou mesmo quando transferiu suas propriedades para os filhos. Um apartamento no modesto bairro do Rio Comprido e outro na Ilha do Governador não parecem sinais aparentes de riqueza, mas de construção de um patrimônio ao longo da vida conseguido como fruto do próprio trabalho de décadas na Petrobrás.

O ambiente para a realização da Rio Oil&Gas, com a presença garantida de 1.300 expositores e milhares de visitantes, deverá ser bastante negativo, diferentemente dos outros anos. Virão profissionais do mundo inteiro, mas encontrarão aqui o que o mercado brasileiro do petróleo está vivendo: uma atmosfera claudicante e sem perspectiva.