ARTIGO – A urgência do tempo. Marli Gonçalves

 

 Baques. Baques terríveis essa semana. Duas mortes. Duas mulheres à frente do seu tempo, e que farão muita falta. Para mim, para o mundo, e especialmente no momento em que vivemos. Duas revolucionárias, destemidas, realizadoras. A escritora, realizadora, roteirista, atriz e muito mais que tudo isso Fernanda Young, primeiro, e dias depois, Sonia Abreu, a pioneira, a primeira DJ do Brasil. Isso nos faz pensar na urgência das coisas. No tempo…

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…Pensar na vida, às vezes é bom, em outras dá uma certa amargura. É o caso desses dias nos quais essas perdas foram tão sentidas. Especialmente a de Fernanda Young: parece que de repente do nada abriu um buraco no chão e ela se foi, vítima de asma. Fico imaginando seus minutos finais. Toda aquela energia vibrante sem conseguir respirar, procurando ajuda médica em uma região distante onde estava, a propósito descansando no seu sítio. Aos 49 anos. De repente estava inesperadamente morta.

A morte de Sonia Abreu, por outro lado, pode até ter sido um alívio para essa notável mulher. Sofrendo de ELA, Esclerose Lateral Amiotrófica, que vai causando a perda das funções, as atrofias, a paralisia do corpo, ela já estava com graves dificuldades. Uma mulher que viveu para a música, dançando, para a alegria, fazendo o bem a todos, que botava para dançar. 68 anos. Após sofrer uma fadiga respiratória, Sonia não resistiu.

As duas grandes mulheres, enfim, morreram igual, coincidentemente por de alguma forma não conseguirem mais respirar esse ar que nos mantêm. Fiquei – ainda estou- muito impactada com essas e mais tantas outras mortes recentes ou não e que sempre sacodem a gente para a finitude da vida. E para a total imprevisibilidade dessa finitude.

Surge o tempo e sua urgência. Surge – e não adianta tentar afastar, que volta – o pensamento do que é que deixaremos de legado, o que a menção de nosso nome significará, e o tanto que há ainda a fazer para considerá-lo importante, para que fique bem frisada a nossa passagem por aqui, a influência que poderemos ter no dia seguinte, no futuro, e em novas gerações que serão a real forma de renascimento, independente de nossas crenças religiosas. As palavras que dissemos, escrevemos, os atos que ensinamos, os momentos que criamos, cada vez mais registrados, se não por nós mesmos, pelos que estão à nossa volta, ou ainda nas ruas, com os vigilantes big brothers que nos acompanham onde quer que passemos.

A urgência não é emergência, e vice-versa. Que coisa: na emergência a vida está em risco, e a nossa urgência, não, essa pode esperar, embora sempre urgências necessitem de ação imediata, a mais rápida possível. Precisam ser resolvidas. Daí estarmos sempre correndo atrás do tempo. E cada vez mais, principalmente nas zonas mais urbanas. Para não vivermos emergências. Dá para entender?

Acabamos filosofando muito mais a partir disso e de uma só pergunta: “Vale a pena?”

Por que corremos tanto, e porque ao mesmo tempo perdemos tanto tempo com assuntos imbecis e esperando, apelando, por amor de quem talvez só vá sentir nossa falta só bem depois de lágrimas de crocodilo caírem dos seus olhos?

E o tal tempo correndo de nossos pés. Respondo que, como as amigas que saíram de cena fizeram, corremos, perdemos tempo correndo atrás do próprio tempo porque a vida é uma só, e ela é propriedade particular única e que jamais será recriada por outra pessoa nem nos mais longínquos sonhos de ficção. Há de ser exemplar, que sigamos corajosamente buscando a transformação, o avanço, a solidariedade, o bem de todos e o conhecimento.

Principalmente busquemos que o ar que respiramos para viver, mesmo que apenas em sentido figurado, seja o mais limpo e puro possível.

No momento está tudo muito denso, quase irrespirável. E o tique-taque de nosso coração, o tumtumtum de suas batidas, precisa continuar.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Site Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano- Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. Já à venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

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25 de agostos e desgostos…quando se perde amigos

25 de agosto de 2019, e  no mesmo dia que lembro – com todas as saudades de meu coração – de 26 anos da morte de meu grande amigo Edison Dezen, perco mais uma pessoa importante.

Carlucho, ao lado...Fernanda Young
Performance de Carlucho no CCBB, 2010. Ao lado dele, Fernanda Young. Naturalidade com a nudez, sempre.

A morte de Fernanda Young, hoje, me tocou profundamente, por inúmeros motivos de perda – perda de uma grande mulher, de uma revolucionária, de uma amiga, de uma leitora, de uma mãe gloriosa, de uma bela e produtiva pessoa. De um tudo que é como se tivesse aberto um buraco no chão.

Fui ao Cemitério dar o super adeus. Os amigos eram grupos de pessoas absolutamente tristes e surpresas com esse nefasto acontecimento, tão forte e significativo nesse momento.

25 de agosto, e desgostos.

Edison Dezen - Marli - Paris 90
eu e meu grande amigo Edison Dezen, Londres, 1990

Toda prosa. Acabou de sair do forno o livro da sensacional Fernanda Young. Eu tenho. Corre para comprar um também

Uma edição primorosa, em um trabalho longo e dedicado. “” também tem exposição no MIS, em São Paulo.

Depois falo mais do livro aqui, mas é que agora estou toda convencida grudada com o meu exemplar, e queria mostrar par a vocês.

Hoje a encontrei, e adorei. Ela me contou da batalha de dois anos para fazer um trabalho tão completo. Admirável.

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