ARTIGO – Nós, os novos inconfidentes? Por Marli Gonçalves

forc_ani_grTenho arrepios severos cada vez que ouço falar em impostos, taxas, qualquer coisa parecida com “tungarem mais dinheiro ainda de nossa sofrida carteira”. E nesses últimos dias essa forma de solução das bobagens que eles andaram fazendo arrancando do meu, do seu, do nosso, tem sido dita insistentemente. Tiveram a cara de pau até de chamar de investimentos, e dizendo que adoraremos contribuirrevoltas

Acabei lembrando a derrama, a forçada e violenta forma de cobrança de tributos com que os colonizadores portugueses coletavam parte do que se obtinha na exploração dos minérios, aliada à “quinta”, que ainda tirava o naco de 20% dos ganhos. Daí foi um passo para lembrar a revolta popular, de Tiradentes e dos Inconfidentes, de tudo o que a História do Brasil já registrou e que terminou de forma tão cruel e sangrenta. Você também deve ter ouvido muita gente aí do seu lado falar que, caso resolvam impor mais impostos, deveríamos nos unir, todos deixarem de pagar, que não está certo pagarmos ainda mais pelos erros que vêm cometendo, trapalhada após trapalhada.

Ouviu também, né? Não se fala outra coisa.

Pois eu ouvi de gente respeitada, de pessoas maduras, honestas e trabalhadoras, homens e mulheres sérios que vocês não imaginam nem engrossando passeatas em verde e amarelo, muito menos empinando balões de bonecos. Mas eles estão dispostos a reagir e mostram, como no passado, ter de fazer isso para não sucumbir à ganância dos governantes. Uma questão de sobrevivência, explicam. Já enxugaram o que podiam, dispensaram seus “escravos”, temem não ter o que dar aos seus filhos. Não veem o que já pagaram até aqui revertido em benefícios – sem saúde, sem educação, sem infraestrutura. Estão insatisfeitos, indignados, sentem-se roubados, espoliados e enganados.

tumblr_n9apgtX0jk1rwq84jo4_400Achei nessa parte de nossa História – a Inconfidência Mineira – muita coisa parecida com a que estamos vivendo agora em pleno século XXI, incluindo até os delatores que, em troca de se livrarem, a si, aos seus bens, atiram mais gente ainda no fogo da caldeira, dando combustível para que essa fogueira esteja cada dia mais furiosa. Só não encontrei ainda os heróis.

Obviamente faço esse paralelo muito mais pensando no que aprendemos de melhor ali, na honra, na coragem dos insurretos, nos mitos que se criaram, do que na desgraça de uma solução militar, como a que fechou o tempo por longos 25 anos.

Não é de hoje que a ideia de conspiração ocorre nas horas mais tumultuadas da política nacional como a que vivemos nos últimos meses, e que alguns analistas já associaram até ao Titanic. O navio afundando e a ordem para que a orquestra continuasse. O problema é: com quem? Não há grupo coeso, mas miríades deles e fica difícil se encaixar em alguma conjuração. Pelo menos eu ainda não senti liga, e sigo apenas com alguns amigos aqui e ali com os quais tenho afinidade de pensamento. Não posso me juntar a quem defende liberdade pelo poder, quem perdeu por incompetência e vê na crise chance de emplacar, quem ainda acha que o mundo se divide em bons e maus, esquerda e direita, com quem usa a religião para constranger e proibir.

Procura-se um modelo de República, de ideias arejadas; uma nova e simples Constituição; ideias e filosofias que se coadunem com o tempo, com o chão que pisamos, com o futuro que acreditamos em poder erguer, com justiça social verdadeira. Algo integrado ao desenvolvimento global, progresso, sem esquecer o ar que respiramos, o chão que pisamos, os oceanos que se aproximam crescendo sobre a terra.

Quem sabe encontraremos juntos?img_pd_143329_9msqit

São Paulo, em um conturbado setembro de 2015

Marli Gonçalves, jornalista – Onde andarão nossos novos heróis, os poetas de nosso tempo, os idealistas que ainda não foram cooptados pelo sistema?

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ARTIGO – Papagaiadas, pilhérias e modinhas. Por Marli Gonçalves

day28_210Não sei se vocês têm a mesma impressão que eu, mas por que é que tudo que chega aqui ao Brasil, mesmo quando é uma coisa legal, séria, importante, porque será que logo vira modinha, presepada, papagaiada? Perde o sentido. Fica escrachada. É só por o pé aqui, pronto, vira, vira, vira… Ih, acho que não dá nem para usar a palavra do que é que vira. Pode ter alguma criança na sala.

Claro que começo falando do tal balde de água com pedras de gelo, claro; claro que é importantíssimo chamar a atenção para a doença (esclerose amiotrófica), conseguir verbas, e não só para esta, bem sabem, mas para a pesquisa de outras várias doenças. Obviamente foi brilhante a ideia da campanha, jogar a água do balde em si, filmar, doar cem dólares, desafiar mais dois. Tornou especialmente visível o problema quando envolveu celebridades mundiais, e obteve alguns milhões de dólares rapidamente. Claro, ainda, e já que trabalho com isso, sei o quanto a imagem – o visual – é fundamental para o marketing, conquista de espaço e divulgação de algumas coisas mais barata e rapidamente. Nem conto para vocês o quanto inventamos na primeira campanha do Partido Verde à Presidência em 1988. Tudo era primeira página, afinal não era todo dia que árvores andavam e protestavam ou que surgisse o som do silêncio para alertar sobre a poluição sonora.

graphics-buckets-507156Mas precisa virar palhaçada? Todo mundo é obrigado a aderir? Precisamos mesmo assistir, por exemplo, a políticos cara de pau em campanha, tipo Suplicy, Maluf (!), este dentro de uma piscina já que até para aderir a alguma causa ele dá uma roubada? Duvido. Quero ver o recibo da doação. Maluf dando alguma coisa? Duvido-ó. Precisamos mesmo assistir estrelinhas de pouco brilho se molhando, gritando, fazendo foto ou filme e passando para as revistas de celebridades tentando obter essa tal de celebridade? Particularmente sinto certo asco quando misturam esses interesses com coisas sérias, mas aqui é tiro e queda. Já passamos para a história da Humanidade como um país não sério. Sim, óbvio que vi brasileiros sérios e de boa vontade aderindo. Pouquíssimos, mas vi. Acreditam? Juro que até guardei o material de divulgação para quem duvidasse: um grande magazine divulgou que a sua boneca virtual tinha entrado na onda? Enfim, pelo menos, já que é virtual, ela não ocorreu o risco de pneumonia.

food_truck3Acontece com tudo essa azaração. Vou dar outro exemplo, daqui de São Paulo. Liberaram a comida de rua, os tais food-trucks. Pois não é que já dá até para tropeçar neles? Não é que outro dia vários se uniram (outra “tendência”) dentro de um estacionamento coberto e eu vi (sim, vi sim) muitas pessoas sentadas no chão todo sujo de óleo, de um lugar abafado, para comer? É modinha. É moderno. Daqui a pouco vai ter gente até fazendo tatuagem para frequentar.

Depois certamente muitas dessas pessoas vão postar nas redes – que passarei a chamar de redes antissociais – porque não basta ser moderno, tem de mostrar ao mundo, fazer muquinho na academia, como faz um agachamento invejável, ao lado do “personal trainer”. Aproveita e, já que está por ali, xinga, briga, critica e fala mal de alguém, posta uma frase em algum quadradinho com indiretas.

Nas mesmas redes onde li gente “horrorizada” porque houve quem fizesse selfies no funeral de Eduardo Campos. E daí? Qual o problema? Não percebem que hoje cada um de nós virou mesmo um jornal pessoal ambulante? “Estive no velório e lembrei-me de ti”. Antes eram souvenirs; agora são selfies. Melhor não dar ideia porque senão no próximo espetáculo macabro desses vão vender caixõezinhos de recordação. Perguntem a alguém mais velho que foi, por exemplo, ao velório de Getúlio Vargas, que será largamente lembrado essa semana. Quem podia fotografou. São registros que ficarão aí, serão importantes no futuro. Ou não. Do jeito que as coisas vão indo nada vai ser mais marcante, já que massificado, moído e abandonado, ultrapassado sempre por outra e nova onda.master-chef-cooking-smiley-emoticon

Quer ver uma outra modinha? Diagnósticos médicos: depressão. Já devem até estar mandando fazer carimbos com a palavra. Dor de cabeça, tonteira, dor de estômago? É depressão. E tome antiisso. Uma amiga foi ver como lidar com menopausa, a coisa estava falhando um mês ou outro. Carimbada: depressão. Agora, além dos calores, a coitada está pirando no antiisso. Há pouco tempo, lembram o que era, tudo? Era stress. Qualquer coisa era stress, estresse em bom português. Como se fosse possível sempre controlar. Daí, se não resolvia, o problema era… seu!

jspcookDe modinha em modinha, dá vontade de enfiar é a viola no saco, e antes que inventem alguma coisa meio esquisita que seja obrigatória. Criatividade (e charlatanismo) não falta nesse país. Vide o tal horário eleitoral onde tem candidata cozinhando, como se diz popularmente, até o galo. O nosso galo. Só falta agora a outra vir mostrar como se faz salada.salting_the_turkey

Vem onda por aí. Pode olhar. Onda que pode ser verde. Ou azul da cor do olhar.

São Paulo, 2014. 

Marli Gonçalves é jornalista – Estou tentando não desistir do Brasil, mas está difícil. Se papel já aceitava tudo, imagine a internet. Imagina na copa; imagina na cozinha.

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ARTIGO – Ondas altas. Por Marli Gonçalves

Temos que diariamente ter a mesma tranquilidade da jovem e destemida Maya Gabeira, nossa super hiper supercampeã de surf em ondas altas, altíssimas, e que esta semana nos deu um grande susto despencando de uma gigante de mais de 24 metros de altura, salva por um amigo já desacordada e apenas com um tornozelo quebrado. Poucas horas mais tarde ela própria dava a notícia que estava bem, “pronta para outra”. Todos os dias passamos por perigos muito grandes assim, mas sem querer.E não estamos tão preparados como ela para sobreviver

3192Puxou mesmo o pai essa determinada menina Maya e seu bonézinho. O pai, o jornalista e político que todo mundo conhece, intelectual de primeira, já se meteu em grandes ondas, só que, digamos, não tão próximas da natureza. Acabou baleado, preso e exilado do país durante anos. Continua hoje se reinventando a cada momento. Maya é persistente no caminho do surf. Como praticamente a vi nascer e lembro dela desde muito menina acompanho daqui, atenta, a sua trajetória. Se tem coisa que admiro numa pessoa é a coragem. Muito mais ainda numa mulher.

O susto do acidente da surfista em Portugal não foi o único, apenas o mais romântico, de mais uma semana cheia de notícias violentas demais da conta até para roteiristas de terror. Em plena manhã e em uma das mais movimentadas avenidas de São Paulo, onde tranquilamente eu ou alguém de minha família (ou da sua) poderia estar passando, seis tiros atingiram e mataram o filho de uma querida leitora. Sem explicação, sem roubos e sem assalto, e sem polícia. O sinal parou, o cara saiu do carro de trás, deu seis tiros e saiu andando e rebolando, sem que nada o detivesse.RollerCoasterClimbing

Logo depois o noticiário falava de uma policial do Rio de Janeiro, de uma UPP, recebendo num saco, em sua porta, a cabeça decapitada do seu marido.Quem foi, os motivos, serão esquecidos no vento. Assim como a vida da estudante baleada na cabeça, pega a caminho de sua faculdade e que, ingenuamente, caiu no velho golpe da batida atrás; saiu do seu carro, que era blindado, para ver. Até o momento em que escrevo ela está viva, estado gravíssimo, mas me digam se a vida dessa jovem poderá ser normal daqui em diante, se ela conseguir sair do hospital.

Aí, em um dia, um policial vai sair do carro e a sua arma (parece que várias armas da PM de São Paulo estão com defeito, mas ninguém ligou exatamente para esse fato) dispara e mata um jovem na periferia de São Paulo. Ao protesto justo de seus familiares e amigos junta-se sei lá mais que tipo de gente, ateiam fogo em tudo, quebram outro tanto, param uma estrada federal por mais de quatro horas, assaltam os motoristas. Tocam o terror. No dia seguinte, a poucos quilômetros dali outro jovem é morto em uma ação policial e tudo se repete. Isso na mesma semana em que correram o mundo as imagens de um coronel sendo espancado pelos excluídos do Baile de Máscaras. Só se for.

Animated-picture-of-love-rollercoasterHá meses venho tentando entender melhor,entre outras, a violência das manifestações e os black bobocas que sei lá de que livro surgiram. Para mim, apenas uns garotos que ouviram cantar o galo não sei aonde, pensando que estão num jogo virtual e apenas sendo operacionalizados por todo tipo de bandidos reais, bem reais, aqueles da tal organização de três letrinhas. E não é que a polícia começou só agora a admitir que desconfia da infiltração? Simples: no calor de um grupo, com um monte de palavras de ordem ao vento, basta um começar o quebra que outro bando de otários logo vai se juntar a ele.Só que só os otários estão sendo presos; os espertos se safam. O comportamento de massa é sempre igual ao de uma manada. O que torna até bem fácil esse tipo de manipulação.

Não estamos em campeonatos. Não podemos estar preparados para tanta violência e nem para a vida estar valendo tão pouco. Que está acontecendo? E eu dirijo essa pergunta tanto aos estadistas e dirigentes das grandes nações até aos pais e mães que estão “produzindo” essas gerações. Ok. Violência sempre houve. Mas não tão desmedida, tão simples, tão acessível, tão generalizada, tão banalizada.

Nunca fui a mais corajosa da turma, até porque não tive infância – nasci em plena área urbana. Passo longe de esportes radicais. Aprendi a nadar só aos 23, e acho até que já esqueci porque não me largo na água muito suavemente, apesar de amar as sereias, e talvez até por isso. Nunca subi – e não pretendo subir – em uma montanha russa. Juro que não lembro se já me amarraram numa roda gigante, ou numa xícara maluca. Meu máximo foi o bicho da seda. Melhor: o tobogã, aquele que você vinha, escorregava em um barquinho lá de cima dentro da água, me viu uma única vez. No tempo que o Playcenter era deste tamaninho, um parquezinho numa avenida perto do Ibirapuera, e apenas para não envergonhar minha mãe que me acompanhou toda feliz nessa aventura.afcarousel

Sei que tem quem dá a vida por adrenalina, em qualquer dose. A do medo, dos saltos de paraquedas, parapentes, para qualquer outra coisa, e ainda pagam por isso! Acho demais, mas a minha adrenalina – e a coragem – tiro de outros lugares, muito mais além das inúmeras vezes que me botei em risco na profissão de repórter, ou ainda em cima de uma motocicleta, a primeira aos 13 anos, aposentada como me declarei após uma queda violenta há mais de 20 anos. Escrevendo o que penso, cobrando o que posso de quem pode fazer mas não faz. Me safando das trairagens.

Não dá mais para relaxar, tralalá, tralálá. É se benzer para sair de casa e agradecer a Deus quanto volta quase ileso sem pelo menos uma aporrinhação. É ficar atento a quem a gente ama, contando cabeças igual um bicho deve conferir seus filhotes antes de se recolher. É violência em cima de violência. Pior é que tem sido bem geral: estamos levando tiros de decisões políticas também – inábeis – o que faz da simples sobrevivência uma bela aventura.

Pena que sem o belo cenário e o barulho das ondas do mar.

CoolClips_wb027548São Paulo, 2013

Marli Gonçalves é jornalista – Vendo só os altos e baixos do carrossel. E um monte de gente dando cavalo de pau ********************************************************************
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Você sabia que em Xapuri, no Acre, tem uma grande fábrica estatal de camisinhas? Gabeira foi lá, fotografou e escreveu sobre isso essa semana

FONTE: SITE OFICIAL DE FERNANDO GABEIRA

As informações básicas:

“Em Xapuri, terra de Chico Mendes visitei uma fábrica de preservativos construída pelo governo estadual e que fornece 100 milhões de camisinhas para o Ministério da Saúde.

A fábrica emprega 170 pessoas, paga aos seringueiros três vezes mais pelo látex e é a única do planeta a fabricar camisinhas com produto de árvores nativas. Não se sabe ainda se os resultados econômicos vão compensar. A produção vai diretamente para o Ministério da Saúde e representa 20 por cento das compras federais de preservativos”.

E AS FOTOS, DO FERNANDO GABEIRA:

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Eike Batista: o representante de uma era que estamos enterrando. Leia o artigo de Gabeira. Impecável, sobre os nossos prejuízos com o megalômano

mickey-mouseEike personagem de uma época

Fernando Gabeira

Eike Batista é um dos grandes personagens do pais do nunca antes.

Nunca em nossa história, um magnata foi tão presente. Quando acordo e vejo a Lagoa, está lá não Eike Batista mas a ausência do seu projeto de despoluição.

Parceiro do governo federal, cliente do BNDES, amigo do peito de Cabral -avião prá cá, avião pra lá- o jovem que deixou a universidade alemã para fazer fortuna no Brasil tem uma vida romanesca, em que não faltam belas mulheres.

Conheci o Porto de Açu, uma realização fantástica do sonho mineiro de alcançar o mar. Pelo menos, os minérios ele pode levar diretamente ao mar, através de um duto que vai de Conceicão do Mato Dentro (MG) a São João da Barra (RJ).

É uma obra imponente que passei o dia fotografando para uma reportagem de jornal.

Uma parte da restinga foi preservada e o porto mantinha um viveiro para plantar novas mudas. Tudo parecia bem.

Três meses depois voltei ao lugar e documentei, num vídeo para a Band, como as lagoas doces estavam ficando salgadas e como o sal arruinou a plantação de pequenos produtores de abacaxi da região.

O sal veio das areias molhadas que foram retiradas do mar e empilhadas para aterrar a área do complexo.

Acompanhei também o projeto de renovação da Marina da Glória, documentei as obras do Hotel Glória.

Era uma operação articulada: Eike queria a Marina para valorizar o Hotel Glória. Não deu certo.

Onipresente, Eike queria times de vôlei e basquete, lutas, seu domínio parecia sem limites.

Orgulhoso de ser rico tinha um carro dentro de casa e abria suas portas para as câmeras. Algo que me parecia meio ostentação comparado com os milionários de uma Suécia protestante, sempre procurando a discrição.

A riqueza do Eike Batista no pais do nunca antes, lembra-me uma história contada por Roberto Damata.

Dois escritores americanos, Joseph Heller e Kurt Vonnegut visitaram a casa de um multimilionário num fim de semana. A cada objeto que viam, dizia para Heller: isto aí custou mais do que tudo que você ganhou com seus direitos autorais. Heller ouviu calado algum tempo e respondeu:

-Tenho alguma coisa que ele não tem.
-O que?
-A noção do suficiente.

No pais do nunca antes, movido a megalomania, Eike Batista foi o cara da progresso econômico, sempre de mãos dadas com o cara da política.

No passado, ironizávamos a ditadura militar com a expressão nunca fomos tão felizes. Agora, entra em declínio o período do nunca fomos tão fodões.

A poção mágica dos royalties. Gabeira mostra com clareza a loucura geral que se estabeleceu no país. Isso? Royalties! Aquilo? Royalties…

oilrig1O milagre dos royalties,

por Fernando Gabeiragusher

Publicado em 25.06.2013 – post do blog www.gabeira.com.br

Todo mundo se mexeu com o calor das ruas. Dilma, depois de recuar na Constituinte específica para a reforma política, fixou-se no projeto que destina os royalties à educação.

O Ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, usou a tática do PT para negar o recuo de Dilma: ela não disse exatamente isso, vocês é que entenderam errado.

Renan Calheiros decidiu criar o passe livre para estudantes. Também com o dinheiro dos royalties do petróleo.

Os royalties são uma espécie de poção mágica para encantar os expectadores. Esses royalties ainda não existem.

Será que estão falando dos royalties que usam agora? O que vai acontecer com os outros setores para onde esse dinheiro seria destinado normalmente?

São é claro os royalties do pré-sal que estão em jogo no discurso de Dilma e Renan, algo que levará anos para se materializar.

Não há explicações e a imprensa também não as pede. Um grupo de deputados quer royalties para a Saúde.

Vão ser criados dois grupos do bem: um querendo salvar a educação, outro tentando salvar os hospitais. Com o que? Com a poção mágica dos royalties do petróleo.

1oilrig2O único que deu resposta precisa foi Joaquim Barbosa, prometendo para agosto o julgamento do mensalão.

Na sua entrevista, Dilma sempre ressaltava que se o povo continuar mantendo a pressão vai obter as mudanças que deseja.

E sugeriu o recall de candidatos, uma ideia democrática que funciona na Califórnia e outros estados.

O chamado mundo institucional se mexeu. Os três poderes falaram e só Joaquim Barbosa passou credibilidade.

Aécio fez um bom discurso, pediu que se expliquem os gastos da Copa. Mas não constatou a aberração institucional: o Congresso não têm esses dados e alguns bilhões já foram gastos nos estádios.gusher

A oposição amarelou nesse tema e só Romário se dispôs a encarar a Fifa os organizadores da Copa, questionando-os sistematicamente.

É a velha história que envolve um medo: o do PT dizer que a oposição é contra a seleção brasileira e esvaziar os seus votos.

Tanto o PT como a oposição avaliariam mal o silêncio das pessoas que viam todo o oba-oba da Copa, ouviam cifras de bilhões e sabiam que o dinheiro estava saindo do seu bolso.

Por delicadeza, dizia o poeta, perdi minha vida. Por medo do PT e sua máquina insidiosa de propaganda, a oposição não contestou os gastos da Copa.

Agora quem somos para o mundo?

Um país de políticos megalomaníacos, preocupados com suas obras faraônicas, e um povo que pede uma nova agenda de gastos públicos, mais equilibrada e sobretudo cumprida sem desvios.

Os marqueteiros de Dilma devem ter ficado satisfeitos com aquela história de ontem, a Constituinte. Morreu hoje. Não importa. Vão inventar outra.

Os marqueteiros de Renan dirão que ele vai se tornar um ídolo dos estudantes porque apresentou o projeto do passe-livre.

Com exceção de Barbosa e um ligeiro despertar de uma oposição que não soube enfrentar o PT, os movimentos institucionais foram apenas cortina de fumaça.

Dilma não tem nada a dizer. Ou melhor nada que não possa desmentir no dia seguinte.

Renan é um esplêndido cadáver político que se recusa a sair de cena.

Quando escrevi isso uma vez, alguns dos seus admiradores, certamente um assessor, escreveu que me equivoquei pois Renan ressurgia na presidência do Senado.

Para mim é um walking dead, aliás um dos mais influentes na grande comunidade de walking deads que virou a política nacional.

Hoje, a Câmara derrubou a destinação de R$ 45 milhões para a tecnologia de comunicação na Copa.

Dilma diz que não há dinheiro público para Copa e camuflou o pedido numa medida provisória.

Vamos ter que discutir seriamente o que fazer com a Copa. O tema fica na agenda. Se desistimos da Copa , se vamos fazê-la para não perder o dinheiro investido e, nesse caso, como fazê-la.

No momento em que a poeira baixar na crise política, volto ao tema.

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Gabeira, explicando precisamente os nós do front e a incapacidade demonstrada para desatá-los. Assim, menos de 24 horas depois…

cbm1q6v1A proposta da Dilma

Publicado em 25.06.2013- BLOG DE FERNANDO GABEIRA –

Dilma vai recuar da proposta de constituinte exclusiva para a reforma política. A ideia durou 24 horas. E, no entanto, não é uma ideia desastrosa. Dilma a transformou nisso por várias razões:

Foi precipitada e anunciou o tema sem consultas;

É o beabá da política que ela parece ignorar;

A proposta veio do PT e desperta desconfiança geral;

O PT quer o poder e isolar quem não pensa como ele;

É a tática dos burocratas da esquerda.

Eles são tão patéticos que nem imaginam as mudanças espontâneas na sociedade. No mundo fechado do PT, existem filas para ocupar cargos e elas são organizadas não a partir do talento pessoal mas da disciplina.

Foi por isso que o Lindinho disse num palanque com Cabral e Pezão: política tem fila. Na cabeça do Lindinho, as pessoas entram na fila, beijam a mão do Lula, como ele fez na tevê, ganham uma senha e esperam o momento de ocupar o poder.

Ainda bem que houve algo de novo e inesperado como em 68.

Tudo isso também é contra as pessoas que só pensam na estabilidade de um sistema de dominação, só jogam na certeza de que as coisas nunca vão mudar.

Na verdade, não acreditam em mudanças. Confiam apenas nas suas estruturas petrificadas. Seus cérebros estão programados para não pensar o novo mas apenas turbinar sua carreira dentro das hierarquias partidárias.

A nova geração de quadros do PT é boa para a época da televisão HD: Lindinho, Gleise Hoffmann e Haddad, por exemplo. Mas nada tem na cabeça exceto a disposição de obedecer.

Dilma foi a São Paulo pedir conselhos a Lula. Quando penso que um presidente do Brasil chamou a oposição iraniana de torcida de futebol e os dissidentes políticos cubanos de criminosos comuns,- quando penso nisso, digo para mim mesmo: vou lutar toda minha vida para impedir que essa gente ocupe o poder sozinha.

Bicicletas, convívio, acidentes. Leia essa análise de quem entende. Gabeira, sobre as bikes, sobre tudo, sobretudo.

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As bicicletas do Rio, por Fernando Gabeira

 

Uso bicicleta há algumas décadas no Rio. Fiz duas campanhas políticas montadas nela.

Embora nunca tenha sofrido um acidente, reconheço que é hora de discutir a relação.

As bicicletas são uma realidade no Rio. De uma certa forma já o eram, antes da construção das ciclovias, na gestão de Alfredo Sirkis como secretário de urbanismo.

Milhares de trabalhadores da Zona Oeste sempre usaram as duas rodas para unir suas casas à estação de trem.

As ciclovias estimularam a classe média a ampliar o uso de bicicletas. O trânsito caótico e a chegada das elétricas produzidas na China contribuíram para completar o quadro.

Dois atletas foram atropelados esta semana. Um deles morreu.

No próprio Leblon uma talentosa produtora de tevê perdeu a vida de uma forma absurda.

A construção de ciclovias que as vezes nem são adequadamente mantidas, como a da Zona Oeste, não resolve o problema.

O uso de bicicletas vai crescer cada vez mais. De um lado, porque é um grande esporte pedalar por uma cidade como o Rio. De outro, porque, em certas áreas como a Zona Sul do Rio, é o meio de transporte mais racional.

Não adianta supor que ter uma rede de ciclovias resolve. Nem fazer como São Paulo, criando áreas de lazer protegidas, para se andar de bicicleta.

É preciso uma política que favoreça a coexistência pacífica entre motoristas e ciclistas. Ainda falta infraestrutura, sinais adequados e sobretudo educação no trânsito.

Não são apenas os motoristas que sentindo-se mais fortes desrespeitam os ciclistas. Estes sentem-se mais fortes que os pedestres e, em muitos casos, também os desrespeitam.

Aplicar o Código Nacional de Trânsito é um primeiro passo. Mas campanhas específicas são necessárias para que o número de desastres seja reduzido.

Nos últimos dias, os ônibus têm sido os vilões. Favorece a direção perigosa a prática das empresas de não darem o nome dos motoristas que cometem infrações.

Isso parece que vai ser combatido. Mas o trânsito continuará caótico tanto no Rio como nas principais cidades médias do estado.

Tentei realizar um rápido trabalho nas cidades serranas e constatei que os engarrafamentos parecem estar em toda parte.

A mobilidade e segurança no trânsito passaram a ser um problema de grande dimensão.

Vereadores e deputados não discutem muito o transporte coletivo no Rio. Parecem domesticados pelas empresas.

Chegou a hora de colocar o tema no topo da agenda. É uma questão de vida ou morte. E também de produtividade. Não se faz mais nas cidades brasileiras o mesmo que se fazia no passado.

Nosso tempo é perdido nos engarrafamentos e a vida caminha na corda bamba. É hora de levar a sério não só trânsito mas o avanço irreversível das bicicletas ao cotidiano da metrópole.

Artigo publicado no jornal Metro em 06/05/2013Benny-Mountain-Bikes

Artigo do Augusto Nunes. Você tem que ler para pensar direito…

Os vincos no rosto e as rugas na alma, por Augusto Nunes

Para balear José Serra, Fernando Haddad sacou da maleta a certidão de nascimento. “Um homem novo para um tempo novo”, diz o slogan do candidato à prefeitura de São Paulo que o PT engoliu por ordem de Lula. Haddad tem 49 anos. Serra, 70. Em outubro de 2008, quando partidários de Eduardo Paes incluíram a diferença de idade no repulsivo balaio de espertezas forjadas para convencer o eleitorado carioca a aposentar Fernando Gabeira, publiquei no Jornal do Brasil um artigo com o mesmo título deste post. A reprise ensaiada pelo filhote de Lula exige a republicação do texto. Volto em seguida.

“Um é novo, outro é velho, decreta a primeira linha de uma reportagem que confronta os perfis dos candidatos Eduardo Paes, 38 anos, e Fernando Gabeira, 67. Se a frase abrisse o editorial que formaliza a escolha feita por um jornal, nada a objetar. Se abrisse algum texto assinado por colunistas ou colaboradores, tudo bem. Como abre uma reportagem que deve tratar as coisas como as coisas são, a isenção é assassinada no prólogo ─ e os capítulos seguintes estão condenados à morte por parcialidade. Não há esperança de salvação para matérias jornalísticas que, amparadas em duas certidões de nascimento, decretam em seis palavras quem é o novo e quem é o velho.

Se a diferença de idade é o quesito mais relevante no desfile de comparações, a sensatez e a ética recomendam palavras que rimem com neutralidade. Por exemplo: um tem 26 anos menos que outro. Ou, então, um tem 26 anos mais que outro. Ou, ainda, um é mais novo que o outro. A escolha de uma quarta opção transformou Paes na encarnação da novidade, da inovação, da mudança ─ e comunicou aos cariocas que o candidato do PV é apenas velho.

Quase 34 anos distante de Oscar Niemeyer, 10 atrás de Fernando Henrique Cardoso, quatro à frente de Lula, apenas um à frente de José Serra, Gabeira só se encaixaria nessa simplificação se fosse portador de senilidade precoce (e aguda). Como o candidato sessentão chegou ao ponto final da reportagem com boa saúde, deduz-se que o decreto se apoiou exclusivamente no calendário gregoriano.

Juventude é uma expressão associada a entusiasmo, energia, dinamismo, vitalidade. No Brasil, pode ser o outro nome do perigo. Os mais velhos sabem disso desde o começo da década de 60. Os ainda novos ficaram sabendo na década de 90. Jânio Quadros tinha 44 anos ao tornar-se presidente em 1961. Renunciou depois de sete meses, sem explicar direito por quê. O vice João Goulart tinha 43 quando herdou a vaga. Perdeu-a 36 meses mais tarde, deposto pelo golpe militar de 1964.

Como a era dos generais revogou a eleição direta, o último presidente escolhido nas urnas seria também o mais jovem da história republicana entre 1960 e 1989. Foi superado por Fernando Collor, eleito com 40 anos. O recordista em idade se tornaria também o único a escapar do impeachment pelo atalho da renúncia. Os presidentes quarentões não deixaram saudade.

No começo da campanha, Eduardo Paes parecia moço demais para cuidar do Rio. A 10 dias da decisão, está claro que o corpo de menor de 40 tem uma cabeça perturbadoramente envelhecida por excesso de pressa e carência de princípios. Gabeira foi desde sempre um contemporâneo do mundo ao redor. Paes é a versão remoçada dos políticos do século passado. Um se orienta por idéias. Outro é conduzido por interesses, circunstâncias e conveniências.

Eduardo Paes sempre embarca no trem que lhe parece mais veloz e abandona o vagão quando a velocidade diminui. Começou no PV, fez uma demorada escala no cordão dos agregados de Cesar Maia, elegeu-se deputado federal pelo PFL, filiou-se ao PSDB, caprichou no papel de inquisidor enquanto durou a CPI dos Correios, foi promovido a secretário nacional do partido, candidatou-se a governador para garantir a tribuna que lhe permitiu desancar o padrinho Cesar Maia e o adversário Sérgio Cabral, rendeu-se ao PMDB de olho em alguma vaga no secretariado estadual. Para quem viveu tão pouco, não é pouca coisa.

Decidido a alojar-se no gabinete do prefeito, Paes topa qualquer negócio, faz tudo o que for preciso. Insulta o tutor Cesar Maia, rasteja diante de Lula, presta vassalagem à primeira-dama, ordena agressões a cabos eleitorais adversários, mobiliza entidades fantasmas em passeatas instruídas para gritar que Gabeira odeia suburbanos, renega os companheiros de combate na CPI, acaricia mensaleiros juramentados, absolve de todos os pecados a bandidagem dos partidos que o apóiam. Cesar Maia? Só esse não pode. Babu, o vereador de estimação dos moradores dos presídios, esse pode. Delúbio Soares? Pode.

Os vincos no rosto de Fernando Gabeira reafirmam a idade que tem. As rugas na alma de Eduardo Paes informam que a idade mental é muito maior que a oficial. Um é antigo. Outro é moderno.

Em 1984, Paulo Maluf amparou-se na mesma fraude para enfrentar Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. “O Brasil não deve eleger um presidente com mais de 70 anos de idade”, começou a recitar o candidato do regime militar agonizante. A ladainha foi silenciada pela curta réplica de Tancredo: “A Inglaterra, no auge da Segunda Guerra, foi conduzida com sabedoria pelo ancião Churchill. Roma antiga, no entanto, foi incendiada pela estupidez do jovem Nero”.

Juventude costuma ser sinônimo de inquietação, rebeldia, independência. Fernando Haddad faz tudo o que lhe ordena o padrinho sessentão. Prisioneiro de teses empoeiradas, com a cabeça estacionada em outros séculos, a invenção de Lula é um Eduardo Paes que ainda não soube da queda do Muro de Berlim.

De novo, o maior adversário de José Serra é o próprio José Serra. Ele terá de mostrar ao eleitorado, com a veemência e a clareza que lhe faltaram em 2010, que a velhice política não é determinada pelo calendário gregoriano, mas pela idade das ideias.

FONTE: http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/

Sabia dessa história? Do Partido Pirata? Já viu esse movimento?

Os piratas estão chegando

do blog de Fernando Gabeira – wwww.gabeira.com.br

Geração que cresceu com a internet entra na política

Há 30 anos, os verdes foram uma grande novidade na política alemã. Agora, a novidade são os piratas, do Partido Pirata, que obteve 8 por cento dos votos na Renania do Norte, Vestafalia.

 Munidos de lap-tops e tablets, os membros do Partido Pirata querem sobretudo acesso às informações, transparência.
Como outros movimentos rebeldes no mundo, Occupy Wall Street, e os indignados da Espanha, revoltam-se contra as decisões do mundo financeiro que não levam em conta a opinião das pessoas.

Freeman J. Dyson afirmou num livro que a energia solar, o genoma e a internet iriam definir os contornos do Século XXI. Da destruição ambiental, surgiu o movimento verde; agora, com o crescente papel da internet, surge o movimento dos piratas.

A cena política alemã, um pouco diferente das outras, não se caracteriza apenas pelo surgimento de novos movimentos mas, principalmente, por sua aparição na política institucional.

Código florestal: leia a análise do Gabeira

Código Florestal, aos vencedores o deserto

DO BLOG OFICIAL DE FERNANDO GABEIRA – http://www.gabeira.com.br/wordpress/2012/04/codigo-florestal-aos-vencedores-o-deserto/
 

Com 274 votos a favor e 184 contra, a Câmara aprovou, ontem, um novo Código Florestal para o Brasil. Como somos um pais rico em recursos naturais e também um grande produtor de alimentos, creio que a votação de ontem tem uma importância planetária.

A votação reflete uma vitória dos deputados que se dizem ruralistas, aliados ao PMDB e outros partidos da base do governo.

Desde o princípio, achei que num debate exposto apenas ao jogo parlamentar, a tendência era sair um Código Florestal impreciso. Mencionei a importância do trabalho científico para orientar as decisões pois é muito difícil, abstratamente em Brasília, definir limites de preservação em todos os os rios do Brasil, limites de destamento em todos os principais biomas do pais.

Mesmo dentro da Amazônia é uma grande abstração afirmar que 80 por cento de sua área não pode ser plantada. Existem regiões degradadas que poderiam ser usadas e, alem disso, existem métodos de plantação, usados pelos indígenas no passado, que não destroem o meio ambiente.

Pelas pessoas que comemoraram, pela ênfase em suprimir multas e facilitar financiamentos mesmo para quem desmatou recentemente, a mensagem que o novo Código Florestal passa é a de liberalismo em relação ao uso do solo no Brasil.

Como será interpretado, que conseqüências trará para o nosso futuro? O líder do PMDB, Henrique Alves, estava eufórico com a votação. Ele não é do tipo que se preocupa com o futuro do pais, muito menos do planeta. Como a maioria é um político vulgar, interessado em enriquecer e fazer negócios no Congresso.

Poucos donos de terra no Brasil respeitaram a lei. Agora que se passou este sinal de liberalização, é possível que a respeitem menos ainda.

O governo dá a entender que foi derrotado e que não queria esse desfecho. O governo também a entender que é contra a corrupção e está realizando uma faxina. Tudo isso é calculado para manter algo os níveis de popularidade de Dilma.

A combinação de extrordinário recursos naturais com um baixíssimo nível político acabaria definindo os caminhos futuros do Brasil. O pais contribui para solucionar um importante problema mundial que é o da segurança alimentar. Poderia fazê-lo de uma forma mais equilibrada.

O único consolo é que na vigência de leis mais severas, o meio ambiente era destruído de qualquer jeito. Na vigência de multas pesadas, poucos centavos eram recolhidos aos cofres do governo. Para o bem ou para o mal, as leis não são ainda o fator determinante.

Se depender do Congresso, com o nível de mediocridade dominante, tudo será negociado até a última árvore e a última gota de água nos rios brasileiros.

Não sei se a resposta para isto é apenas o radicalismo militante. O zoneamento ecológico, algo que não é realizado no Brasil, pode definir, com a ajuda da ciência como e quais áreas  serão exploradas. Da mesma maneira, os comitês de bacia que cuidam especificamente de um rio teriam mais condições de determinar a área de proteção de suas margens do que deputados em Brasília que, as vezes, nunca saíram de sua própria região.

Vamos ver como se desenrolam os próximos capítulos. A quem se interessa pelo tema, recomendo a leitura do livro A Ferro e Fogo, de Warren Dean, contando a destruição do Espírito Santo com a lavoura do café, realizada sem planejamento e critérios

LEMBRAM DO SUMIÇO DAS ABELHAS QUE ATÉ HOJE NINGUÉM EXPLICA. GABEIRA FALA SOBRE UMA PISTA.

Sumiço das abelhas: a grande pista

DO BLOG DE FERNANDO GABEIRA – WWW.GABEIRA.COM.BR

Dois grupos de cientistas chegaram ao mesmo ponto no estudo do processo de desaparição das abelhas, um mistério que se prolonga há pelo menos uma década.

Segundo o New York Times, citando o jornal Science, os cientistas chegaram a um tipo de pesticida, neonicotinoide, que atua no cérebro das abelhas, tornando-as incapazes de realizar suas atividades comuns.

Os estudos foram feitos na Inglaterra e França e podem levar à proibição do uso dos pesticidas apontados como a causa. Os cientistas, no entanto, não definem uma causa única para o desaparecimento da abelha.

Há menos flores e o crescimento econômico vai reduzindo também suas possibilidades de sobrevivência.

Perguntei a muitas comissões européias que visitaram a Câmara sobre a causa da desaparição das abelhas. Havia muita incerteza sobre as causas. Alguns se arriscavam a explicar pelos fatores habituais que prejudicam o meio ambiente.

A descoberta da desaparição das abelhas nos leva a uma constatação parecida com o surgimento do livro A Primavera Silenciosa, de Rachel Carson.

É um dos livros mais importantes da história do movimento ecológico pois chamou a atenção para o sumiço dos pássaros e influenciou gerações de militantes como, por exemplo, o ex-vice presidente Al Goore

Ficha Limpa para empresas:proposta de Gabeira,que fala sobre corrupção na área de Saúde faz tempoooo! Leia.

FONTE: SITE OFICIAL DE FERNANDO GABEIRA – www.gabeira.com.br

Corrupção e hipocrisia na Saúde

Na porta da Toesa, em 2010.(foto Marcos Veras)

O governo do estado e a Prefeitura do Rio resolveram cancelar todos os contratos com a Toesa e Locanty, alem de Bela Vista e Rufolo, empresas denunciadas pelo Fantástico como agentes da corrupção na saúde pública.

 A suíte da denúncia de corrupção se fixou numa questão: como evitar que aconteça de novo. Mas é necessário responder outra: por que os governos insistem em prosseguir seus negócios com empresas denunciadas pelo Ministério Público?

Todos aplaudiram o projeto de Ficha Limpa na política. Não seria interessante também aceitar a ideia de ficha limpa nas empresas que servem ao governo?

Ambulâncias foi um dos primeiros negócios da Toesa.(foto Marcos Veras)

Cansei de denunciar a Toesa e cheguei a conseguir um helcóptero para sobrevoar o pátio da empresa e mostrar as ambulâncias acumuladas . Nenhuma reação.

Ao ver o Sérgio Cortes, secretário da Saude, afirmar na televisão que a prática das empresas, denunciada pelo Fantástico, é condenável fiquei com uma sensação de fato incompleto.

A Globo sabe que Sérgio Cortes sabe. Ele foi acusado de ter participado do processo de corrupção . Dificilmente a curiosidade jornalística não se perguntaria na época: se há tanta corrupção na Saúde o secretário é totalmente inocente?

A matéria do Fantástico prestou um grande serviço, pois mostrou como funciona a corrupção nos hospitais e órgãos do governo.

Foi possível denunciar tudo isso sem comprometer o governo amigo. O secretário se mostrou indignado e o governador Cabral cancelou todos os contratos.

O governo também foi surpreendido a julgar pelo desenvolvimento das matérias da Globo. Gostaria apenas de registrar minhas sinceras dúvidas.

Não é um possível um entrelaçamento tão amplo de empresas como Toesa e Locanty( contratos de R$400 milhões no conjunto) com Estado e Prefeitura sem que suspeite de corrupção disseminada no governo. E ainda nem chegamos na Facility, cujo dono vive em Miami e tem inúmeros contratos com órgãos oficiais.

As coisas dependem agora do do Ministério Público. Os funcionários que aparecem no vídeo vão pagar toda a culpa. As empresas vão dizer que não sabiam; o governo, que não foi exposto diretamente, vai se livrar se fornecedores que o comprometem e encarnar um movimento moralizador.

Todos sobrevivem: o governo que não aparece na matéria e as empresas que vão atribuir o suborno a um desvio pessoal do funcionário. A Globo que faz uma denúncia muito competente, mas sem comprometer os governos do PMDB com que simpatiza.

A corrupção na saude pública mata. Mas o grau de perfeição a que chegaram empresas e governo e a precisão cirúrgica das denúncias me levam a suspeitar que ela não será realmente combatida no Brasil.

Isto porque falta a manifestação mais esperada de todas: a dos usuários que arriscam a vida no sistema mas ainda não se deram conta de como ele é perverso, nem se interessaram em protestar de forma organizada

Pitadas de bom senso. Sobre as greves que pipocam, Gabeira

Só o governo não viu

 Fernando Gabeira

FONTE: www.gabeira.com

A greve dos policiais continua na Bahia e foi deflagrada no Rio. O enfoque mais comum nos jornais e televisão enfatiza a ilegalidade do movimento.

Dois outros pontos deveriam ser mencionados. O primeiro deles é a eficácia da greve, nessas circunstâncias.

O melhor caminho para os policiais seria uma intensa campanha voltada ao público, revelando suas dificuldades de sobrevivência com salários tão baixos.

Essa hipótese torna-se mais difícil porque, ao contrario de outras policias, como a norte-americana, não houve o esforço necessário de aproximação com o público.

As campanhas pedagógicas sobre consumo de droga eram feitas, nos Estados Unidos, pela policia. Transplantadas para o Brasil, viu-se que não funcionavam bem. A imagem das duas policias, a americana e a brasileira,  eram vistas de forma diferente pelos estudantes.

Mas é preciso começar a superar esse distanciamento histórico entre policia e população. A greve não ajuda porque espalha o medo e a sensação de que a cidade foi abandonada.

Há outro ponto sobre o qual não se fala muito porque admiti-lo seria criticar o poderoso governo. E este ponto é a absoluta falta de habilidade oficial em negociar com a policia. E sua incapacidade de prever os fatos.

A radicalização dos policiais e bombeiros era uma tendência evidente quando se votou a PEC-300. Em vários momentos, tivemos a impressão de que haveria tumultos na Câmara ou mesmo em Brasília.

O quadro pedia muita coisa, menos empurrar com a barriga como fez o governo federal, seguido por alguns governadores.

Duas grandes cidades brasileiras, famosas por seu carnaval, vivem um momento difícil exatamente quando pensavam em atrair mais turistas e começar a arrancada nacional para receber mais visitantes.

A policia não deveria fazer greve. Nem os passageiros de trem no Rio deveriam perder a paciência. É fácil apenas defender a lei.

Difícil é preservá-la com medidas que aliviem o sufoco real. Os PMS do Rio vão ganhar R$2070 mensais em 2013. Os passageiros de trem foram convidados pelo secretário Júlio Lopes a esperar mais dois anos por melhoras no transporte.

É necessário buscar um equilíbrio na avaliação do momento. A simples aplicação da lei e a repressão ao movimento grevista não resolvem o problema de fundo.

É preciso rever as expectativas sobre a segurança pública. Sem uma policia com salários dignos será difícil alcançar a paz urbana. Os avanços conseguidos até agora são pontuais e, no Rio, muito localizados em áreas importantes para a Copa do Mundo.

Dizer que o orçamento é curto não basta. Há tanta dinheiro para propaganda, há tanto desperdício no governo.O orçamento será sempre será curto. Daí a necessidade absoluta de usá-lo com inteligência.

“Mãe Dilma” é genial. Sobre a blindagem, a proteção, o “corpo fechado” dos ministros. Do Gabeira

http://platform.twitter.com/widgets/hub.1324331373.html

e agora o Gabeira está só lá no blog dele, o original, no endereço ( fora os artigos pro Estadão):

http://www.gabeira.com.br/

Em torno do verbo blindar

Fernando Gabeira

Ultimamente, deram para blindar. Blindaram o ministro Fernando Pimentel e agora blindam o ministro Fernando Bezerra. Se continuam nesse ritmo, haverá uma ala de ministros blindados no desfile do 7 de Setembro.

O verbo blindar é dos neologismos mais desconcertantes na política brasileira. Acontece assim: surgem evidências contra os ministros e o governo e sua base dizem para nós: não acreditem nas evidências, mas naquilo que estamos falando.

Pedem uma reação religiosa como se Brasília fosse a Cidade de Deus de Santo Agostinho, onde a visão das coisas não apreende a realidade, que deve ser alcançada pela fé.

Às vezes, esse verbo blindar parece um encontro da politica com a história em quadrinhos. É como se, de repente, os aliados do governo gritassem shazam e o corpo do protegido se fechasse.

Ainda no mundo juvenil, lembram, com sua blindagem, o dono da bola que resolve interromper a partida quando seu time está ameaçado.

A ideia de fechar o corpo é antiga. No passado, benziam-se as crianças contra mau olhado. A antropologia é rica em estudos sobre feitiço. O que há de comum com o governo é atribuir aos olhos dos outros problemas produzidos por si mesmo.

A ideia de se blindar tem um outro viés religioso que se expressa nos versos de Jorge Benjor: Jorge, sentou praça na cavalaria/eu estou feliz porque também sou da sua companhia/eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge/ para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem/… para que meus inimigos tenham olhos e não me vejam.

Assim chegamos ao momento em que a política não só vira história em quadrinho mas encarna também um desejo religioso de proteção, de fechar o corpo: armas, lanças se quebrem, sem o meu corpo tocar.

Do velho sonho de aproximar divergências na solução de problemas comuns, a política nos distancia. De havaianas na rua, ao vermos um ministro blindado, dentro de um carro blindado, não há como não reconhecer um fracasso da política que nos tornaria mais transparentes. Toneladas de metal nos separam e não há como entrar nessa pesada estrutura para beliscá-los e acordá-los para a realidade. Podem continuar dormindo e blindados por mais uma década.

O único problema é que o peso da blindagem dificulta seus movimentos e ameaça romper o assoalho. Sua saída é combinar superpoderes, ampliar o conceito de blindagem: tanto pode ser uma vestimenta de ferro, como pode ser a  palavra mágica que os faz desaparecer diante de repórteres.

Com a blindagem entramos no campo da magia e da religisão. A Dilma deixará de ser a mãe do PAC para ser simplesmente Mãe Dilma, que mantém ministros, combate mau olhado e traz a pessoa amada no prazo de dois dias.

 

APROVEITO PARA POSTAR UM VÍDEO COM MÚSICA PAR A OUVIR ENQUANTO LÊ:

Mais esta: gás brasileiro faz o mundo chorar. Sabia que exportamos as belezinhas, com bandeirinha?

http://platform.twitter.com/widgets/hub.1324331373.html

fonte: Blog do Gabeira – www.gabeira.com

Brasil e a exportação da morte, por Fernando Gabeira

Deputados e senadores estão de férias. Não podem ouvir o ministro Fernando Bezerra sobre as chuvas, nem perguntar por que o Rio construiu apenas uma das 75 pontes quebradas.

Mas não podem também se informar sobre uma denúncia publicada hoje no Globo, em matéria assinada por Rasheed Abou-Alsamh.

Segundo ela, o gás lacrimogêneo exportado pelo Brasil matou um bebê no Bahrein e está aterrorizando a oposição xiita que luta por uma monarquia constitucional.

O gás brasileiro, produzido em Nova Iguaçu, pela Condor Tecnologias não Letais, vem numa lata prateada e ostenta a bandeira nacional.

A empresa nega que seu produto seja venenosa e afirma que as negociações são controladas pelo Ministério da Defesa e das Relações  Exteriores.

São dois ministérios respeitáveis. No entanto, no que diz respeito à exportação de produtos bélicos são também muito fechados.

Percebi isso, na luta contra a exportação das chamadas bombas cacho(cluster) que produzem inúmeras mortes de crianças, porque parecem brinquedos e nem sempre explodem quando lançadas.

Tanto o Itamaraty como o Ministério da Defesa são reticentes em especificar as exportações brasileiras, afirmando que isto preserva também a segurança dos clientes.

Há um certo orgulho em exportar gás lacrimogêneo pois a bandeira do pais está exposta na lata. Outro tema que merecia ser melhor discutido.

Não falamos sobre essas exportações abertamente, mas elas saem daqui com a bandeira nacional.

Possivelmente, as bombas de gás foram exportadas para a Arábia Saudita e de lá ganharam o Bahrein. Quem nos garante que as bombas cluster, condenadas mundialmente, não fazem também trajetos sinuosos e imprevisíveis?

Ser acusado da morte de projeteis   ostentando a bandeira nacional não é bom para o Brasil. Mas quem responde pelo pais, nesse caso? O Congresso está de férias, o governo às voltas com as enchentes.

A única saída é registrar isto e afirmar mais uma vez sobre esse tipo de política externa: não em meu nome. Esse Brasil com a bandeira na bomba de gás é o pais da maioria, dos ministros blindados, da sede de exportar, mas nem sempre me representa.

COMENTÁRIO MEU:

A mim também não representa, caro amigo.

Vocês têm de ler isso. Sobre o caso Adriano. Sobre a polícia. Sobre a imprensa. E sobre nós, sobretudo.

fonte: Blog do Gabeira no estadão
29.dezembro.2011 08:01:26

O dedo da fama e a morte dos anônimos , por Fernando Gabeira

Não escrevo para defender nem atacar Adriano. Não escrevo nem para ficar em cima do muro no caso Adriano.

Escrevo apenas para registrar o intenso trabalho técnico da policia  e o interesse da imprensa pelo caso Adriano, numa cidade onde 93 por cento dos crimes não é  investigado.

Assim como o espetáculo envolve a política, ele passou a comandar também o trabalho policial. Embora grave, o episódio não foi mais que um tiro no dedo, recuperado pelos médicos.

Era preciso investigar se Adriano atirou em Adriene, esse é o nome da moça que viajava no carro do atleta. Mas os recursos empregados no caso não se aproximam nem de longe dos casos em que as pessoas perderam não só uma parte do dedo, mas a própria vida.

É compreensível que a policia se mova com empenho. Ela depende, assim como os políticos, de transmitir a sensação de que está trabalhando. E um caso desses é ideal: está tudo ali, o acusado, a pistola, a vitima e os holofotes.

Nessa mesma semana, um adolescente foi morto por soldados no Complexo do Alemão, a Miss Brasil 2010 fraturou a coluna num desastre de automóvel e um jogador morreu ao se chocar com um caminhão no Rio Grande do Sul.

Todos os fatos foram registrados de forma discreta. Mas o tiro no carro de Adriano ganhou um destaque especial.

Quando vivia no Rio, Adriano era considerado uma espécie de Papai Noel, pois sempre se metia em pequenas confusões e recompensava generosamente quem os livrava delas.

O episódio do tiro na mão foi uma espécie de “cheiro de sangue” que atraiu vários predadores naturais, desde a moça que levou o tiro até a imprensa que viu o touro ferido e foi conferir se o golpe que recebeu era mortal.

A imprensa é assim porque cada vez mais depende de gente famosa para sobreviver. Mas alguém precisaria se interessar genuinamente pelos crimes que não são investigados, independente da fama dos acusados ou das vitimas. Essa é tarefa de órgão público.

Os corpos não param de aparecer em porta mala de carro, nas esquinas desertas, nos rios e estradas.

Na tevê, os filmes policiais mostram detetives interessados nos crimes a partir da complexidade da investigação. Na vida real, por mais complexo e intrincado, o crime só ganha atenção se a opinião pública se interessa por ele.

Uma vez, meu apartamento foi arrombado e levaram as câmeras com que trabalhei na Alemanha, na derrocada da Iugoslávia e da antiga União Soviética. Fui ao distrito dar a queixa e ficou por isso mesmo.

Alguém me sugeriu, entretanto, telefonar para as autoridades e pedir ajuda. Quando é gente conhecida, eles mandam perícia e tiram impressão digital, disse o conselheiro. Não há recursos para todos os casos, concluiu. Resolvi me resignar com a perda.

Não há recursos para cobrir todos os casos. A maioria fica na sombra. De que valem vidas anônimas diante do pedaço do dedo de uma carona no BMW de um craque?

Pensatas sensatas. Essa é uma. Do Gabeira. Sobre a China, nós, Kissinger, cresciemtno, política, foco, etc. e tal. ( principalmente sobre o etc. e tal)

SOBRE A CHINA ( por Fernando Gabeira)

A China, depois de uma análise da situação internacional, decidiu continuar crescendo e deixar para segundo plano o combate à inflação. Os dirigentes chineses viram que isto traz mais estabilidade, no momento dificil. Como disse no blog de ontem, acabo de concluir a leitura do livro de Kissinger,” Sobre a China”, impressionado como fazem analises de curto e longo prazo e, de certa forma, a popularizam.

O mais impressionante no livro, que é restrito às relações diplomáticas dos dois paises, é ver como posiçoes tão antagônicas encontraram um ponto de convergência para avançar. O relato mostra como havia disposição mutua de um entendimento e como delicados episódios diplomáticos foram sendo superados para que o interesse comum continuasse a ser negociado. O cimento dessa complexa relação são os objetivos claros de cada um.

Não vejo nada parecido no panorama nacional. Não foi criado um espaço de interesse comum que pudesse ser encaminhado, apesar das divergências. Esse espaço poderia ser conquistado na política externa. O Brasil saiu-se bem na Conferência de Durban e vai ser o anfitrião da Conferência Rio+20. Não existem diferenças substanciais entre a posição do governo e da oposição. Por que não dialogar nesse campo e realizar uma preparãção verdadeiramente nacional?

O ano de 2011 foi passado na discussão da queda de ministros. É muito pouco. Dois paises gigantescos souberam distinguir entre suas querelas e objetivos de longo prazo, criando um espaço para que esses últimos fossem preservados. Se avançarmos na política externa, isso pode ser estendido no futuro a algumas linhas  da economia. Não estou propondo nenhum tipo de trégua, ou esfriamento dos conflitos políticos. Mesmo sem neutralizá-los, é preciso sair do pântano onde só de definem as divergências e não e não se distinguem os pontos de convergência nacional.

 http://blogs.estadao.com.br/fernando-gabeira/

 

Líder estudantil chilena será recebida por Dilma.Antes até do presidente Pinera. Do blog do Gabeira, que andou por lá vendo que força de ação é essa, de grande pressão

Dilma recebe Camila antes de Piñera

por Fernando Gabeira

31.agosto.2011

Santiago- Os jornais chilenos amanheceram com manchete vinda do Brasil: a presidente Dilma Rousseff vai receber a líder estudantil chilena Camila Vallejo na quarta feira.

Camila Vallejo – uma bela líder, será recebida por Dilma no Brasil, esta quarta

Camila Vallejo,líder estudantil chilena.

A marcha pedirá um investimento de 10 por cento do PIB na educação e 50 por cento dos recursos do pré-sal.

Os jornais chilenos acentuam que Camila será recebida pela Presidente do Brasil antes de seu encontro com o Presidente Sebastián Piñera marcado para sábado no palácio La Moneda.

A fonte da notícia é o blog da presidente Dilma. O encontro entre as duas vai marcar a aproximação com a esquerda brasileira, algo que no Chile existe, mas com algumas reservas, pois, ao longo de 20 anos de governo da Concertación, as aspirações dos estudantes não foram atendidas.

Analistas consideram o movimento dos estudantes no Chile, apesar de sua nítida inspiração de esquerda, uma critica indireta ao sistema político de modo geral.

fonte: Blog Fernando Gabeira – estadão –

Sobre Errolflyns e outros. Comentário do Gabeira vale. Pela seriedade, pelo humor, e porque mostra que estamos mal com essa turma aí, escandalosamente cinematográfica

Em busca das provas robustas

por Fernando Gabeira

    A presidente Dilma Rousseff, para variar, ficou irritada. O vice Michel Temer perguntou onde estavam as provas robustas.

As duas figuras que aparecem como noivo e noiva no bolo de aniversário da coligação PMDB- PT  estão unidas na censura à Policia Federal.

Acontece que a tanto a Policia Federal como a Procuradoria estão apresentando muitos dados, gravações telefônicas e, agora, depoimentos dos presos.

Apareceu até uma testemunha chamada Errolflyn de Souza Paixão. Os mais jovens podem ir ao Google e encontram lá o nome do ator norte-americano que inspirou os pais do Errolflyn brasileiro.

Num texto literário, esse nome seria um achado. Mas os estudiosos dos escândalos brasileiros sabem que, assim como fumaça e fogo, nomes estranhos e escândalos andam juntos no Brasil. Ele afirma que a deputada Fátima Pelaes sabia do esquema e ficou com parte do dinheiro da emenda de R$ 4 milhões.

O ideal seria que o governo ficasse calado até que o processo se desenrolasse. Ao se precipitar nas criticas à operação da PF, tentou mostrar para a base aliada que vai protegê-la.

Mas os fatos estão aí. O trabalho da PF está fundamentado neles. Dificilmente, as investigações, sobre esse e outros casos, será paralisada.

É o dilema que  tenho enfatizado. Não dá para evitar que a roubalheira venha à luz. Mas não dá também conter a base aliada que quer verbas das emendas parlamentares e suavidade na PF.

Se a greve dos aliados acabar com a liberação das verbas, aí então é que o trabalho da PF se fará mais necessário porque é das verbas que nascem as tramóias.

Só uma coisa preocupa. A PF tem enfatizado sua luta salarial. Isso significa que, com aumentos de salários, ela será mais complacente?.

Os tempos de vacas gordas permitiram a implantação de um poderoso esquema no Brasil. Seu objetivo não foi somente trocar o governo, mas também democratizar as benesses do poder, incluindo um amplo espectro de partidos, sindicatos, entidades de classe e ONGs.

É a tática da Arca de Noé que funciona bem no pais mas ameaça afundar nas crises. Quando menino, ouvia muito esta frase: ou todos se locupletam ou restaure-se a moralidade.

Em tempos da vagas gordas, chegou-se perto da estabilidade ideal do modelo. Quase todos que têm voz e organização foram cooptados. A própria PF, em alguns casos que envolviam o governo, pipocou.

Errol Flyn, o ator, em pose de detetive.

Não é só a crise econômica que ameaça a estabilidade do modelo. Ele também é ameaçado pela ganância e sensação de impunidade.

No imenso laranjal em que tranformaram o Brasil, Erroflyns da Paixão, Capitães Marvel da Silveira, Clarkgable dos Santos vão aparecer muitas vezes. Isto para ficar apenas na inspiração do cinema americano. Há todo um arsenal nativo à disposição dos plantadores.

( fonte: BLOG DO GABEIRA, NO ESTADÃO )

De Juiz de Fora, para o mundo. Gabeira, também de Juiz de Fora, conta um pouco das lembranças que tem de Itamar. Vale a pena.

ADEUS A ITAMAR FRANCO

por Fernando Gabeira, do blog no Estadão:

http://blogs.estadao.com.br/fernando-gabeira/

Morreu Itamar Franco. Foi um grande político de Minas . Como Presidente da República cumpriu seu papel e levou o Brasil à segunda eleição direta para presidente com muita dignidade.

Eu conheci na nossa cidade, Juiz de Fora. Andávamos na rua Halfeld, onde se fazia o footing dominical. Itamar era um jovem engenheiro e, aos poucos, foi crescendo no cenário político.

Um dos lideres populares de Juiz de Fora era também dirigente sindical. Chamava-se Clodismith Riani e foi preso pelo governo militar.

Com a saída de Riani, Itamar ocupou o espaço de uma liderança de oposição. Riani era do PTB e creio que foi com esse sigla que Itamar ganhou a primeira eleição para prefeito.

Tive a oportunidade de reencontrá-lo às vésperas da queda de Collor. Ele se hospedou no Sheraton, no Rio, e não falava com jornalistas. Fui recebido com a ressalva de que não daria entrevista.

Parecia um pouco perplexo. Eu dizia que ele seria o próximo presidente, que Collor não aguentaria mais um mês. Parte de sua discreção era característica do cargo de vice.Além disso ,vinha da política mineira e era um pouco tímido .

Sua performance como senador sempre foi muito boa, sobretudo comandando a comissão que discutiu a energia nuclear no Brasil.

Voltei a encontrá-lo na convenção do PPS, quando já era candidato a senador por Minas. Foi sua última vitória eleitoral.

Itamar foi um homem de bem, cercado de pessoas corretas e fieis, alguns conhecidos desde minha juventude, como Ruth Hargreaves e seu primo Henrique, que se tornou Chefe da Casa Civil.

Na sua presidência, com Fernando Henrique na direção da economia, foi criado o Plano Real que estabilizou o pais, preparando-o para os grandes avanços das duas últimas décadas.

Uma grande perda, sobretudo para um Senado decadente e submisso como o de hoje. Às vezes, o critiquei quando exercia a presidência. Depois de tudo que aconteceu nos últimos anos,reconheço que seus erros foram secundários e o Brasil ainda precisava muito de gente como ele

BOMBEIROS – RJ. Post do site do Gabeira, que acompanha desde sempre o movimento. Informe-se de como vai a coisa. E não vai bem.

Bombeiros têm primeira vitória, mas ainda falta o salário

por Fernando Gabeira -09.junho.2011 

    A decisão do governador Sérgio Cabral de criar uma Secretaria de Defesa Civil é a primeira vitória dos bombeiros e todos aqueles que se preocupam com uma resposta aos desastres naturais.

Como se sabe, para escapar da pressão dos médicos no serviço público, o governador Cabral utilizou um grande numero de oficiais do Corpo de Bombeiros na Saúde, pois militarizando o trabalho conseguia mais disciplina.
Saúde e defesa civil se fundiram, com prejuízo da segunda que cresce de importância num mundo atingido por desastres naturais e ameaça de aquecimento .
Mas a adesão a uma tese de autonomia e singularidade da defesa civil defendida pela oposição, na campanha eleitoral, não resolve o problema, pois o aumento prometido de 5,58% não atende às reinvidicações dos bombeiros, unidos agora aos soldados da PM e aos funcionários da Policia Civil.

Querem um piso de R$2.900 para todas as categorias. É uma concessão dentro da própria ideia da PEC-300. No texto aprovado em 2010, o piso salarial era de R$3,5 mil para soldados e R$7 mil para oficiais.
Não posso deixar de me alegrar com a separação entre saúda e defesa civil, ambas importantes e autônomas. Mas temo pelo êxito nas negociações salariais. Vai ser preciso lugar muito.

O governador Cabral foi muito arrogante com os bombeiros. Ele já tem uma tendência à arrogância e apoiado por Lula e pela Globo sente-se o dono do mundo .
De fato, são dois aliados importantes tanto no campo da política como no das comunicações. No entanto, a arrogância pode solapar até os mais poderosos.

Os gregos diziam que a punição que os deuses reservam para a soberba é a cegueira.Pode também ser entendido de forma simbólica porque a soberba é em si uma forma de cegueira.

Foi dado um passo, mas no domingo a população vai mostrar ao governador Cabral como leva a sério a remuneração de bombeiros e policiais. Gostaria de ver bombeiros e policiais triunfando ali onde mais sentem o desprezo do governo: o salário com que se compra o pão de cada dia.

PS: A manutenção dos 439 bombeiros é tão insensata aos olhos da população que Cabral acabará cedendo nesse ponto. Ele tem seus marqueteiros,tipo de gente com utilidade para político que não anda na rua.

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FRASE DO DIA, para ser percebida por gente que já está até chamando Guimarães Rosa para defender erros em livro. E que ainda não estão “contando Paloccis”

…”Sem contar que, alem do exército mobilizado, a soldo, para defender suas idéias, há também alguns batalhões românticos que vêem  em tudo isso uma luta da esquerda contra a direita, dos pobres contra os ricos, do progresso contra o atraso”.

( DA COLUNA DE FERNANDO GABEIRA NO BLOG DO ESTADÃO, SOBRE O CASO PALOCCI)

Uma análise da votação do Código Florestal, de quem entende do riscado: Fernando Gabeira

A novela do Código Florestal

por Fernando Gabeira – DE HOJE, do blog no ESTADÃO

Código ou incêndio florestal? A votação do texto esta semana tornou-se muito áspera, considerando a complexidade do tema.
Muita gente, vendo de longe, imagina que as dificuldades estão apenas num embate entre ambientalistas e ruralistas.
O governo perdeu o controle de sua base e foi obrigado a adiar a votação. Portanto, o problema existe também entre governo e base aliada.
Mas o que me parece mais interessante, não foi levantado com destaque. Um dos países com mais recursos naturais no mundo, o Brasil é muito complexo para ser resolvido pela burocracia política em Brasília.
Se tivessemos feito um zoneamento ecológico e econômico do país, não precisávamos ficar discutindo se as terras teriam de ter 80 ou por cento de reserva legal. Cada área, de acordo com o estudo específico de suas condições, teria o espaço exato para sua proteção.

Da mesma maneira, no caso dos rios, é difícil determinar uma regra para todo o Brasil. Criamos, através de três leis, uma legislação moderna para os recursos hídricos. Ela prevê a criação de Comitês de Bacia, um instrumento democrático de gestão, que poderia determinar a situação das margens do rio sob seu controle.

Visão da Mata Atlântica, em Itatiaia, RJ.(foto FG)

 Não posso dizer que o caminho de votação do Código no Congresso esteja errado. Ele precisa ser definido lá. Mas o quadro legal em que se faz a escolha é abstrato, impreciso. O ecologista saca um número mais alto, o ruralista um número mais baixo. E fica parecendo que esse é o melhor debate.

A novela vai continuar e o provável resultado será a insatisfação das partes. Elas precisavam incorporar procedimentos científicos em suas decisões. Se duvidam dos cientistas, que, às vezes, também discordam entre si, poderiam pelo estabelecer um padrão: quando houver consenso científico, estaremos juntos, quando não houver, resolvemos a questão na luta política.

“Um Belo Monte de problemas”, por Fernando Gabeira

Um Belo Monte de problemas – post do blog de Fernando Gabeira, no Estadão

A Comissão de Direitos Humanos da OEA pediu a suspensão do projeto da usina de Belo Monte. Instruido pela presidente Dilma Rousseff, o Brasil reagiu com energia, considerando injustificável o pedido. O texto da Comissão pede a realização de uma consulta  “prévia, bem informada, e boa fé e culturalmente adequada”em cada comunidade indígena. Ao mesmo tempo, o organismo quer um Relatório de Impacto Ambiental traduzido nos idiomas dos povos indígenas atingidos.

CAIAPÓ, foto FERNANDO GABEIRA

Há algum tempo falei do histórico dessa usina de Belo Monte, que no passado se chamava Kararaô. Ela foi combatida, principalmente, pelos caipós, tendo à frente o cacique Raoni que viajou pelo mundo e conseguiu a simpatia do então presidente da França, Jacques Chirac.

Kararaô, Belo Monte, passou a ser um símbolo internacional de ameaça à Amazonia. Na primeira reunião ainda na década dos 80 veio o cantor Sting e outras figuras como Anita Roddick criadora e dona da rede Bodyshop. Agora, nesta nova fase em que Kararaô se chama Belo Monte, o diretor de Avatar, James Cameron faz campanha contra a usina e, recentemente, o próprio Bill Clinton, em Manaus, aconselhou a busca de alternativas para usinas na floresta.

O tom que Dilma Rousseff deu à resposta é um pouco parecido com o ritmo com que a obra está sendo tocada. Quatro diretores do Ibama já cairam porque se colocaram no caminho. Antes da licença de instalação, foi permitida a construção do canteiro de obras, o que é um paradoxo. Os indios acham que sua vida sera radicalmente alterada, sobretudo pelos canais que serão construidos na Grande Volta do Rio Xingu, que podem reduzir a água que necessitam.

A resposta do Brasil acusando o texto da OEA de injustificável acaba revelando a quem procura uma resposta para Belo Monte que o governo optou por um caminho autoritário. Se os argumentos disponíveis estivessem na mesa, bastava dizer que a OEA não foi adequadamente informada e que o Brasil está pronto para explicar.

Caiapó em Altamira, primeiro protesto.(Foto FG)

O novo presidente da Vale do Rio Doce, Murilo Ferreira, estaria disposto, diz o Globo, a investir em Belo Monte. Isto impulsiona a obra mas revela também seu lado mais perverso. Se o objetivo é usar energia barata para exportar minério, inclusive produzir alumínio, que é um devorador de energia, estrategicamente será um erro provocar um desequilíbrio na bacia do Xingu. Mais uma vez podemos sacrificar interesses de longo prazo por um aumento de lucros imediatos.

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Para saber mais sobre energia nuclear, radiação…

Uma dica de um jornalista ( e ambientalista ) para acompanhar no caso das usinas nucleares japonesas: Fernando Gabeira. Ele se dedica faz tempo a esses estudos, tem calma par afazer as análises e sabe que o mundo é cada dia mais globalizado.

Como ele próprio diz, no artigo abaixo, do Estadão, do blog ( Clique aqui), “Parodiando John Donne para quem nenhum homem é uma ilha, é possível afirmar que nenhum vazamento é uma ilha- tem repercussões planetárias, embora em alguns lugares remotos a radiação seja insignificante”.

Desastre nuclear e informação

por Fernando Gabeira

    Informações são vitais num desastre nuclear. Em Chernobyl foram negadas pelas autoridades. Na França, o governo da época mentiu, afirmando que a nuvem radioativa iria parar na fronteira do pais.
    O Japão mantém um fluxo de informações mas ainda assim a opinião pública não está satisfeita com elas. Já havia reclamado aqui, inúmeras vezes das informações da Tóquio Eletricidade e do porta-voz do governo, Yukio Edano.
    Leio agora que há uma campanha contra Edano no twitter japonês. Os japoneses querem informações mais precisas, sobretudo em Tóquio, onde uma eventual retirada da população seria muito mais complexa do que na área ao redor de Fukushima.
    Por outro lado, o que se quer saber, isto é qual o nível de derretimento nos reatores não é muito fácil de checar. Os únicos índices que orientam o processo, nesse momento, são os que medem o nível de radiação.
    O grupo de 50 funcionários foi retirado da usina e depois recolocado porque a radiação subiu e depois desceu a níveis suportáveis. Quando escrevo níveis suportáveis lembro-me dos inúmeros debates sobre dose mínima que travamos no passado. Qual é mesmo a dose mínima? Ela é mínima para todas as pessoas indistintamente? Ela é mínima para todos os ambientes?
    Deixando de lado os debates do passado, avaliando apenas o que chega do Japão, a impressão que tenho é de que a batalha contra o resfriamento está sendo perdida. Espero que seja apenas impressão. Aquela história de usar helicópteros para jogar água era um indício de desespero. A retirada permanente dos trabalhadores seria um pouco como jogar a toalha. Mas é uma grande responsabilidade deixá-los lá, a partir de certos níveis de radiação.
    O problema com a Tóquio Eletricidade e com Yukio Edano é que não precisam informações vitais. Falam-se em buracos de oito metros de diâmetro no prédio do reator 4. Os buracos teriam sido provocados pela explosão de hidrogênio. Era preciso explicar o que significam em termos de segurança. Na transmissão da Globo, falava-se que iam usar bombeiros para injetar água nesses buracos. Incompreensível. Ontem à noite uma grande fumaça branca saia do reator 2, possívelmente o vapor liberado para evitar explosões.
    Não há se estabelecem os nexos entre as liberações constantes de vapor e as alterações no nível de radiação. Pode ser por causa disso que o nível de radiação sobe desce em torno de Fukushima. Nesse caso, as elevações seriam previsíveis pois a liberação do vapor é voluntária.
    Algumas autoridades francesas já classificam o desastre como de nível 6, próximo de Chernobyl.Mas a usina ucraniana produzia menos que Fukushima. Se houver mesmo derretimento total, a usina japonesa tem um fator agravante pois será liberado mais material radioativo por mais tempo. Um outro fator agravante em Fukushima é a densidade populacional maior que Chernobyl. Na Ucrânia, as pessoas foram retiradas num raio de 30 quilômetros e os efeitos da radiação se fizeram sentir a 140 quilômetros.
Imagem pós terremoto, tsunami e vazamento nuclear

Há outros fatores em jogo como a direção dos ventos. O aumento da radiação em Tóquio pode ter sido provocado pela situação dos ventos. Espera-se que soprem nesta quarta-feira para o oceano. É menos problemático em termos humanos mas não é neutro em termos ambientais. Parodiando John Donne para quem nenhum homem é uma ilha, é possível afirmar que nenhum vazamento é uma ilha- tem repercussões planetárias, embora em alguns lugares remotos a radiação seja insignificante.

Tem ditador no samba! Tem ditador passeando por aqui, olha só o alerta geral. Do Gabeira, no blog dele, lá no Estadão

Olha como nós somos bonzinhos…Como disse, viajamos para o mundo inteiro para bajular essa gente…E elas aparecem para a sobremesa

Um ditador no carnaval

por Fernando Gabeira – 7.março.2011 13:20:56 – http://blogs.estadao.com.br/fernando-gabeira/

  • Está no Brasil o ditador de Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo. Alugou dois andares no hotel Ceasar Park para sua comitiva e construiu um camarote especial no sambódromo.
O ditador de Guiné Equatorial

Ele foi visitado por Lula e as relações entre o Brasil e a Guiné Equatorial vão bem. Naquele pais, 20 por cento das crianças morrem por falta de comida ou assistência médica. Mas Teodoro Obiong tem uma mansão de US35 milhões em Malibu, Califórnia, comprada pelo filho, Ministro da Agricultura.

Aliás sua família está sendo investigada pelo Congresso americano. O filho que também se chama Teodoro conseguiu introduzir milhões de dólares no pais e como tinha uma namorada famosa, a rapper Eve, a história ganhou projeção no noticiário.

A namorada do filho de Obiang

Não sei se os dólares que Teodoro Obiang Mbasogo está deixando no Brasil compensam  constrangimento de sua presença. Estamos em tempo de real politik e pequenas dúvidas morais não têm muito espaço. Um dia, esse ditador vai cair e sua história repugnante será contada, inclusive a grande amizade com o Brasil. Mas quem vai se interessar? O dia está muito longe, o momento é samba e oba-oba.

Lula e Teodoro Obiang, realpolitik.

Gabeira adianta um pouco mais do que saberemos amanhã. E cita as dificuldades que teve na Câmara ao tratar de assuntos “correlatos”

Os negócios da família Kadafi

por Fernando Gabeira – DO BLOG NO ESTADÃO –http://blogs.estadao.com.br/fernando-gabeira/

Graças aos vazamentos do Wikileaks, os jornais devem estar apresentando , amanhã, grandes histórias sobre a Famiglia Kadafi. Seus filhos recebem dinheiro da companhia de petróleo estatal e tinham até a franquia da Coca Cola.

 Seif, o filho intelectual de Kadafi.

Uma excentricidade: um deles pagou US$1 milhão para a cantora Mariah Carey interpretar quatro músicas num show no Caribe. Há histórias de espancamentos das mulheres e outras aventuras de bilionários que se sentem impunes em seus países.

Duvido que as empresas brasileiras instaladas na Líbia ignorassem a ação da família Kadafi. Seid Al Islam, um dos filhos, tem um jornal e é  o mais intelectualizado. Cursou a London School of Eeconomics e escreveu vários papers. Nem por isso deixa de defender seus interesses familiares contra o povo da Líbia. O filho Muatassim seria o mais barra pesada e pediu US 1,2 milhão para organizar uma milícia para a companhia estatal de petróleo e rivalizar com irmão Khamis que controla a força especial do governo.

O motivo que levou Mariah Carey a aceitar a oferta do filho de Kadafi é o mesmo que nos leva a vender blindados para o ditador: é preciso abrir empregos, melhorar o nível de vida.

Por essas razões que o Wikileaks expoê na  Líbia e que são comuns em alguns paises africanos, é que não me foi possível avançar com o projeto que determina limites éticos para a atuação das empresas brasileiras no exterior. O que é isso, criar obstáculos, no momento em que estamos ganhando dinheiro?

Ainda teremos muito que discutir nessa história da Líbia.

A diplomacia do Bunga-Bunga: Berlusconi-Kadafi