
Só o governo não viu
Fernando Gabeira
FONTE: www.gabeira.com
A greve dos policiais continua na Bahia e foi deflagrada no Rio. O enfoque mais comum nos jornais e televisão enfatiza a ilegalidade do movimento.
Dois outros pontos deveriam ser mencionados. O primeiro deles é a eficácia da greve, nessas circunstâncias.
O melhor caminho para os policiais seria uma intensa campanha voltada ao público, revelando suas dificuldades de sobrevivência com salários tão baixos.
Essa hipótese torna-se mais difícil porque, ao contrario de outras policias, como a norte-americana, não houve o esforço necessário de aproximação com o público.
As campanhas pedagógicas sobre consumo de droga eram feitas, nos Estados Unidos, pela policia. Transplantadas para o Brasil, viu-se que não funcionavam bem. A imagem das duas policias, a americana e a brasileira, eram vistas de forma diferente pelos estudantes.
Mas é preciso começar a superar esse distanciamento histórico entre policia e população. A greve não ajuda porque espalha o medo e a sensação de que a cidade foi abandonada.
Há outro ponto sobre o qual não se fala muito porque admiti-lo seria criticar o poderoso governo. E este ponto é a absoluta falta de habilidade oficial em negociar com a policia. E sua incapacidade de prever os fatos.
A radicalização dos policiais e bombeiros era uma tendência evidente quando se votou a PEC-300. Em vários momentos, tivemos a impressão de que haveria tumultos na Câmara ou mesmo em Brasília.
O quadro pedia muita coisa, menos empurrar com a barriga como fez o governo federal, seguido por alguns governadores.
Duas grandes cidades brasileiras, famosas por seu carnaval, vivem um momento difícil exatamente quando pensavam em atrair mais turistas e começar a arrancada nacional para receber mais visitantes.
A policia não deveria fazer greve. Nem os passageiros de trem no Rio deveriam perder a paciência. É fácil apenas defender a lei.
Difícil é preservá-la com medidas que aliviem o sufoco real. Os PMS do Rio vão ganhar R$2070 mensais em 2013. Os passageiros de trem foram convidados pelo secretário Júlio Lopes a esperar mais dois anos por melhoras no transporte.
É necessário buscar um equilíbrio na avaliação do momento. A simples aplicação da lei e a repressão ao movimento grevista não resolvem o problema de fundo.
É preciso rever as expectativas sobre a segurança pública. Sem uma policia com salários dignos será difícil alcançar a paz urbana. Os avanços conseguidos até agora são pontuais e, no Rio, muito localizados em áreas importantes para a Copa do Mundo.
Dizer que o orçamento é curto não basta. Há tanta dinheiro para propaganda, há tanto desperdício no governo.O orçamento será sempre será curto. Daí a necessidade absoluta de usá-lo com inteligência.