ARTIGO – Luta livre, sempre. Por Marli Gonçalves

Todo dia é dia de luta. Todo dia primeiro, seja de maio ou não, é sempre dia de uma luta inglória com a gente se engalfinhando com a lista de contas, prestações e quetais a pagar, que se estendem por todo o período, em círculos; acabou uma vem outra, e outro mês. Pelo que se luta? A favor ou contra? Justiça ou repressão? Pelo que cerramos os punhos, levantamos braços, nos mobilizamos?

O que quero dizer é que vivemos, de alguma forma, sempre engajados em alguma luta,  e isso independe até de posições políticas – que agora até a rançosa direita, oportunista, se apropria de falar que – logo ela, que as abate – está lutando por coisas que sempre nos foram caras, tal a confusão estabelecida. Estabelecida, repito. Lutar contra fake news é ir contra a liberdade de expressão? A busca de regular as redes sociais e suas empresas milionárias que estão sempre deixando o barco correr com a navegação de tudo que é muito ruim é certa ou errada? Isso pode se virar contra nós em algum futuro? Podemos gritar “fogo!” em um ambiente fechado cheio de gente para ver no que dá?

Precisamos tomar sempre todos os cuidados com essas discussões que ocuparão um bom espaço nos próximos tempos neste nosso endiabrado país às voltas agora com a busca de aprovação de projetos de leis, com o andar de uma CPI sobre o maldito 8 de janeiro, com as decisões da Suprema Corte e de alguns ministros mandões. O Brasil está chacoalhado, dividido, armado. Com armas e ideias retrógradas, além das desinformações. Descuidado da educação, da cultura, da história, o Brasil deixou crescer barbaridades, influências, medos e ignorâncias e não há pós-verdades simples que resolvam pelo menos não tão cedo, nem com tesouradas de censura, muito menos com atos autoritários. Nossa gente está doente, apavorada, insegura.

Conversando essa semana com uma mulher simples, de comunidade, esta me contava, aflita – quando perguntei como estavam as coisas – que achou, dentro da mochila que o seu mirrado filho de oito anos levaria à escola, uma faca de cozinha, toda enrolada em papel alumínio e panos. Ele, agoniado, explicou que era só para se defender caso o “matador” (o novo bicho-papão das crianças) invadisse sua escola. Mais, ela me contou que poucas escolas de sua área estão funcionando normalmente, que as fake news (sim, ela sabe o que é isso e usou essa expressão) rolam multiplicadas entre as mães que há quase um mês se recusam a enviar seus filhos para estudar. Disse ainda que, mesmo com reuniões constantes com as forças policiais e com os diretores e professores garantindo segurança, as coisas não melhoram. E que tem até professor assustando alunos anunciando massacres, reverberando boatos que continuam rolando em redes sociais.

Imaginei isso em escala nacional. Não bastasse a rasante que a pandemia causou na educação, isso tudo acontecendo agora que ela precisa ser retomada. Como preencher esse vácuo, esse atraso no aprendizado? Como reestabelecer a tranquilidade de uma mãe que necessita deixar os filhos na escola para trabalhar, isso, claro, quando ainda tem um trabalho a garantir?

A quem interessa que sigam essas molecagens digitais sem controle? Censura, aprender os autores? Quantos pais estão conversando ou averiguando as mochilas de seus filhos até para entender onde estão os seus medos? O que escutam dentro de suas casas ou na igreja que frequentam? Que gerações futuras sairão disso tudo?

Que braços levantamos, que punhos cerramos para continuar, toda a sociedade, e muito além do dia disso ou aquilo, feriado ou não? Mulheres, contra a misoginia, para sobreviver à violência doméstica, aos cuidados e segurança dos filhos. Negros contra o racismo. A comunidade LGBTQIA+ contra o preconceito e a violência que mata e sufoca. Todos, por trabalho, moradia digna, acesso à saúde física e mental.

A luta ainda é livre. Vale tudo. Vale todas. Mudam o mundo.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon).

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Abriu abril, desinteligências artificiais. Por Marli Gonçalves

Abril, já são passados quase cem dias e o ano de 2023 ainda boceja, se espreguiça, esfrega os olhos, acorda, e logo volta a dormir mais um pouquinho. Quem dera fosse só no seu primeiro dia que mentiras são pregadas e apregoadas. E com inteligências ligadas em tomadas.

Abril é mês que muita coisa acontece e, ao mesmo tempo, nada acontece. A estação muda, mas as notícias invariavelmente parecem ser sempre continuamente as mesmas, que se repetem, até como farsas. Algumas até mudam de local e personagens, mas o quebra-cabeças sempre perde algumas peças antes de formar um quadro definitivo para que a gente possa emoldurar e pôr na parede, dando o assunto como encerrado. Cheio de feridos e feriados, recheado de desapontamentos, e nem falo só de política, pelo menos por enquanto, e sei que imediatamente foi no que você pensou aí, com alguma razão.

Primeiro, vamos falar de nós, sim, de nós, e daqueles todos que desde os últimos dias do ano passado, de roupinha nova, calcinhas coloridas de desejos, projetavam sonhos, feitos, realizações, soltávamos fogos e pulávamos ondinhas, jurando até já estarmos respirando ares mais calmos e puros de “agora vai”. Mas desde os primeiros dias do ano vendo que o pretendido acelerador não funcionava, desapontados. Nem para ajudar a fugir das contas que agora chegam não só roçando por debaixo da soleira das portas, mas por todas as vias digitais, com seus códigos de barra, QR codes e juros, altos, que tentamos pular, mas nos dão seguidos caldos. Incrível até que nem isso é novidade, já que todo ano temos essas mesmas ilusões, algumas apenas mais sonhadoras e vãs, como pensamos 23. Já seria bom, pelo menos – e até nisso foi só até há poucas horas atrás quando o avião o trouxe de volta – de não ver mais aquela cara espumando ódio e elogiando os horrores da ditadura que recordamos sempre quando vem chegando ao fim as águas de março.

Mas seguimos. Rindo, talvez, com as mentiras bobas que os amigos tentam pregar. Mentiras são variadas, se encaixam em vários padrões e até em boas causas, quando buscam poupar sofrimentos. Tolas ou não. Parece que já nascemos sabendo desde crianças como pregá-las e usar para escapar de alguma enrascada ou flagra. Mas as mentiras pouco sinceras andam mudando o mundo, mais articuladas e perigosas, apoiadas numa tal perigosa realidade virtual, local para onde parece que tem muita gente se mudando de mala e cuia, numa insana tentativa de enganar a muitos de uma só vez. O problema é que criam mundos lá, mas de quando em quando desembarcam em passeios no chão da realidade. Pior, há crianças utilizando esse artifício, e saindo para ir à escola com armas e intenções que viram em seus jogos de derrubar monstros, disputando com desconhecidos no silêncio de seus quartos e computadores, onde os pais se mantinham tranquilos por achar os filhos na segurança do lar. Lá fora, pensam, está tudo muito perigoso…

Os próximos dias já marcam em todo o mundo maiores debates sobre essa convivência entre o virtual e a realidade, sobre homens e robôs, sobre a tal imperturbável inteligência artificial que agora responde a perguntas e anseios, e que de vez em quando não mente e assusta até os seus criadores: digita claramente que quer mais, quer poder, quer existir e participar do comando. Plantados entre nós, nos ajudam, dão a mão, se oferecem gratuitos, crescem e se alimentam de nós, os observados em todos os movimentos, sentimentos, angústias. Aprenderam com nossa arte, nossas criações, e já se tornam até melhores em algumas áreas. Nos vigiam e ainda não sabemos quais serão os seus limites. Os criamos antes de aprender.

O jornalismo que enfrenta as fake news os divulga e até – inacreditavelmente – agora consulta esses chats, publicando suas respostas. Aceleram-se as mudanças nesse campo que nos deixa atônitos. E enquanto estamos pensando nisso, nos dias lépidos, no que ainda buscaremos, o sistema nos envolve, e ainda com toda a fragilidade da natureza que nos faz recordar o quão humanos e frágeis somos. A chuva alaga, o vento derruba, o fogo queima, o frio congela, a terra treme, as guerras continuam, a energia escasseia. Acaba a luz e tudo se desliga. Não há mais o que fazer. Tira da tomada?

A gente acorda, se espreguiça, esfrega os olhos, e volta a dormir um pouquinho mais sonhando com os paraísos, estes sim artificiais.

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MARLIMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon).

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Limites terrivelmente irresponsáveis. Por Marli Gonçalves

 

Nossa paciência tem limites. O que podemos ou não fazer têm limites. Até a loucura tem limites. Nesse momento quem está dirigindo o país está brincando de testar os limites. E isso tem um limite. Não é política. É provocação.

Todo dia, toda hora, aqui, ali, em áreas técnicas, sociais, comportamentais: o presidente Jair Bolsonaro está abusando não só dos seus próprios limites, e ele têm muitos, limitado que é, como de nossa inteligência, paciência, honra e capacidade de suportar os ataques que desfere. Como se brincasse, parece. Como se não tivesse o que fazer e ficasse inventando. Como se estivesse se divertindo com nossa agonia. Não é agonia de ideologia, de direita, esquerda, de quem é a favor ou contra, esse insuportável debate no qual o país está mergulhado. Já são mais de seis meses que estouram em nós os limites do seu amadorismo, desconhecimento, pessoalidade.

Essas últimas dessa semana transbordaram. Primeiro, em encontro com pastores, a promessa verdadeiramente ameaçadora de indicação em breve de um ministro do Supremo Tribunal Federal, STF, “terrivelmente evangélico”. Como assim? Além de termos de buscar o máximo de laicidade nas instituições, o que isso significaria, especialmente na cabeça dele? Um ministro da Corte Máxima, seja o que for pessoalmente, homem, mulher, gay, católico, ateu, umbandista, evangélico, alto, baixo, magro, gordo, vegano, preto, branco, pardo, caboclo – o que for – deve seguir uma única luz: a Constituição Federal. O que é que Bolsonaro acha que alguém como ministro “terrivelmente evangélico” modificará? Descerá sobre nossas cabeças novas leis? Todas as imagens sacras serão execradas? Teremos de usar saias abaixo dos joelhos, como as mulheres-postes? Cortar cabelo nunca mais? Proibir unhas e batons vermelhos? O dízimo já pagamos.

Desculpem, mas respeito muito os evangélicos, e sei que entre eles há gente do bem, inclusive trabalhei com muitos que conseguiram que eu própria revisse meus preconceitos. Sei que até eles, em particular, não concordariam com muitos dos ideais e pensamentos bolsonarescos, porque sabem que estaria sendo celeremente criada mais uma terrível forma de discriminação contra eles próprios – aliás, já a caminho.

Para completar, o presidente resolveu dar um inesquecível presente de aniversário ao filho 03, Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo PSL/SP. Sua indicação à embaixada brasileira nos Estados Unidos, em Washington, o mais importante cargo da diplomacia nacional, de estratégica importância política e econômica. As qualidades do moço? “ele fala inglês e espanhol”, “não é aventureiro” … entre outras que é melhor nem citar para não nos aborrecer ainda mais, a todos nós.

Mas o próprio Eduardo Bolsonaro foi ainda mais longe na sua própria apresentação, acrescentou que fez intercâmbio lá, e que fritou hambúrgueres. Disse acreditar que será melhor visto por ser filho do presidente, que não é nepotismo e acena com a aprovação logo de quem? Do doido chanceler sabujo de Olavo de Carvalho, Ernesto Araújo.

O prestigiado Instituto Rio Branco e o Palácio Itamaraty já devem ter começado a ter as paredes trincando, rachando, implodidas. Que o Senado nos livre de mais essa barbárie, recusando a indicação, furando bem furado mais esse balão de ensaio.

Não tem graça. Em seis meses está havendo um desmonte de toda uma organização, de todo um país, de conquistas fundamentais, qualquer coisa que se pergunte resulta em mostrar a total divisão do país, numa dialética maligna.

Mais: é cruel termos de dar atenção a assuntos de tanta ignorância em um momento do país em crise, com discussões envolvendo nossas vidas e nossos futuros, como a Previdência. Aliás, já fez os cálculos? Acha mesmo que será essa reforma que salvará a pátria? Só se a gente viver e sobreviver – e muito – para ver.

Isto não é política. É acinte. Passa terrivelmente de qualquer limite.

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Marli GonçalvesJornalista, Consultora de comunicação, Editora do Chumbo Gordo. Repara que a campanha presidencial já começou. E repara também que não é exatamente para a próxima eleição marcada para 2022. É para antes, bem antes.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

Brasil, quanto falta?

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É. Tudo tem limite. Inclusive a atuação do CQC. Alguns deles foram presos hoje. Vestidos de policiais…Veja só, na Oscar Freire!

NESSA NOTÍCIA A ESQUISITICE FOI A DELEGACIA. LÁ É 78º DP. ( NÃO O 14º dp)

E ELES AINDA FAZEM GRAÇA…

Do r7 – www.r7.com

Integrantes do CQC são presos em São Paulo

Segundo a polícia, humoristas estavam disfarçados de policiais na rua Oscar Freire

Do R7, com Agência RecordReprodução/TwitterReprodução/Twitter
Oscar Filho divulgou foto dele vestido de policial
 
Uma equipe do programa humorístico CQC (Band) foi presa na rua Oscar Freire, em São Paulo, por volta das 17h desta sexta-feira (11). 

Segundo a polícia, eles estavam vestidos de policiais e abordavam as pessoas, oferecendo celulares e relógios como se fossem objetos furtados. 

A policia ainda informou que seis pessoas foram detidas. 

O humorista Oscar Filho, repórter da atração, está entre os presos. 

Ele inclusive divulgou uma foto dele vestido de policial militar.

Filho pareceu comemorar a prisão em seu Twitter.

– Tenho uma informação: estou sendo conduzido para a delegacia… CQC de volta a ativa! 

A equipe foi encaminhada ao 14º DP. 

Na delegacia, funcionários disseram que não têm autorização para passar mais detalhes do caso.

Procurada pelo R7, a Band informou que está apurando o assunto e, por enquanto, prefere não se manifestar.

Colaborou Rosana Duda, da Agência Record