Adoniran Barbosa: enfim, um lar para o seu acervo. Palmas! Para a Galeria do Rock

Maria Helena Rubinato, a super Maria Helena, filha de Adoniran

Acervo de Adoniran Barbosa ganha abrigo na Galeria do Rock após uma década afastado de São Paulo 

São mais de 1000 itens do sambista que ajudam a contar a história da capital paulista, como objetos de época, instrumentos musicais, partituras e brinquedos confeccionados pelo próprio artista  
São Paulo, dezembro de 2017 – O acervo de Adoniran Barbosa, ícone do samba paulista, retorna a São Paulo após uma década afastado da cidade e sem abrigo fixo. São mais de 1.000 itens que preservam e ajudam a contar histórias de personagens e cartões-postais da maior cidade da América Latina entre as décadas de 1950 e 1980, bem como da música, do cinema, do rádio e da publicidade desta época, imortalizados nas obras do cantor, compositor e ator. O novo lar do acervo é inusitado, mas revela a afinidade entre dois gêneros que retratam a voz do povo: a Galeria do Rock.
Entre as preciosidades que o acervo de Adoniran Barbosa reúne estão objetos de época (ternos, chapéus, gravatas borboleta, sapatos e óculos) e documentos diversos (como uma carta de uma entidade francesa que assegura ao compositor brasileiro os direitos autorais pela execução de ‘Trem das Onze’ na França, onde fez enorme sucesso), além de fotografias que revelam a intimidade de João Rubinato, o cidadão por trás do artista. Conta também detalhes da carreira artística, com instrumentos musicais (banjo, flauta e tambor), partituras, scripts de radionovelas, roteiros de programas de televisão, cartazes de filmes como ‘O Cangaceiro’ (1953), de Lima Barreto, quando Adoniran interpretou o personagem Mané Mole, e discos raros de vinil com canções interpretadas por ele próprio e por outros artistas, entre elas ‘Saudosa Maloca’, gravada pelo grupo que ajudou popularizar as suas composições, Demônios da Garoa, em disco lançado pela gravadora Odeon em 1957.
Adoniran tinha outras distrações quando não estava fazendo música, rádio, cinema ou televisão. “Paizão também foi um exímio artesão. Ele tinha o domínio do ferro e da madeira e nos deixou um legado de objetos confeccionados com esses materiais”, lembra a única filha e herdeira do cantor, Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa.
Um dos objetos mais curiosos criados por Adoniran e que fazem parte do acervo é uma aliança confeccionada com uma corda ‘mi’ de um cavaquinho, com a qual ele presenteou a sua segunda esposa, Mathilde. A história acabou virando o samba ‘Prova de Carinho’, lançado em 1960. Há também alguns brinquedos, entre eles carrosséis, locomotivas e miniaturas de bicicletas, todos produzidos em ferro. “Adoniran costumava presentear aqueles por quem tinha um carinho especial ou algum tipo de gratidão com miniaturas de bicicletas feitas por ele. Entre os agraciados estão o cineasta Lima Barreto e o produtor musical, João Carlos Botezelli, o Pelão”, relata o cineasta Pedro Serrano, que estuda a obra do compositor do ‘Samba do Arnesto’ (1953). “O trenzinho funcionava e passava por todas as estações, que ficavam pintadas na parede da garagem de sua casa. Seu grande barato era chamar a criançada para ver o trem funcionando, mas logo depois já tratava de dispersar todos os curiosos antes de começarem a mexer em tudo”, acrescenta.
Altos e baixos
Sua filha e herdeira define a história do acervo como longa e cheia de altos e baixos, assim como a carreira do pai. Partiu de Dona Mathilde, ainda em vida, juntar todos os itens do esposo que guardava ao longo dos anos de convivência e transformá-los em um acervo, após a morte de Adoniran, em 1982. “Meu próprio pai afirmava que ela era sua maior fã. Há relatos de amigos próximos e outros familiares que descrevem o quanto o sambista, de temperamento não tão fácil quanto se imagina, era paparicado pela mulher”, afirma Maria Helena.
O primeiro destino do acervo foi o cofre do antigo Banco de São Paulo, no subsolo de um edifício no centro da cidade, na década de 1990. “Lá foi pouquíssimo visitado, afinal, podemos convir que cofres foram desenhados para repelir pessoas e não para atraí-las”, defende a filha do compositor. Depois houve uma breve tentativa de deixá-lo no Teatro Sérgio Cardoso, no Bixiga, mas o espaço não parecia adequado e a preservação das peças podia ser colocada em risco. “Assim, o acervo seguiu rumo ao Museu da Imagem e do Som (MIS), onde parecia ter encontrado destino permanente, afinal nada mais pertinente que a história de um dos maiores multimídias do país habitasse aquele local”, relata Maria Helena. “Porém, em 2009, o então diretor do museu declarou que já não havia mais espaço para o acervo de Adoniran ali. Orientada por minha advogada Luciana de Arruda, tive de resgatar o acervo do MIS às pressas”, acrescenta.
Desde então o acervo, que está fechado em caixas e pastas catalogadas pelo departamento de arquivologia da Universidade de São Paulo (USP), ficou guardado em sítio e depois num galpão industrial, ambos no interior do Estado de São Paulo. “Várias foram as tentativas de se construir o Museu Adoniran Barbosa, todas elas sempre frustradas pela falta de recursos, de patrocínios e da vontade política em preservar a história desse que é o maior nome do samba paulista”, pontua Maria Helena. Ela ressalta que, curiosamente, o único museu dedicado exclusivamente ao sambista fica na comunidade Bror Chail, em Israel, dentro de uma locomotiva – em analogia ao Trem das 11 – doada pelo Governo Israelense.
Primeiro punk de São Paulo
Agora, o acervo está retornando à capital de São Paulo e será acolhido em um local que muitos podem considerar, equivocadamente, inusitado: a Galeria do Rock. Neste local, a obra do artista será recatalogada, mas não poderá ser visitada pelo público. Antonio Souza, o Toninho, síndico do centro comercial, afirma que o espaço sempre abraçou as manifestações culturais renegadas, de alguma forma, pela iniciativa pública e que será uma honra enorme receber Adoniran. Questionado sobre a ligação do sambista com o estilo característico da Galeria do Rock, Toninho resume: “Ele foi o primeiro punk de São Paulo, ao retratar a linguagem do povo”.
Maria Helena relembra que seu pai já enxergava e cantava sua ligação com o rock de sua época na música ‘Já Fui Uma Brasa’, lançada em 1974:
Eu também um dia fui uma brasa
E acendi muita lenha no fogão
E hoje o que é que eu sou?
Quem sabe de mim é meu violão
Mas lembro que o rádio que hoje toca iê-iê-iê o dia inteiro,
Tocava saudosa maloca
Eu gosto dos meninos destes tal de iê-iê-iê, porque com eles
Canta a voz do povo…
E eu que já fui uma brasa,
Se assoprarem posso acender de novo
Destino
O retorno do acervo a São Paulo faz parte de projeto que tem o objetivo de resgatar e tornar conhecida a imagem multimídia da obra do Adoniran Barbosa entre a geração atual de fãs de cultura. Capitaneado pelos herdeiros legais do sambista, Maria Helena e o seu filho (neto do artista) Alfredo Rubinato Rodrigues de Sousa, o projeto tem como próximos passos o lançamento, no ano que vem, de documentário biográfico, dirigido por Pedro Serrano e produzido pela Latina Estudio, cujo acervo fará parte da narrativa.
Ainda em 2018 começará a ser rodado um longa-metragem de ficção inspirado no curta ‘Dá Licença de Contar’ – assista aqui -, que conta histórias de personagens e de cartões-postais da cidade de São Paulo imortalizados nas composições de Adoniran. O curta, que foi lançado em 2015 e também é dirigido por Serrano, traz o roqueiro Paulo Miklos na figura do sambista e ganhou diversos prêmios em festivais de cinema no país, como ‘Melhor Curta-Metragem Júri da Crítica’ e ‘Prêmio Canal Brasil de Curtas’ no Festival de Cinema de Gramado; Prêmio do Público Zinebi; Mostra Internacional de Cinema de São Paulo; e ‘Júri Oficial’ do Grande Prêmio Canal Brasil de Curtas – todos esses ao longo de 2016.
Para os próximos anos é possível que o acervo ganhe uma exposição provisória, a ser recebida por um Museu ou Centro Cultural de São Paulo, até que encontre um lar permanente para visitação. Existe também a possibilidade de o sambista virar tema de escola de samba. Todas as novidades do cantor serão compartilhadas na plataforma oficial www.adoniranbarbosa.com.br, que também apresenta um breve histórico do artista. “Nascido em Valinhos e de alma paulistana, artista multimídia que foi, Adoniran Barbosa é pop e todas essas homenagens são mais do que merecidas”, finaliza sua filha.
Eu, entre o neto, Alfredo Rubinato Rodrigues de Sousa,  e a filha do grande Adoniran Barbosa. Essa maravilha, Maria Helena Rubinato!
FONTE: ASSESSORIA DE IMPRENSA/cinema
FOTOS: ACERVO PARTICULAR

Dia Adoniran Barbosa. Hoje faria 105 anos, e está sendo homenageado por quem entende das coisas

Link permanente da imagem incorporadaESSA IMAGEM É DO GOOGLE HOJE

 

Sniff. Nossa Maria Helena Rubinato, do Blog de O Globo, resolveu fechar as portas do boteco. Vai ficar só no balcão do Noblat. Sniffff. Profundo.

Daqui, aguardarei de portas abertas e com todo o carinho os leitores lá da Maria Helena, no  http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/

A gente vai ter que procurá-la só lá no blog do Noblat. O bloghetto vai sair do ar no dia 20.

Veja o recado que ela postou no dia 14. Chorei, esperneei. Mas entendo e já lhe dei um beijão hoje mesmo.

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/

Constrangida, envergonhada e emocionada

Em 20 de março de 2009 Ricardo Noblat, comemorando os 5 anos do Blog do Noblat, postou o seguinte em seu blog:

5 anos – O blog de Maria Helena

Suei muito a camisa para convencer Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa, colaboradora deste blog desde 2005, a criar seu próprio blog sem, no entanto, me abandonar.

Consegui. E daqui a pouco o blog dela entrará no ar. Poderá ser acessado na lateral esquerda desta página, logo abaixo do blog da cientista política Lúcia Hippolito.

Maria Helena é paulistana, nascida aos 23 de setembro de 1937. Aos 2 anos foi para o Rio de Janeiro e São Paulo passou a ser uma referência querida, mas uma referência. Hoje, considera-se carioca.

Professora primária formada em 1957, fluente em inglês, francês, espanhol e italiano, com cursos nos Estados Unidos e na Suiça, inclusive de História da Arte, é tradutora.

Hoje, dedica-se a cuidar da obra e imagem de seu pai, João Rubinato, mais conhecido como Adoniran Barbosa.

Estou certo que o blog dela será uma celebração à inteligência – como são os artigos que ela publica aqui sempre às sextas-feiras.

Por sinal, Maria Helena exercerá uma dupla militância. Estará no blog dela – e no meu diariamente com seus comentários, a seção Obra-Prima do Dia e o artigo das sextas.

Quem suará a camisa a partir de hoje será ela.

* * * * * * * * * * * *

Quem me conhece de perto sabe a emoção que senti. Um texto desses, com a assinatura que tem, foi para mim a posse na Academia Brasileira de Letras, foi receber louros e foi motivo para muita choradeira. Na minha família sou conhecida como chorona, o que sou. Na alegria e na tristeza, choro paca!

Hoje, dois anos e quase 9 meses depois, tenho que confessar: não consegui honrar a confiança do Noblat.

Não deu.

Tentei, tentei muito, mas foi impossível abraçar os dois mundos com as mãos. O Blog do Noblat e o Bloghetto. E tive que escolher um dos mundos.

Escolhi o Blog do Noblat. Fazer um blog como o dele é trabalho para leão. Só quem tenta fazer um bloghetto que seja é que valoriza o trabalhão que isso é. E eu quero aliviar a carga dele. Pelo afeto que sinto por ele: é o irmão que nunca tive. Meu filho diz que é mais que isso: que Ricardo José é o irmão que ele nunca teve… Pode ser. Há mais coisas entre o ceu e a terra do que sonha nossa vã filosofia!

Vou continuar a fazer 3 coisas que adoro:

montar o post das Obras-Primas que posto na Nave-Mãe cinco dias por semana;

montar e organizar, lá também, a Hora do Recreio, um recreio que só me faz bem;

e o artigo semanal, que foi onde tudo começou.

Sei que perco um espaço maravilhoso, onde conheci muita gente boa. Sei que diminuo minha carga de trabalho e que minha saúde vai agradecer. Todas as vezes que apelei para o coração generoso de vocês tive respostas maravilhosas. E hoje volto a pedir: não esqueçam de passar pela Obra-Prima do Dia e deixar uma palavrinha, quer gostem ou não. Leiam meus artigos e me critiquem – eu vou responder. Não quero perder o convívio com vocês e sei que não vou perder.

Quando escolhi encerrar o bloghetto no dia 20 de novembro, fiz pensando na data redonda, 2 anos e 9 meses da estreia e também no aniversário de meu filho, esse escorpião que completa 40 anos! Não sabia que a reforma do portal da Globo.com seria no dia 13. O que atrapalhou um pouco meus planos. Mas creio que são as tais linhas tortas…

Esta semana será atípica. E ainda tenho que me explicar com a Marli Gonçalves e com o Carlinhos Brickmann, dois jornalistas de peso que me honraram com seus artigos esse tempo todo!

Estou exausta, emocional e fisicamente. Peço SOS. Não briguem comigo. Compreendam meu gesto.

Não vou mais falar no assunto. Do dia 21 em diante, todos na Nave-Mãe!

Um beijo e um abraço em cada um de vocês. MH

“A desinibida”, nadando no laguinho do Itamarati, em Brasília.

que delícia!

Achei no blog de minha querida Maria Helena Rubinato, em O GLOBO, hoje, embora seja de julho a gravação, vale a pena!

Cuidado, senhora, com a IRINY! Ela pode não gostar de sua calcinha bege.

TUDO o que eu escreveria sobre Rosemary, a filha renegada de José Alencar. Maria Helena Rubinato, para vocês.

puxei lá do Blog do Noblat, mas você precisa conhecer também o blog de  Maria Helena. Vai lá, clicando aqui.

Uma brasileira

Rosemary de Moraes deu anteontem e ontem provas de que é uma mulher de classe, elegante, uma pessoa da qual, em tempos idos, diríamos: que categoria!

Aliás, essa é a impressão que tenho dela desde o dia em que soube que ela pleiteava ser reconhecida como filha de José Alencar, na ocasião vice-presidente da República.

Todo seu silêncio desde então só reforçou essa impressão.

Ontem ampliada, pois era um momento em que todos os holofotes da mídia estariam divididos entre ela e o político velado no Palácio da Liberdade, em BH. Não lhe poderiam negar acesso, afinal, antes de ser ou não filha de José Alencar, ela é tão filha de Minas e do Brasil quanto ele.

Era tão fácil arrumar uma roupa negra, entrar na fila junto com os demais mineiros, chorar convulsamente diante do caixão do homem que julga ter sido seu pai – não é nada difícil chorar em velórios, é aliás um ambiente onde é dificílimo conter o choro.

Mas Rosemary de Moraes não fez isso.

Ela preferiu, como disse ao O Estado de S. Paulo, ficar em sua Caratinga: “Nem quis ir ao velório para não dar motivo, para não atrapalhar em nada, dizer que eu fui atrás de mídia. Estou quieta no meu canto.”

Eu não sei se ela é filha desse senhor recém falecido. Nem tenho como saber. Mas sei perfeitamente qual é o canto de Rosemary de Moraes.

Seu canto é o das mulheres com aquela elegância de maneiras que nasce com elas. Seu canto é o canto das mulheres com compostura, essa palavra tão fora de moda. É o das pessoas distintas no falar e no agir.

Vivemos no tempo da exibição completa, da alma e do corpo. No cabeleireiro, no restaurante, na condução, com um celular na mão, ou na Internet, as pessoas falam o que antes só falavam no quarto, nos confessionários, nos consultórios de um médico.

Por tudo isso, chamou minha atenção o comportamento de Rosemary de Moraes.

Sabemos que a cremação não impede o mapeamento do DNA pois o senhor José Alencar tinha filhos, netos, irmãos. Se não estou enganada, Thomas Jefferson, um dos Pais da Pátria americana, teve seu DNA todo mapeado com o material genético colhido em membros de sua família, e ele morreu em 1826!

A biociência progrediu de tal modo que possibilitou ao Homem saber sua origem: viemos todos da África. Até o senhor Bolsonaro.

Daqui do meu canto torço para que Rosemary de Moraes não esmoreça em sua luta, especialmente para honrar a mulher que foi sua mãe e de quem, naturalmente, tudo indica, herdou essas qualidades tão raras hoje em dia.

E também para que, seja qual for o resultado da ação que move, ela continue a se assinar Rosemary de Moraes. São meus votos.

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/

 

Lançamento do Livro Trem das Onze – A poética de Adoniran. EU FUI.

 

 

 

música – DA FOLHA DE S. PAULO

Livro ilumina São Paulo de Adoniran

Volume lançado hoje traz fotos do Instituto Moreira Salles e do acervo pessoal do músico nascido há cem anos

Retratos de uma capital idílica, de onde o artista tirou a substância para suas canções, baseiam apuro gráfico de edição
FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

Um jovem e esquelético Adoniran Barbosa posa sem camisa ao lado da mulher, Matilde, vestida num (hoje) comportado maiô, ou empresta o pescoço de picadeiro para seu vira-lata Peteleco.
São imagens captadas em uma São Paulo distante, onde crianças brincavam num Brás idílico como o da foto ao lado e os homens iam ao Pacaembu de terno e gravata -mas com chapéu feito de jornal para se proteger do sol.
O encontro entre os dois mundos, a vida privada do compositor e a cidade que foi a seiva de sua obra, se dá em “Trem das Onze – A Poética de Adoniran Barbosa”, que vai ser lançado hoje em São Paulo, nos estertores do centenário de nascimento do músico (1910-1982).
Com apurado acabamento gráfico, as fotografias são alinhavadas por um texto do biógrafo e curador do acervo Adoniran Barbosa, Celso de Campos Jr. Integra ainda o livro um CD com 14 clássicos do compositor em interpretações consagradas.
O trabalho teve patrocínio da Bradesco Seguros, por meio da lei federal de incentivo à cultura.
O material foi garimpado em dois acervos: o da família do cantor, sem identificação da autoria das imagens, e o do Instituto Moreira Salles.
Deste, despontam cenas paulistanas de 1930 a 1980, de ensaios feitos por estrangeiros radicados no Brasil como os alemães Peter Scheier (1908-1979, cujas imagens monopolizam o livro); Alice Brill e Hildegard Rosenthal (1913-1990); e o franco-brasileiro Henri Ballot (1921-1997) “Não quisemos enfatizar o autor, mas a expressão de São Paulo que ele permitiu surgir”, explica Nigge Loddi, da Aprazível Edições e Arte, organizadora do volume com o sócio Leonel Kaz.
É algo semelhante, relata, ao que a editora fez recentemente com “O Morro e o Asfalto no Rio de Noel Rosa”.
Celso de Campos Jr., autor de “Adoniran – Uma Biografia” (ed. Globo), ressalta o capricho gráfico do volume.
Conta que a foto original de Adoniran com Matilde de maiô tem 10 centímetros -na obra, foi ampliada para 30 cm x 23,5 cm, ocupando uma página inteira. “Ficou tão nítida que dá vontade de arrancar e fazer um pôster.”
A pesquisa de imagens foi da Sacchetta & Associados e o projeto gráfico, da Danowski Design. A produção coube a Erilma Leal, da Aprazível.
Embora cintile a cidade, os registros íntimos de Adoniran são saborosos. Um dos destaques é o tal cão Peteleco, segundo Campos Jr. “o xodó de Adoniran”.
Como, na época, explica o biógrafo, não se podia fazer parcerias com compositores de outras sociedades musicais, Adoniran, para driblar a regra, colocou Peteleco como autor de algumas canções.
Até hoje a filha única e herdeira do músico, Maria Helena, ainda recebe algum em nome do vira-lata.


TREM DAS ONZE – A POÉTICA DE ADONIRAN BARBOSA

ORGANIZADORES Leonel Kaz e Nigge Loddi
EDITORA Aprazível
QUANTO R$ 130 (204 págs., inclui CD com 14 faixas)
LANÇAMENTO hoje, das 18h30 às 21h30, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (av. Paulista, 2073, tel. 0/xx/11-3170-4033)

Eu, entre o neto e a filha do grande Adoniran Barbosa. Essa maravilha, Maria Helena Rubinato!
Maria Helena Rubinato, a super Maria Helena, que faz um blog maravilhoso ainda por cima, perfeita e bem legal
 Só a conheci pessoalmente hoje, embora nossa amizade já tenha rendido boas risadas e tiradas. Tenho a honra de ser
 publicada semanalmente lá no espaço dela, de altíssima audiência.
→ 

Artigo -‘Se Deus não existe, tudo é permitido’, por Maria Helena Rubinato

artigo IMPERDÍVEL – publicado no blog do Ricardo Noblat

Não deixe de ler diariamente, toda hora, e de novo, o blog da Maria Helena, no http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/

 Nós passamos mais da metade da campanha eleitoral debatendo um tema da maior importância, mas pelo viés errado. O aborto. Quase como se fossemos noviços em um convento sendo doutrinados sobre o que é ou não é santificado.

O que se esconde por trás dessa situação limite para qualquer mulher, isso passou ao largo porque para os políticos é mais fácil ficar no terreno espiritual do que no material.

Simone de Beauvoir, a respeito do forte pensamento de Dostoievski que abre este artigo, disse que se Deus não existe, isso não significa, como pensa o homem moderno, que tudo é permitido. Ao contrário, disse ela, sem um poder exterior, tudo é de nossa inteira responsabilidade: um deus pode perdoar, apagar, remir, mas se Deus não existe, nossos erros são inexpiáveis.

Crer ou não crer é problema muito íntimo e pessoal e não cabe a ninguém entrar nessa seara. Respeitar a fé alheia é o que se espera de cada um de nós e naturalmente, na mesma medida, das autoridades constituídas. Uma das grandes vitórias da Revolução Francesa – e olha que não foram poucas as vitórias daquele movimento – foi o estabelecimento do laicismo como política de Estado.

Fugir de tema tão espinhoso como sendo problema espiritual das mulheres é que não dá… Francamente, aí entramos no terreno do desrespeito ao eleitor. O que precisava ser debatido, a sério e a fundo, a Saúde Pública e o Planejamento Familiar, ficaram soterrados sobre quem está certo,  quem está errado.

Quer dizer, não foi tema debatido visando esclarecer o eleitor sobre quais os projetos deste ou daquele partido político; foi tema usado para agredir, xingar, caluniar, desrespeitar o outro. Uma vergonha.

Alguns hão de pensar: e daí? Falar nisso hoje, a menos de 48 horas do encontro com a urna? É. Pode ser que já esteja um pouco tarde, mas ainda tenho esperança que o eleitor pare e pense: o que é que eu quero para mim e os meus? Não precisa falar em voz alta. Pode pensar com os seus botões ou laçarotes: mas, por favor, pense bem.

Alguns analistas dizem, e eu creio nisso, que muitas pessoas ainda não estão com o voto definido, o que só será feito quase que diante da urna. Não sei se é coincidência, mas o fato é que conheço bastante eleitores nessa situação.

Aliás, uma coisa muito estranha ocorreu nesta campanha: o eleitor mais consciente, mais informado, mais atento ao noticiário e que mais se interessou pela campanha, é o que está mais confuso.

Claro está que não me refiro aos que saíram dos 20 anos marcados a ferro e fogo: esses não mudam de ideia nunca. Entra ano, sai ano, o mundo se modifica de forma espantosa e lá está ele, com o mesmo pensamento de 50 anos atrás.

Não pensem que me refiro aqui a algum partido especial. Não é nada disso. É mais aquele cidadão que tinha 20 anos nas décadas de 60/70 – esse parece que empedrou. Não muda. Se é de direita, acha que comunista come criancinha no alho e óleo, que os ateus são monstros e que ler Karl Marx é atraso de vida; se é de esquerda, hoje é um burguês refinado, cheio de criados a quem paga mal e explora diuturnamente, mas é contra o capitalismo e bate no peito a favor das políticas sociais. Desde que não sejam praticadas em sua casa…

Agora, nestas últimas horas, surgem dois movimentos um tanto ou quanto assustadores: um sentimento de revolta contra Bento XVI pelo único fato dele ter cumprido com a obrigação de qualquer líder religioso, orientar seus fiéis. Não vejo a mesma revolta quando os bispos da IURD falam… e esses são bem falantes!

É ou não é tragicômico? Passaram os últimos meses exibindo e gritando sua fé – agora que um pastor de milhões de almas falou, caem em cima dele. Sinceramente, não dá para entender.

Esquecidos estão os hepáticos que ouve e segue um líder religioso quem quer. O que fica muito bobo é o cidadão se dar ao luxo de criticar a religião do outro. Cada um na sua, façam esse favor a si mesmos.

O outro movimento, mais apavorante ainda, é esse súbito furor legislativo nas Assembléias estaduais – voltado para o tal conselho destinado a normatizar e fiscalizar a mídia. Essa é a verdadeira superbactéria – a que vai nos matar se não for erradicada no nascedouro!

Essa febre tem que ser erradicada e é urgente. Passa a ser, de hoje em diante, até que morra de inanição, a minha bandeira. Quero poder continuar a palpitar sobre meu país, meu estado, minha cidade, minha rua. E quero, sempre que possível, perguntar: de que se riem tanto nossas autoridades? Onde está a graça?