ARTIGO – Ora, bolas! Por Marli Gonçalves

Ora, bolas, que se não dermos tratos à bola não conseguiremos sair desses obstáculos e dilemas todos colocados em nossos caminhos; pedras, que ao contrário das bolas, não rolam sozinhas por sopros, necessitam serem chutadas. As bolas são voláteis, ágeis, trazem em si a simplicidade da forma e o movimento. Investidas de encanto nas jogadas garantem pontos. Não é à toa que estão sempre por perto, ganhando seus variados sentidos.

BOLAS -
        OBRA DE YAYOI KUSAMA

Vamos precisar todos bater um bolão. Porque ganhar um bolão é só sonho de apostas e loterias de toda a vida, e que em geral se esvanecem semana após semana, como as bolinhas de sabão. As bolas, pensa, estão em quase tudo, paradas, móveis, correndo, pulando, fazendo e acontecendo. Até esse vírus maldito que parou o mundo, que forma tem? Bolinha, cheia de espetos, mas bolinha.

E olha que pode ser por isso mesmo que as bolas e bolinhas – estampadas, em todos os tamanhos, cores, combinações, claro sobre escuro, escuro sobre claro – estão  novamente no auge da moda e para qualquer lugar que se olhe, estarão lá, nos vestidos, blusas, sapatos, gravatas – andam empurrando para lá as listras. Petit pois, em francês, como ervilhas. Poás, em bom português.

Lembram da brincadeira que se faz com as mãos, e os ossos são vistos como elas, bolinha ui, bolinha ui?  Não lembra? Coisa antiga. Tudo bem. Mas você sabe que é bem bom fazer exercícios com uma bolinha nas mãos, fisioterapia barata, antiestresse, alivia as tensões a ansiedade, fortalece os punhos. Quando você aperta uma bolinha dessas, ocorre uma tensão muscular e ao soltar, o movimento vira um relaxamento não apenas físico, como também emocional. Usada também para massagens; e tem ainda aquela bola maior – bola suíça ou bola de Pilates – com a qual se faz uma sorte de exercícios de ginástica.

Estudos afirmam que apertar bolinhas com durezas diferentes, com a direita, com a esquerda, ajuda até a resolver problemas diferentes, embora os pesquisadores ainda não consigam explicar bem o porquê. Uma bolinha mais rígida serviria para lidar com questões de “ligar os pontos”: combinar informações existentes, comparar ideias – como um quebra-cabeça, palavras cruzadas ou uma charada. Por sua vez bolinhas mais macias ficaram ligadas ao pensar criativo, criar soluções do zero.

As bolas surgem nos mais variados contextos, inclusive nos jogos amorosos – se falava em dar bola para alguém, quando o interesse por outra pessoa precisava ser demonstrado. Tudo bem, isso é cringe? Ok, mas você entendeu – já deve ter dado bola para muita gente por aí.

Uma das maiores e mais originais artistas plásticas do mundo, Yayoi Kusama, uma japonesa hoje já com 92 anos, passa a vida a criar com elas, as bolas. Arte que a tornou famosa e salva da própria esquizofrenia – ela vive há décadas, por livre vontade, em um hospital psiquiátrico, mas nunca parou de criar com o que chama “pontos do infinito”.

Ora, bolas, ora, porque pensar em tantas bolas? Aconteceu só de lembrar que o fim do ano está aí, e imediatamente vieram à tona na procura de por onde andavam aqui em casa as bolas de Natal, aquelas bonitas, cheias de brilho, que usamos para as decorações, as coitadas que dormem em caixas o resto do ano.

Junto, veio a sensação de que o tempo corre rápido demais e que andamos girando em torno de nós mesmos sem conseguir solucionar nosso próprio país, um ambiente que ficou muito mais pra lá de tóxico  nos últimos anos em que temos sabido e ouvido diariamente os mais estapafúrdios comentários e que aos homens de bem deve causar o famoso e doído chute nas bolas, os testículos.

Esperando ainda que não esteja ocorrendo, para fugir dessa realidade, nenhum aumento no uso de bolinhas, que hoje estou terrível em lembrar termos antigos, e como pelo menos eram assim conhecidas as pílulas, psicotrópicos.

Ah, verdade! Trocaram uma letra. Agora chamam de bala!

Bolinha, ui, bolinha, ui, bolinha! E os meses se passaram. Veja com suas próprias mãos. Ligue os pontos.

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – As segundas e os começos e recomeços. Por Marli Gonçalves

Ultimamente as segundas-feiras têm sido muito mais difíceis do que normalmente já eram. A sensação de começar mais uma semana, ver e ouvir a repetição dos fatos estranhos, uns atrás dos outros, sem reações que os possam deter; ao contrário, só pioram e se tornam mais ameaçadores. Na vida é assim: e até fazer aniversário anda parecendo mais uma segunda-feira

Garfield Archives — Portallos

Não é a preguiça, tão bem ilustrada na imagem do gato Garfield com sua imensa barriga laranja, e que ilustra as segundas malemolentes e um pouco mal humoradas. É o começo e o recomeço, que ultimamente tem parecido tão igual ao da semana passada, mês passada, ano passado. Bem sei que oficialmente a semana começa na segunda-feira, mas extraoficialmente, depois de passar o fim de semana tentando se livrar das cargas é nela que depositamos alguma esperança olhando para a frente, buscar fazer e acontecer, dia útil. Repete muito o que acontece na véspera de Natal, quando todo mundo parece ter sido acelerado e querer resolver tudo o que o ano inteiro não conseguiu. Se possível, sobrecarregando, inclusive, outras pessoas, passando os probleminhas adiante.

Aí ela chega. Primeiro, agora mesmo, nos daremos conta de que mais um mês se foi. Que o primeiro semestre do ano se completará. E a sensação da repetição, inclusive acelerada, de tudo o que tanto nos incomoda não passa.  É como se a realidade não admitisse o otimismo – e é, garanto, uma otimista inveterada, apesar de tudo, quem está aqui escrevendo.

Esperei passar várias segundas para finalmente admitir essa sensação. Talvez por agora ter me dando conta que fazer aniversário também virou uma segunda-feira, que a virada do mês também vai virar, para mim, logo, mais um ano completo de vida, e mais um ano – Graças a Deus, viva! – dentro da pandemia que abalou o mundo, mas destroça especialmente nosso país, pego em um dos piores e mais confusos, vergonhosos, perigosos e conturbados momentos de sua história.

Aniversários sempre são impactantes – o filme de tudo que se viveu, se sonhou, conseguiu ou não, passa na cabeça, e quando a gente chega mais longe, o filme vai virando longa-metragem. Quanto mais tempo, isso só vai ampliando, e creio que lá pelos 80 já se anunciará como uma daquelas peças teatrais do Zé Celso, do Oficina, com mais de cinco horas de duração e roteiro cada vez mais confuso e recortado.

A coisa toda está tão repetitiva que nem é preciso consultar videntes ou astros para conhecer alguns fatos do futuro: muitos ainda morrerão, inclusive pessoas próximas de nós e personalidades importantes que farão o país chorar de novo e de novo, suas histórias serão contadas; loas serão tecidos, e esperaremos as próximas; a política nos trará muitos desgostos, a divisão se acentuará, assim como os protestos, que serão incontroláveis, ou por radicalismo de algumas das partes ou pela dimensão da miséria, da fome, do desespero. Mulheres continuarão a ser desrespeitadas, e mortas. O racismo, negado como se não fosse evidente. Os ricos ficarão cada vez mais ricos. E os oportunistas surgirão, pululantes, sem disfarces, prontos a se aproveitarem de qualquer um desses fatos. Comentaristas comentarão. Comentarão muito. Os fatos serão conhecidos, e diariamente sobrepujados por outros numa repetição infinita e sem solução.

Do ponto de vista pessoal, os cabelos ficarão mais brancos, os tais fatos conhecidos cada vez mais iguais e tristemente repetitivos. Depositaremos esperança nas gerações futuras – alguns nos darão orgulho; outros, nojo. Nossa experiência se avolumará, e continuaremos firmes tentando alertar que conhecemos esses rumos, mas a rapidez que alimenta as redes sociais e esse atual tempo de vida digital talvez ignore e não dê a devida atenção ao que afirmamos e vivemos presencialmente, um estado raro que se esvai entre telas e emojis.

Assim, vamos indo vivendo – e que assim seja, Oxalá! – as próximas 52 segundas-feiras, e que muitos outros 365 dias venham. O desejo é que esses começos e recomeços sejam melhores, e que nunca falte energia para constantes revoluções interiores. Nem para as revoltas. Sem preguiça.

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Marli - foto Alê RuaroMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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#ADEHOJE – TODO DIA, NOSSOS SUSTOS. E A DIVISÃO SE ACENTUA.

#ADEHOJE – TODO DIA, NOSSOS SUSTOS. E A DIVISÃO SE ACENTUA.

 

SÓ UM MINUTO – Quando comecei esse programa há sete meses, logo após o resultado das eleições, mal ou bem, pela experiência, já sabia que todos os dias teríamos muitas coisas para comentar. Primeiro pensei em fazer com humor, mas com o tempo, infelizmente, as coisas foram se deteriorando tanto que até o humor fica prejudicado. Resta a ironia. São cinco meses de um governo confuso como biruta de aeroporto; que propõe retrocessos inaceitáveis e que cria casos em sequência.

Mas garanto que, por mais que soubesse que teríamos problemas, nunca poderia imaginar que seriam tantos! Ministros da Educação como esses dois, o de agora é mais perigoso que o colombiano! – a troca de cargos feitas à faca, relações externas feitas a navalha, ministra da Mulher que não vê os fatos, o da Justiça engolindo sapos seguidamente. O do Meio Ambiente mais um sem noção. E um presidente que, junto com os filhos e uma turma, parecem apenas querer uma divisão ainda maior do que a que vivemos tão apreensivos.

ARTIGO – Que gestação é essa? Por Marli Gonçalves

Que gestação é essa?

Marli Gonçalves

Pega a folhinha. Conta. 1, 2,3. Três já foram. Faltam agora só nove e a coisa que creio todo mundo mais deseja é não ter que passar esses nove meses esperando que nasça um novo Brasil. Temendo que esteja sendo gestado um monstro nascendo prematuro, tirado a fórceps. Que vá direto para uma encubadeira.

Entra dia, sai dia, entra noite, sai noite. É na hora do café da manhã, do almoço, do jantar. Se bobear, também na hora do lanche. Uma informação estranha, muito estranha, uma prisão, uma soltura, uma chacina, assaltos, explosões. Tiros. Um desaforo. Um telecatch entre ministros supremos, alguma deselegância.

Será que estão se dando conta? Três meses já foram. Mais três tem Copa do Mundo, que era só o que faltava para esse ano; soma mais três e – lembra? – Eleições. Nacionais. Para a Presidência, Governo dos Estados, Senado, Câmara Federal. Seria a hora boa para trocar, renovar, arejar, oxigenar. Seria.

Mas nossas mãos embalam um berço ainda vazio. O que poderia vir como novo se dedica especialmente a infernizar a Mãe Pátria, chutando bem a sua barriga, e nessa gravidez múltipla – põe múltipla nisso – com mais de dez candidatos a herdeiro, um tenta enforcar o outro com o cordão umbilical, tomar as forças, tomar a frente, nascer.

E, pior, parece que todos são gêmeos quase idênticos, para o nosso desespero, nós que esperamos aqui do lado de fora. Querendo saber se é menino ou menina, o tom da pele, se vai nos libertar ou censurar; se vai propor o desarmamento de espíritos, se vai querer estudar e ser alguém ou viver de dar jeitinho. Com quem vai parecer. Queremos ver a carinha, saber de que cor vai ser seu enxoval, sua roupinha, se branca, verde ou encarnada.  Se cantaremos cantigas românticas, ou hinos nas ruas, com o velho refrão: o povo unido, jamais será vencido.

Ficamos aqui torcendo – pelo andar desse andor – que ao menos nasça de parto minimamente natural. Ao menos isso temos de conseguir nesse meio tempo, já que os nossos desejos ainda terão de ficar esperando. O ovo ainda não mostra a serpente.

Não há como negar, contudo, que essa gravidez está bem tumultuada e estressante. Tanto que não dá nem pra desejar comer melancia com pão, ou sorvete de bacon. Temos de nos ater ao arroz e feijão, pondo a mão para cima, louvando se os temos.

Há fantasmas rondando esse berço, vindos de uma espiral do tempo, de 68, 78, 88, por diante, e não são rotações. As farsas se repetem. E nesse futuro-presente vêm ampliadas em redes virtuais, tecnológicas, não humanas, redes que ainda não têm a sua capacidade de destruição totalmente identificada.

Sai pra lá, bicho papão! Dona Cegonha, tenha piedade de nós.

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Marli Gonçalves, jornalista – Que confusão é essa? Que bandalheira é essa? Que gestação é essa, que nós é que sentimos as contrações?

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

Brasil, lépido 2018

O que você espera da segunda metade? Révélé. Por Marli Gonçalves

Pois é. Já acabou, passaram-se os primeiros seis meses de 2017, acredita? Sei que acredita porque deve estar igual a mim, se tinha depositado tantas esperanças de que as coisas iam melhorar, isso e aquilo, que voltaríamos a olhar pra a frente, que seria legal, iríamos tirar o pé da lama. Vamos tentar de novo para os próximos seis meses?

Não pulei sete ondinhas, porque não deu. Quando o ano virou eu estava aqui na cidade numa situação bem esquisita, hospital, família, você sabe se me acompanha. Mas à meia-noite projetei bons pensamentos, acreditei até em milagre; como era horário de verão, por via das dúvidas, repeti tudo de novo à uma hora da manhã. Acompanhei fogos coloridos da janela, vi pela tevê um monte de gente jogando astral para cima, de branquinho, fazendo promessas, jurando o velho amor eterno.

Temo que a gente não tenha se concentrado direito, porque nada rolou exatamente como gostaríamos. O milagre não rolou. O eterno não existe. A coisa toda está inclusive até mais enroscadinha: a situação do país tiririca, aquele que pior fica. E especialmente porque não temos nada / ninguém que preste para tapar o buraco.

Da próxima, precisamos ficar mais juntos, mais abertos às boas energias. Quem sabe se, sei lá, déssemos as mãos? Juntos, em todo o país. Então, estou propondo que a gente tente agora, para fazer, algo, dia 30 de junho, para 1º de julho – a Grande Comemoração do Réveillon do Segundo Semestre. Imagina você que fui procurar no Google e a única pessoa que falou sobre isso que eles registram sou … eu! Mais: se procurar entre aspas, as citações mandam só para mim, em locais de todo o país onde sou publicada.

(Confesso: a palavra foderaizer – “ligar o foderaizer”- , que também uso de vez em quando e que todo mundo entende, é só minha lá no Google. Não é fácil isso com tanta gente nesse mundo, veja bem. Marli Gonçalves, criando moda, expressões! Devia ganhar alguma coisa).

Réveillon tem origem no verbo réveiller; em francês, e quer dizer “acordar” ou “despertar”; “reanimar”. Perfeito. Tudo que precisamos agora. Nos reanimarmos. Para ir às ruas, mudar as coisas, batalhar para que parem essa cantilena que não aguentamos mais e que tanto tem nos prejudicado. Concentrem-se.

É. Sei o quanto de coisas temos a pedir. Comecei a fazer uma lista aqui e me impressionei, fiquei até cansada de tantas providências que deveria tomar que me passaram na cabeça. Tantas mágoas a esquecer. Tantas resoluções que infelizmente já sei que não vou conseguir seguir porque são aquelas que aparecem em todas as listas há anos. Parar de amar quem não me merece. Esquecer a desatenção e embrulhar o orgulho. Parar de prestar tanta atenção no ao redor. Parar de tentar salvar o mundo. E torcer para que me descubram – sucesso.

Os pensamentos coletivos, se nos esforçarmos, podem ser mais exatos, caprichados: que acabe o desemprego, que os juros abaixem, que tomem vergonha na cara, que parem de agir como piratas saqueadores. Que a arte nos encante novamente. Que parem de querer se meter nas nossas vidas, legislando sobre os nossos corpos e mentes, que deles sabemos nós. E como sabemos se somos nós, as mulheres!

Temos mais seis meses para chamar de nossos em 2017. Chegamos aqui, nem dá pra reclamar tanto, embora estejamos meio avariados. Nesses que passaram tomei várias mordidas, tropecei em muitas calçadas, pisei em poças. Mas estou aí e também vi dias lindos, conheci a solidariedade em momento de dor, aprendi um pouco mais o sobre o que é ser amigo, sobre como é bom não ter do que se arrepender por não ter feito ou tentado, porque fiz e tentei.

Pronto, está vendo? Dá para fazer igual ao fim do ano quando a gente fica fazendo balanço e inventário. Vamos lá. Que o segundo semestre seja um novo despertar.

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20170617_130831Marli Gonçalves, jornalista. Tim-tim. Feliz Réveillon do segundo semestre! Capricha no desejo, que a Terra vai correr de novo de uma extremidade a outra do diâmetro da órbita. Outra chance.

Passando do meio, 2017

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marligo@uol.com.br – marli@brickmann.com.br

@MarliGo

ARTIGO – Feliz Ano Novo, e que tudo se realize…

Por Marli Gonçalves

…no semestre que vai chegar! Acabou a primeira fase de 2011. Foi tudo muito rápido, meu bem, e não deu tempo nem de sentir prazer. Vamos, então, festejar o réveillon do segundo semestre, para ver se pelo menos agora vai.

É hábito de muitos anos. Sempre comemoro, mesmo que em silêncio, o que chamo de réveillon do segundo semestre, e é agora, esta semana. Voou; não passou. Chegou julho. O tempo, esse maluco, anda parecendo motoqueiro furando trânsito em São Paulo – não respeita mais nada, nem ninguém, nem qualquer previsão ou expectativa. É cruel: comigo, com você, com as contas, com a Dilma, e também com a leseira dos tais preparativos para a Copa, que já estão dando no saco.

Tudo parece que foi ontem. A chegada do ano e sua presidente, com seus porquinhos, brancas-de-neve e cinderelas, além dos personagens eternos, como o Mordomo, o Bigode, o Empertigado e, claro, O Barba. Muitos não ficaram nem até a meia-noite na festa, e a lua-de-mel com o povo quase dura menos do que as do Fábio Jr. Tem bruxinhas voando para todos os lados, e se há alguém que não acredita em duendes, até pode ser. Mas aloprados há aos montes. Desgovernados, todos nós. E alucinados, lunáticos, despropositados e afins andam procriando mais do que os embriões manuseados por aquele médico maluco que nos deu uma banana, literalmente, e fugiu por aí.

Os tais grandes eventos, que não sei mais quem ainda acredita que vão mudar nossa situação, já faz tempo que foram anunciados. Que preguiça! E? Nada. Aeroportos, estradas, serviços, comunicações e todos os etceteras continuam lentos, quase parando, piorando, sigilosos, e já nem mais é segredo por quê. Contrato bom é contrato feito de emergência. Foi um brasileiro quem – quase certo – inventou a máxima: no fim, tudo dá certo. Só pode ter sido. E nem sempre é verdade, também sabemos.

Nesses primeiros seis meses assistimos foi a muitas desgraças, cruz credo. Enchentes, deslizamentos, inundações, acidentes, desgovernos, denúncias, corrupções & bandalheiras, barrancos e barracos vindo abaixo. Lá de fora recebemos uns borrifos de sangue de Osama, cinzas de vulcão, ares carregados de medo, inclusive nucleares, tremores e deslocamentos de terra e da Terra, bactérias-monstro, notícias de primaveras de liberdade que até agora não deram flores.

Precisamos de um descarrego. Não, não é preciso criar mais um ministério para isso, calma. Já viu que agora tudo o que a gente fala ou pede perigas virar mais um órgão público onde sentam um apaniguado de algum partido ou de alguém? Temo que eles estejam precisando de mais espaços. Melhor ficar junto à parede. Porque até siglas são pomposas. Que tal, por exemplo, a Autoridade Pública Olímpica? APO. APOlogia, para políticos APOsentados, ou APOiados em APOstas que dão com os burros n`água. De autoridades estamos é cheios.

Pela frente serão só mais seis meses para chamarmos de nossos. Ano que vem tem eleições de novo, e então seremos mais uma vez invadidos por aquela estranha sensação de sentir alguéns passando a mão em algumas partes de nossas, digamos, estruturas. É o caso de começarmos nossos planos, todos, de novo.

Assim, primeiro, você, mulher: a cor da calcinha que vai usar nessa virada. Como é de quinta para a sexta, sugiro uma branquinha com detalhes em verde, com elástico amarelo e uma fitinha vermelha. Você, homem: uma cuequinha simples, branca, que vocês nem se ligam muito nessa, mesmo. E como diria aquela travesti que ficou famosa na internet, tomar uns “bons drink” pode ser uma. Mas sem sair de casa para não cair em nenhuma malha, nem rodoviária, nem policial, nem leonina. Nada de cavalos, também, que estes andam quebrando as costelas da oposição, como se precisasse e elas não quebrassem sozinhas.

O importante será a concentração em termos de boas ideias, mais do que intenções, e pensamentos elevados. Tipo que o inverno não seja rigoroso porque logo já vai ser Dia dos Pais e tudo sobe o preço, inclusive chinelos, pijamas e cobertinhas. Pensando bem, melhor ser mais geral: concentrar-se contra a inflação que está mesmo afiando as garras.

Vamos olhar para frente, marchar para continuar protestando, e esperar. Temos seis meses pela frente até podermos comemorar outro réveillon, outro despertar.

Como sempre, o melhor é começar tentando manter-se entusiasmado por alguma coisa. Quem sabe o verão?

São Paulo, seco como o Saara, cof cof cof, 2011. Por enquanto, 2011.

(*) Marli Gonçalves é jornalista. Adoraria poder vaporizar as ideias deste país que dá dois passos para frente, três para trás.

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