ARTIGO – Sansão e as sanções. Por Marli Gonçalves

Deu-se que lembrei nada mais nada menos do que de Sansão, aquele, o guerreiro bíblico, da força descomunal nos cabelos, da loucura por mulheres bonitas, que viveu a vida em guerra e vinganças.

Sansão

É sanção sendo atirada de um lado a outro. A palavra da semana, igual aos bombardeios cruzando o globo. Eu não compro mais isso, você não recebe mais aquilo. Ameaça vai; ameaça vem. Vamos ver no que vai dar o tira e põe. Sobra, claro, para todo o mundo, que acaba entendendo o que é sanção bem na própria pele, vide o absurdo aumento dos combustíveis que vai impactar ainda muito mais nosso suado e surrado dinheirinho. Na cadeia inflacionária descarrilada – e que só por acabar de ser informada do aumento já sai apitando nas esquinas, nas feiras, no supermercados num batida maldita que só trará mais miséria. E universal.

Muito louco como quando passamos por tempos difíceis como os que estamos vivendo coletivamente, de guerras, doenças, notícias esquisitas, de um tudo ao mesmo tempo agora, vem à nossa cabeça a lembrança de cada coisa, Igual sonho que puxa da memória o inimaginável, sabe-se lá onde estava guardado, e para onde volta depois.

O tal Sansão, antes que esqueça de frisar, não é personagem do cotidiano pessoal, já que por acaso histórias bíblicas, a própria Bíblia, admito, é para mim um estranho emaranhado de personagens, e não gosto nem um pouco de mexer com religião. Aliás, ultimamente só de ouvir falar em mito tenho urticária.

Lá, muitos personagens se destacam mais que outros, viraram expressões populares de fatos, como Caim e Abel, traição, assassinato entre irmãos. Muitos outros exemplos.

Aficionada, sim, mas pelas mitologias, onde também seus personagens esbarram entre si, gregos, romanos, cada povo contando seu lado. No caso, Sansão tudo a ver com Hércules, ambos fortes, másculos, violentos, e com mulheres tecendo suas histórias, em um caminho da destruição, da luta pelo poder, ordenamentos, opressão, divisões políticas e crenças.

Sansão nasceu durante uma guerra, com sua nação lutando contra os filisteus. Já nasceu com a missão de ser o libertador de Israel, um Nazireu, homens israelitas dedicados a servir a Deus. Eles tinham que se abster totalmente de álcool, nunca tocar em um cadáver ou cortar o cabelo. Daí seus longos cabelos serem tidos como símbolo de força – dada por Deus, aquele que dá e tira. Força que teria acabado e ele sendo aprisionado, cegado e torturado por confiar em uma mulher, que conhecemos como Dalila, que o vendeu por moedas aos inimigos ao descobrir seu segredo e tosar sua cabeleira. Seu final foi a própria morte, mas levando consigo um bom punhado de inimigos, assim que o cabelo cortado cresceu. E entrando para a história infinita como um herói bíblico. Cheio de recados com moral.

Resumi bem, porque assim vejo a guerra. Vítimas de todos os lados e banho de sangue, pelo poder. Claro que hoje temos ainda o terror nuclear, aquele boom do qual ninguém quer ser testemunha. Mas o crescendo que assistimos de explosões, foguetes e êxodo de milhões parece coisa antiga, aquela mesma que juramos há mais de 75 anos atrás que não se repetiria. O que mudou, o que é mais “moderno”, são as forças de cada lado, globalizadas, as nações envolvidas que ultrapassam o continente em questão, os tiros políticos com as balas de sanções que atingem distâncias muito maiores. Dezenas de gigantescas empresas e corporações que abandonam a Rússia nesse momento vão manter seus funcionários com salários, segurança, amor, carinho, leite e pão nesse período que já se mostra incalculável, seguidos acordos de paz fracassados?

Sanções também são censura. Não é que eu acabo de me por em risco falando do Sansão? Acredite: a Câmara votou urgência em projeto que proíbe o uso da palavra Bíblia fora do contexto desses caras que dela se apossaram.

“Fica terminantemente proibido os termos ‘Bíblia’ e/ou ‘Bíblia Sagrada’ em qualquer publicação impressa ou eletrônica de modo a dar sentido diferente dos textos consagrados há milênios nos livros, capítulos e versículos utilizados pelas diversas religiões cristãs já existentes, seja católica, evangélica ou outras mais que se orientam por este livro mundialmente lido e consagrado como Bíblia”,  primeiro artigo do projeto de autoria do tal deputado Pastor Sargento Isidório (Avante-BA).

Aí vocês me perguntam. No meio de tanta coisa importante para se fazer, cuidar, resolver? Veja bem. E vou piorar a situação quando explicar que eles fizeram isso porque acreditam piamente que há quem esteja planejando uma Bíblia gay. Sem comentários.

O que foi que nós fizemos de mal para termos de aguentar essa sequência assassina de bombardeios de ignorância, preconceito, descasos, bobagens, retrocessos dia e noite aqui em nosso sofrido país?

Não admira os cabelos brancos revoltos pululando na cabeça de uma população que só queria deitá-los e dormir em paz. E que acordam sem eles, sem forças.

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Marli - perfil cg – MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – O terror, tocado para milhões de corações brasileiros. Por Marli Gonçalves

Distopia tropical. Não é de hoje. Estão tocando o terror aqui em nossa terra, e de uma forma tão intensa e nos atacando de todos os lados, que a gente já nem sabe mais como se defender. Não dá pra ignorar mais de 400 mil mortes, não dá mais para tocar na vitrola só essas canções mortais; queremos samba, mostrar ao mundo que temos valor

Mais de 400 mil razões para estarmos alertas, e prontos para o revide quando conseguirmos nos organizar, embora eu saiba bem o quanto é difícil até decidir por onde começar a batalha que virá, mais cedo ou mais tarde, para quem realmente for patriota, estiver preocupado, informado sobre os passos desse Exército do Mal que avança trazendo tantas sombras e incertezas.

Não esses estúpidos que se enrolam na bandeira, alucinados, que cospem impropérios, conspurcando o verde e amarelo de uma forma tal que hoje chega a nos dar até asco ao visualizá-la. Não essas pessoas sem noção que passam o dia disseminando o ódio e a ignorância, para quem a terra é plana, e dividida apenas nas tristes opções políticas que se colocam à frente. Não essas pessoas que ainda teimam em não ver, não escutar, mas falam, repetindo refrões, teses absurdas.

O terror é geral. Na economia, sem capacidade de ser salva por aquele pequenino e metido ser, o tal Posto Ipiranga, e sua trupe. Na política, onde o perfil miliciano dos que transitam nos palácios de Brasília, se esbalda em tripudiar de tudo o que nos é mais caro, desrespeitando a dor, e as soluções para evitá-la, buscadas pela Ciência como nunca antes. No comportamento, nas atitudes burras e preconceituosas de quem até se acha “de direita”, conservador, mas nem isso, não chegam aos pés nem disso, apenas decrépitos, muitos encobertos por religiões que inventaram, moldando-as aos seus interesses. Deixem Deus fora disso.

Nos vemos cercados por organizações criminosas desvendadas todos os dias, nas manobras, nos roubos e golpes, no pagamento de sistemas de robôs contaminados que disseminam as informações falsas neles inseridas e atiradas como flechas ou balas perdidas. Essas balas perdidas. As reais, que matam crianças e inocentes. As virtuais que matam sonhos, reputações, inteligências, ameaçam o futuro.

Estamos vivendo uma distopia. Uma distopia tropical. Nossa terra seca, pega fogo, destruída diante de nossos olhos. Falamos, denunciamos – e nada. Eles estão lá, e dá até arrepios pensar no que ainda pretendem, no que planejam e decidem entre as suas paredes, nas casas de vidro. Coisa boa não pode ser, porque é bastante claro que pretendem se perpetuar no poder.

Tenho visto muitos otimistas botando fé nessa CPI, Comissão Parlamentar de Inquérito, agora instaurada no Senado Federal para investigar as ações, inações, e os acontecimentos alarmantes ocorridos no último ano, durante essa pandemia, que levaram à essa mortandade e à tristeza de milhões de corações brasileiros que sangram tantas perdas.

Acompanhei muitas CPIs, conheço suas confusões e tramoias. Devo informar que é melhor ter cautela e em paralelo continuarmos buscando avidamente outra formas de fazer esse descarrego. Essa CPI, claro, vai revirar o mar, causar, ouviremos falar dela – e de seus integrantes, que novos nomes aparecerão para o jogo eleitoral – nos próximos meses. Os fatos sobre os quais trabalhará são esses todos, bem conhecidos, dessa lista enorme que clamamos ao vento.

O que ela precisará fazer – o veredicto de culpado para esse que se diz mito, e que ele seja levado a realmente pagar pelo que fez/faz e, infelizmente, ainda fará – será uma grande surpresa.  Temo que vire apenas mais uma CPI do Fim do Mundo, como chamamos uma outra, de outros tempos, e que não levou a nadinha de bitibiriba.

Queremos samba, mostrar ao mundo que temos valor, quem está pedindo é a voz do povo do país, pro Brasil feliz voltar a levar alegria para milhões de corações brasileiros, como tão bem disse Zé Kéti em “A Voz do Morro”.

Nós todos dessa luta somos o samba. Precisaremos sambar em cima deles o mais rápido possível.

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MarliMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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#ADEHOJE – – SOBRE O CÁLICE CHEIO, VAZIO, PELA METADE…

#ADEHOJE – – SOBRE O CÁLICE CHEIO, VAZIO, PELA METADE…

SÓ UM MINUTO – Na realidade, na prática, as Manifestações de ontem só serviram para aprofundar ainda mais as divisões, e muito, o poço no qual o país está mergulhado. Quem não entende bem, e foi para as ruas ontem, todo de verde e amarelo, acredita que ajudou Bolsonaro, que ele é Mito, que tudo vai andar. E que foi um sucesso. Quem não foi, e é crítico do governo, viu enormes furos nas fotos, diz que foi um fracasso.

Vamos falar o quê? Comparar como? No meio do pessoal ontem tinha gente pedindo ditadura, fechamento do Congresso, cassação do STF, o absurdo dos absurdos…

O que seria fundamental seria mesmo o fim, o fim, de toda essa divisão que não vai levar lado nenhum, aresta nenhuma ao resultado que precisamos.