ARTIGO – Fogueiras de junho. Por Marli Gonçalves

3844452_bu2M0Ô coisa boa quando chegava esse mês e tinha aquelas festas de rua, de vila, cheias de bandeirinhas coloridas, comida boa, e prendas para ganhar. Quadrilha era o que se dançava, e a sua formação era divertida, ser noiva, noivo, padre, seus personagens principais. dancarina29

E quando se ouvia a narração olha a cobra, era hora de dar volteio, fugir, girando ao contrário. Olha a chuva, saudação. Pau de sebo, desafio. Correio elegante fazia corar.

Hoje, olha a cobra nos lembra jararaca, a que queremos enquadrar como origem da decadência. A quadrilha dança, mas miudinho, com as mãos para trás. A chuva leva ou lava. E o padre foi substituído por um juiz, o único que casa noiva com noiva, noivo com noivo, dentro da lei, e que ora determina ultimamente o tamanho da fogueira, que altura ela vai arder.

A música caipira agora está mais por cima da carne seca, e até o caipira nem é mais aquele, nem aqui, nem na quermesse da esquina. São João, Santo Antonio, São Pedro ouvem o estouro de muitas bombinhas do armamento completo dessa época, que tem de biriba a foguete. Se for do crime organizado é escopeta, lança-chamas, AR-15. E nem digo atrás de quem está correndo o busca-pé. É bomba todo dia no falatório deitado em algum depoimento ou captado em gravação depois de beber muito poncho, sangria, quentão, ou só bons vinhos ou chocolates trazidos da Suíça quando daquela viagem que agora sabe-se o que é que tanto se perdeu lá pelos Alpes.

Não é brincadeira, no entanto, o que passamos nas festas deste ano, e nem precisamos girar muito para ver que estamos tentando colar o rabo no burro, de olhos vendados. E pulando muito na corrida dos sacos, se fazendo de saci, tentando sim é pescar alguma coisa para levar para casa, milho para alimentar a família, arrastando o pé na terra por aí atrás de emprego, pagar contas, não perder o pouco que juntou no arraial.

Podia ser pajelança minha proposta de pegarmos uns papeizinhos para escrever o que desejamos queimar na fogueira, mas melhor que seja na pureza do correio elegante, dos jogos de prendas, a começar do imobilismo nacional boca aberta diariamente com a direção que o vento toca inflamando impressionante o fogo.

festa-juninaTipo a barraca do beijo que sempre foi bem concorrida. Podíamos pagar, embora já o façamos indiretamente para nos vermos livres de um monte e de suas armadilhas e interesses menores, suas declarações impróprias como se burros fôssemos mesmo para aceitá-las. As jogadas ensaiadas que praticam, como se tivéssemos o mais precioso, o tempo. E esse aí que está sendo implacável, nos rebaixando em tudo quanto é nota, ranking, como um abismo profundo que nunca desejamos com nosso espírito alegre, matreiro como a garota de sardas e maria Chiquinha.

Tenho sentido muita dificuldade até de expressão, de ânimo, para comunicar o que sinto, penso ou acho diante do que me informam e apresentam, acontece, percebo. Para o quê? Para quem? Que vantagem “Maria” leva? Quem se importa?

Às vezes, muitas vezes, me sinto sem lugar nesses dois planetas estranhos que orbitam ao nosso redor numa dancinha chata e inconsequente, até “caipira”, mas no sentido de comparação com o mundo moderno que já deveria estar se descortinando, mas que assinala nossos ambientes muito hostis, cada vez mais. Não é mão de direção, não é esquerda, direita, contramão. Deveria ser passagem livre.

Olha o caminho da roça! Olha a chuva! É mentira! Olha a cobra! É mentira! A ponte caiu! É mentira! Olha o pai da noiva! É mentira! Preparar para o grande túnel!
É tudo quadrilha. É verdade! Tem culpado que assobia! É verdade!

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Marli Gonçalves, jornalista “O céu é tão lindo e a noite é tão boa. São João, São João! – Acende a fogueira no meu coração”.

São Paulo, meio do ano e tudo indefinido, 2016

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ARTIGO – Oração ao Mundo, por Marli Gonçalves

h2Vou fazer uma oração, oração, oração… Às 18 horas, Hora do Ângelus de um dia desses, assim, pensando no Papa, nos jovens e no que vem por aí, foi que comecei a escrever essa prece. Que me desculpem pela falta de jeito com religião que seja uma única, porque sempre fui da fé. Só da fé. E fé varia, junta, agrega, mistura, vive dentro da gente. A oração é a conversa que queremos fazer chegar aos ouvidos de quem detém o destino.rel8

Senhor, dito assim, seja quem nos ouve rogar. Divino seja.

Mantenha se puder a Paz na Terra para todos os homens, o que nos garantirá a vida até o seu chamado, e não antes disso, abatidos de forma vil em guerras inconfessas. Que os de má vontade não tenham forças para nos fazer arrefecer e desistir. Por um mundo justo, onde a convivência se dará pela alma, e alma não tem cor, raça, armas.

pray2Protegei nosso chão, nosso céu, nosso solo, nossas matas. Nossos rios, oceanos e cachoeiras! Que continuem fluindo, lavando, levando para o fundo de algum lugar bem distante todas as nossas mágoas, todas as nossas dores. Permita que não haja tanta culpa, e nem tanto medo, e que não se represe tanto martírio em lagos, mesmo que formados sejam por tantas lágrimas que vertemos. Pelo Senhor. Para o Senhor. Por nós e pelos outros.

choirSenhor, protegei nossos pais, nossos filhos, os amigos de nossos filhos. Nossos irmãos e irmãs, inclusive os que assim consideramos, além da carne, além do sangue. Mantenha sobre eles seu manto projetado e que a sombra, se sombra houver, tenha a forma de um anjo, mas se desfaça logo virando nuvem branca em céu azul. Mostre-nos o caminho da firmeza de propósitos, as estradas que chegarão nas realizações, para que não nos percamos em tantos desvios, tantas encruzilhadas. Com sua luz, ilumine as pistas orientando nossos pousos e decolagens, e para que sempre sejamos livres para ir e vir.

2budda1cpAve! Aceite as súplicas que lhe dirigimos todos os dias. Releve as tantas vezes em que descremos de tudo, no desespero de não possuirmos vidência, temperança ou sabedoria. Só aceite esses pedidos. Como uma mensagem, e que esta chegue protegida e trazida pelas ondas, seja numa garrafa, seja em pensamento solitário ou em grito desesperado. Nos ilumine. Clareie os nossos olhos para percebermos os inimigos. Tampe nossos ouvidos para que não ouçamos cantos que nos corrompam. Ensine-nos a farejar e a tatear, aguce nossos sentidos, mesmo que os tenhamos todos, e como se assim não fosse. Guie esses passos.

pray1A ti. Enquanto contamos as contas desse rosário do dia após dia, aceite essa conversa que tentamos fazer chegar aonde não sabemos bem, nem nos é permitido saber. Que essa ladainha toda seja Pelo Senhor. Para o Senhor. Por nós e pelos outros.

Misericórdia. Há os que precisam de imagens para venerar, muitos deuses ou um só, símbolo ou amuleto a se apegar e crer. Benza-os como a cruz, lhes dê o Espírito Santo e a força, sejam eles cruzes, sejam pedras ou meros pedaços de pano. Que sejam fortes e mágicos o bastante para nos acompanhar nesse trajeto de ciladas e armadilhas, mesmo que sem velas ou incensos acesos, sem oferendas. Que, Senhor, representem de alguma forma a sua proteção nessa distância que não saberemos qual é até chegarmos ao seu fim.

1shprd3Rogamos que faça surgir sábios no Oriente e Ocidente, como de tempos em tempos nascem os gênios. Só eles poderão salvar e influenciar a Ciência contra a estupidez, a ignorância. Pela cura. Por compaixão e um futuro justo. Que as crianças de todo o mundo parem de ser martirizadas sem nem saber o que é viver; deixem de ser sacrificadas por sua inocência, obrigadas à submissão, seja esta religiosa, sexual, familiar, social ou cultural. Que o progresso seja de todos. E que essa oração seja também pela fauna, pela flora, pelo ar, terra, fogo e água. Pelo Senhor. Para o Senhor. Por nós e pelos outros.

Que homens e mulheres, mulheres e homens, e que hoje se misturam entre si porque humanos devem amar humanos, que eles alcancem a Felicidade, talvez o espelho onde realmente encontremos a Vossa Santíssima imagem. A nossa imagem.

Amém! Salve, Salve.963

                                                                             (São Paulo, 2013)

Marli Gonçalves é jornalista– Sempre quis saber quem escreve as orações, de onde surgiram as que são universais, como a beleza de uma Prece de Cáritas. Achei a resposta: todos nós as fazemos.

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P.S.: Tomei a liberdade de gravar uma narração desse texto, que você pode ouvir AQUI. Foi um improviso total.

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