ARTIGO – Alvoroço no Alvorada. Por Marli Gonçalves

Virou praxe. No nascer do dia, logo após o toque de cornetas, clarins e tambores nos quartéis ao amanhecer, na alvorada, surge um homem completamente alterado à porta de seu Palácio, o Alvorada. Ele vai abrir a boca, dizer sandices, um ou dois ou mais palavrões, gesticular, ameaçar a democracia e as instituições, pior, por isso ser aplaudido por um pequeno grupo fazendo alarido no seu quintal

Agora esse homem deu até de usar gravata ostentando o símbolo de suas loucuras. Pequenos fuzis em verde e amarelo, como tão bem registrou o genial repórter fotográfico de Brasília e da história, Orlando Brito. Outro dia mesmo, Brito, mais de setenta anos, foi ao chão, teve os óculos quebrados por essa turba que surrupia as cores e símbolos nacionais para enaltecer o obscuro, para tentar que o Brasil novamente anoiteça sem liberdade. Outro repórter, Dida Sampaio, derrubado e chutado.

Não era sem tempo que alguns dos principais meios de comunicação do país deixassem de presenciar essa cena macabra ocorrendo sob o brilhante céu da Capital da República, onde diariamente – além de registrarem esses descalabros – ao tentarem fazer perguntas, recebem de volta ironias, provocações e ameaças que vêm aumentando em escalada, sem que providências sejam tomadas para garantir minimamente sua presença no local. Essa semana muitos deram um basta.

Mas o homem não para. A cada dia mais violento, ameaçador, faz desse show matinal material para os vídeos que planta na internet para serem dispersados por uma equipe que coordena milhares de robôs e gente que se diz “patriota”, entre outros que, coitados, acreditam que os robôs sejam gente de verdade. Nessa semana vimos bem a cara de alguns desses seres digitais capturados na realidade da rede de uma parcela da Polícia Federal que se esmera pela independência.  O homem chiou, os olhos chisparam, mais disparates foram ditos, feitos, anunciados e ordenados em ameaças, inclusive de grave descumprimento da ordem constitucional.

A cada alvorecer mais preocupante, os dias nacionais quando já acordamos em sobressaltos, como se já não bastassem os milhares de mortos, os números que diariamente sabemos no crepúsculo dos dias em meio à pandemia, ao desencontro de ações, dos conflitos entre regiões, do vazio verde-oliva ocupado na Saúde por patentes e coturnos.

A vestimenta da Alvorada traz detalhes que acabam passando, como se lei não tivéssemos mais: talvez vocês não tenham reparado ainda que o homem da gravata com fuzis agora aparece cercado por seus seguranças ostentando máscaras de proteção com a sua figura carimbada, em um personalismo que conhecemos no século passado durante a ascensão do mal do fascismo e nazismo.  O “e daí?” usado alegremente na máscara da deputada que já estaria cassada em momentos normais. E naquela reunião do dia 22 de abril que agora, perplexos, assistimos, vários ministros e autoridades regurgitaram suas ignorâncias em alto e bom som, sem que tenham sido presos. Aliás, o que é compreensível, se ali tivesse havido voz de prisão entre uns e outros não sobraria quem apagasse a luz daquele salão.

O alvoroço não é pouco, e se distribui muito além da alvorada e do Alvorada, das manhãs, tardes e noites, causando inquietação no nosso sono das madrugadas, do Planalto às planícies; entre os Poderes, agora em isolamento social, engaiolados em lives e encontros digitais, reuniões extemporâneas, declarações e notas de repúdio em redes e folhas de papel que não duram minutos respirando até que outras tenham de substituí-las.

Fosse só o homem, mas ele tem os filhos enumerados, porque agora é moda, além do banheiro, o ir lá fazer 01, 02, que já era bem ridículo como expressão. Temos por aqui mais zeros, sempre à esquerda, nunca nos lugares onde no mínimo deveriam estar trabalhando, mas tentando desgovernar juntos, como clones do sobrenome que precisamos urgentemente, e antes que seja tarde, parar.

Nosso alvoroço – dos que prezam pelas liberdades individuais e pelo respeito – tem de começar a ser sentido lá no Alvorada.

Nossa alvorada haverá de ser muito melhor. Do jeito que está, sujeita a trovoadas, poderá nos levar a uma noite terrível. Mais terrível dos que os pesadelos que atormentam nosso sono buscando sobreviver, além da pandemia, além deles, e de todo o atraso e violência que claramente representam.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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FONTE: OS DIVERGENTES – FOTO DE ORLANDO BRITO

ARTIGO – As moscas estão zunindo por aqui. Por Marli Gonçalves

 

49f7cc19473747-562db04e6e330Elas atiçam nossos instintos mais primitivos. Nossos pensamentos mais torpes e violentos de destruição em massa. Pensamos em alguma bomba nuclear, extermínio cruel, veneno milagroso. Mas no máximo, as atacamos de pijamas e tentamos pegá-las – ao menos algumas – com ridículas raquetes elétricas xingling, e só pelo prazer da vingança de ouvir aquele barulhinho de fritura e sentir o cheirinho do queimado. São fêmeas empoderadas, cheias de querer, de fome de pele, suor, sangue. Atacam à noite, e são capazes de estragar todo o seu dia seguinte. Deixam marcas e suas passagens sempre têm o forte alarido; fazem muito barulho com suas asas batendo em nossos cangotes, provocativas, roçando nossos ouvidos

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ZZZZZZ.

As moscas, as pernilongas estão chegando. Não querem mais cair na sopa, mudaram o paladar. Querem gente, mostrar todo o poder dos insetos sobre a raça humana, e que não há metrópole que as assuste. Não deviam mais ser a manchete de todo ano, todo verão, mas estão aí e são cada vez mais poderosas, numerosas, agressivas e com capacidade de guerra mortal multiplicada. Algumas tipas vestidas de listrado trazem em si a tragédia causadora da zika que compromete gerações futuras, da chikungunya, que imobiliza, da dengue, que derruba. Assassinas.

Não dá para não lembrar o que, para mim, é um dos principais filmes de terror da história do cinema, quiçá da humanidade, e não teve a participação nem de Hitchcock, nem de Boris Karloff: A Crônica de Hellstrom, premiado documentário americano de 1971, sobre os insetos e sua absurda capacidade de sobrevivência. Quem viu traumatiza pra sempre.

Pois eles, esses pequeninos monstros, estão aí para não nos deixar mentir (nem dormir em paz). Atacando sem dó no país que não se livra das mazelas, as cultiva. Não limpa seus rios, os suja. Misérias que criam criadouros de comunidades inteiras de coisa ruim. No país que consegue até a volta de doenças erradicadas, e notícias de surtos assombram, febre amarela, urina negra. Outro dia, lá em Roraima, acharam um foco de barbeiros causadores do Mal de Chagas. Sabe onde viviam? Pensam que estavam numa casa de taipas, de barro, de tijolos? Não, estavam confortáveis dentro de um ar condicionado de uma residência de alto padrão. Subiram na vida. Pelas nossas costas. Pelas nossas pernas, pelos nossos braços. Fazendo a gente se coçar.

Não é para se preocupar? Aqui em São Paulo está havendo uma séria infestação de pernilongos (pernilongas, que são as que mordem, igual a presidentas). Se ainda não foi uma de suas vítimas, procure saber. Falam que são daquelas mais simplesinhas, populares, zumbido em língua portuguesa, e aquela preguiça tradicional. Depois que nos picam e enchem as suas barriguinhas precisam descansar um pouco. Se encostam na parede para o amadurecimento dos ovos. Evitam principalmente o voo para economizar energia. Voltam a atacar logo após a postura dos ovos. Boa hora – essa de sua distração – inclusive para ganharem uma boa e bem acertada chapoletada para voarem longe antes de descarregarem seus milhares de ovinhos em nossas coisas pelas redondezas, como fazem.

Claro, lembre que esse assassinato deixará marcas de sangue espatifado nas paredes – provavelmente o seu mesmo.

Em Minas Gerais, o bem sério surto de febre amarela. Transmitida por quem? Pelo mesmo Aedes aegypti, o pernilongo de facção criminosa, que também passa a febre amarela urbana; as espécies Haemagogus e Sabethe transmitem a febre amarela silvestre – animais silvestres infectados fazem parte desse ciclo. Já se analisa se têm a ver com a tragédia da lama de Mariana e no Espírito Santo ( para onde também correu essa lama) já há quase uma centena de mortes de macacos infectados

Tudo de ruim ultimamente passa por essa pernilonga Aedes (os machos, meio cafetões, ficam por perto só esperando que as moças voltem para seus ovos, ou procurando alguma que tenha zumbido bom para copular e criar mais pernilonguinhos).

Pernilongos andam grandes distâncias, de carona. Todos os meios de transporte, inclusive elevadores. Quando fixam residência ficam por ali sempre num raio de 300 metros. Com 270 a 307 batidas de asas por segundo, as ondas se propagam pelo ar e são o zumbido infernal que nos atormenta. Escolhem suas vítimas por cheiros e uma pesquisa disse que adoram bebedores de cerveja, cheiros que detectam a 36 metros de distância.

Longe de mim pretender que vocês agora tenham mais pesadelos ainda com esses monstrinhos de milímetros, mas com toda essa movimentação mundial parei para pensar que talvez também haja êxodo desses insetos, de mais variedades de suas espécies, e nossas políticas de saúde pública não são as melhores. Bem, nossas políticas todas não são as melhores.

Já pensaram? E se acaso a tsé-tsé resolver também vir morar aqui no pais da malemolência?

ZZZZZZZZZZZZZZZZZZ

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20160813_143252Marli Gonçalves, jornalista – Depois que infesta, eles, os que mandam, saem correndo para mitigar, fumigar, fumaçar os bichos. Neste progressivo país, vale lembrar que ainda tem as pulgas e baratas. Os carrapatos. Principalmente os que grudam no poder. Os escorpiões que nos picam todo dia com suas traições

São Paulo, calorento, insone, 2017

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Noite da Mãe Joana. Olha a balbúrdia e desrespeito desse pessoal…

SÃO MUITO MAIS DO QUE DUAS HORAS DA MANHÃ. DE REPENTE, VEJA O QUE SURGE…UM BANDO DE MATRACAS BÊBADAS. FILMEI DA JANELA. CLARO, PRIMEIRO EU E OS VIZINHOS ACORDAMOS.

UM TAL DE BUS PARTY? O QUE É ISSO? ALGUEM SABE DE QUEM É A IDEIA DE JERICO?