ARTIGO – Mucunaímas, vambora Vambora. Por Marli Gonçalves

Sabe aqueles filmes antigos tipo O Gordo e O Magro, ou os do Chaplin, em alguma cena em que alguém aparece e põe eles para correr de algum lugar, chuchando os seus traseiros? A típica cena de uma dupla de palhaços se apresentando no circo, em que invariavelmente um ameaça chutar o outro com aqueles sapatos enormes e pontudos? O que mais a gente pode fazer para eles se mexerem e o país voltar a andar? Já ouviu falar em pó-de-mico? Os Mucunaímas seriam os novos heróis.

Todo dia eles fazem tudo igual, discutem, dão entrevistas, denunciam, são denunciados, escolhem uma gravata e que terno azul marinho ou cinza vão usar para sentar-se à frente das câmeras de tevê que registram seus sonolentos discursos, apartes, cantilenas e escamoteios. São os políticos. Os juízes da Corte Máxima fazem quebra de braço, ora entre si, ora entre os Poderes. O Executivo não executa mais há algum bom tempo – o Dilma 2.0 não chegou nem a começar porque o carro lotado de mentiras já chegou na pista bem avariado e vem sendo trazido aos soluços até aqui, empurrado arrastado, mais de um ano e oito meses depois.

Parece que estamos vivendo uma ficção, mas o problema é que é bem real. Não é Macondo, mesmo com tantas cenas surrealistas se repetindo diante de nossos olhos, entre elas esses dias ver a criação de um governo fictício para ser como o macaco quando fura o pneu do carro. Muito louco. Saem os supostos suspeitos. Entram os supostos governantes no pretérito do Futuro, num pretérito perfeito. Não tem poesia. O que se vê é muita gente criando novelas, acreditando em suas próprias mentiras, e se enrolando e tentando enrolar mais gente. São vistos por aí falando a palavra golpe, o que os torna fáceis de serem identificados, muitos do bem, que não gostam muito de mudanças bruscas e querem sempre ficar do lado mais combativo, onde ficam fazendo “aspas” no ar com os dedos; tudo é golpe; golpe daqui – golpe dali.

Esses aí são combatidos, de outro lado, por outros que parecem saídos de contos do terror, zumbis também. Passam dia e noite falando que tudo é comunismo, esquerdopatia, petralhice e divulgando textos raivosos com informações questionáveis.

Virou guerra boba, de criança. Com bonequinhos infláveis e balões e patinhos. Um cospe no outro. O outro e a outra vão para o meio da avenida cuspir e fazer xixi e cocô na fotografia. Juntam dez para fazer fumaça e parar estradas, ameaçam rebolar e pôr para quebrar. Assim, inflamam mais ainda os que acham que vacina de HPV incentiva as meninas ao sexo, são capazes de acreditar que homossexualismo pode ser ensinado nas escolas, embutido nas cabeças, transportado em cartilhas, e desenterram o que de mais torpe esse país já teve, uma ditadura, tortura, mortes e seus agentes. Saíram da cozinha onde estavam a pueril coxinha e a popular mortadela. Agora estão todos no banheiro.

Tudo isso é o que dá mais combustível para os extremos. De um lado e de outro.

E nós? Os que seguram essas pontas? Os que estão tentando andar num país parado, vender algo no país que não tem dinheiro, comprar comida ao menos? Os que não tem nada a ver com isso e que, engolfados, são os maiores prejudicados? Os já onze milhões de desempregados, milhares de doentes sem remédios nem eira, nem beira, nem maca, as crianças microcefálicas atingidas por mosquitos e toda uma série que forma a que será, seja para quem for, como for, a herança maldita.

Tenho repetido o que me parece muito claro. O atual governo está sendo derrubado.

Não caiu ainda; está caindo. Tanto não é golpe que tem essa demora toda, porque está todo mundo – ou pelo menos a maioria que quer o seu fim- pisando em ovos, buscando fazer tudo certinho, ler até as letras pequenininhas. No momento se julgam as tais pedaladas, os fatos específicos que para a grande população pouco importam, se é isso ou se é por causa do cabelo dela. Não somos um país com tradição e conhecimento político, e teremos essa certeza quando o voto não for obrigatório. O que digo é que a maioria já está ficando de saco cheio da demora, de ouvir a mesma coisa, de todo dia conhecer um bandido novo e a situação ficar sempre mais alarmante. Querem, como disse no começo, dar um chute em alguns traseiros, jogar pó-de-mico onde esses caras passam para ver eles se coçarem.

Querem que se cocem, no sentido figurado, ou seja, que saiam andando do poder o mais rápido, enquanto ainda podemos agir e voltar para um bom caminho.

Momento informação: o pó de mico vem de uma planta chamada Mucuna ou mucunã com pelos que soltam uma enzima urticante chamada, vejam só, mucunaíma, e que dizem também ser excelente contra vermes.

Seríamos então um novo vetor popular nacional: seríamos todos temidos Mucunaímas.

Marli Gonçalves, jornalista Precisaram tantos anos de vida para só agora entender porque tantas pessoas se apegam tanto a Deus, seja ele brasileiro ou não. Só Ele mesmo talvez possa nos ajudar. É pelo menos o único em quem podemos confiar.

SP, MAIO 2016

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ARTIGO – E nós? Nós, os mortais afetados. Por Marli Gonçalves

people_jobs_e0As nossas coisas, as que nos dizem respeito direto, a melhoria, o desenvolvimento, o andamento das questões comportamentais e sociais, os projetos – até quando vamos ficar esperando a decisão que essa infernal política mequetrefe está diariamente nos impondo, envergonhando? Com que forças podemos gritar, tal como He-Mans, para salvar nossa Etérnia?- “Pelos Poderes do Brasil!”

Nunca tivemos um Congresso Nacional tão ordinário. Nunca, e olha que não sou eu que estou afirmando, mas muitas das maiores cabeças pensantes – sim, temos muitas, por aí, isoladas, vozes no deserto – do país. Pessoas da maior qualidade em suas áreas, de esquerda-direita-centro-alto-baixo-norte-sul-leste- oeste. Nunca tivemos um Governo democrático eleito, lindo, mas tão incapaz. Nunca tivemos um Judiciário tão dividido, discutível. E, se imprensa um dia foi chamada de Quarto Poder, agora está abaixo do rabicó da cobra, submetida. Submetida.

Embora possa parecer contraditório chamar de pensantes algumas dessas mentes que continuam ainda apoiando o Governo como um todo, há também de se compreender alguns de seus motivos. O principal, a preocupação com a segurança institucional. Mas, no geral, podem dizer o que for, não há mais como defender o atual estado das coisas. Já transbordam das quatro paredes opiniões bem claras sobre o patetismo do petismo, o trapalhonismo, o cabeça-durismo da senhora governante e seus amiguinhos, também conhecidos por total falta de capacidade política e aptidão para governar.boundandgaggedanimated

O impasse está criado. Cada dia o buraco fica mais fundo. Pergunto aqui e ali, transitando entre estes dois mundos, os a favor e os contra. Ninguém me dá uma resposta objetiva. Uns não aceitam impeachment nem renúncia, nem querem ouvir falar, mas também não nos respondem onde encontrar a luz. Outros se juntam ao que há de mais malévolo, ou se fingem de mortos, ou apenas tentam se safar de seus próprios erros pulando de lagoa em lagoa, coaxando.

Enquanto isso parece que tudo que nos é mesmo importante – de nossas vidas, dia a dia, padrões, pode esperar – e não pode. A velha questão do País do Futuro que nunca chega. Agora com mais uma novidade: o tal sigilo carimbado. Estão querendo trancar por anos e anos as informações que nos são de direito. Transparência só na roupa das meninas, nada de transparência nos atos. Não importa se podemos ficar sem água, se a violência se espalha, se agora é hora da tecnologia nos servir, voltamos à idade da pedra. Pagamos e não recebemos, e nem sabemos porque pagamos, mas querem nos sugar ainda mais. As melhorias propostas pioram, subtraem, inacreditável. De troco, decretos, decisões revogáveis de acordo com a cara que acordam, olham no espelho, furam os balões de ensaio que empinam, estocando vento. Não temos para onde olhar. Um atrás do outro, fazendo cada uma pior que a outra.

Desenvolvimento de pesquisas? Células tronco? Legalização ou descriminalização? Discussão sobre o aborto? Estado laico? Novo código penal? Verdadeira justiça social? Ficaria algum tempo enumerando questões que, enquanto vemos passar o lodaçal, de roubos à luz do dia, de arroubos administrativos e de arrobas boiando nas redes sociais, estão sendo postas na fila de espera.!image001

O problema é que nem começaram a distribuir as senhas. Não há mais cadeiras para sentarmos para esperar. Palavras demenageur012cruzadas já não nos distraem mais.

Começar de novo. Por onde? Por uma nova Assembleia Nacional Constituinte, talvez. Mas como apagar tudo que está aí? Não dá nem para falar em passar um branquinho corretor – vão me acusar de racista. Porque nessa hora, na hora de melhorar, de partir para cima, sempre aparece um montinho de politicamente corretos, que corretos não são politicamente agindo.

people1São Paulo, passando da hora de enfeitarmos nossas janelas, portas e frestas com verde e amarelo, claramente, 2015

  • MARLI GONÇALVES, JORNALISTA – Sem poderes, pasma com os poderosos.

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Turma pioneira do Nós, Mulheres saúda a chegada do coletivo Nós, Mulheres da Periferia! Avante, meninas!

FONTE:

http://outraspalavras.net/blog/2014/05/26/mulheres-da-periferia-por-elas-mesmas

Mulheres da Periferia, por elas mesmas

140526_nós mulheres da periferiaSurge coletivo disposto a expressar o que é ser mulher nas bordas das metrópoles — longe dos preconceitos da mídia e produzindo jornalismo crítico e de profundidade

Por Andressa Pellanda

“Somos a irmã que cuida dos irmãos mais novos até a mãe voltar do serviço e que lava a louça do almoço enquanto o irmão vai jogar bola. Somos aquelas que amam os filhos das patroas. Somos as ‘mãezinhas’ que gritam nos corredores das maternidades. Somos quem chora quando nossos filhos são mortos por serem suspeitos. Somos mães de abril, maio, de junho, setembro. Somos as mães que trabalham para as filhas estudarem. Somos as filhas que se formam na universidade para as mães voltarem para a escola.

“Somos aquela que, depois de oito horas de trabalho e quatro horas no transporte público, ainda passa a roupa e nina o bebê. Somos quem vai no posto atrás de remédio e pra agendar consulta pra daqui a cinco meses. Somos quem cria abaixo-assinados para pedir creches. Somos quem denuncia que a vizinha apanha do marido. Somos operárias, empreendedoras, manicures, jornalistas, costureiras, motoristas, advogadas. Somos esposas, mães, irmãs, primas, tias, comadres, vizinhas. Somos maioria. Somos minoria. Pobres, pretas, brancas, periféricas. Migrante, nordestina, baianinha, quilombola, indígena.”

PEACEElas são as milhões de mulheres que moram nas periferias deste país. São o coletivo “Nós, Mulheres da Periferia”, que desde dia 8 de março de 2014, Dia Internacional da Mulher, vem tentando expressar, nas redes sociais, o que é ser uma mulher nas bordas das metrópoles. Enquanto preparam o lançamento do site que pretende inaugurar o jornalismo voltado às mulheres da periferia, Bianca Pedrina, Jéssica Moreira, Semayat Oliveira, Aline Kátia, Priscila Gomes, Mayara Penina, Lívia Lima, Cíntia Gomes e Regiany Silva já militam por essa causa, que é tão delas, mas também de milhões de mulheres brasileiras.

Em 2013, 56 milhões de brasileiros, 29% da população, viviam nas periferias urbanas, de acordo com levantamento da consultoria Serasa Experian. A proposta do coletivo é dar visibilidade e voz às milhões de mulheres que integram esse contingente em tantos aspectos marginalizado, inclusive pela maneira como são representadas na mídia.

Elas mesmas contam a que vieram, em entrevista a Outras Palavras.

Quais são os desafios de ser uma mulher da periferia, em São Paulo?

Em uma sociedade machista, ser mulher já é um grande desafio. Ser mulher e ser da periferia torna essa missão pelo menos duas vezes mais difícil. Além de tudo que a mulher, de forma geral, já precisa enfrentar para alcançar seu espaço no meio social, nós, mulheres da periferia, enfrentamos os desafios presentes na vida de qualquer pessoa que viva na periferia de uma grande metrópole como São Paulo. Assim, entendemos que homens e mulheres sofrem com a falta de serviços públicos, como saúde, moradia e educação. Porém, a mulher, de forma específica, sofre mais que o homem, uma vez que na maioria das vezes é ela a chefe do lar. Sofre mais que o homem nos longos percursos de ônibus ou metrô, pois além do aperto, sofre abuso sexual. Sofre mais que o homem na questão da educação, uma vez que ela é quem cuida da vida escolar do filho. Sofre mais também na questão da saúde pública, pois precisa utilizá-la para questões ginecológicas bem mais cedo que o sexo masculino. Sofre mais, pois é ela que visita o marido quando vai preso. Sofre mais quando o filho morre ou entra para o tráfico de drogas. Sofre mais ao subir a rua escura, já que seu maior medo não é o assalto, mas o estupro.

Por estarmos mais longe dos bairros centrais, muitos serviços nos são negados. É impossível trabalhar por perto. Estudar por perto. Não há empregos nesses lugares, por isso percorremos longas distâncias, da Zona Norte à Zona Sul da cidade. Não há um número grande de faculdades nas regiões periféricas, o que nos obriga a sair cedo de casa e voltar depois da meia-noite. Não há opções de lazer também. E sair de casa para se divertir significa voltar no primeiro ônibus do outro dia.

Ser mulher nas periferias de São Paulo é conviver com as diferenças geográficas impostas por um sistema que afasta o pobre cada vez para mais longe, enquanto a especulação imobiliária encarece tudo, até mesmo em nossos bairros.soccer 2

Como vê o espaço que a mulher da periferia ocupa na sociedade? E como ela é retratada?

A mulher da periferia é retratada de forma genérica, estereotipada. Ela é, infelizmente, estigmatizada apenas por ser da periferia. Por sua localização geográfica, acreditam que ela se expressa, fala e se veste apenas de uma forma. A periferia é composta por pessoas muito diversas e, pelas dificuldades todas que passam, muito criativas. Porém, os meios de comunicação de massa ou grande mídia, como dizemos, traz em seus anúncios, novelas e comerciais um único tipo de mulher da periferia, sempre é a empregada doméstica ou a periguete. Somos empregadas domésticas, sim, somos também periguetes, mas somos várias outras também. Somos a mãe, a tia, a irmã, a mulher guerreira desde o nascimento.

20131216_231039Antigamente, a mulher da periferia não tinha acesso à faculdade, não trabalhava além do serviço que já realiza diariamente em sua casa. Essa realidade, no entanto, vem mudando em todas as classes sociais. A mulher vem abrindo espaço no mundo do trabalho, com cargos até melhores que os dos homens. Mas ainda ganha menos que eles. Isso é um desafio a ser enfrentado. Com a mulher da periferia, não é diferente. Ela também vem ocupando espaço, mas sempre tendo de provar que é capaz, mesmo vindo de um lugar distante. É preciso explicar que a questão da moradia longínqua vem acompanhada de preconceitos. “Se mora na periferia, não teve estudo qualificado. Se é da periferia, vai chegar atrasada. Se é da periferia, não sabe falar direito” são afirmações que podemos ouvir por aí.

0003O que é o “Nós, Mulheres da Periferia”? Como e por que surgiu a ideia de criar esse projeto?

O coletivo é formado por oito jornalistas e uma designer, todas moradoras de bairros da periferia do município de São Paulo. No dia 7 de março de 2012, quatro das nove mulheres jornalistas que integram o coletivo publicaram o artigo “Nós, Mulheres da Periferia” na seção “Tendências/Debates” do jornal Folha de S. Paulo, atentando para a invisibilidade e os direitos não atendidos das mulheres que moram em bairros periféricos de metrópoles. O texto obteve grande repercussão, sendo replicado em outros veículos de mídia, como na Rádio CBN. O artigo encontrou eco entre nossas iguais, outras jovens ou não tão jovens, mulheres moradoras da periferia de São Paulo que finalmente tinham se sentido representadas, lembradas e retratadas. Foi lido e registrado em vídeo no Sarau do Itaim Paulista, na Zona Leste da capital.

Para escrever, as autoras se basearam principalmente em sua visão e experiências cotidianas. Mas perceberam naquele momento que o vazio de representatividade não era sentido apenas por elas. Iniciou-se então um processo de pesquisa e consolidação do coletivo, que tem como objetivo principal dar visibilidade aos direitos não atendidos das mulheres, problematizar os preconceitos e estereótipos limitadores, que se cruzam com as questões de classe social, etnia e raça, muito presentes em razão de serem moradoras das bordas da cidade.women mudando de roupa

A primeira ação concreta do coletivo foi o lançamento de uma página no Facebook, no 8 de março de 2014. Na mesma data publicou o artigo “Nós, Moradoras da Periferia”, na seção “Tendências/Debates” da Folha de S. Paulo, jogando luz na questão do direito à moradia das mulheres de baixa renda.

Com mais de 2.500 curtidas em menos de dois meses, a página recebe conteúdo inédito diariamente e um post sobre a violação de direitos chegou a alcançar 597 compartilhamentos. Nos comentários da página é possível perceber que um grande número de mulheres da periferia se identificam e se reconhecem em nossas produções. Desde a criação até agora, temos uma média de 119 curtidas, 14 comentários e 23 compartilhamentos por dia.

Nesta quarta-feira, 28 de maio, será o lançamento oficial do site, um canal de comunicação e encontro com a missão de fomentar o protagonismo das moradoras de regiões afastadas do centro paulistano. A primeira grande reportagem trará a luta das mulheres pela casa própria e moradia digna.

mz_08_10035659100Quem são as pessoas que formam o coletivo? Quais suas relações com a comunidade?

São nove mulheres que nasceram, cresceram e ainda moram nas periferias de Norte a Sul da cidade. Todas são jornalistas comunitárias do Blog Mural e, por isso, já têm uma relação diferente ao olhar para o território periférico. Com a experiência adquirida no Mural, de contar aquilo de que a grande mídia não fala, é que vamos basear nosso trabalho, tentando fugir do senso comum.

Quais as principais diferenças entre o “Nós, Mulheres” e os veículos já existentes? Como o projeto pretende dialogar com a comunidade – e ajudar, talvez, a transformá-la?

Hoje em dia, não há nenhum veículo da grande mídia voltado apenas para a mulher. Mesmo entre os alternativos, não encontramos esse viés. E, naqueles da periferia, encontramos alguns assuntos, mas nenhum com foco na mulher. Além disso, um dos principais diferenciais de nosso projeto é que fazemos parte do universo que iremos retratar, pois todas moramos em bairros periféricos de São Paulo. Assim, observador e observado se fundem, marcando as nossas matérias com a sensibilidade de quem vive aquilo que escreve. O jornalismo é a ferramenta que escolhemos para dar voz às mulheres que nunca são ouvidas pela mídia e, quando são, é de forma sensacionalista ou sexista. Além disso, temos como objetivo pautar a grande imprensa, servindo de ponte entre a mídia e as mulheres não ouvidas da periferia.women35

O coletivo “Nós, Mulheres da Periferia” pretende contribuir para o empoderamento das mulheres moradoras da periferia de São Paulo, promovendo espaços de reflexão, debate, informação, troca de conhecimento, experiências e visibilidade sobre seus protagonismos, histórias e dilemas.

 

Pobres, junto com o Eike e outras aventuras do BNDES. Leia esse comentário do Gabeira, que grifei em alguns trechos

1253527972_moneyEike e o dinheiro público

Fernando Gabeira

Num pais democrático era razoável que o parlamento convocasse uma audiência para que o governo explicasse seu nível de exposição na derrocada do império de Eike Batista.

Qual o volume de dinheiro público que foi enterrado nessa aventura do pais do nunca antes?

O BNDES fala em R$ 10 bilhões em empréstimos, mas esclarece que nem tudo foi desembolsado, que há garantias etc.

Acontece que as noticias que correm por aí precisam ser publicamente discutidas por uma questão de transparência.

Além do empréstimos, o BNDES teria participações nas empresas de Eike.

A Caixa Econômica teria emprestado às empresas de Eike.

queimando dinheiroFinalmente, parece que foram destinados também R$ 3,8 bilhões de um Fundo da Marinha Mercante para financiar o projeto do Porto de Açu.

As noticias quando o empréstimo foi decidido falavam R$ 2,7 bilhões.

Imprecisões que mereciam uma discussão ampla mas o colapso do parlamento brasileiro nos priva desse momento vital em qualquer democracia.

No momento Renan Calheiros tenta explicar suas viagens em aviões da FAB. Henrique Alves também está enrolado com viagem em avião da FAB e os R$ 100 em espécie roubados da mala de seu assessor.

Os dois e grande parte dos deputados e senadores que, se não se rebelam contra eles, estão apenas fingindo que ouviram as ruas.

É preciso saber o nível de exposição real do governo, o quanto foi investido o quanto potencialmente podemos perder.

Se o risco público diante de um só empresário é de cerca de R$ 20 bilhões, quem explica isso?

queimando dinheiro.2gifMuitos ironizam Eike Batista porque ficou menos bilionário. Não se esqueçam: todos ficamos um pouco mais pobres com essa aventura.

“Nós, as novas mulheres”. Artigo completo, com parágrafos especiais para a AGÊNCIA AIDS

Nós, as novas mulheres

Marli Gonçalves

Muito prazer, se ainda não nos percebeu. Mas nós nos apresentamos todos os dias bem diante de seus olhos. Temos todas as idades e fazemos de tudo um pouco, porque não há mais tempo nem de parar para discutir, ficar de bate boca com quem ainda não entendeu que a igualdade já é; só falta criar mais raízes. Só falta que todas entendam tantos riscos e obstáculos.

 

Ah, mulheres! Antes de mais nada, fiquem todas mais espertas que esse mundo está muito cheio de armadilhas, e só nós, as novas mulheres, podemos ajudar a alertar as outras que vêm chegando entusiasmadas neste nosso novo mundo…

Ah, mulheres! Cuidem-se porque só nós mesmas sabemos o quanto nosso corpo está sempre em um jogo grosseiro de vida e morte. Não nos deixam em paz nem para termos ou não termos nossos filhos. Pensam que, porque proíbem e fazem as leis e as ordens, os seguiremos. Eles querem nossa saúde, mas não nos apoiam, e somos nós mesmas que temos de nos apalpar os seios, andar com camisinha na bolsa, com spray de pimenta para nos defender.  Nossa nova tribo pode estar em mais um risco: novas meninas moças cheias de vontade de sexo estão se contaminando com a AIDS por pensar que a doença é brincadeira de criança – e não é. Não é catapora, sarampo. E as novas mulheres maduras que se sentem renovadas com a liberdade da viuvez ou da separação estão se descuidando e também ficando mais infectadas. Pensam talvez que a idade livre de outras doenças que não rugas, reumatismo, diabetes. Não, não é assim. Nós, as novas mulheres, temos a obrigação de saber mais para poder mais.

É. Conseguimos. Nós ainda surpreendemos a galera quando aparecemos desbravando algum campo de batalha e quartel general masculino que porventura resista, mas já caducando, por aí. Não é por querermos nos gabar, mas convenhamos: em muito pouco tempo, poucas décadas, depois que obtivemos mais ar para respirar, avançamos, demos passos gigantescos com os nossos saltos altos ou rasteirinhas, com nossas qualidades e implicâncias e – por que não dizer? – algumas poucas, pouquíssimas, fraquezas e deficiências. A gente pode tudo e tem mesmo é de ficar bem prosa.

Fomos fortes, atravessamos os preconceitos, e ainda morremos, ou somos assassinadas, e comemos o pão que o diabo amassa todos os dias com o rabo. Mas conseguimos. Chegamos lá; e lá; e lá, também. Governamos, mandamos, dirigimos, destruímos, lideramos, lutamos, descobrimos véus e arrombamos portas antes fortificadas com cercas elétricas.

Nada mais natural, de natureza, naturalidade, que já estejamos até nascendo meio diferentes, mais firmes, mais confiantes, como vemos todas as menininhas por aí esbanjando a alegria e as diferenças da alma feminina, nossa essência. Tudo já é mais precoce, mais livre, sem vetos.

Há quem diga que o mundo ficou bem melhor. Pode ser. Mas nós também damos muito “defeito”, principalmente quando nos espelhamos e buscamos imitar os comportamentos do tal alfa masculino. Aí nada combina.

Hoje já assustamos com nossa presença maciça no mercado de trabalho, na colaboração com inteligência, e no uso cotidiano de nossas grandes armas, além da beleza intrínseca, claro! Somos generosas, intuitivas, até decorativas. Fazemos o mundo mais bonito e às vezes penso até se não é esse o detalhe que faz com que tantos homens até se operem para chegar “lá” mais jeitosos. Cada vez mais, também, mulheres amam outras mulheres, livremente, e já estamos nas ruas, andando de mãos dadas, sem precisar apresentar desculpas. Somos mais do que comadres.

Somos diferentes mesmo. Adoramos novidades, trocar a cor de nossas roupas e cabelos. As que podem, capricham. Cortam aqui, ali, aspiram de um lado, injetam de outro. Temos até agora o que chamo, mas na boa, de Nova Raça – um ramo da espécie feminina, que tem um bundão e um pernão maiores do que os dos jogadores de futebol, esporte onde, aliás adentramos o gramado com glórias e martas absolutas. Quase assustadoras diante dos mirrados homens, essa nova raça foi vista agora mesmo, abundantemente, nas escolas de samba; estão nos reality shows e onde tiver um funk para dançar “chão, chão, chão”. Tanquinho só no abdômen – o tempo é gasto em levantar pesos, cuidar dos glúteos, algumas até exageradamente, essas popozudas que povoam sonhos, mas que bem poucos têm condições de encarar.

Estamos todas nós nas capas e fotos das revistas, inclusive nas econômicas e especializadas em mais do que ensinar como ser mulherzinha.

A lata de água na cabeça ficou para trás. O corpo malemolente moldado nas vielas e ladeiras também. Mas o rebolado, de alguma forma, aumentou. Independência traz maiores necessidades.

Nós, as novas mulheres. Mulher que tem homem. Mulher que tem mulher. Mulher que tem amantes. Mulher que quer viver sozinha. Mulher que tem filhos só seus, e até com o sêmen de desconhecidos – e os homens sempre se acharam necessários para tal. Mulher que, mesmo sozinha, adota e amamenta filhos de outras mulheres. Mulher que não quer filho, mas ama gatos, cachorros ou livros. Mulher que tem brinquedinhos vibratórios na gaveta, e alguns de verdade. Mulheres que amam demais, de menos. Que se jogam do céu em paraquedas, e pilotam aviões ou motos e bicicletas. Ou ônibus, caminhões. Que venham os motores e as rebimbocas e parafusetas. Mulheres que pagam por acompanhantes momentâneos, para conversar, dançar ou amar.

Somos mesmo demais! Nossos banheiros têm mais shampoos e cremes e se você não sabe por causa de quê, respondo. É simples: porque alternamos. Hoje podemos mudar de ideia. Amamos sapatos porque eles levam nossos pés longe, como rodinhas, ou as asas de Mercúrio, e nossos olhos gostam de vê-los se movimentando. Amamos bolsas porque nelas carregamos muitos de nossos segredos, um pouco de nossa casa, primeiros socorros. Talvez até a foto do amor na carteira. As chaves que abrem as portas que atravessamos, ou as que trancam e protegem nossos tesouros. Acostumamos-nos a carregar camisinhas, vejam só! E a obrigar que sejam usadas.

Gostamos de brilhos. Nossos armários têm mais coisas do que a que podemos usar. Faz parte. A gente nunca sabe bem qual personagem será o do dia, e é para isso que existe a criatividade de juntar peças, como fazemos com a vida, quebra-cabeças. O palco é a vida. Somos todas artistas.

Somos invejadas por essas nossas capacidades, até por outras mulheres que demoraram a perceber as mudanças que foram tão rápidas, e que muitas até hoje ou não entendem, ou dizem por aí que não as queriam. Não foi fácil; não é fácil, não será. Mas aconteceram e nasceu a Nova Mulher. Muito prazer – inclusive uma das coisas que gostamos – em conhecer.

Por isso, sorria, aplauda. Venham comemorar com a gente o Dia da Mulher, mas, por favor, sem falar besteiras ou piadinhas bobas. É o dia que marca nosso orgulho. Deixa ele aí no calendário. Marque um círculo em sua volta, como se fosse tabelinha de menstruação, essa coisa tão feminina. Podia até ser feriado, porque por ele, para conseguir tudo isso, muitas de nós morreram.

Para mantê-lo, ainda morrem.

São Paulo, março de 2012, bom mesmo seria ver tudo cor de rosa.

(*) Marli Gonçalves é jornalista. Acha e vê que toda mulher quando amada é linda, sempre, nem que seja apenas nos fugazes instantes posteriores, quando apenas sorri.

Delícia.Nós todas fomos homenageadas hoje na Rádio Bandeirantes. Com o meu texto! Grande Zé Paulo de Andrade!

GENTE!!!! MARAVILHOSO! MARAVILHOSO!

Tenho a honra de ter sido citada pelo grande jornalista José Paulo de Andrade em um dos programas de maior audiência nacional na rádio – o PULO DO GATO.

Hoje, Dia da Mulher, tive a honra de ter meu artigo “Nós, as novas mulheres” – LEIA AQUI – lido por ele na rádio ( mando o link abaixo; ele leu às 6 e pouco da manhã).

Maravilhoso. E estou vend muita gente vindo aqui no nosso blog. Muito prazer. Voltem sempre!

Aqui a defesa da mulher é todo dia, toda hora.

 

VEJA O LINK

http://www.radiobandeirantes.com.br/player/?LNK=http://www.radiobandeirantes.com.br/audios_rb/12_03/120308_pul_podcast.mp3