#ADEHOJE – ACABOU O MÊS. GAIDÓ ENTRE NÓS. E TUDO NA MESMA

 

#ADEHOJE – ACABOU O MÊS. GAIDÓ ENTRE NÓS. E TUDO NA MESMA

 

SÓ UM MINUTO – Acabou. Já acabou o mês de fevereiro e a gente continua igual que nem, tudo parado, esperando o Carnaval passar. Ou a Páscoa, ou o próximo Natal, talvez? Ou mais tragédias, decisões ministeriais absurdas, vaivéns? Até quando? Lá veio PIBinho de 1.1%. Vergonhoso para um país com essas dimensões e riquezas, mas atacado pela ignorância e gestão de quinta categoria. O país do futuro que nunca chega.

Juan Guaidó está aqui no Brasil para uns encontros e, talvez, para ver se consegue voltar à Venezuela por aqui. A grande tensão do momento é como será esse retorno, já que Maduro diz que, se ele voltar, será preso. A gente se preocupa com o nosso, com o dele, com o país de todos, que a coisa está esquisita para todos os lados. Agora tem pendenga também entre a Índia e o Paquistão. E explosiva, já que são potências nucleares.

ARTIGO – Chacoalhada geral. Por Marli Gonçalves

 Ainda está aí sentindo o tremor, não é mesmo? Viu? Percebeu o quão tênues e surpreendentes estão as linhas, os limites, os acontecimentos? Não dá para se acomodar, que tem muito pó-de-mico na cadeira. É hora séria, de a gente pensar juntos qual estrada pegaremos sem bloqueios. E sem bloquear a liberdade

Não foi no primeiro dia, mas lá pelo terceiro a coisa começou a ficar bem feia e então todos percebemos que estávamos parados ou parando nas encruzilhadas e nas quebradas, e que as cidades viraram ilhas. O governo demorou mais do que nós, porque lá onde vivem é uma espécie de Olimpo, e só quando baixaram na Terra é que perceberam que aqui estávamos no Inferno, abaixo dela, terra, alguns dedos, se é que me entendem.

Pagamos uma tal de Inteligência, uma agência inteira, a ABIN, que só serve para nos atazanar, porque ajudar que é bom…Mas nem precisava, porque soubemos também que há mais de ano havia essa ameaça de greve exposta em cartinhas dessa categoria carga pesada – ou melhor, de todas as cargas – e os ouvidos continuaram moucos.

E aí juntou tudo, patrões, empregados, gasolina com preço fervendo, diesel com sangue azul. De tudo que reivindicaram, realmente houve uma coisa que chamou a atenção: não vimos ninguém pedindo na listinha que fizessem melhorias no lugar onde andam, e nós também, propriamente, as estradas, que são a bagaceira em forma de asfalto ruim e terra enlameada. Caminhos que gastam mais combustível, energia, vida, os caminhões, treminhões, pneus, levam vidas. Estranho. Muito estranho também não terem listado outro aspecto: segurança. Isso com tantos assaltos e roubos de carga, cotidianos.

Talvez essas cobranças sobrem agora para nós fazermos, ou numa eventual greve geral que já não acho tão impossível, ou na plataforma dos candidatos que estão aí e que ainda parecem flanar sobre nossas cabeças e problemas.

Assim, precisaremos fazer nossas listas de reivindicações – urgente. Podemos também começar reclamando do absurdo preço da gasolina, mas enquanto maioria devemos nos preocupar muito em exigir transportes públicos de qualidade e vias alternativas de escoagem de produtos de primeira necessidade, como ferrovias. Esses dias todo mundo lembrou do “trem bão”.

Senão, nada impedirá que novamente sejamos chacoalhados e fiquemos pendurados em alguma brocha como essa que pintou o sete nos hospitais, mercados, linhas de produção.

Foram momentos nos quais não soubemos de tiroteios nem de balas perdidas no Rio de Janeiro; da febre amarela, dengue, e do absurdo das campanhas contra vacinas feitas por ignorantes. Talvez esses e outros tipos de ignorantes estivessem preocupados em sacudir bandeiras desajeitadas pró uma intervenção que eles não têm noção do que é, do que poderia ser, do que foi quando ela aconteceu e nos chacoalhou, bloqueou e feriu por 21 anos.

Aprendemos muito observando esses dias. Vimos o medo, a loucura, a ganância e o egoísmo em suas piores formas, o descontrole e o exagero. O corre-corre desnecessário. Cada um por si, ninguém por todos. Um país inteiro de joelhos, cada um rezando um credo.

Ficamos com o bumbum na janela. E dela avistávamos as ruas vazias, sem trânsito, muita gente andando, muitas bicicletas enfim ocupando as ciclovias, e sentimos o estranho (mas muito bom) silêncio. Poluição pela metade. Incrível como tudo pode ter um lado bom.

Mas mais do que tudo isso, sentimos o tremor e o temor. Externamos nossas preocupações com o futuro, com o que aconteceria, e com o que pode acontecer. Fomos pegos num redemoinho, e ainda estamos bem tontos.

Esperamos soluções, e que não são soluços grandes de um choro que não queremos mais ter. Muito menos por estarmos engasgados com tantas coisas para dizer.

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Marli Gonçalves, jornalista – Vivendo um momento de transição etária nesse momento e que lembra quantos anos rodados de estrada. E a tristeza por todos que foram ou já estão parando nos acostamentos. Saindo literalmente para fora do caminho.

marligo@uol.com.br /marli@brickmann.com.br

São Paulo, beliscada, junho de 2018

ARTIGO – Casa da Mãe Joana Brasil. Por Marli Gonçalves

Não é só por causa da paradeira dessa semana, dos caminhoneiros, que o Brasil virou o verdadeiro e único representante da Casa da Mãe Joana, aquela com uma porta onde todos podem entrar, conforme reza a lenda que Joana I, de Nápoles, decretou ao legalizar os bordéis de sua região no século XVI, numa história que envolveu conspiração, mortes e desejos de liberdade total.

 

A expressão Casa da Mãe Joana se atualizou total esses dias. Na verdade, se instalou de vez. Igual àquela que diz (ou pelo menos dizia, porque a coisa está tão preta que há muito não ouço nem ninguém citar) que Deus é brasileiro. Até Ele tem limites e deve ter se mudado de mala e cuia. Aqui não só entra quem quer, como faz o que quer e, enfim, quando tenta se impor, declara e manda fazer o que não tem a menor ideia de como será cumprido. Casa da Mãe Joana é uma expressão popular, “o lugar onde todos mandam”, sem organização, onde cada um faz o que quer, uma baguncinha, enfim.

Reuniões longas, horas, documentos e documentos, contas que depois se mostram absolutamente erradas, anúncios de decisões que na manhã seguinte não surtiram qualquer efeito. A paralisação dos caminhoneiros apenas nos demonstrou de forma radical e até cruel o desatino e despreparo que enfrentamos há anos, em todas as direções para as quais olhamos.

Em algum momento o trem descarrilou. Inclusive, trilhos dos quais agora nos lembramos saudosamente e que tanta falta nos fazem na logística de distribuição nacional desse país de dimensões tão complexas, e que se inclinou para a indústria automobilística, para a fonte petróleo, entre outros erros estruturais que vemos se repetindo anos a fio.

Na Casa da Mãe Joana todo mundo invade a cozinha e quer tirar um proveito, mexer na receita, tacar a colher na sopa, entornar o caldo. Se a comida sai ruim, os dedinhos de todos se apontam uns para os outros levianamente, não fui eu, foi ele. Como crianças birrentas e marotas. Esse é o cardápio completo que estamos vendo. Pratos postos numa mesa que ressuscita até os zumbis que já governaram e desgovernaram, e que voltam para nos assombrar com suas declarações toscas e buscando isentar-se do estado a que as coisas chegaram.

Em casa, seja da Mãe Joana ou de qualquer outra, onde falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão; imaginem quando falta pão, gasolina e vergonha na cara.

Surgem, de um lado, os salvadores da pátria e suas ideias birutas; de outro os vilões que não têm nome nem cara, mas sabem remarcar preços como ninguém para se dar bem, não poupar ninguém. Sabem fazer sumir e aparecer produtos, mágicos. Gasolina a dez reais o litro, alface murcha, 10 reais a unidade, batatas de ouro puro, todos viram aparecer. Mais os oportunistas políticos que surgem para o banquete onde esperam lugar à mesa, sentados na cabeceira, inclusive. Só que precisarão pagar a conta.

Mas não se preocupem. Como disse o presidente ao mandar as Forças Armadas acabarem com a movimentação dos caminhoneiros, falando do púlpito, sem combinar com os goleiros, agora “o Governo terá coragem”. Faz lembrar a coragem da intervenção federal do Rio de Janeiro quase esquecida nas calendas. Temer, inclusive, se mostrou bem preocupado com os frangos que, segundo ele, estariam já se canibalizando. Sem comentários, por favor.

De soquinho em soquinho, vamos indo esperando o próximo round, quem vai bater à porta, a próxima crise. Tanto falam em militares, tanto falam em intervir que conseguiram botar o bloco verde para dissipar o azul de nosso céu. Por enquanto, e espero que pare aí, para desobstruir os canais por onde corre o nosso sangue. Os combustíveis, os alimentos, e tudo o mais que nos mantêm vivos.

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 Marli Gonçalves, jornalista – Veio à mente uma música muito conhecida, de Vinicius de Moraes: Era uma casa/ Muito engraçada/Não tinha teto/ Não tinha nada/ Ninguém podia/ Entrar nela, não/ Porque na casa/ Não tinha chão/ Ninguém podia/ Dormir na rede/ Porque na casa/ Não tinha parede/ Ninguém podia/ Fazer pipi/ Porque penico/ Não tinha ali/ Mas era feita/ Com muito esmero/ Na Rua dos Bobos/ Número Zero.

marligo@uol.com.br/ marli@brickmann.com.br

Maio de 2018

ARTIGO – Vamos mudar o disco. Por Marli Gonçalves

 

Vou atirar para tudo quanto é lado, adianto, que não estou gostando nadinha dessa coisa de ficar falando só em dois lados da questão Brasil. Essa moeda tem pontas, muitas, uma pluralidade delas. Quero meu país de volta. Quem ganha com essa paradeira, com essa tensão toda? É cansativo. São já pelo menos mais de três anos que parece que não temos mais um minuto de sossego, que nada funciona normalmente, que não tem dia sem algum sobressalto

        Se você me conhece pode imaginar com mais precisão, mas não importa, se você não me conhece pode imaginar também. Estou aqui segurando uma plaquinha – um papel daqueles, sulfite, escrito à mão com os dizeres: Por uma Nova Constituinte Já! Só assim, com uma reforma política, com uma ordem social mais planejada, moderna, visando o futuro que já mostra a cara, com tecnologia e avanços, vamos conseguir levantar o pé dessa lama. Começar de novo.

Essa semana foi, vem sendo (e será a outra também) desesperadora. Mas foi a prova de onde reside um dos nossos maiores entraves. Dias e dias vendo e ouvindo bate-boca de ministros com suas togas negras e vistosas debatendo entre si, se entreolhando feio, falando, falando, falando, e poucos entendendo exatamente o que diziam em seus sonolentos votos.

Pior, ao analisar esses debates com um pouco mais de atenção, perceber que todos discutiam, de alguma forma, a forma da lei. Que cada um lê essa lei, que não é clara, de uma forma. Do ângulo que lhe convém, uma coisa meio Babel. Ao mesmo tempo, para defender seus argumentos, todos acenam iguais brandindo com o mesmo livrinho verde e amarelo nas mãos, e as palavras Constituição e constitucional, repisadas. Engraçado é que aplicadas igualmente a justificar visões opostas. É esquizofrênica a situação; bipolar.

A coitada da Constituição de 88, tadinha, já nasceu meio capenga, vinda de uma época cheia de dúvidas, recém saindo de uma longa noite de ditadura onde foi fecundada. Nesses 30 anos, a já balzaquiana foi emendada, remendada, costurada, acharam um monte de verrugas nela, incrustadas e escondidas por hábeis manobras. Agora é isso aí: todo mundo fala que a segue porque ela é gordinha de tanta coisa que satisfaz a qualquer um, ao gosto do cliente.

Não vou me deter em tratados sociológicos ou meandros jurídicos, que nem me arriscaria. A realidade é maior. Quem está conseguindo trabalhar direito, sem sobressaltos? Sem medo? Quem está realmente satisfeito com seus governantes, com seus representantes eleitos, uma decepção atrás de outra? Quem é que está confortável com as Eleições que se aproximam, marcadas para daqui a apenas seis meses? E essa mais nova moda trumpiana que baixou aqui – comunicação pública – recados, posições, controvérsias, fusquinhas e rusgas – via redes sociais, tuítes.

As contas não param, os bancos não perdoam, ninguém quer saber se teve ou não protesto, se a cidade parou, se não sei quem vai preso, se outro manda soltar, se os dias não estão rendendo. Você está aí com os boletos nas mãos, sacudindo. Falam em milhões, bilhões surrupiados, enquanto contamos as moedas. Não entendo porque o país está tão dividido se o barco é esse mesmo, igual para todos, excetuando-se só os palermas que ainda acreditam que as coisas não se passaram como se passaram. Que o Grande Líder, Pajé Lula… Que o Chuchu… O maluco beleza… Andam até ameaçando ir buscar nos confins aquele exemplo de postura, Joaquim Barbosa! Porque é negro. Mulher, não, que já acham que não deu certo.

Embora tenhamos pouco tempo, talvez com o andar dessa carruagem que está descarrilando tenhamos de pensar logo nisso. Numa eleição onde escolheríamos constituintes. Talvez pessoas mais gabaritadas se apresentem em suas áreas, vindas da sociedade civil, criando, aí sim, uma nova política. Sem esse blábláblá de gestão, sem messianismo, sem que sejamos ameaçados todo dia com alguma tirada genial da cartola de algum cartola. Com o tempo determinado.

Como é que faz não sei. Sei que tem mais gente pensando nisso. Eles que são importantes que se entendam. Eu vou continuar segurando minha plaquinha com o pedido. Foi a única coisa que achei até agora, mas se você tiver outra sugestão vai ser legal.

Precisamos mudar o disco dessa vitrola.

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Marli Gonçalves, jornalista – É tanto embargo, tanta presunção de inocência e culpa que só cantarolando a música do Djavan com outra letra: “Um dia tenso/Sem um bom lugar nem pra ler um livro/ E o pensamento lá em você/Que é muito vivo… Um dia triste…”

marli@brickmann.com.br / marligo@uol.com.br

Brasil: mostra uma nova cara!