ARTIGO – No tapetão, não! Por Marli Gonçalves

3eme_age001Tapetão? Isso já é um carpetão. Cheio de pregas e tachas. Me pergunto só, todo dia, como é que gente de bem pode ainda estar e ficar calada, apática, impassível diante do que vem ocorrendo descaradamente nesta campanha, mais especificamente no último mês? Como é que podemos aturar que, para manter o fervor do apego ao poder e aos cargos, eles agora cheguem ao pé do ouvido das pessoas mais necessitadas, de quem tanto falam, bradam que protegem, que são pai e mãe, que são isso e aquilo, e vão lá para mentir para eles, incutir o medo e o terror?797798111_1925948

Falta de capacidade política para vencer com honra? Preferência de perder com desonra? Apelação. Essa eleição está mesmo cheia de ãos. Tapetão, sopetão, mensalão, petrolão, delação, corrupção, dinheirão. Se parar para pensar virão muitos outros ãos. Extorsão, por exemplo, caminhando juntinho com a trairagem.

Sem mentira, pensei que talvez houvesse ainda sobrado alguma compostura quando se tornou visível uma variação de pensamentos dentro do PT. Ou que o passado político de muitos deles, com muitos dos quais estivemos juntos em muitos fronts, lhe desse alguma vergonha na cara, ou ao menos discernimento.

Não. Inventaram um país. Tão maravilhoso, tão legal, tão com tudo certo que nem o mais criativo dos compositores poderia descrever esse paraíso tropical que nos é apresentado diariamente na campanha eleitoral; nem Jorge Ben nos melhores tempos. Será que estão bebendo muito alguma coisa diferente, tipo o que deram para a Alice no País das Maravilhas? Porque eles crescem para apavorar, e ficam pequenininhos para entrar sorrateiros em tudo quanto é cantinho, igual a ervinhas daninhas. Vivem mesmo num mundo de fantasia.

Mas nós não. Sabemos ler, procurar distintas fontes de informação, temos capacidade de reflexão. Estamos vendo o país parado, os negócios estancados, a inflação treinando o galope pocotópocotó. Parecemos mais samurais cortando tudo. Corta isso, corta aquilo, deixa disso, não paga lá, se estoura nos juros.

Enquanto isso, os caras faltam fazer amor gostosinho com os bancos durante anos, nunca banqueiros lucraram tanto, nunca entidades estatais distribuíram tantas benesses, se envolveram com tanta corrupção, e nunca, ainda, tantas benesses foram queimadas, inclusive com petróleo, por exemplo, no caso Eike Batista e seus xs. Já estou logo dando nomes aos bois porque há um exército dissimulado, vindo das profundezas desse paraíso artificial criado – para eles deve estar tudo bem – pronto para acusar quem não os ache lindos, xingando de nomes de várias aves, como tucanos e abutres. Eu sou só um passarinho fora da gaiola, chamado Saudade. Saudade de quando pensamos em um mundo melhor.sweep%20under%20rug

Mas também tem Alice no País dos Espelhos. Aí acredito seja onde reside a inspiração dos homens de marketing que capitaneiam o mal, distribuindo-o com a maior cara de pau e muito dinheiro. Buscam no espelho tudo de péssimo de seus próprios rostos para apontar o dedo em outras direções. Olham para a Marina e a acusam de ser ligada aos bancos quando, se você pensar bem, ela está é conseguindo salvar uma herdeira, a Neca Setubal, desse destino tão cruel de família. Nunca vi petistas serem tão agressivos, por exemplo, com os Moreira Salles e sua dinastia, o cineasta Walter, ou o cineasta João, esse último até autor de um filme sobre a campanha do Lula. Quando é com eles, tudo pode, tudo é certo. Tudo é democrático. Afinal, a cantilena é que tiraram não sei quantos milhões da miséria.

Adivinhe só. Estão destruindo um país da América Latina. Adivinhe qual. Ah, esse aí que você também pensou é uma resposta certa, sim. Porque para piorar ainda há a união do ruim com o pior e com o que há de mais atrasado, principalmente em relação ao comportamento, à modernidade, o que inclui, sinto muito, países até mais distantes, como a fechada China e a rancorosa Rússia.medalstereo

É agora a hora da união. Porque o tapetão vai fazer escorregar, tropeçar, e muita louça pode ser quebrada. Precisamos consolidar uma oposição, parar de nhenhenhem, mineirices para lá, Deus para cá. Se não surgirem estadistas agora, com interesses mais elevados que seus anseios ou seus umbigos, sei não…

Somos todos de um grupo só, lutamos contra 30 anos de uma violência brutal, formamos vários movimentos. Aconteceu que muitos se desgarraram de vez e, na gangorra política, estão aboletados no Planalto e em cima de postes plantados. Esses aí é que são o problema atual, nadando sim no petróleo.

Nós sabemos que o pré-sal é mesmo importante, mas ainda é um ovo em formação lá na galinha; que os programas sociais são fundamentais porque qualquer coisa é boa para quem precisa, como o ar para respirar, mas eles não podem paralisar, criar pessoas deitadas em redes esplêndidas.

imagesNós sabemos tudo isso. Precisamos retomar as mudanças de onde as paramos. Nada mais importa agora, a não ser a união, enquanto é tempo.

Senão, fechem as cortinas para não verem tanta sem-vergonhice e sacanagem com requintes de vingança que virá por aí. A nós restará só continuar a varrer a sujeira para debaixo do tapete. Do tapetão.

São Paulo, eleição Brasil, 2014

Marli Gonçalves é jornalista – Mas antes de tudo, cidadã. Leal a princípios, não a partidos.

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ARTIGO – Apelando aos santos, a todos eles, um a um

                                                                                                                                                                                 MARLI GONÇALVES 

De novo! Junte as mãozinhas, concentre-se. Pense firme e forte. Será preciso reza brava. Senão, faz melhor: distraia-se recortando bandeirinhas coloridas de papel. Pular fogueiras já pulamos todos os dias, bem miudinho, com a inflação nos mordendo os calcanhares.

Tem quadrilha, tem sim senhor. Tem cobra? Tem sim, senhor. Olha a chuva! E o frio, o vento, o vulcão, a ressaca, o ciclone, os bate-cabeça do Governo. Esse arraial anda complicado demais da conta, compadre, comadre! Nem digo mais para acender velas, porque o preço delas já está pela hora da morte. Aliás, o preço de tudo, e tentam nos convencer de que estão sob controle. Controle de quem, jacaré? Dá um pulinho no mercado. Não precisa pegar o carrinho, dá para carregar na mão, passar no caixa-rápido de dez volumes; e também nem precisa de lista de compras, porque vai acabar é gastando a caneta riscando os ítens. Não porque já pegou. Mas porque vai tirá-los da sua vida. Perder a vontade. Esquecer.

Daqui a pouco até as maçãs ficarão inflacionadas. Nos locais onde elas são vendidas enroladas no papel, terão preferência, por duplo uso, higiênico, compreende? Queijos? Duas fatias. Por semana, divididas em quatro. Leite? Só em pó – uma lata igual a cinco, seis litros, feitos com água direto da fonte torneira. Café, o solúvel. Pão? Biscoitos? Engordam. Carne? Ah, agora você está entendendo porque é cada vez maior o número de vegetarianos. Limpeza? Ensaboa, mulata, ensaboa. Fuja dos congelados, gelados, frios, que eles ficam ali paradinhos, mas o preço é cada vez mais quente.

Sou jornalista, amo a profissão, mas às vezes acho que a gente faz uns desserviços e tanto publicando umas informações vindas única e exclusivamente das previsões e de interesse de mercado, absolutamente fora da realidade terráquea. O exemplo da bolha imobiliária que vai estourar a qualquer momento é visível. Placas e placas de aluga-se, vende-se, lojas fechando mais que abrindo – são anos-luz para se conseguir concretizar qualquer negócio. E treinamento de boxe para lutar para receber. De ioga, para aprender a esperar. De atletismo, para pular os obstáculos. O tal mercado regozija-se, trombeteando sempre uma alta irreal, pinicando nossas calcinhas, apertando as cuecas. Os proprietários, por sua vez, acreditam no que lêem e ouvem de uns tais “especialistas” sem turbante, e esfregam as mãos. E caem na rede. No fim todo mundo sai perdendo, porque a realidade não é um gráfico. É sempre mais embaixo.

Moro de aluguel. Falo, entre outras, porque agora mesmo estou às voltas com uma proposta irreal de reajuste onde moro. Estão falando em quase 100%, o dobro. Buscar onde, se ralo 24 / 7 e não sobra?Atropelaram os índices e os mandaram para a UTI. Não, nada mudou; ao contrário, é um apartamento antigo, sem reformas, sem melhorias, e que eu amo profundamente mesmo assim. Mas amor não paga o aluguel, e se o proprietário é investidor e tem tudo pode não perceber que é muito melhor um passarinho na mão – no caso, eu, piupiu, que pago direitinho tudo, cuido do bem, já estou lá – do que muitos outros voando, urubus, com seus corretores ávidos, numa concorrência absolutamente desleal. Imóvel vazio é prejuízo certo, e as contas continuam. Pedir, claro, pedem o que quiserem. Conseguir quem pode são outros quinhentos sejam eles em reais, dólares ou euros. Repara que parece que no tal mercado estão vendendo ou alugando pedaços do céu, da Lua, pontas de estrelas, tudo com vista para o mar. O bolo já está desandando no forno, não demora a esbugalhar.

Não sei falar de economia em economês. Mas sei que grana a gente conta por mês/mês. Não entendo de índices, de spreads, taxas, over. Mas como estou viva e com muitas coisas para arcar, vejo – e sinto – que cada vez mais economizamos, cortamos, trocamos, e as safadas que entram por debaixo da porta só fazem aumentar, com seus cruéis códigos de barra. Não vou para lá e para cá e os amigos do posto já sorriem quando perguntam: – Cinquentinha? Cada vez o ponteiro sobe menos.

Gosto de ler, mas quando passo nas livrarias só lambo os beiços. Só. Cada vez mais me interesso por bazares, liquidações, queimas de estoque que, ao menos, como a crise está brabeira, têm sido constantes – não esperam mais nem o fim das estações. Nada de luxos, restaurantes, presentes, supérfluos. Corta! Vermelho!

Viramos ilhas, com dívidas para todos os lados. Poupança rende porcaria. Não é o mesmo percentual do empréstimo, e devia ser ao menos próximo. Bancos ainda querem que você morra com o dinheiro pintado que não foi roubado; apenas explodido. Até os ladrões já estão mais especialistas em tinturaria do que em lavanderia – essa, uma coisa só para quem pode e sabe o caminho dos descaminhos.

Não precisa atravessar o rio para encontrar as piranhas: elas se metamorfosearam em impostos no que comemos, bebemos, fazemos.

Santo Antônio, São João, São Pedro, São Paulo. Santa Clara, clareou! Nossa Senhora já está com a capinha gasta. Reza, reza, reza. Não importa a religião, se é reza, oração, meditação, macumba. A inflação imola, atrapalha, detém o desenvolvimento. Não tem justiça social que aguente o tranco, nem é questão de classe social, beabá. Tal qual tsunami, vem em ondas provocadas justamente por uma especulação desenfreada que soltam das jaulas, feras incontroláveis que já vimos aumentando nossos zeros no passado.

São balões que sobem e bombinhas que estouram nossos alicerces, fogos que explodirão ferindo a todos, em violenta cadeia, que nos deixará a todos com roupas em retalhos. Não adianta continuarem assobiando, fazendo que não estão vendo, afirmando que não existem. A pressão é igual pipoca na panela. Quentão, vocês sabem bem onde; fubá.

Nós é que não podemos mais ser as pamonhas.

São Paulo, junino, serviços que não funcionam, nem de cabeça para baixo, nem com multas que só são cobradas, mas parece que nunca são pagas, em 2011.

(*) Marli Gonçalves é jornalista. E já está perdendo a classe, média. Chamando urubu de meu louro. Trocando o alho pelo bugalho. Sai bem mais barato. O que ocê foi fazer no mato, Maria Chiquinha?

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