ARTIGO – Gangorra ou de pulinho em pulinho. Por Marli Gonçalves

Assim vamos indo, de denúncia em denúncia. Aos sobressaltos. De pulinho em pulinho, na gangorra do sobe e desce, do que vai e do que vem. O título da coluna seria “de soluço em soluço”, e que eu já estava pensando bem antes, vocês sabem de quem, começar a soluçar e dar golfadas. Mas não é sobre a saúde do presidente, pelo menos não só, mas sobre o Brasil e os nossos enormes sustos do dia a dia.

gangorras

Troquei o soluço pela ideia que estamos saltitantes sobre fogo e subindo e descendo. Uma coisa, uma hora; na seguinte, já não é mais nada daquilo. Pode ser melhor, mas em geral tem sido é pior. Chega a tontear a quantidade de informações que recebemos, vindas das mais variadas fontes. Ultimamente em on, off, ou ainda com sons de claras gravações de voz ou ainda quando assistimos vídeos completos comprovando as barafundas, negociatas. Fora, com CPI a pleno vapor, documentos, e-mails, ofícios para lá e para cá que vêm à luz, de acordo com a maré, investigações ou interesses.

Ah, falei CPI a pleno vapor. Esquece. Apenas fumacinha, brasinhas, pelo menos nas próximas semanas. Que no meio da coisa quente, pegando fogo, eles resolveram entrar em recesso, que férias não é privilégio só dos juízes e apresentadores de tevê importantes. Fuémm.

Um dia está tudo bem, a economia está “crescendo” – e nos mostram percentuais em geral só de zero vírgula alguma coisinha. No outro, surgem as quedas, mas de dados como níveis de emprego, atendimentos, sempre de percentuais com mais números bem gordinhos antes da vírgula do percentual. A verdade é aquela: só procurar que acha. E temos tantas letrinhas pra procurar, PIB, taxas, juros, inflação, projeções e estatísticas que sempre depende se a procura for por notícia boa, média ou ruim. Depende do dia. Tem dados para todos os gostos. Difícil fica é acreditar em alguns.

Na política, a coisa tá louca. Desarvorada. Há dias com uma série de acontecimentos tão quentes que você acha que o governo não vai resistir nem até aquela noite.  Você fica que nem maluco tentando acompanhar e entender tudo, vê a terra tremer. Aí a noite chega e nada. Você vai dormir, e quando acorda corre para ver se eles ainda “estão por ali”, e lembra que se não estiverem você até ficaria bastante feliz. Mas, na verdade, tudo recomeça especialmente com os arranjos que são feitos na calada das noites.

Nos últimos dias, o DataFolha disparou a fazer pesquisas e o resultado delas –  nada me tira da cabeça  –  creio que  foram as responsáveis por uma boa parte dos soluços do presidente, mostrado em queda livre, perfilado pela maioria da população inclusive como inábil, pouco inteligente, entre outras absolutas verdades reveladas, essas pouco secretas, que no caso não se trata de novela das onze. Entalou. Entupiu. Deu indigestão.

O corpo fala. E o de Bolsonaro estava e está gritando faz tempo. Pelos olhos, pela pele, pelos poros, e até pelos perdigotos. É sabido que soluços podem ter causas psicológicas como ansiedade, tristeza, agonia e depressão.   O corpo somatiza.  Verbaliza que algo não vai bem na mente. E a cura depende, além de medicamentos, do reconhecimento das emoções e sentimentos. E esse reconhecimento, no caso, não ocorre. Só ejeta ódio. Somatização é coisa séria.

Enfim, todos nós somatizamos em algum momento em nossos corpos os sentimentos estranhos. No caso do presidente, fiquei preocupada porque nas minhas pesquisas aqui descobri soluços associados a histerismo. E, pelo menos por enquanto, os médicos o estão tratando com remédios, ou seja, talvez nem tenha mesmo ver com a facada que levou durante as eleições de 2018. Talvez apenas estejam lhe dando calmantes.

O problema é que essa gangorra toda que estamos vivendo não faz bem a nenhum de nós, que ficamos sem saber para onde correr sem que o bicho pegue – literalmente, se pensarmos no vírus que também não para de pregar peças no mundo todo, com seus vaivéns preocupantes.

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MARLI - cgMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Matemática da cilada. Por Marli Gonçalves

 Ô mania que grudou na imprensa! Você fica lá prestando a maior atenção e aparecem aquelas tabelas e tabelas torturando números, comparados a algum lugar do passado, para o bem ou para o mal.  São os percentuais, ou porcentuais, que dá na mesma, e você entendeu do que estou falando. Os coitados dos números, surrados, dizem qualquer coisa quando obrigados

É muito chato mesmo. Mas virou mania. Querem dar uma notícia, por exemplo, que tal situação melhorou. E lá se vai em busca do número usado em algum lugar do passado, e que provavelmente foi o último dado por alguém ou algum. Chegam as manchetes! Diminuiu em tantos porcentos o número de acidentes nas estradas. Se parar para prestar atenção mesmo, com caneta e papel ou calculadora, vai perceber que teve decréscimo de umas migalhinhas. Tipo eram 12, e esse ano 10. Condições do tempo, das estradas, dos veículos e dos etceteras? Eram as mesmas?

Não costumo assistir a jogos de futebol, mas quando assisto dá uma irritação danada ouvir os locutores falando, falando – e lá atrás na imagem você vê que está acontecendo uma jogada bem importante que fica sufocada – e derramando números sobre dribles, jogos do século passado, enfrentamentos da história recente. Isso tudo piorou muito na era dos computadores, que fazem cálculos e cálculos, como se todos fôssemos e pensássemos como tabelas de Excel.

Engraçado. Embora tenha tido boas notas na época nas aulas de Estatística, nunca gostei muito dessa matéria. Na faculdade, no Diretório Acadêmico, acabei como “representante dos alunos no Departamento de Métodos Quantitativos”. O que valeu foi uma enorme dor de cabeça e mais uma inscrição na ficha do Dops dos terríveis tempos da ditadura. Como os caras não sabiam do que se tratava, esse fato está lá na minha ficha de “subversiva”. Mal sabiam ou sabem eles que fui parar aí porque eu era a única boa aluna que conseguia tratar melhorzinho com o professor dessa matéria na faculdade, e que era um horror. Vai explicar! Bem que tentei, mas creio até hoje que acharam que eu era guerrilheira e estrategista de alguma célula especializada em manufatura de bombas, ou alguma outra coisa desse jaez.

Hoje mesmo tive a sensação de ter ouvido que diminuiu em num sei quantos porcentos o número de notificações de violência contra as mulheres. Só se for porque elas morreram antes de denunciar. Todo dia, toda hora, das formas mais grotescas e cruéis as mulheres estão morrendo, assassinadas por ciúmes, por causa da loucura humana e do destempero das relações.

Essa semana, repara – aliás, já estamos ouvindo essa ladainha há quase um mês – tem a tal da Black Friday, onde se quer aparentar uma maravilha, mágica, onde todos os produtos ficarão mais baratos do dia para a noite, os comerciantes resolveram dar uma força e se desapegar de seus lucros, uma coisa impressionante – para onde olhar vai ver números gigantescos de descontos, com o percentual do lado. Pega o óculos, a lente, o binóculo, a lupa. Perto dele, ali bem pequenininho, vai ter também uma palavrinha: “Até”. Esse “até” é a grande questão. Faz o teste. Procura o que é exatamente que vai ter desconto de “até” 80%, 90% na lista ofertada.

Propaganda já foi a alma do negócio. Vem sendo usada – de braços dados com o marketing, que é mais complexo – de forma indiscriminada e enganosa, sem que providências sejam tomadas contra isso.  E para não acharem que estou tentando me desviar da política, vou citar duas coisinhas dessa semana, que serviram apenas para cilada.

Uma, a do deputadozinho que me recuso terminantemente a dar o nome, que resolveu prestar homenagem para o ditador Augusto Pinochet na Assembleia de São Paulo. Queria apenas ficar conhecido, esse indigesto. Para ir contra, fomos obrigados a falar dele, saber se sua vil existência.

number_ball_tMais conhecido, talvez, entre esse grupo de – dizem, mas vamos esperar as próximas pesquisas – cerca de 30% (!!!) que parece que ainda apoiam a loucura que se estabeleceu no governo de nosso país. Esse do “38”, o número do partido que pretendem criar com suas balas e dedinhos em forma de arminha, borrando o verde e amarelo de nossa Nação com seus pensamentos de baixíssimo calibre.

Mais uma 100% cilada.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Site Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano- Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

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ARTIGO – Nossas margens de erro particulares. Por Marli Gonçalves

LABRASIL0219De tempos em tempos surgem palavras e expressões que como num passe de mágica passam a ser mais faladas do que donzelas entrando em lupanares. Da mesma forma que vêm, vão, e a gente nem percebe. Mas enquanto estão na moda, que também é cada vez mais rápida, chegam a dar enguias. Mas penso que podemos pegá-las e extrair o que nelas houver de bom. Ou, de acordo com a margem de erro, podem ser regulares. São as variações de nossos tempos.

Tempos duros esses. Tempos até bem chatos. Até que o processo eleitoral passe parece que estamos numa arena nos digladiando, e o pior é não ter uma variante para a decisão. Ou se é um ou se é outro. Não me admira que, na primeira rodadas das eleições, 28 milhões de brasileiros não tenham querido ser nem um nem outro, nem aqueles outros, numa espécie de revolução silenciosa e à qual não vi ser dada atenção especial, o que me deixa muito cabreira. Porque me parece ser o fato mais preciso do momento, um urgh, uma vaia enorme, milhões de desesperanças, desinteresses, desinformação e beijinhos no ombro que se juntaram, nulos ou brancos. Aí não tem nem teve margem de erro.

A semana foi boa para quem consegue manter o humor, os gozadores e gaiatos adoráveis que fazem do limão mais que limonada, e alguns até vivem disso. A margem de erro foi o assunto predileto. Foto de Araci de Almeida, legenda: Gisele Bündchen, de acordo com margem de erro. Hoje é sexta, mas também pode ser quinta ou quarta, de acordo com a margem de erro. Daí por diante. Dei muita risada.

betty boop 20Creio que poderei colaborar com entendimento maior da raça humana, a partir da tal margem de erro. Depois do sucesso de minhas perguntas não respondidas do artigo passado (E se?…) resolvi me dedicar um pouco a esse assunto, para mais ou para menos, o que pode significar, pode significar…nada! Ou tudo. Depende da pesquisa, da região, da sua cara de pau, do seu índice de sinceridade.marvel-s-hawkeye-doing-crazy-superheroine-poses-in-comics-82aba282-b953-4c87-88a5-1f33fafaeb2c

Pensei o quanto a tal margem de erro é a cara do Brasil, o país que não é – o país do Futuro que não chega. Pensa! Tudo anda dentro da margem de erro. Por exemplo, agora, você pode perguntar sossegado, para qualquer mulher, a idade dela. Dentro da margem de erro, dependendo de quem pergunta e para o quê, de qual censo/senso, ela vai responder. No caso, em geral, o “pesquisador” poderá ele próprio classificar a resposta dada como ótima, boa, regular, ruim ou péssima. A propósito, péssima, palavrinha forte, carregada de sentido inquestionável. E que o atual governo, neste momento, está tomando como carimbo numa taxa de 22%. São 22% de gente com opinião, que vê e sente na pele a realidade, que não está no parquinho de diversões, nem no Imaginário Mundo das Estrelas.

door_animatedMas voltando ao nosso assunto e à possibilidade de uso variado da margem de erro que parece até coisa inventada aqui. Ela traz em si um “pode ser também”, que a livra de julgamentos, como se fosse uma afirmação feita antes de um problema. Traz uma elasticidade. Nada é totalmente não ou sim, há uma variação, até condizível com o quanto somos diversificados na vida real.

Se ocorrer, eu disse; se não, de acordo com a margem de erro, tudo bem, era previsto. Corresponderia a uma precaução. Convivemos com a tal margem de erro nossa vida inteira. Onde pode ter alguma variação, oscilação, ela estará lá. Dá para usar para idade, peso (de acordo com a margem de erro você pode ser gordo ou baixo, dependendo do ângulo, do enfoque) ou como está nos parecendo a cada dia mais patente, margens largas sendo usadas para questões éticas. Vide mensalão, e outros escandalozitos que cantam em nossas janelas.

De acordo com a margem de erro, variando para cima ou para baixo, para a esquerda ou para a direita, eles não sabiam de nada, não viram, não perceberam, não têm nada com isso. Ficam indignados, surpresos, vão tomar todas as providências. E, de acordo com a margem de erro, podem até esquecer o assunto.

Assim será até que outra palavra ou expressão entre na moda. Não é que delator, X-9, alcaguete, traíra, agora virou colaborador premiado? Não é que parlamentares, governantes, diretores de estatal, pegos com a boca bem na botija, gente que trabalha com o meu, o seu, o nosso dinheiro, agora virou “agente público”, e não tem nem mais nome nos noticiários? Repara.

De acordo com a margem de erro, variando para cima, no Nordeste, e para baixo, Sul/Sudeste, estão tentando promover no país uma cisão jamais vista, nem quando não tínhamos eleições, muito menos pesquisas.

Disso eu tenho 100% de certeza.

São Paulo, Salvador da Pátria, 2014Brasil42Marli Gonçalves é jornalista – Vou começar a tentar pagar minhas contas com essa tal margem de erro. O problema é que se passa a data, os juros não são só de 2 por cento para cima ou para baixo.

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