ARTIGO – Fantasias nacionais. Por Marli Gonçalves

 

melindrosaVai me dizer que acha que só no Carnaval é que tem fantasia? Passamos o ano inteiro com alguma, seja nossa, ou a forma como parece nos veem. Aproveite, que agora é hora de retrucar. As ruas estão abertas e os blocos vão passar.

Em termos de fantasia original, os brasileiros têm usado muito uma que até seria meio erótica, se não fosse trágica: uma mão na frente, outra atrás. Lembra que fantasiar também é uma capacidade da imaginação do ser humano, sai da nossa cabeça, uma forma até de escapar da realidade seja ela qual for. Cada um tem as suas – tem as eróticas, em busca de prazer, as profissionais, muitas. Capriche, nem que tenha de usar algum nome fantasia para não ser reconhecido depois.

Mas a novidade é a cada dia estamos sendo vistos com elas, sem que queiramos. Não sei se percebeu, mas também há muitas fantasias que sentimos, e sem nem usar a roupa e os detalhes; não são espontâneas, mas impostas: quando você se toca já está nela, os fatos levaram a ela. O exemplo mais atual é fantasia de palhaço ou mesmo a de bobo-da-corte. Uma característica desse tipo é que são coletivas, fica menos mal. Todos ao mesmo tempo são feitos de palhaços/palhaças ou bobas e bobos-da-corte. Alguns, no entanto, não percebem e acabam batendo palmas para maluco dançar. Têm sido, inclusive, fantasias bastante frequentes no País do Carnaval.Imagem relacionada

Mas é época de festa. E com a proximidade do Carnaval pensei em ajudar – até enquanto ainda dá tempo de confeccionar – relembrando algumas das principais fantasias que grande parte de nós têm conhecido, imaginado, pensado, ou até desejado nos últimos tempos. Treinados nelas somos todos os dias do ano.

Fantasmas – Não precisa nem aparecer, a não ser para receber algo, conforme combinado antes. Essa é legal porque com o dinheiro dá até para sumir antes até mesmo do próprio Carnaval, viajar para onde não tenha nem cheiro de confete ou serpentina, se é que, pensando bem, alguém ainda lembre ou saiba o que é isso, essas coisinhas que faziam parte da festa, coloridas, arremessadas, em círculos ou espirais. Variações: vampiros, que tiram sangue e remédios dos hospitais; irresponsáveis, que deixam barragens, pontes, viadutos, centros de treinamento sem qualquer cuidado, mesmo quando avisados dos perigos.

Laranja – Outra fantasia bastante em voga. Assim como os fantasmas, também costumam sumir para não serem revelados, e quando o são fazem de um tudo para comprovar que foram espremidos para isso. E vejam que nem máscara para cobrir a cara é muito necessário. Há variações: cara-de-pau; rachadinhas de salários de governo; santinhos de eleição.

Melindrosa/ Melindroso – Caso a fantasia de laranja não funcione, pode-se usar a de melindrados, ofendidos. Usar principalmente perto da imprensa, que estará seguindo todos os seus passos atrás de entender qual é o enredo do bloco onde se meteu.

Presidente – Esse ano será muito usada pelo batalhão de gente que se auto nomeou sem ser eleito, mas só porque votou e se acha por isso um Salvador da Pátria. O próprio da vida real já deu uma ideia do modelo a usar: chinelão, camisa pirata de time de futebol, calça usada de agasalho e um paletó largo esquecido por ali por algum barnabé de repartição que, procurado, ou saiu agora mesmo para tomar um café, ou almoçar, não estava se sentindo muito bem e que “já deve estar voltando” assim que acabar o efeito da desculpa. Muito verde e amarelo na composição.

Há também a variação de vice-presidente, que passou a ter um papel na história nem que seja só o de aborrecer a família e os amigos do presidente, esses que inclusive também formam um bloco – todos falam bobagens, tuitam absurdos e acenam com uma bandeirinha. Para ser vice, um bom traje verde com insígnias impõe certo respeito aos foliões, assim como manter sempre um sorriso enigmático na cara, como quem está prestes a dar alguma declaração controversa que vai virar manchete.

Petistas – Nas ruas essa fantasia anda bem escassa. Pelo menos o bloco específico que usava muito aquele adereço de mão com plaquinha, ou mesmo só os dedinhos em “L”, de “Lula livre”, pra cima, levantados. Não têm sido avistados juntos, até porque estão sem direção.

passeataNova oposição – Torço por essa fantasia e esse bloco. Que se forme, e rápido antes que seja tarde demais. Que seja livre, diversificado, colorido, coerente, capaz de criticar o que é ruim, e aceitar o que poderá ser bom para todos, buscando caminhos de conciliação. Para fazer parte é preciso estar bem atento, acordado, bem informado.

Fantasia? Qualquer, desde que seja real, de paz, convivência, respeito e, claro, com humor e sátira. Afinal é carnaval!

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Marli Gonçalves, jornalista – Divirtam-se.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

Brasil, de todos os carnavais, 2019

 

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ARTIGO – Estranhos dias. Por Marli Gonçalves

Novamente vou ter de me socorrer com você, perguntando se a sensação de que, de alguma forma, os dias andam meio estranhos, se é sensação só minha ou se você também definiria assim. Eu não sei nem ao menos descrever exatamente como ela é – está ali pinicando. Não é de todo negativo, nem chega a pressentimento, mas incomoda porque nos obriga a estar alertas, ligados. Inquietos. É isso? Só para eu saber.

Estranhos dias de um estranho país. Entenda por estranho todas as definições da palavra: atípico, fora do comum, diferente, misterioso, que não se conhece; que apresenta mistério, que tende a ser enigmático. Por fim, que causa um sentimento meio incômodo.

Por exemplo, vamos tomar a greve geral convocada para essa semana. Foram verdadeira, real e totalmente esquizofrênicos os dias anteriores – até o maior telejornal do país fez de conta de que não existia, que não tinha nada acontecendo – e, mais ainda, o dia da dita cuja.

Antes, o mundo se dividiu em: pessoas que não têm a menor ideia do que é uma greve geral; os que esqueceram que uma dessas da boa deve contar com uma soma de reivindicações que sejam da ampla maioria para funcionar, expressiva; até aos que associaram tudo apenas aos petistas ou aos preguiçosos ou aos que apenas queriam emendar o feriado. Era besteira de tudo quanto é lado. E até agora, horas depois, eu ainda não descobri exatamente a pauta política além dos sindicatos. Só sei que vivi para saber que quando centrais inimigas se unem é porque tem muito caroço no angu. E não é para o prato do trabalhador.

Os de sempre que apoiam os que foram e hoje estão em grandes apuros comemoraram vitória como se não houvesse amanhã e que alguma coisa vá mesmo mudar, além da queima de estoque de pneus, o prejuízo do comércio, os feridos, os ônibus-tocha, o festival de bombinhas de efeito moral e o sapecante gás pimenta (curiosidade: quanto custa cada lata dessas?). Ôpa-ôpa. Realmente conseguiram parar o país. Isso não dá para discutir, mas eles não podem acreditar que milhões de pessoas aderiram e os apoiam. Não tirem o pé do chão, por favor, não viajem nesse orgulho que os farão perder ainda mais o foco. E é preciso que haja oposição. Sempre. Mesmo que desordenada. Igual placa no metrô: deixe a esquerda livre.

Sim, parou tudo. Aqui em São Paulo não vi um ônibus na rua. Enfim, se pararam os transportes, ônibus, metrô, trem, muitas pessoas que não sabem nem onde estão parados mas que têm de bater ponto para comer, não puderam ir aos seus trabalhos e viraram …grevistas! Ninguém perguntou a eles, como na igreja, no casamento: “É de sua livre e espontânea vontade a decisão de não comparecer ao trabalho hoje, em protesto contra… contra” …

Contra o que mesmo que era?

Não me agridam, nem quem achou que não houve nada (houve sim), nem quem achou que foi o maior sucesso. Não foi. Está tudo muito estranho!

No mesmo dia era divulgado que 14 milhões e 200 mil pessoas estão desempregadas, e procurando trabalho, que é o que as coloca dentro dessas estimativas. Imaginem – e vocês conhecem, estão vendo, sentem na própria pele, os milhões que desistiram e estão se virando por conta própria, inventando novas formas de sobrevivência.

No mesmo dia também ficamos sabendo que o Brasil tem 17 mil sindicatos, garantidos por um dia de trabalho suado que até agora era tirado compulsoriamente do salário. Será por não quererem que acabe essa baixa fresca que as centrais se uniram? Será?

Já fomos mais legais que isso tudo, que estas picuinhas. Tudo agora racha. Num sei o que racha opiniões; num sei o que lá divide as pessoas. Tudo racha. Racha para lá. Racha para cá.

Maio chega sem graça, e com perspectivas de notícias tenebrosas vindas do Oriente que sacudiriam toda a humanidade. Mais dias estranhos e tumultuados vão sendo agendados, e cresce o desconforto com tudo. E a falta de opções para nada disso.

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portrait perfilMarli Gonçalves, jornalistaPare do lado de grupos de pessoas conversando. Como quem não quer nada escute só sobre o que elas estão conversando. É muito estranho. Fiz isso lá no dia da greve. Voltei para casa correndo. E achando tudo muito mais estranho ainda.

Maio, 2017

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Ricardo Setti e as tatuagens de Graça Foster! Três estrelas, duas já pintadas em vermelho, tipo promessa…O perfil, quem fez, foi o grande jornalista Lourival Santanna

Gold-moving-animated-gif-stars-falling-in-skyBruxas pop starE não é que Graça Foster tem estrelas tatuadas no braço?

Fonte: blog de Ricardo Setti – Veja online

(Ilustração: tattoocreatives.com)

“Graça [Foster, ex-presidente da Petrobras] tem três grandes estrelas do PT tatuadas no antebraço esquerdo. À medida que foi conquistando coisas na vida, foi pintando as estrelas de vermelho. Poucas pessoas ao seu redor já viram essas estrelas, normalmente cobertas pela manga da camisa. Ao menos duas já foram coloridas. Não se sabe que tipo de promessa elas simbolizam.”

Essa é uma das várias informações muito interessantes sobre a ex-todo-poderosa executiva — outra é que ela, antes de ocupar o cargo, chegava a sair em várias escolas de samba na mesma noite, durante os desfiles no Rio –, publicadas em perfil realizado em dezembro no Estadão pelo excelente jornalista Lourival Sant’Anna.

perfil realizado em dezembro no Estadão pelo excelente jornalista Lourival Sant’Anna.

ARTIGO – Os Antagônicos. Por Marli Gonçalves

PeaceDovemedalstereoSe não é um, tem de ser o outro, sem qualquer meio termo. Se é um, vira inimigo, de quase um virar a cara para o outro, quando não quer matar, comer o fígado, ou esfolar sem dar tempo nem de puxar o gatilho da argumentação no duelo. Não demorará e veremos expedições tipo Os Argonautas, mas que serão ou Os Antagônicos ou Os Maniqueístas, em direção à alguma Verdade Suprema. A verdade mesmo é que há nesse momento um clima de perigoso estado de guerra e discórdia. Irascível, temperamental, vicioso, pode desembocar em um estado de intolerâncias sendo plantado e semeado no Brasil

“Se você é contra guerra, mas quer manter a sua Paz e os seus amigos, fique quieto. Porque falar a favor da Paz traz guerra”. Li essa frase por aí; em poucas palavras resumiu a semana, além de aviões caídos e escritores finitos. O sangue corre, escorre, envermelha e envergonha o mundo inteiro há décadas – nos últimos tempos, só para ser mais geral, na África, na Turquia, na Síria, e o silêncio consegue ser ouvido à distância. Mas, quando novamente envolve a faixa territorial, Israel e Palestina, afloram todos os tipos dos mais estúpidos antagonismos. “Em casa onde falta o pão, todos brigam, ninguém tem razão” – diz o belo provérbio português. Minha preocupação é que imediatamente os discordantes resvalam, tropeçam e caem na vala do racismo, preconceito, luta religiosa e intolerância. Não gosto nada desse filme.

Não é só o assunto guerra; esse é só mais um tema. Tudo anda dicotômico, maniqueísta, e extremamente sensível. Temo, mais, que esse beligerante estado de coisas esteja sendo estimulado, influenciado, apoiado – …aiaiaiai, que vou tomar um pau, mas vou dizer… – pelo grupo predominante no poder, para não falar aquelas duas letrinhas. Pá! Pronto, quer ver? Já vão me xingar, me chamar pelo nome daquele pássaro bicudo! E isso não é verdade: tanto a estrela como o meu bico amarelo já caíram faz muuuito tempo.teddy_roosevelt_rushmore_dance_hg_wht (1)

No, no, no, diria Amy Winehouse. Porque está acontecendo exatamente como eu estou contando aqui. Se não é um tem de ser outro, margem esquerda, margem direita.

O que seria do verde, se não houvesse o azul, o amarelo e o vermelho, não? Em época de campanha essa pobreza de debate só serve para tornar ainda mais aborrecido o voto obrigatório. O mundo é maior do que tudo isso, pessoas!

Por que é que a gente precisa querer matar, sufocar, arrancar o olho do que não nos é espelho? (Ou excluir/deletar/ bloquear/ cortar, as terríveis, mesmo que inofensivas, ameaças do novo mundo)? Por que não fazemos justamente como fazem as crianças, essas coitadinhas que viram a grande massa do argumento quando se quer condenar (ou absolver) um lado ou outro? Sobra sempre pras coitadinhas, citadas em vão e em seu nome feitas as barbáries. Elas convivem entre si tão na boa se não forem atiçadas, sejam brancas, negras, pobres, ricas, judias, católicas, protestantes! Dêem a elas uns brinquedos, umas distrações (e que não sejam armas ou redes sociais em isoladores celulares e tablets). Nem precisam falar, enfrentara barreira da língua. Observem como logo começarão a se tocar, rir ou chorar juntas, e até brigar, mas aprendendo como é. Elas são a essência da frase “não sabem de nada, inocentes”.333j3o8

Há medidas diferentes, como os risquinhos de uma régua. Variações de um mesmo tema. Ninguém precisa ser totalmente a favor ou contra nada. Há os meios-termos, igual quando a gente resolve dar uma personalidade ao prato que cozinha, mesmo que lendo receita. Receita não é lei. Opinião é livre, pode ser modulada. Não é porque sou feminista que odeio homens; não é porque sou corintiana que devo odiar os palmeirenses, nem porque sou pobre devo odiar os ricos. Não falei que é fácil cultivar essa temperança, mas é possível. Não insuflem, que estoura.

O que juntos, de mãos dadas, temos de odiar com toda a veemência é justamente o total, o horror, a guerra, a fome, o preconceito, e a injustiça que se espalha de forma subreptícia – na forma inclusive do total atual desordenamento jurídico que parece mesmo não importar nem um pouco aos poderosos sua ordenação. Nem aparecem em seus planos e programas. Eles quase nunca chegam lá mesmo! Não enfrentam os processos e tribunais, onde qualquer um acusa, quer ganhar algum em cima do outro; juiz não lê, mas bate martelo. Uma mãozinha aqui, outra ali. Tudo vira carimbo, influência, papéis que só se movem quando interessa.

Estamos antagônicos. E agônicos, em permanente agonia. Estamos maniqueístas. Estamos nos batendo uns contra os outros e isso só é legal em carrinho de parque de diversão.

gifs3D_MG153Precisamos nos aventurar em novas expedições, novas batalhas, navegando mais até o horizonte. Somos guerreiros, sim, mas os guerreiros modernos, munidos de mouses, celulares que cantam e dançam, escudos de cristal líquido, em territórios infinitos onde tudo se filma, fotografa, escuta, grava, se sabe, se procura, se acha. Até moinhos de vento e Dulcinéias, mas pode me achar de Alfredão. Abra o leque, busque a coisa mais ampla. Pense sobre todos os ângulos. Aproveita que o mundo e a informação abrem as portas.

Nem tudo é gordo. Ou magro. Nem tudo é morto. Ou vivo. Solar ou noturno. Paulistas podem amar cariocas e vice-versa, mineiramente. Nem todo ser que não é brasileiro é gringo. Nem tudo é preto. Ou branco. Lembre dos 50 tons de cinza, ou das milhões de cores que dependem só de como bate a luz para que as vejam. Ninguém é igual a outro, mas as suas digitais – essas – são só suas. Não queira imprimi-la, nem arrancar os dedos dos outros. Pinte seu próprio quadro. Faça amor, não faça guerra.

Seja marcante, um protagonista. Forme opinião, aceite outras. Claro, vá no seu limite. E o limite é exatamente aquele onde todos possam ter alguma razão, mesmo que não total. Para atravessar, olhe para os dois lados, e para cima e para baixo. Porque se houver só uma verdade total ou totalitária ela for, precisaremos estar espertos e prontos para guerrear, nos opor a ela.

São Paulo, 2014

  • Marli Gonçalves é jornalista Guerra e Paz. Amor e Ódio. Nem sempre os opostos se atraem. Principalmente em terra onde blackblocs também amam, e chicletes se misturam com banana.

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ARTIGO – Escravos de Jó… Por Marli Gonçalves

bagladyTem expressões tão arraigadas que é só dar uma “letra” que o resto vem correndo atrás. Essa cantiga infantil, uma delas. Independente de quem é Jó, se ele tinha ou não escravos e, especialmente, o que é caxangá, ela lembra exatamente como têm sido os nossos dias, tira daqui para por ali. De lá, para pagar o acolá. E música especialmente para mim, que ando com ela na mente, e que estou me sentindo a própria caxangazinha, carregando caixas de mudança, tirando dali, pondo aqui, deixando ficar lá

Juro que hoje pensei em escrever – e vou, também – uma coisa mais geral, pessoal, sem falar de política. Só que é quase impossível. Não é que, além de tudo, a cantigueta também fala em guerreiros? Acaso você viu que o Lula e o PT chamam a turma de presos e condenados de “guerreiros”? Pois é, eles devem estar fazendo zigue-zigue-zá.

homEnfim, deixa essa gente para lá porque só servem mesmo para nos atrasar e chatear. Esperneiam. Berram mais que leitão de véspera, antes de virar pururuca. Como diz um amigo, esse aqui deve ser o único país onde o sistema judicial é discutido e achincalhado em praça pública; e pelos condenados. Condenados estes que ficam soltos dando entrevistas, posando para fotos, apontando o dedinho, ou presos, mas tratados como reis. Fora o campeonato para saber quem rouba mais, se são os chupins, ops, tucanos, ou a turma dos ideais perdidos na Terra do Nunca (… antes nesse país…), ops, os petistas.FPAPsmall

Por causa de tudo isso, mais algumas gotas de gerenciamento manco, e admitido pelo próprio ministro esta semana, a economia vai de mal a pior. E não me venham com índices, pesquisas de aprovação, muito menos com falas sobre os que “saíram da linha de miséria”. Balela. Mentira. Enganação. Basta olhar as ruas neste Natal. Basta ver as pessoas. Nem precisa ser repórter. Saia por aí perguntando. Todo mundo devendo. Todo mundo reclamando. Todo mundo cortando, cortando. Todo mundo fazendo piruetas dignas do Cirque Du Soleil. Na boa, mesmo, só vi festinhas de firma, boca livre. Até a Cidade de São Paulo está murcha, sem brilho, sem luzinhas – só umas lá, outras cá, uma grita a outra não escuta.

Como sou brasileira e, ainda por cima, mulher, independente, de linhagem SRD, etc. etc., estou atingida também. Detesto mudar. Mas estou sendo obrigada a fazer a terceira mudança em 5 anos, porque os proprietários estão enchendo os olhos e a bolha embolhando cada vez mais. Tendo de resolver de forma meio doméstica que depois conto qual está sendo, assim que me recuperar. Mas que, resumindo, me levou a neste momento estar às voltas com duas mudanças, uma reforminha, uma troca da cuidadora de meu pai que andava batendo pino e eu poderia querer é bater nela, trabalho do dia a dia (inteiro aliás, que jornalista não descansa), manter o blog e abrir um pequeno novo negócio com uma amiga, El Gran Bazar! Tem mais detalhes, mas melhor deixar para lá. Não quero ver você aos prantos na calçada comigo, no meio fio, coisa de que tenho tido vontade umas dez vezes por dia mais ou menos.children_sled

Virei a louca das caixas. Não posso ver uma dando sopa na rua que paro e pego. Tento organizar tudo, mas sempre tem alguém que estraga. …”Escravos de Jó jogavam caxangá. Tira, põe, deixa ficar, Guerreiros com guerreiros fazem zigue-zigue-zá”…

Foram as caixas que me lembraram a cantiga. Fui ver mais: Jó é aquele personagem bíblico do Antigo Testamento, dotado de grande paciência, o mesmo do “paciência de Jó”. Deus teria apostado com o Diabo que Jó, super rico, uma espécie de Eike, mesmo perdendo as coisas mais preciosas que tinha (filhos e fortuna), não perderia a fé. Assim aconteceu, segundo a Bíblia. Ou supostamente, como está na moda escrever para não se comprometer.

Ah, e tem a polêmica do caxangá. O que é. Até agora, para mim, eram pedras. Que eles usavam como fichas, tipo dados, movimentando de lá para cá. Nénão! Parece que é um siri. Que eles deviam jogar morto, porque siri “morde”. Tem outras teses: caxangá, em tupi-guarani, seria “mata extensa”. Jogar mata? Tem quem fuma mato, mas jogar…

Pode também ser um chapéu de marinheiro. Ou, ainda, dizem, um adereço usado pelas mulheres alagoanas sabe-se Deus onde. Continuaremos sem saber, porque, convenhamos, que não dá para jogar para lá e para cá nem o mato, nem o chapéu, nem o adereço, nem as mulheres.

Por falar nisso, reparou na nova moda de fim de ano? Deve ser por causa da novela, da Tetê pára-choque, para-lamas: as mulheres estão usando flores no cabelo, e tiaras rodeadas de flores.

Acho ótimo. Já usei faz 40 anos; com 15 anos andava por aí com uma linda, que eu própria fiz com as flores roubadas dos vasos de arranjos de flores artificiais de minha mãe.

Me sentia como uma rainha coroada. Só que na época tinha o sentido: usava quem queria a Paz e o fim da ditacuja que nos esmagava.

Agora, só quero a Paz. E bom senso aos homens de Boa Vontade.

lemonadeSão Paulo, Natal, acabando o horroroso 2013

 

Marli Gonçalves é jornalista – Virando uma pessoa compacta, compactada. Lembrando de matemática moderna, intersecção – operação pela qual se forma o conjunto de todos os elementos que são comuns a dois ou mais conjuntos. Entendeu, né?

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Estará tentando ir para o Ministério da Mulher? Da Igualdade sexual? O que um petista pode fazer para aparecer? Tudo. Veja essa: o Zé de Abreu já está até declarando-se “bi”… E agora, José?

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SEÇÃO “NOTÍCIAS MEIGAS DE HOJE”

Aos 68 anos, ator José de Abreu revela que é bissexual

 

DE SÃO PAULO

José de Abreu, 68, falou sobre suas preferências sexuais no Twitter nesta quarta-feira (9) e fez uma baita revelação.

“Eu sou bissexual e daí? Posso escolher quem eu beijo? Quando quero beijar uma pessoa não peço atestado de preferência sexual, só depende dela querer. Não posso obrigá-la a me beijar. Quero saber se posso ter opção! Tenho que beijar um bêbado que invade minha individualidade só porque ele é gay?”, escreveu aos seguidores.

O seu casamento mais recente foi com a estudante de psicologia Camila Mosquella, 31, de quem anunciou a separação, “comemorada” com uma lua-de-mel em junho passado.

O intérprete de Nilo, sucesso em “Avenida Brasil” continuou. Ao ser questionado por um fã, ele escreveu: “Tem dias que prefiro homens, tem dias que prefiro mulheres.Tenho que mudar?”

“Eu vivi, repito, EU VIVI, com minha mulher, dois filhos nossos e dois gays que viviam maritalmente durante 2 anos. Um morreu de AIDS, cuidado pela minha mulher. Eu já tinha me separado dela. O outro é um grande diretor de teatro, não vou dizer. ”

“Em 1989, me apaixonei por uma bi. Ficamos juntos e resolvemos ‘tentar’. Durou nove anos nossa relação. Seu último namoro tinha sido uma mulher. Eu me relaciono com pessoas, não com rótulos: gay, homo, hetero, sexualidade, sexualismo, opção sexual. Se há amor ou tesão, foi. Acho o suprasumo da caretice dividir o mundo entre gays e não gays. Ninguém me ensinou a amar assim. Aprendi a amar na Igreja.”