ARTIGO – Palavras, sentidos e versões. Ou piadas. Por Marli Gonçalves

110713_empty4_110713_500Semana animada essa. Algumas palavras entraram definitivamente no vocabulário usual, mutantes, passaram para a história, inclusive a política, nos fizeram rir para não chorar. Ganharam novos sentidos. Algumas palavras são realmente formidáveis, mas eu nunca tinha pensado, sei lá, que uma mandioca renderia tanto. Muito menos que o latim pudesse ser traduzido ao bel-prazer. Tem de ver isso aí; senão sabe-se lá onde vamos parar se continuar essa toada, e vergonha não é uma boa palavra para um país.tumblr_lyfme8x5cb1qepiv6o10_r1_4003

Meu primeiro contato e amor para com as palavras veio da leitura de Monteiro Lobato, especialmente o sensacional “Emília no País da Gramática”. Para mim, dali em diante elas ganharam vida, perninhas, sentimentos, e até contradições. Lembro bem do livro e das prisões onde se encontravam encarcerados os vícios de linguagem, os cacófatos, os pleonasmos, os barbarismos, os solecismos, os hiatos, os arcaísmos, gerundismos e plebeísmos, entre outros. Caras feias e agressivas prontas a atacar frases e pensamentos.

Agora todos – a mim parece – foram soltos e estão aí pelas ruas aterrorizando. Não bastasse estão recrutando as palavras para nos infernizar. Sequestrando outras, para nos entristecer; como “obrigado” que, para voltar à voga, creio que teremos de pagar vultosa recompensa. Outras estão sendo torturadas, principalmente quanto tentam andar juntas, como liberdade e individual. E observem que estas são bem modernas; uma, um substantivo feminino; outra, um adjetivo ou substantivo de dois gêneros, uma coisa até transexual como hoje está tão em voga.

Esses criminosinhos da linguagem e das palavras se criaram e conseguiram uma aliada e tanto na nossa presidente que anda se esmerando ao esgrimi-las em improviso nos púlpitos da vida. Foi assim que a mandioca virou a redenção nacional, base da civilização, e a bola indígena, tosca, o brinquedo que nos faz humanos e, mais, criou-se uma surpreendente e nova variação da espécie, de uma Era nova, de evolução biológica, que ainda não nos havia sido apresentada. A mulher sapiens. Isso é que é feminismo: nada de homo para lá e para cá.

Por que não a mulieres sapiens?– Pensou, tascou.

Mas aí é que a coisa foi pro brejo total. Vocês vão entender por que e peço que sejam perspicazes para que eu não tenha de gastar muitas palavras para explicar. Sabem o que diferencia o homo sapiens, o humano sábio ao pé da letra, e em toda a sua abrangência inacreditavelmente desconhecida da nossa presidente? Uns dez ítens. Vou citar alguns, mais significativos, para vocês irem ticando (e lembrem que eu estou daqui dando uma piscadela): postura ereta, cérebros bem desenvolvidos, destreza manual, fala articulada, aculturação e raciocínios complexos, olhos em foco, e a capacidade de corar.

A4_ActionFigureMix_PajaczkowskaEla tinha mesmo de inventar outra espécie, não?

Mas quero voltar a falar apenas das palavras, essas preciosas. Que, quando lançadas, não voltam. Tantas podem ser cruzadas, de amor, exatas, engraçadas. As de gratidão andam sumidas, assim como as de gentileza e reconhecimento. As que trazem elogios estão sendo vilipendiadas, principalmente nas redes sociais. Vide “linda”. Nosso senso estético massacrado, porque se aquilo é lindo, imagine o feio! E o que a gente acha lindo o que é mesmo, o que é….? Santas palavras hipócritas que lemos, ouvimos.

Mas, por outro lado, também nas redes encontramos as palavras de apoio, de conforto, consolo, de fé e de ânimo. As palavras amigas, amorosas e inspiradoras.

Os palavrões jorram também de várias fontes, a favor e contra, principalmente quando a guerra é político-ideológica, como a que vivemos nesse momento. Com gente usando a palavra para defender o indefensável. Palavra de honra que às vezes nem acredito que estou ouvindo algumas delas, sobre o poder, mas até o poder da palavra tem limites.

Principalmente quando são engraçadas as palavras que sabemos ditas por quem devia ter mais palavra depois de eleita com palavras falsas, cantadas, lançadas, quebradas e depois reveladas. Melhor mesmo que sejam assim só engraçadas como as desta semana.insecure-miley-quote-relationship-text-Favim_com-234400

Mas os maiores problemas que vejo estão agora claramente localizados nas palavras do dia, as de fé. Principalmente como estão agora sendo pregadas e empregadas de forma absurda em leis e em lugares absolutamente inadequados e onde tem apenas uma, uma só que deveria ser a mais respeitada.

A palavra laico.DILMA disfarçando

São Paulo, 2015

Marli Gonçalves é jornalista – – A palavra-chave do momento é serenidade. Uma expressiva palavra de mãe, daquelas que a gente não questiona. Segue. Obedece. No mínimo, para saber e aprender no que vai dar. Palavra final.

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ARTIGO – “Se o mundo não acabar, desejo”. Por Marli Gonçalves

0038   gif_reveil_6Digo tchau, que foi bom. Dá, sei lá, que os maias estejam certos. Melhor a gente já se despedir agora. Mas, se o mundo não se acabar, o que parece muito mais sensato, abro meu saquinho de bondades para desejar um monte de coisas para você. E para mim, que também sou filha de Deus

Se o mundo acabar, que seja em melado, para a gente ficar docinho. Que seja em pudim, para além de ficar docinho, ser macio. E, sei lá por que, pensei em churros – gosto deles, seus malvados!

Mas não vai acabar não, porque temos muitas contas a pagar, e os banqueiros não iam deixar acontecer uma situação dessas. Fora que a gente ainda tem de viver para ver o penta jogando, ouvir novas previsões catastróficas do Apocalipse e de uma Besta qualquer, sofrer com o aquecimento global, procurar vida em outros planetas, entre outras atividades. Acabar com a corrupção, ver um país mais justo, moderno e ordenado, não digo – porque é ruim desejar coisas impossíveis. Se isso acontecesse é porque, então, o mundo já teria acabado e se esqueceram de nos avisar.

Dizem que as palavras são como flechas, que são poderosas, o que certamente explicaria o horror que temos de pragas rogadas. E também a fé que temos em orações. Certamente vivas para quem escreve, as palavras carregam mesmo uma grande energia, e algumas são mais belas e imponentes que outras. Umas mais fortes e significativas; tem as feias, as grosseiras, as divertidas, as proibidas, as esquecidas, muitas. Outras, as que eu bem gosto de encontrar, são as mágicas, que são aquelas que procuram – e muitas vezes conseguem – deixar mais felizes quem as usa, quem as lê, quem as ouve.

Quero desejá-las. A chuva depois da seca. O frescor do cheiro da terra. Que todas as estações sejam férteis, e se forem de rádio, que toquem boas músicas. Que tenha meias macias e quentes para os pés no frio (e cobertor para as orelhas), chinelinhos para descansá-los no calor, sapatos confortáveis para trilhar as estradas, e que estas sejam sempre de boas idas e boas vindas. Nenhum prego ou caco no caminho se decidir seguir descalço. Quero que você não encontre quinas para bater esses seus pés, nem os dedinhos, nem buracos para tropeçar.gif_coucou

Que inventem martelos inteligentes para fixar os pregos onde poderá pendurar a arte que quiser ver e conviver nas suas paredes. Que possa abrir as janelas para o ar puro entrar e renovar.

dfjc24adQue o acesso seja livre. Por ar, mar, terra, seja em qual veículo decidir viajar – ônibus, metrô, bicicleta, carro, moto, balão, avião, navio ou submarino. Ou via pensamento, pelos livros. E que todos os combustíveis sejam limpos e seguros. Enfim, que possa flanar por aí, ou parar, se quiser, para ver as belezas do mundo com os olhos límpidos e precisos, e que você aprenda a piscar e olhar daquele jeitinho cativante e envolvente, como fazem cães e gatinhos, e assim consiga que lhe digam sim.

Que consiga desatar o nó que te prende a uma coisa que não quer mais e solte suas amarras. Ou que consiga jogar uma âncora se quiser aportar. Que tenha uma graciosa fita para o laço bonito de juntar.

Que só fique invisível quando quiser. Fora isso que as imagens de tudo que viver e viveu sejam registradas em fotos coloridas, escolhidas, ângulos que você já lembre na ordem revivendo os bons momentos que elas registrem.

Que conheça o orgasmo, muito prazer, possa estar sempre com a sua pessoa amada. Que tenha flores para cuidar. Valores a zelar. Uma criança para ver sorrir – ou lhe oferecendo as mãozinhas para serem guiadas por este mundo que não se acabou.

Não custa também desejar, se o mundo não se acabou, que a gente possa comer o que quiser, incluindo os tais chocolates todos, e a nossa pele, os cabelos, o corpo se regenerem continuamente. Vaique…animated-gifs-submarines-001

Se o mundo não acabar, desejo que não falte nada para a gente, dentro de possibilidades que sejam iguais a todos, com as moedas tilintando ouros. Ouros que podem ser impalpáveis, inclusive na forma de grandes ideias e realizações que transformem esse mesmo mundo que sobreviveu em um lugar melhor para se viver.

E, já que ele não se acabou… Que possamos beijar muito e continuar cantarolando por aí.

fair-city-21…”Anunciaram e garantiram/Que o mundo ia se acabar/ Por causa disso/Minha gente lá de casa/ Começou a rezar… E até disseram que o Sol/ Ia nascer antes da madrugada/ Por causa disso nessa noite/ Lá no morro/ Não se fez batucada…/Acreditei nessa conversa mole/ Pensei que o mundo ia se acabar/ E fui tratando de me despedir/ E sem demora fui tratando/ De aproveitar…/ Beijei a boca/ De quem não devia/ Peguei na mão/ De quem não conhecia/ Dancei um samba/Em traje de maiô/E o tal do mundo/ Não se acabou…/ Chamei um gajo/Com quem não me dava/ E perdoei a sua ingratidão/ E festejando o acontecimento/ Gastei com ele/ Mais de quinhentão…/ Agora eu soube/ Que o gajo anda/ Dizendo coisa/ Que não se passou/ E, vai ter barulho/ E vai ter confusão/ Porque o mundo não se acabou…

Já ouviu essa música do Assis Valente, com a Carmem Miranda? Corre, antes que, sei lá. Vaiqui…

Aproveita e veja que beleza; ouça que beleza. Clique aqui

São Paulo, 2012-2013, calendário romanoMarli Gonçalves é jornalista– No dia 21 de dezembro espera dar muita risada.

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