ARTIGO – Temer, por favor, sai daí! Por Marli Gonçalves

Sai daííí! Estamos muito arranhados. A verdade é que só uma coisa é certa: o país não resistirá a percorrer mais um processo de impeachment. Por favor, presidente, já que disse que não tem apego, deixa a gente seguir em frente enquanto o senhor se defende. Por favor, por você, por nós todos.

Se pudesse pedir algo ao papai do céu, ao anjo da guarda, a Todos os Santos, fazer mandinga, seria para que algo iluminasse a sua cabeça, presidente Temer, para que decida pela forma menos traumática, e por conta própria: renuncie. Não, calma, não estou fazendo juízo de valor, nem o condenando antecipadamente, embora seja bem difícil inocentar – acho que deve se defender com unhas e dentes já que garante que pode, e está – garanto – com um dos melhores advogados do país, Dr. Mariz, que pessoalmente tenho na maior conta, respeito e admiração.

Mas não governando; não pode obstruir a estrada como a terra de um muro desbarrancado pelo tremor, pela avalanche. Se não sair nada mais andará para frente; ao contrário, vai ter marcha-a-ré.

Como vê, em poucos dias já foram buscar e estão começando a passar com trator em cima do senhor. Várias vezes. Vai piorar, vão passar com uma locomotiva carregada, que – veja – apita e aparece logo ali depois da curva. Avalie: como vai continuar governando sem paz? Sem base? Com um monte de flechas apontadas, com manifestações dia sim, dia sim? Se já estava difícil sem tudo isso, imagine agora.

Sei que nesse caso o foro privilegiado que dispõe é de suma importância e o senhor se sentiria mais protegido. Mas, ao mesmo tempo, pense. Os foguetes atingiram sua tenda, furaram o teto, e até o STF já pediu sua investigação enumerando motivos horrorosos. Como ser presidente com esse fardo?

O senhor caiu no centro de uma teia maquiavélica, uma cama-de-gato, uma arapuca engendrada de forma orquestrada, premeditada. Admita. Se tentar se debater dentro dela, se enroscará mais e mais, e talvez não tenha chance de sair dessa com um mínimo de dignidade, que tenho certeza, gostaria de resguardar. Caiu o senhor, caíram até aqueles que já estavam caídos, e quanto mais todos se mexem mais o país para. Esse caso une a verdade aparecendo, sim, mas contada por manipuladores, regados a inveja, disputas internas, frutos de disputas insanas entre poderes. Vamos combinar: dessa vez com uma jogada záz-tráz, mortal.

Por favor. Considere isso. Seria uma decisão nobre, mesmo no meio de toda essa lama. Não espere que o tirem aos pontapés, como vai acontecer, seja no TSE, seja no tal impeachment, palavra que me dá até alergia em imaginar tudo de novo. Não dê chance a mais esta acusação – de ter falido um país. A História registra. O jornalismo é o dia a dia.

Mais uma vez, presidente, acredite, dou graças por não ter filhos – não saberia como explicar a eles esse momento que vivemos. Ficaria muito mais perturbada ainda se os visse assistir às cenas que todos estamos vendo. A começar pelos diálogos dos poderosos empresários delatores. Agora piorou, presidente! Os açougueiros foram mais longe ainda. Para se salvarem, aos seus luxos, se prestaram a papéis que não dá nem para dimensionar o nível de canalhice. Agora estão lá fora rindo muito de nossa cara, falando em português primário, enquanto o senhor ainda busca e usa rebuscadas palavras para se defender.

É com essa gente que está lidando agora. Não é mais só com os políticos submissos às suas ordens, os chucros. Não é só com os petistas e afins. Sinta como do dia para a noite foi sendo abandonado. Veja como o bombardeio foi muito bem sucedido, tramado.

Salve sua história, pelo menos a até aqui. Leu o jornalista Jorge Moreno? Mais ou menos: “Prof. Michel Temer chame à razão o presidente Michel Temer”. Acrescento: vamos nos agarrar ao livrinho da Constituição.

Se quer noticias aqui de fora, conto que está todo mundo muito, mas muito mesmo, muito p…, chateado, cansado, e isso é muito, mas muito mesmo, ruim. Ainda tem alguns resignados e à sua volta deve estar cheio de falsos amigos mais preocupados em se manter a salvo do que com o apoio que precisa. Aquelas deprimentes e tímidas palmas que recebeu durante seu primeiro pronunciamento dizem tudo sobre a solidão que enfrentará dentro dos gigantescos palácios.

Por favor, Temer, sai daí. Deixe que nos apeguemos ao pouco que ainda temos, permita que as coisas não piorem, gerando ainda mais miseráveis. Não nos use como escudo, vingue-se depois, mas deixe-nos passar por outros caminhos.

A pinguela ruiu. Salve a República!

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please3Marli Gonçalves, jornalista – Abismada. Preocupada. Impressionada. Envergonhada. Enojada.

Brasil, mostra a tua cara!

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RIP Rodolfo Konder, um grande jornalista, que olhava longe, e muito se dedicou por nós nos tempos negros. Agora estava na ABI

Foi ontem, 2 de maio, mas não há muitas informações. Ele já foi cremado. As informações dizem que já estava muito doente.

Mas nós não poderíamos deixar de homenageá-lo. Que descanse em paz

flutter

RODOLFO KONDER
BIOGRAFIA DE RODOLFO KONDER PARA O MUSEU DA TELEVISÃO BRASILEIRA

Rodolfo Konder é jornalista, escritor, tradutor, professor universitário e conferencista. Ele nasceu na cidade de Natal, em 5 de abril de 1938. É o filho do meio do intelectual comunista Valério Konder e de Ione Coelho. Tem um irmão mais velho, que é o filósofo marxista Leandro Konder e uma irmã mais nova Luiza Eugênia Konder, casada com o banqueiro Antônio Carlos de Almeida Braga. Rodolfo Konder é casado com Silvia Gyuru Konder e eles têm um filho, que se chama Fábio Gyuru Konder.

Como jornalista, Konder trabalhou nos principais jornais do país. Durante cinco anos, foi professor de jornalismo na FAAP- Fundação Armando Álvares Penteado. Foi ainda diretor da FIAM- Faculdades Integradas Alcântara Machado, por um ano. Fez palestras e conferências no Brasil e exterior. Os temas abordados foram sempre: jornalismo, liberdade de expressão e democracia.

Durante a gestão do prefeito Paulo Maluf, em São Paulo, Rodolfo Konder foi Secretário de Cultura do Município, de 1993 a 1996.

Como escritor, sua obra é extensa. São eles: ” A Ascensão dos Generais”, ” Cadeia Para os Mortos”, ” Sob o Comando das Trevas”, ” Tempo de Ameaça”, ” De Volta Aos Canibais”, ” Anistia Internacional”, ” O Veterano de Guerra”, ” Erkundungen”, ” Palavras Aladas”,” O Rio da Nossa Loucura”,” As Portas do Tempo”, ” A Memória e o Esquecimento”, ” A Palavra e o Sonho”, ” Hóspede da Solidão”,” Labirintos de Pedra”. ” O Conto Brasileiro Hoje”, ” Retratos na Neve”, ” Sombras no Espelho”.
Rodolfo Konder já recebeu inúmeros prêmios; Em 1994, recebeu o Prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo. Em 1995: Prêmio Homem dos Direitos Humanos. Em 96: Prêmio Borba Gato. Em 1999: Medalha Monteiro Lobato- da Academia Brasileira de Literatura Infanto-Juvenil. Em 2001: Prêmio Jaburu- Categoria Contos e Crônicas-pelo livro ” Hospede da Solidão”.

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atualização – 12h30: Matéria do Uol sobre Rodolfo Konder:

O jornalista, escritor e professor universitário Rodolfo Konder morreu aos 76 anos na manhã de ontem em São Paulo.
De acordo com sua mulher, Silvia Gyuru Konder, com quem era casado há quase 40 anos, Konder morreu devido a complicações no tratamento de um câncer. Ele estava internado há dois meses no hospital Beneficência Portuguesa. Há 20 dias, ele foi internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), onde morreu às 10h30.
“Ele estava em uma batalha insana contra o câncer. Rodolfo foi uma pessoa muito séria, muito íntegra, muito intrigante. Era um excelente pai. Muito divertido. Foi uma perda muito grande”, disse Silvia. O corpo de Konder foi cremado ontem às 17h, no Crematório Horto da Paz, em Itapecerica da Serra (Grande SP), em cerimônia restrita aos familiares.
Konder era diretor da representação da ABI (Associação Brasileira de Imprensa) em São Paulo. Natural de Natal (Rio Grande do Norte), Konder nasceu em 1938, filho de Valério Konder, que foi dirigente do PCB, e de Ione Coelho. Era irmão do filósofo Leandro Konder e de Luíza Eugênia Konder. O jornalista deixa um filho.
Um dos maiores defensores das liberdades e destacado militante contra a ditadura militar (1964-1985), Konder foi preso político em 1975, ao lado do jornalista Vladimir Herzog. Ele foi testemunha do assassinato sob tortura, em 1976, de Herzog nas dependências do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna) em São Paulo.
Konder foi secretário de Cultura de São Paulo nos governos Paulo Maluf (1993-1996) e Celso Pitta (1997-200). Além disso, foi membro do Conselho da Fundação Padre Anchieta (TV Cultura), integrou a diretoria da Bienal de São Paulo e foi presidente da Comissão Municipal para as Comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil.
Como jornalista, Konder trabalhou nas revistas: “Realidade”, “Singular Plural”, “Visão”, “Isto É”, “Afinal”, “Nova”‘; e colaborou com a “Playboy”, “Revista Hebráica” e “Época”. Também trabalhou em jornais e em rádio –como a Rádio Canadá, em Montreal. Durante quatro anos, foi editor-chefe e apresentador do “Jornal da Cultura” (TV Cultura) e colaborador permanente de “O Estado de S.Paulo” durante dez anos.
Publicou artigos na Folha e nos jornais “Movimento”, “O Diário”, “Voz da Unidade”, “Jornal da Tarde”, “Gazeta Mercantil”, “Diário Popular”, “Pasquim”, “O Paiz”, “LA Calle”, “El Clarin”, “História”, “Venus”, “Opinião”, “Povos e Países”, “Jornal do Brasil”, “Jornal da Semana”, “Leia Livros”, “Shopping News”, “Américas” e “Shalom”.
Konder foi professor de jornalismo na FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), diretor da FIAM (Faculdades Integradas Alcântara Machado). Além disso, Konder fez palestras e conferências no Brasil e no exterior, sempre sobre temas relacionados ao jornalismo, à liberdade de expressão e à luta pela democracia.
Como escritor, Konder venceu o Prêmio Jabuti em 2001 pelo livro “Hóspede da Solidão”. Ele também é autor de: “Cadeia para os Mortos”, “Tempo de Ameaça”, “Comando das Trevas”, “De Volta, os Canibais”, “Anistia Internacional: uma Porta para o Futuro”, “O Veterano de Guerra”, “Palavras Aladas”, “O Rio da nossa Loucura”, “As Portas do Tempo”, “A Memória e o Esquecimento”, “A Palavra e o Sonho”, “Hóspede da Solidão”, “Labirintos de Pedra”, “Rastros na Neve”, “Sombras no Espelho”, “Cassados e Caçados”, “Agonia e Morte de um Comunista”, “A Invasão”, “As Areias de Ontem”, “Educar é Libertar” e “O Destino e a Neve”.

ARTIGO – Eles não podem ver mulher, por Marli Gonçalves

Passei três dias tentando digerir o impacto e o nojo que me causou uma foto publicada essa semana. Claro que feita por uma mulher de olhar aguçado, Monique Renne. Nela, Andressa, a namorada, noiva ou sei lá o quê de Carlinhos Cachoeira, se retirava da mesa da CPI que a havia convocado para depor. Na foto, todos os babões focados – seis! – olhavam concuspiciosos para sua, digamos, parte de trás.

Lembrei-me de que no primário havia um exercício de descrição. Nos era dada uma imagem e a partir dela descrevíamos o que aquilo nos parecia ser, em geral cenas e paisagens bucólicas. No caso da foto dos tarados da CPI, ficaria mais ou menos assim: “moça loura, bonita e segura de si, com um leve e irônico sorriso no rosto, faz com que aloprados e seus assessores esqueçam suas funções, como parlamentares eleitos pelo povo, e salivem, com cara de bobos, ruminantes, em suas gravatas”. Aliviados, na certa, porque o “homem” da bela está preso. Porque se eu conheço bandido, e Cachoeira parece ser desse time, se ele visse essa foto, aiaiai, oioioi.

Foto tipo batom na cueca. E nem me venham com explicações, porque até ainda não disse bem o que pensei desses mesmos desconsiderados que pagamos para legislar quando há pouco houve outro caso, o da assessora de um senador metido a besta, demitida porque um safado gravou e mostrou para todo mundo um filme dele tendo relações sexuais com ela. O caso parou a CPI dos velhos babões, até porque a moça, advogada, era realmente de fechar o trânsito, principalmente de corpo. Mas não é esse o caso. O que aconteceu com o comedor malfadado que mostrou o filme? Nada. Deu até entrevista dizendo que não era ele.

Na mesma semana na qual no país pelo menos mais três mulheres que deveriam – e os juízes lhes garantiriam que estariam – protegidas pela Lei Maria da Penha, foram assassinadas por seus ex-companheiros, essa foto apenas mostra a quantos anos-luz estamos ainda do dia que as mulheres serão tratadas com respeito, dignidade e realmente de igual para igual. Agora até adolescentes são mortas por namoradinhos, no país machista que não se emenda, e onde até as lésbicas às vezes reproduzem papéis de machos da relação, como se sempre tivesse de haver alguma sobreposição de poder de um.

Por força profissional muitas vezes acompanhei sessões parlamentares em Brasília e cansei de perceber coisas do arco da velha, do meu canto, meio misturada, anônima, e dando graças a Deus de não exatamente ser identificada como jornalista, como os chavões descrevem. Vi e ouvi deputados (lembro especialmente de um que hoje é ministro, e de outro, baixitito, agora candidato a prefeito por aí) trocando informações com algumas repórteres, em cantos daquela imensidão do Planalto Central. Pode apostar que em Brasília as mulheres dominam as redações. Se for bonita, meio caminho andado e dado. Digo mais: nada contra, se os babões caem na teia, têm mais é que se ferrar, e as moças aproveitarem. Sedução por sedução…

Não é só o feminismo (isso mesmo, algum problema?) que me motiva a protestar. Mas a realidade. Assistimos, por exemplo, a um desfile de advogados defendendo os réus do mensalão no Supremo. Alguma mulher? Não. E elas existem, advogadas ótimas, combativas! O Cachoeira mesmo contratou uma das melhores, a Dora Cavalcanti.

Quando as mulheres apareceram no caso? Como rés, como bem lembrou Eliane Cantanhede na Folha de S. Paulo outro dia, todas foram praticamente vilipendiadas ao serem defendidas. Eram pau mandado, não sabiam de nada, apenas executavam ordens superiores (de homens, claro!), não pensavam.

Um eloquente advogado chegou a chamar sua própria cliente de mequetrefe, para desenhá-la como insignificante. Só que a palavra tem sentidos terríveis também: intrometida, que se mete no que não é de sua conta; enxerida, inconveniente, sem importância, inútil, desprezível, imprestável. E borra-botas, joão-ninguém,coisa ou objeto de má qualidade, imprestável, desimportante, malfeita.

Antes ainda que me xinguem, achando que meu feminismo não permite que se olhe para bundas, digo calma lá! Até eu olho! Adoro uma dessas, como a dos atletas das olimpíadas. Olho tudo mesmo. Olho até mais, se querem saber, e se é que me entendem. Só que tem hora, local, cuidado, soslaio.

Aqui, falo de compostura, há muito perdida pelos nossos deputados e senadores, dos quais só se ouve falar histórias de arrepiar e que muitas vezes ficam até tolhidos por dossiês que lembram ou registraram suas farras. O mensalão tem histórias assim no meio, de um deles, um dos réus, feiosinho, que teria sido fotografado numa orgia, pelado, bêbado e com o charuto na boca. A imagem é um pesadelo.

Será romantismo piegas demais desejar que homens tenham respeito? Desejar sim que desejem e se apaixonem pelas mulheres, mas por motivos mais nobres e até mais criativos e poéticos, menos escrachados? O olhar, as mãos, os pés, os cabelos, a voz, os detalhes? Depois reclamam que a gente se masculiniza: é para trabalhar em paz.

Afinal, no caso que tratamos, são deputados, senadores, autoridades. Deveria ter alguma diferença.

São Paulo, onde há muitas obras e construções para ouvir cantadas verdadeiras, 2012Marli Gonçalves é jornalistaReparou que mulheres estão sendo usadas nojentamente nas campanhas eleitorais daqui? Tem candidato que mostra sua doutora. Tem candidato que mostra até a mulher grávida fazendo ultrassom, useiro e vezeiro em fazer isso até em leito de morte, como já fez no passado. E a única candidata mulher, Soninha, todo dia tem de reclamar que é esquecida pela imprensa mesmo tendo mais intenção de voto do que algum dos meninos.

PS: Se ainda não viu a tal foto e ficou curioso (a), clique aqui. Foi publicada originalmente no Correio Braziliense

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