ARTIGO – Antes e Depois: as pessoas “fakenstein”. Por Marli Gonçalves

Antes e Depois: as pessoas “fakenstein”

MARLI GONÇALVES

A loucura da vaidade e avidez por mudanças para aparecer bem, de bonita ou de bonito, nas redes sociais, nas selfies e etceteras faz surgir uma nova sorte de criaturas, meio humanas, meio alguma coisa grotesca indefinível. A situação está tomando um rumo que faz com que muitos virem também mortos nas mãos de despreparados, ou, quando têm sorte e não ficam aleijados, apenas patéticos sendo enganados por promessas de milagres.

Antes era bem mais difícil fazer alguma transformação mais radical no corpo. Era preciso e indispensável procurar um bom cirurgião plástico e seu hábil bisturi, com custo em geral muito alto, e a clara necessidade de ficar em estaleiro por alguns dias. Não era coisa de você entrar por uma porta de um jeito e sair de outro como o que vêm sendo proposto ultimamente por todo tipo de malandros prontos a lucrar com a sandice alheia. Dr. Bumbum é grão de areia nesse zoológico sobrenatural.

A coisa vem num assustador crescendo: primeiro foram as lipoaspirações. Enfia um cano e puxa gordura daqui, dali. Pega dali, põe lá atrás. Muitas vítimas acabaram foi sem gordura nenhuma; literalmente, ossos. Enterrados, inclusive. Apareceram então as aplicações de botox e ácidos com nomes proparoxítonos. Rugas e expressões esticadas, paralisadas, bocas parecendo que acabaram de levar uma ferroada de vespa. Peles do rosto amarradas, meio que costuradas com fios de ouro – sempre tem algum elemento assim, nobre, sendo propagandeado – esticadas, atrás da orelha.

Agora até que anda um pouco mais suave e calmo, mas o comércio de próteses de silicone para os seios também causou um belo estrago na paisagem humana que habita a terra quando começaram a aparecer umas mulheres que dificilmente avistam seus próprios pés diante daquela dupla frontal anexada, de bolas que chegam a conter até 750 ml. Teve umas pondo mais de litro. A pessoa chega, mas o peito vem antes, abrindo portas. Coisas de moda. “Alguém” determina o padrão e lá vai o trenzinho seguindo. Os traseiros cresceram.

(E, vejam, tudo isso sem falar no criminoso avanço de venda de hormônios, anabolizantes e outras drogas para os que querem parecer saudáveis nas fotos feitas em academias. Daí saem aquelas mulheres com acentuadas vozes travestidas que eu ainda não sei o que virarão depois de alguns anos – talvez muxibas).

mulherzinha mostra a bunga-bungaO problema não é, claro, o importante avanço da medicina e das pesquisas na área de cosmética, aperfeiçoamento do corpo humano, retardamento da velhice, busca de auto estima e valorização estética. Isso é direito. Que fique claro.

O problema é a mentira, a proliferação indiscriminada de aproveitadores profissionais, alguns nem um pouco profissionais ou qualificados, prometendo mágicas. Tem dentista aplicando botox, descascando dentes para enfiar uma tal lente de porcelana sem exatamente informar consequências e quanto tempo aquele efeito lindeza vai durar. Tem salões de cabeleireiros, ops, esteticistas ou outros títulos super rebuscados, prontos a injetar, furar, puxar, pintar, tatuar as caras das pessoas, inclusive com sobrancelhas de fazer inveja aos melhores diabos e monstros da história da humanidade. Coisas permanentes. Ficou bom? Que bom. Puxa, deu errado, não gostou? Que pena. Não tem volta. Nem em dinheiro, nem em satisfação.

Esses dias o caso do Dr. Bumbum (!!!) e sua mãe trouxe à tona na imprensa alguns depoimentos assustadores de outras vítimas, muitas que estavam caladas, algumas até sem convívio social e envergonhadas depois da barbeiragem pela qual pagaram bem caro. Meninas, gente jovem, que se submeteram a esse açougueiro. Quase todas (inclusive a que morreu) queriam ficar bonitas para as fotos nas redes sociais.

Repara que agora tudo quanto é criancinha, adolescentes ainda imberbes, postam fotos com batonzinho e fazendo boca de pato.

Vamos falar sobre bullying estético? Seria necessário o quanto antes ressaltar para a geral que muitas destas celebridades e subcelebridades que vemos todas serelepes nas fotos passaram por verdadeiras transformações, mas não “no real”, sim no banho de loja, no dinheiro que entra na conta, no tratamento da imagem, em maquiagens ou photoshops? Que elas não são exatamente daquele jeito, quase impossível? Cinturas sem osso, peles translúcidas, barrigas negativas, dentes resplandecentes, cabelos de boneca.

Além das fake news, teremos de nos preocupar também com as fake pessoas, as fakensteins.

__________________________________________________

– Marli Gonçalves, jornalista – Ah, se houvesse um passe de mágica! Mas até Cinderelas têm limite. Meia noite. E olhe lá.

 

FALA COMIGO: marli@brickmann.com.br e marligo@uol.com.br

SP, agosto vem aí

_______________________________________________________________________

Para sua informação. Tudo bem, mas desde que não seja para beneficiar os planos de saúde, sempre abusados.

Próteses: há diferenças entre elas. É preciso usar o melhor.

Médicos estão proibidos de indicar marcas de próteses

Matéria do Folha.com – www.folha.com

ANGELA PINHO
DE BRASÍLIA

Médicos não poderão indicar para seus pacientes marcas de próteses nem de aparelhos usados para imobilizar ou ajudar os movimentos dos membros (órteses).

Medida só vai surtir efeito se houver denúncia e fiscalização

A regra, já em vigor, está prevista em resolução do CFM (Conselho Federal de Medicina) publicada ontem no “Diário Oficial da União”.

De acordo com o texto, cabe ao profissional indicar apenas as características dos produtos, como as dimensões e o material usado.

A medida, segundo a entidade, pretende evitar que interesses econômicos se sobreponham ao benefício para o paciente.

De acordo com o conselheiro Antônio Pinheiro, o médico que infringir essa resolução está sujeito a processo ético-profissional.

As penalidades possíveis são as previstas no código de ética da categoria, que podem ir desde advertência enviada ao médico até cassação do seu registro profissional.

Segundo Pinheiro, a decisão de editar a regra foi tomada após consultas nesse sentido chegarem ao conselho.

A SBRTO (Sociedade Brasileira de Reabilitação Traumatológica e Ortopédica) aprova a medida e afirma que ela não vai mudar o que já é praticado hoje pela maioria dos profissionais.

“O conselho está só reforçando o que já está previsto no código de ética médica”, diz o presidente da entidade, Rogério Santos Vargas. Pelo código, o médico não pode obter vantagem pela comercialização de órteses, próteses e medicamentos.

Vargas ressalta, por outro lado, que, mesmo sem indicar uma marca, o médico tem obrigação de orientar o paciente e de zelar pela qualidade do material indicado.

PLANOS DE SAÚDE E SUS

Outro objetivo da resolução do CFM é disciplinar os conflitos entre médicos e planos de saúde ou instituições públicas quando há divergências em relação à órtese ou prótese que é fornecida para o paciente.

Nesse caso, diz o texto, o médico pode recusar o produto e indicar pelo menos três outras marcas que tenham registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A exceção é quando não houver três marcas para o produto considerado mais adequado -nesse caso, poderá ser indicado um número menor.

A recusa do médico em relação ao material oferecido deve ser formalizada em um parecer em que devem estar elencados os motivos clínicos para isso.

Se o plano de saúde ou a instituição pública não aceitar as sugestões, a regra prevê que deverá ser escolhido, em comum acordo entre as partes, um especialista para dar a palavra final.

Ele terá cinco dias para anunciar a decisão e a sua remuneração deverá ser bancada pelo plano ou pelo SUS.