ARTIGO – Reality Show de pobre. Por Marli Gonçalves

Não dá para escapar, tipo como a gente faz com os BBBs da vida. Não adianta trocar de canal. Na internet é a mesma coisa. Nem adiantaria mudar de cidade, Estado ou país. Não adianta. Espalhou-se. Não se fala em outra coisa. Todo mundo sabendo, o mundo inteiro está acompanhando, talvez nem com tanto interesse quanto a gente, mas está. Especialmente na América Latina, que está vendo por que esse continente nunca sai da miséria. Só entra nela, como no caso da Venezuela

Mais de dois anos. O novelo da novela começou a se desenrolar e agora parece que não vai acabar é nunca mais. Cada vez se embaraça, trança mais gente. Não me lembro de um dia sequer que não tenha havido notícias, mentidos e desmentidos. Depois, como agora, chegam na tevê mais elaboradas, com imagens, sons e até – pasmem – duas câmeras ambiente, como foi a gravação do depoimento daquele senhor arrogante e convencido chamado Lula e o seu séquito de advogados de uma família só. Pai, filha, genro. O pai, Roberto Teixeira, o compadre de velhas denúncias que jamais foram bem esclarecidas; por exemplo, a da nebulosa venda da Varig. O genro, o enjoado Cristiano Zanin, agora famoso, finalmente, figura tinhosa, casado com a empertigada Valeska, ex-gorda, como ela própria declarou à época dos embates com Denise Abreu, que foi quem em 2008 mostrou as provas do conluio e que já apontava que eles usavam Lula para tudo.

Se à época das denúncias sobre a venda estas tivessem sido levadas a sério como deveriam, babau. Não teria havido Dilma presidente, e o ciclo da lambança talvez não alcançasse em um estágio tão sério assim. Já havia mensalão, a maldição da Casa Civil, fatos questionáveis como os da área de energia por onde também Dilma passou. E passou Lobão, Os Três porquinhos, outros chapeuzinhos vermelhos. Mas o vento soprou e a casa caiu. Ou melhor, está caindo, lentamente, desmoronando, caçando um a um em todos os aposentos.

São capítulos imperdíveis, narrados com cenas pitorescas que atiçam nossa imaginação. Estamos assistindo diariamente a um seriado sobre como funcionam os intestinos do poder. O que comem, como processam, como se reproduzem, e o que regurgitam. Mais a parte que usaram para criar a gordura dos seus luxos, os excessos que os deixavam felizes e ao qual chamavam Projeto de Poder. Projeto de poder popular, alguns ousavam dizer. Pior, tem por aí quem ainda acredite nisso.

Quando pensávamos que Lula seria o ápice, surpresa! Tem mais. Vai ao ar uma descontraída Monica Moura que, ao lado do marido, João Santana, privou da maior intimidade com todos eles, já que foram os responsáveis, ao fim e ao cabo, por tê-los posto lá. Agora sabemos melhor o quanto custou sermos enganados durante mais de uma década pela propaganda. Vê-los ganhar mais de uma campanha presidencial mentindo, jogando areia nos olhos, prometendo mundos com nossos fundos.

Nesse reality só está faltando edredom. Quero dizer, está faltando que saibamos detalhes, porque no meio da história já apareceram vários casos bem amorosos, com apelidos bastante significativos.

Feche os olhos. Imagine que beleza o João Santana e o Delcídio do Amaral, nus, dentro de uma sauna, batendo papo e combinando ações. O Fernando Pimentel, atual governador de Minas, sempre suspeito, chegando com uma malinha recheada de dinheiro em um flat, e Monica Moura, linda e loura, lá, só esperando ele chegar para contar a bufunfa que lhe era devida.

Também gostei de imaginar a cena dela passeando com Dilma pelos jardins do Palácio, imaginar a confusa Dilma (no caso, Iolanda) escrevendo um e-mail em código tentando avisar algo. Adorando imaginar o Zé Eduardo Cardozo se contorcendo de ódio porque foi dito o óbvio sobre o vazamento (para os alvos) das operações. E o sisudo Franklin Martins? Até sumiu para não ter de explicar os milhões de dólares que cobrou para ir sacanear as campanhas lá na África.

Quanta coisa já vimos ou ficamos sabendo nesses últimos tempos, enquanto por causa disso tudo temos de tentar, com muita dificuldade, nos manter com a cabeça fora d´água.

A política toda está de cabeça para baixo e não sei se as pessoas se deram conta do significado disso e do quanto penaremos ainda para reconstruir o país e a confiança nesses tempos tão agitados. Como nos reality shows mais conhecidos, teremos de eliminá-los, um a um.

Mas sem vencedores, porque esses participantes já levaram escondido o prêmio de muito mais de um milhão, um milhão e meio. Pensam em dólares. E já ganharam casas, apartamentos, lanchas, sítios, viagens com tudo pago.

Deve ter sido tudo obra da Dona Marisa.

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marli em redMarli Gonçalves, jornalista – Mais matracas vão abrir a boca e essa novela vai bem mais longe que Redenção. Ainda vamos assistir a várias temporadas e vai ter muita malhação pela frente.

Brasil, 2017

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Inacreditável. As tais ricas conseguem piorar o pior. E ao contrário das normais, a idade delas abaixa! Brunete, 48? Lidya, 44? Hahaha, não me façam rir muito que pode dar rugas

Gente, vejam só as reclamações das brejeiras…

(Aproveita e vai ver um artigo que escrevi sobre isso:

Clica aqui: Mulheres Ricas procura-se)

Televisão – FONTE: VEJA –

Mulheres ricas da Band agora tentam salvar a imagem

Brunete Fraccaroli se incomoda por ter sido retratada como uma pessoa fútil. Lydia Sayeg reclama de ter sido julgada pelo público precipitadamente

Mariana Zylberkan

A arquiteta Brunete Fraccaroli não é apenas uma mulher de 48 anos obcecada por sua coleção de Barbies – uma delas, inclusive, foi criada em sua homenagem, a Barbie Arquiteta. Brunete também é gente que faz e coleciona, além de bonecas, clientes renomados em seu escritório de arquitetura, no bairro paulistano dos Jardins. Uma parte de sua vida que, para desgosto seu, ficou fora do primeiro episódio do reality show Mulheres Ricas, transmitido pela Band nesta segunda-feira. 

“Muitas pessoas não entendem que o programa mostra apenas o luxo, parte da vida dos ricos que ninguém mostra. A parte mais pesada da minha vida ficou de fora”, diz Brunete, em conversa com a reportagem por telefone, durante viagem de cruzeiro a Buenos Aires. 

Ela não é a única insatisfeita com a maneira como foi retratada no reality. A joalheira Lydia Leão Sayeg, de 44 anos, é alvo de críticas no Facebook, motivadas pelo programa da Band. Em sua página, há mensagens como “Usar casacos de pele é realmente uma prova de como a pessoa é humilde! É lamentável”, e “Isso se chama beleza comprada! Não existem pessoas feias e sim pessoas pobres! O dinheiro faz milagres!”, embora haja também elogios. “As pessoas me julgaram pelo que apareceu no primeiro episódio. Tem gente que vai se arrepender do que falou ao ver o programa até o fim”, promete Lydia, que na estreia de Mulheres Ricas teoriza sobre a importância de o rico gastar. “É ele quem faz a economia girar”, diz, num determinado ponto do episódio.

Gastar, aliás, Lydia considera tanto um dever quanto um direito. “As pessoas têm o direito de criticar assim como têm o direito de gastar o dinheiro que ganham do jeito que quiser”, diz a joalheira, que, para entrar no reality, se preparou com a ajuda de psicólogo, segurança pessoal, assessor de imprensa e de marketing.  

Mais do que por ter sido retratada como uma perua deslumbrada, Brunete se chateou com a forma com que foi editado o trecho que critica o estilo da casa da ex-sem terra Débora Rodrigues, outra participante do programa. “Não tem jeito, vamos ter que demolir”, disse à assistente, no episódio, no momento em que vê a casa turquesa de Débora, que deveria reformar. “Como uma boa profissional, sou capaz de transformar qualquer casa. Dei um depoimento em que disse isso, mas esse não foi ao ar. Na hora do comentário da demolição, fui espontânea, mas não gostei da forma como o trecho foi ao ar.”

No segundo episódio de Mulheres Ricas, que vai ser exibido na segunda, às 22h20, Brunete irá cair na balada com as outras participantes na casa de Val Marchiori, em Angra dos Reis. Apesar do fim do primeiro episódio ter dado a entender que Brunete iria se render aos encantos de um rapaz na festa, a arquiteta garante que nada aconteceu. E dá um aviso aos pretendentes. “A equipe de produção tentou me arrumar um monte de namorados durante as gravações. Toda hora me empurravam para cima de alguém. Eu continuo solteira. Para me conquistar, tem de ser um príncipe encantado montado num cavalo branco.”

ARTIGO – Mulheres Ricas procura-se

 Marli Gonçalves

Se país rico é país sem pobreza – supõe-se – as tais mulheres ricas seriam outras, bem outras. Essas do programa parecem ser muito pobres, miseráveis, apenas equivocadas

 

Falta de ricas interessantes! Nunca pensei que um dia fosse chegar a notar e reclamar que há uma falta de ricas interessantes no mercado nacional, porque – convenhamos – esse grupo que está aí no tal programa é de lascar, hein? Não é possível que a gente esteja tão perdida assim, ao ponto de achar que aquelas cinco personagens que forçadamente estão juntas na produção, sejam algum supra-sumo mínimo, gotas do nada. Que elas possam ser uma amostra do ser rico, ou de qualquer outra coisa minimamente risível. Se a coisa continuar como começou, no final de mais alguns dias logo começarão a aparecer no noticiário algumas ricas de verdade, envergonhadas, saindo do país, devolvendo os bens, doando, virando Madres Teresa de Calcutá, pedindo exílio, tudo para não parecerem sequer com a unha do dedo do pé das tais ricas que, assim se intitulando ou deixando intitular, estão se expondo na vitrine – cada uma certamente com uma intenção nebulosa diferente.

Será como ver um programa de humor, tipo trapalhões, a praça de não sei quem, uma zorra total. Antes que me acusem de qualquer coisa, adianto: por mim, se aquelas maritacas ficarem meses no ar vou é me divertir muito, que já passei da fase do esquerdismo infantil contra pequenas burguesas, e adoro ver até onde vai a vaidade humana. Além de sempre achar que a gente tem de conhecer esses exemplos cabais de falta de amor próprio, temperados com exibicionismo sem limites. Também nada tenho contra o luxo e o bem-bom, ao contrário; infelizmente nem relo nele, no bem-bom, e bem gostaria, mas, bom…

Estou surpresa – mesmo, volto a dizer – é com a lista.

Pagava para ver toda a lista completa de nomes das outras mulheres que devem ter sido convidadas e recusaram. Queria ver as condições da proposta da produtora que executa o programa, para só conseguir pescar essas peixonas espirocadas, a caminho do alcoolismo champanhal, paraíso da tarja preta – exceção feita à Débora Rodrigues, ex-MST (!) e caminhoneira (!), que mesmo com essa sua tortuosa história, parece ser menos oca, ser mais normal. E também a menos rica. Uma deslocada, coitada.

Existem, sim, mulheres ricas interessantíssimas. Pelo menos, existiam. Conheci algumas, pessoalmente ou de história de ouvir contar, lendas, principalmente quando trabalhei em uma publicação voltada ao AAA, na época, e quando ser AAA tinha significado. Outras ainda andam por aí, no meio criativo, empresarial, publicitário. Tem as reconhecidas no jet-set internacional. Houve as que fizeram o glamour das nossas cidades, enlouquecendo os homens, ou inventando negócios. Tem as que mesmo antes de qualquer feminismo despontaram, grandiosas, lançando modas, ditando comportamentos, acontecendo. Não consta que nenhuma delas, Lilis, Carmens, Yolandas, Bettys, Lucias, Auroras, ousassem tripudiar da inteligência e do bom senso.

Não consta que mantivessem criados particulares como cachorrinhos, e nem cachorrinhos, filhas, namorados, amigas e bonecas como marionetes. Não consta que comessem anos de suas próprias vidas, como a Barbie decoradora faz, sumindo com pelo menos uns dez anos, e sem corar. Só esticando aqui e ali, ou insuflando umas partes do corpo, repuxando outras.

Não tenho como deixar de pensar quem são as verdadeiras mulheres ricas, até por dever do feminismo que me embala. E elas vêem aos borbotões no pensamento, embora admita que o programa de tevê que fariam talvez não tivesse tanta audiência ou mesmo graça.

Penso nas cientistas que amealham conhecimento. Nas pioneiras que desbravam as terras e os comportamentos, deixando suas pegadas marcadas com coragem, sangue e sofrimento. Naquelas mulheres que vemos, garbosas, atravessando pirambeiras com latas d´ água na cabeça, que vivem se deslocando pela sobrevivência, senão a sua própria, a de tantos filhos que não queria, mas que acaba tendo, um atrás do outro, soltando-os nos quintais para que sejam colhidos pelos seus destinos.

Vejo muitas, inclusive aquelas que ganham, marcadas em suas aparências, muitas rugas, linhas e desconsolo, parecendo ter muito mais anos do que verdadeiramente até viverão – e que não estarão mentindo as suas idades. Para essas, o tempo passa diferente.

Mulheres que se aparecessem tomando pinga tanto quanto as tais ricas tomam suas taças espumantes não seriam chamadas para nenhum reality show.

As suas riquezas – essas sim – seriam as verdadeiramente invejáveis. Hellooooo!

São Paulo, voltando, 2012


(*) Marli Gonçalves é jornalista. Vê mulheres ricas todos os dias. Mas de outra categoria: as sensatas.

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