ARTIGO – Rigoroso rebolar. Por Marli Gonçalves

A gente rebola por aí, balançando quadril e batendo pernas, buscando vozes e mentes para esquentar os corações e almas que parecem estar simples e completamente anestesiados por uma avalanche tão grande e que não condiz em nada com essa nossa alegria tropical. Escutem, por favor, a cadência de nosso samba, batucando nas teclas. Somos a imprensa. Acredite nos alertas.

 Tenho diante de mim, na mesa, uma série de bonequinhas que se movimentam somente com luz, bateria solar, vocês já devem ter visto como funciona. São quatro havaianas balançando as saias e uma gordinha, essa, de biquíni, chapéu, um drink nas mãos. Elas costumam me alegrar muito durante o dia com seus quadris rebolantes sem parar enquanto trabalho. Gosto de coisas que se movimentam, vivas, como os cataventos, e elas são assim. Me dão a sensação do tempo, contra a imobilidade, musicais, dançantes.

Pois bem. Ultimamente observei que até elas – essas meninas – andam – ou melhor, param – silentes, cabisbaixas. O inverno, a falta de sol, de luz nova no horizonte tira-lhes a energia. Como se tivessem vida, sentimentos, solidárias, me acompanhassem no dia a dia, no que faço, e ao noticiário que buscamos repercutir. E são tantas bobagens, ignorâncias, notícias ruins, tristezas e retrocessos e que todas juntas sabemos e assistimos que elas de vez em quando literalmente param, estáticas. Ficam chocadas inclusive quando veem os mensageiros sendo atacados de formas tão cruéis.

Vontade de fazer o mesmo, parar de rebolar o dia inteiro – que é um pouco o que todos nós, brasileiros, fazemos – e hibernar, aproveitando a estação. Rebolamos para cumprir o papel que juramos. Rebolamos para pagar contas, juros exorbitantes, ganhar algum dignamente, cuidar dos nossos, de quem amamos, escapar de armadilhas, além de fugir de tantos querendo nos roubar. Rebolamos para que nos respeitem, especialmente, nós, as mulheres. Suamos e rebolamos para nos livrar de inimigos, do mal, de insídias e energias negativas. Rebolamos para conseguir lugar no transporte público, na saúde pública, na segurança, na educação e em tudo o mais, que é público, sim, pagamos, e não recebemos. Reclamar para o Papa? Pode ser. Nosso Francisco está bem na moda, bombando nas redes sociais até com vídeos bem avançados. Alguém aí tem o e-mail dele?  O whatsapp? Algum contato?

Tô brincando. Mas ao mesmo tempo falando muito sério. Preocupada. Infelizmente tenho encontrado ainda muita gente rebolando também, e é o que não entendo, mas para aprovar, justificar, bater palmas, defender o que não é possível que em plenos anos 20 do Século ainda estejamos presenciando, ouvindo, suportando. Isso envolve, claro, as falas do homem eleito para o país e que parecem irreais de tão absurdas, de tão grosseiras, carregando tanta ignorância. Envolve alguns ao seu redor, como os seus próprios filhos, amigos, ministros.

Envolve, ainda por necessária oposição, e antes que venham com pedradas dizendo que não vejo mais longe, envolve – e muito – também, grande parte daqueles que, derrotados, ainda não aprenderam os rumos necessários para a retomada de um mínimo de bom senso. Tem quem ainda não se deu conta da gravidade da situação. Não é exagero.

Mas se fosse só da política! O inverno é de ideias, de bom senso, de falta de estações e temas onde se plante e onde dali floresça, de preferência sem tantos agrotóxicos.

Continuamos sabendo diariamente de crimes horrorosos contra as mulheres, e aparece quem defenda – sem ser os advogados – seres abjetos como o Roger Abdelmassih ou João de Deus. Sabemos diariamente de mortes e mutilações causas por imperícia, irresponsabilidade e loucura no trânsito e há quem defenda o fim da fiscalização eletrônica, a forma mais ampliada e segura que consegue registrar e desencorajar batendo no bolso, o lugar do corpo do ser humano que mais dói e pode modificar índices tão brutais. A lista das sandices é enorme e não para de crescer.

Está frio por aqui. Muito frio. E muito feio tudo isso. Vamos aquecer nossas baterias. Quero ver minhas meninas, e as de todo o Brasil, mais da metade dessa população, ao menos elas, reagirem.

Enquanto isso, rebolando por aqui. Vou ter novidade em breve para contar. E contar com vocês.


Marli Gonçalves, jornalista Consultora de comunicação, Editora do Chumbo Gordo. Blogueira aqui…

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

2019, Brasil

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ARTIGO – Desbundar! Para marcar época. Por Marli Gonçalves

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Não sei você, ou se sou só eu que estou sentindo uma espécie de pressão no ar, como se algo fosse estourar. Não digo nem que bom ou do mal. Algo. Que diz que para o qual será necessário dar um primeiro passo. Aliás, já não é sem tempo voltarmos a, no mínimo, sermos criativos, mais férteis em ideias. Está na hora de marcarmos época. Dar uma desbundadinha, talvez.

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Sim, nada melhor do que falar nisso agora, começo de um novo ano que ainda nos encontra perplexos, abobados até, diante de tantos acontecimentos esquisitos, sinistros. É como se vivêssemos em uma região com vários mundos – bolhas – que não andam se comunicando nada bem entre si, mas cada uma querendo crescer mais para achatar a outra, impondo assim sua supremacia. E claro que a que vem ganhando mais espaço é justamente a mais terrível: a da intolerância, conservadorismo e caretice. A primeira a furarmos com agulha. Rápido.

Leio com alegria que no Rio de Janeiro já há um grupo de artistas se reunindo para começar a recolocar os pingos nos nossos is. Chamam de desbunde, no geral. Fico feliz. Só rogo que tentem se afastar ao máximo de ideologias políticas arcaicas, e pensem no que fazem de melhor, Arte, a maior propulsora das mudanças. Que o façam com cores, nudez, poesia, sons e imagens, humor. Que provoquem pensamentos, que sejam exemplos, que deem vontade de a gente seguir atrás apoiando e multiplicando seus feitos.hipgrl22

Está na hora de marcarmos época contra a chatice que teima em grudar igual carrapato e que detona cérebros e nos dá desgosto de ver o estrago que está fazendo principalmente nas pessoas, especialmente nos mais jovens. Precisamos conseguir sacudi-las, nos infiltrar nesse exército de abobalhados uniformes e homogêneos que repetem como autômatos o que o sistema e as “normas” os mandam balbuciar.

Os anos 10 de 2000 já estão pra lá de passados, mais da metade, e o tempo urge. O que está ficando de rastro deles? Do que podemos nos orgulhar como sua grande marca? Eles não estão sendo marcados por avanços. Ao contrário.

germanhula2O mundo não pode se contentar, dar-se simplesmente por satisfeito. Parar na revolução digital como se ela fosse a última fronteira. Considerar que as conquistas já ocorreram. Aceitar a ideia da violência gerada (e combatida) pela própria violência. Fundamentalmente não podemos deixar a massa desandar – as massas serem cooptadas por seres do mal, entre eles os aproveitadores da fé. Esses aí que passam os dias dizendo que tudo é pecado, não pode, Deus não gosta, vai arder no fogo do inferno. Eles plantam culpas para viver, e elas – as culpas – são como ervas daninhas destruidoras.

Proponho então apoio a uma nova palavra de ordem do movimento que os artistas estão começando: Desbundar. Nos anos 60 se dizia que quem abandonava a luta armada e a militância política, indo só pro Paz e amor, tinha desbundado. Desbunde também é algo fantástico, que maravilha, que extasia.

Vamos lá, vai! Pelo menos uma desbundadinha. Tenta. Vai ver o quanto é gostoso.

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20160813_143252Marli Gonçalves, jornalista Vou tentar dar mais umas, faz tempo que não exercito desbundadinha. Sério: acho que é o que estamos precisando. Afinal, desbundar é também romper, inovar, botar para quebrar, mostrar a que veio.

São Paulo, 2017

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