ARTIGO – Se até o santo desconfia. Por Marli Gonçalves

Quando a esmola é demais, o santo desconfia. Nós, também. Os pobres, mais ainda. Se liga, que nem é esmola, ninguém é santo, e o dinheiro que está entrando e vertendo nesse jogo enganador, populista, sórdido, é seu, meu, nosso. Estão batendo nossa carteira na cara dura, buscando votos, roubar a eleição, deixando o país ainda mais na tanga do que já está.

esmola demais, santo desconfia

Somos nós que abastecemos esse cofre cada vez mais arrombado esta semana e que já vinha sendo dinamitado sem dó. Se as notas, tal qual os bancos fazem para proteger os caixas eletrônicos de assaltos, fossem manchadas de tinta rosa, aí que a gente ia ver o que é pink money, e não seria a criativa economia LGBTQIA+. Mostraria a devassa do verdadeiro cangaço reinante na política, escangalhando nossa economia, ao qual sucessivamente estamos sendo submetidos, A PEC Kamikaze foi só mais um passo na direção do abismo, e de muitos outros que nos derrubam ao despenhadeiro.

Quase cinco bilhões de reais já tinham sido destinados aos partidos políticos – essa miríade de letrinhas sem ideais que se confundem e se fundem – para essas próximas sofridas eleições deste ano. No Congresso Nacional, nessa que é uma das piores legislaturas de que se tem notícia nas ultimas décadas, pelo menos as que vivi, e olha que já vi coisa bem ruim, falar em situação e oposição parece até piada. De lá só chega alguma péssima notícia, manipulação, retrocesso em questões sociais, corte de verbas para áreas essenciais, reuniões clandestinas, orçamento secreto com distribuição de emendas, sabe-se lá de quê, para onde vão, e mesmo se chegam a algum lugar. E por qual preço, qual apoio, qual fala mais reacionária que outra; qual explicação mais esdrúxula para isso tudo passar, lindo, liso, votação após votação. Com números chocantes.

Falam em ajudar os pobres, os mais vulneráveis, inventam um tal estado de emergência, estupram a Constituição, e são todos filmados fazendo isso. Não disfarçam nem ao datar o que fazem em ano eleitoral – auxílios, sem cálculos reais, e com data precisa de vencimento, fim desse ano mesmo, dirigidos em busca de votos de quem, por graça e alguma sorte, em filas na chuva e no sol, chegar a receber a tal esmola, ops, apoio, cala boca, fumaça nos olhos, decantada, especialmente por esses que nos delegam que os próximos meses até outubro serão tenebrosos, violentos, e que até lá vão inventar de um tudo para melar qualquer decisão, entre as muitas que estarão em jogo.

Não vai funcionar, porque as pessoas não são bestas. Sabem que falta tudo, comida na mesa de milhões de brasileiros, remédios básicos, cuidados mínimos com o que é nosso em todos os terrenos, todos os campos. A inflação corroendo qualquer mínimo esforço por melhoria de vida, juros destrutivos, ricos ficando cada vez mais ricos e fanfarrões, enquanto ouvimos as mesmas cantilenas. Pior, agora também já são ouvidos berros horrorizados. De quem precisa, de quem dá e de quem tira.

Assistimos – e inacreditavelmente, ainda impassivos – ao desmonte geral do pouco que conseguíamos construir nos poucos anos vividos de democracia capenga depois da ditadura militar que nos enlutou por mais de duas décadas, e que de novo tentam fazer ressurgir das cinzas em focos que não conseguimos extinguir, que se esconderam em baixo de peles de cordeiro. Até porque nosso extintor não funcionou nem para promover um mínimo de educação política, formação de novos quadros. Olhe bem: na geral são aqueles mesmos, de sempre, no comando, e do que se costuma chamar situação e oposição; os outros aparecem apenas como fantoches, sobrenomes de continuidade, ou nomes aos quais se adaptaram como pastor tal, cabo xis, coroné não sei quem – que nos lembram a miúda política eleitoral geral, o Pedro do Açougue, o Claudinho da Geladeira, o Manoel do Posto. Em sua maioria, ainda, homens, com poucas mulheres, muitas apenas a reboque.

As costas largas da pandemia já se mostram pequenas para arcar com todo o peso que aproveitadores desse momento desgraça nela descarregam, até como se realmente estivessem preocupados com isso, com as ondas que continuam crescentes, mortais. Mas não conseguem nem conter nem explicar a loucura instalada, agora ainda com tremenda violência política e com ideias delirantes brotando da cabeça inclusive de militares assanhados e doidinhos para fazer que sejam sacadas as armas que espalharam.

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Marli - perfil cgMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Confusão geral, teu nome é Brasil. Por Marli Gonçalves

Os Trapalhões, os mais reais que poderiam existir, estão entre nós. Pior, no governo, mandando e desmandando. Nos deixando lelés. Duvido que você já tenha visto tanta confusão junta, ao mesmo tempo, em todas as direções. Tantas mentiras, literais trapalhadas, falta de rumos, interferências indevidas, prejuízos gerais.

confusão

Na geral dá aquela esquisita sensação que tudo quanto é desgraça, notícia ruim, acontecimentos estranhos têm a ver com essa situação geral. Gente, até tubarões aparecendo no litoral. Pernambuco? Não! Em São Paulo. E machucando gente no rasinho. Chuva de poeira. Florestas sendo destruídas. Populações dizimadas, fome, miséria, números bons caindo; números ruins crescendo. Muita coisa está fora da ordem. Inclusive nossas cabeças vivendo tudo isso.

“Os Trapalhões” estão entre nós. Os Trapalhões metem o nariz onde não são chamados. Onde são chamados, inclusive nas urgências, não aparecem nem para dar explicações – já que não as têm, óbvio. Está alucinante a absurda forma com que esse governo federal vem tratando todos os temas, e a loucura acaba se espalhando por todo o território, nos levando a um tempo cada dia mais terrível, vergonhoso, inacreditável. Violento.

Um fala, o outro nega; um decreta como se fosse a Casa da Mãe Joana, sem consultar quem de direito que reclama e fica no ar. Todos os dias revelações de malfeitos ou de desleixos, mas são tantos e tão numerosos que nos dias seguintes acabam soterrados por outras de fatos ainda mais absurdos, o que impede a resolução daqueles lá atrás. E assim vamos indo, e num ensurdecedor silêncio e desorganização social. O Trapalhão-mor vocifera bobagens por onde anda, seja no Oriente ou Ocidente.

Senão, vejamos, só essa semana: vacinação e Enem.

Vacinação: porque que acaba aparecendo uma boa pulga atrás de nossas orelhas? Alguém está ganhando com isso? Sabe aquele governo negacionista que atrasou a compra de todas as vacinas e que só depois de muita pressão mexeu a bundinha e agora quer, como diria o Gil do Vigor, se regozijar em cima disso como se tivessem virado os mais competentes do mundo? Pois bem, a vacina de uma dose só que parecia perfeita já não é mais – tem de tomar mais uma e da outra. A outra também precisa de mais uma. E a primeira, do Butantan, que foi a pioneira e que tanto ajudou, fica esquecida porque o cara lá não gosta do cara daqui. Aquela que teria tecnologia fornecida para ser produzida aqui, cantada e divulgada em verso e prosa pela Fiocruz, necas de pitibiriba.

A Anvisa reclama que não vem sendo consultada. Os prazos são mudados de acordo com o humor de alguém no Ministério da Saúde. Uma hora, depois de seis meses, outra, depois de cinco meses, para o reforço; segunda dose já foi de três meses, agora já nem sei mais, qual de qual, quando. Os governos estaduais e municipais acabam correndo atrás para atender, muitas vezes sem nem ter as doses das vacinas nos seus postos. Casa da Mãe Joana é pouco.

Fora isso, cadê o plano de 2022? Onde estão os contratos? Vamos ter um novo plano de vacinação ou será novamente a loucura que já vivemos? Vai comprar de quem? Já tem contrato? Já estão reservadas? Estão vendo, acaso, que o mundo inteiro está em pânico? Conseguem acompanhar o perigo do relaxamento geral? Vamos fazer um samba para o Carnaval? Olê, olê, olê, olá! Dingobel, olha o Natal. Isso vai longe ainda.

Enem: 37 servidores pedem demissão e afirmam que as provas estão sendo manipuladas. Repito, 37, trinta e sete. O tal ministro pastor de risinho sarcástico que comanda a pasta da Educação, servil, apoia o que o ser vil falou de agora o exame estar com a cara do Governo. Deus nos livre! O nome disso é claro: Censura.  Interferência. Desmonte de tudo o que funcionava de alguma forma. Até no Censo estão querendo meter o bedelho nos questionários.

Bate-cabeça. Com tudo isso, quem consegue deitar o cabelo em paz? Me digam. Quem?

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Vermelho Sangue Mulher. Por Marli Gonçalves

Que o vermelho do sangue de todas ao menos nos una nessa batalha. Especialmente me dirijo às mulheres, apelando à sua sensibilidade sempre mais aflorada. Somos mais da metade da população. E, como mulheres, porque entendemos o que significa, porque sabemos o que é, do que exatamente trata e de como nos sentimos nesses dias, temos a obrigação de reagir fortemente ao veto desse ser, desse governo maldito, à distribuição de absorventes higiênicos às meninas, às mulheres pobres, das ruas, dos presídios. Mais de cinco milhões de mulheres foram atingidas pela insensibilidade que marca esse triste momento do país, governados por gente que constantemente nos desrespeita e que parecem nos odiar

Dormem nas ruas, jogadas no chão, ao lado de ratos, ratos homens e ratos bichos, o sangue escorre e elas não têm nem ao menos como se lavar. O sangue chega a coagular em suas pernas, atrai animais, insetos, causa infecções que as adoecem e matam. Não têm direito a um mínimo de dignidade, dependem da generosidade alheia e da sua própria força pela sobrevivência. Pão! Li que algumas usariam miolo de pão para conter a menstruação. Tá. Se não têm muitas vezes nem o pão para se alimentar! Usam qualquer coisa que acham nas ruas, jornal, panos velhos. A realidade não é como na literatura de mulheres libertárias que propõem deixar escorrer o sangue da menstruação como marca da força feminina. Estas têm água para se lavar, suas teses para defender, e seu sangue é usado como força; têm casa, comida, roupa lavada.

As mulheres, nas ruas, acabam por terem infecções terríveis, não sendo raro perderem seu sistema reprodutivo. Nos hospitais e postos de saúde muitas vezes, tal é a situação se encontram quando chegam, cheiro forte, que causam nojo e pouco são tocadas, cuidadas, atendidas. Essa é a realidade.

Estudantes pobres, no sistema público – só elas somam quatro milhões no Brasil – perdem aulas – não vão às escolas porque não têm como se proteger nesses dias, como fazer higiene e como conter a vergonha diante de todos.

Um assunto escancarado durante a pandemia que fez ainda mais pobres e miseráveis, o custo desse item tão básico e tão importante da higiene – absorventes menstruais – os tornou inacessíveis a muitas mulheres, mais do que já eram, muitas já obrigadas a usar toalhinhas ou chumaços de algodão e papel higiênico como nossas antepassadas criativamente faziam; quando podem, claro. Porque nem isso mais é possível para muitas.

 O veto de Bolsonaro ao projeto de lei que finalmente daria alguma dignidade e fim a essa situação que perdura há tantos anos – pobreza menstrual – é de uma covardia, maldade, violência, quase incapaz de ser descrita em palavras. Por tão pouco se faria tanto, tão bem. Mas esse governo masculino, incorreto, incapaz, tenebroso, cruel, parece não ter limites em sua caminhada nos levando ao horror. Dizem que não tem dinheiro, ousam dizer que não têm recursos para tal que, pelos cálculos do  projeto, custaria pouco mais de 80 milhões de reais por ano, em média 7 milhões de reais por mês, distribuindo (só, mas ajudaria) oito absorventes por mês, a 1 centavo cada. Seria dirigido às necessitadas, moradoras de rua, estudantes de baixa renda e distribuídos nas cestas básicas distribuídas pelo Sisan (Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional). As receitas viriam do programa de Atenção Primária à Saúde do Sistema Único de Saúde (SUS). No caso das presas, os recursos viriam do Fundo Penitenciário Nacional.

Agora aguardamos – exigimos – que esse veto seja derrubado pelo Congresso, o mínimo que podem fazer, e para o qual estaremos atentas.

Não têm dinheiro? Alegam que seria crime de responsabilidade fiscal? Ah, mas para fazerem passeios de motocicleta, viagens com pencas de assessores por aí, gastarem seus cartões corporativos, pagarem salários gordos, roubar e deixarem roubar, mandarem seus dólares para paraísos fiscais, comprarem e mandarem o Exército fabricar remédios ineficazes que empurraram nos doentes, para isso nunca falta. Onde anda a Justiça e sua balança sempre pendente para um lado só?

Indignos, cuidam das rachadinhas em seus gabinetes, ironicamente. De lá, de suas decisões malditas verte o vermelho do sangue, menstrual ou não, de tantos brasileiros e brasileiras, vermelho que dizem e repetem – como bobos – não quererem na bandeira nacional, mas que cada vez mais a mancha.

E mancha de sangue é difícil de tirar. De nossa memória, não sairá. Eles não perdem por esperar.

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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#ADEHOJE – PINGOS NOS IS, BYE BYE BRAZIL

#ADEHOJE – PINGOS NOS IS, BYE BYE BRAZIL

 

SÓ UM MINUTO – Vamos lá, pondo uns pontos em ordem. Sabemos que não é culpa (total) do Jair Bolsonaro a situação do desmatamento na região da Amazônia, e que isso não é novidade. Mas estamos denunciando que ele está incentivando ao afrouxar as regras, e isso está visível nos nossos céus, pulmões, nos registros. Agravou-se muito a situação. O mundo está chocado e com razão depois das declarações absurdas, abusivas, do presidente, do ministro do desambiente e sua carinha de bonequinho, e dos soluços de Ernesto Araújo. Claro, fora as bobagens dos Filhos do Capitão.

Entendem porque a situação está tomando níveis mundiais? Vamos ter recursos cortados, além do Fundo Amazônia. Podem parar com as importações de nossos produtos, carne, entre outros. Há regras internacionais que precisam e devem ser respeitadas pelo futuro da Nação. O mundo está perplexo, revoltado, protestando, e com razão. Se chegarmos – e ao que tudo indica chegaremos – na mesa do G-7, bye bye Comunidade Europeia mais Mercosul, bye bye Brazil

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Butantan, pesquisas, e as dificuldades. Sem dinheiro, a procura pelas vacinas

Ari Macedo: trabalho insano de pesquisaRecebi esse material e achei interessante, porque demonstra a necessidade de recursos, e fala sobre as dificuldades para a pesquisa científica no país.

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‘Não tínhamos um tostão: Vacina contra a dengue foi produzida por mérito dos pesquisadores científicos e o apoio da diretoria do Butantan’.

Por insistência de um grupo de pesquisadores científicos, estudos para a formulação da vacina contra a dengue no Instituto Butantan completam 8 anos. Instituto recebeu aporte financeiro apenas da Fapesp e do BNDES e agora aguarda financiamento prometido pelo Governo Federal.

BUTANTAN
Prédio do Instituto Butantan, onde estão sendo realizadas algumas etapas da pesquisa da vacina contra a dengue.
Após o anúncio da presidente Dilma Rousseff na última semana de fevereiro, a notícia de que o Instituto Butantan está iniciando a fase 3 de testes clínicos, que irá comprovar a eficácia da vacina contra a dengue, se propagou por todo o País. É fato que tal anúncio representa uma vitória para o Brasil e poderá beneficiar populações em todo o mundo, além de abrir perspectivas para a imunização contra o Zika vírus. Porém, até chegar nesta etapa, que antecede a produção da vacina em grande escala, longas e difíceis foram as fases anteriores do estudo, como o desenvolvimento do projeto piloto. Graças ao empenho de um grupo de pesquisadores científicos e da própria diretoria do Butantan, financiamentos via Fapesp e BNDES garantiram a continuidade das pesquisas. E, hoje, o Instituto comemora a promessa, reiterada na tarde desta quarta-feira, 9 de março, pelo Ministro da Saúde em Brasília, de que a verba de R$ 100 milhões deve chegar até o final deste mês.

De acordo com o vice-diretor do Instituto Butantan e membro da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), Marcelo de Franco, com a verba, a equipe do Butantan espera finalizar os testes em breve e ter a produção em grande escala pronta até o final de 2017, para imunização da população. “Nesta terceira fase, realizaremos testes finais com um grupo de voluntários para provar a eficácia da vacina que desenvolvemos. Se tudo ocorrer dentro dos prazos que estipulamos, no início de 2018 começa a campanha de vacinação efetiva”, esclarece Marcelo de Franco.

No caso do Zika vírus, o vice-diretor do Butantan conta que os estudos são muito recentes e pouco se sabe até agora. “Formamos, em parceria com a Universidade de São Paulo e o Instituto Adolfo Lutz da Secretaria da Saúde, a Rede Zika. São diversos virologistas, imunologistas e farmacologistas altamente especializados envolvidos. O grupo está no momento isolando e cultivando o vírus para estuda-lo em camundongos. Queremos responder às principais dúvidas com relação à doença, como a ligação do vírus com problemas neurológicos em fetos e com doenças autoimune. Além da vacina, também esperamos desenvolver um tratamento soroterápico aos pacientes infectados, como os que já desenvolvemos contra raiva, tétano e venenos. Estamos começando do zero e, até agora, apenas com financiamento da Fapesp. O valor de R$ 8,5 milhões prometido pelo Governo Federal para o programa também deve ser enviado até o final do mês. Estamos nesta expectativa para impulsionar as pesquisas”, finaliza o vice-diretor do Butantan.
O contraponto – a degradação dos Institutos de Pesquisa

Segundo a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo, o estado degradante da grande maioria dos Institutos de Pesquisa do Estado de São Paulo entra na contramão de toda a expectativa criada recentemente em cima das pesquisas do Butantan. “Os pesquisadores cientifícos do Estado carregaram o estudo da vacina contra a dengue nas costas durante 8 anos, por meio de um árduo trabalho da nossa equipe e da diretoria do Butantan. Mesmo com o esforço individual de cada pesquisador e de seu grupo, como no exemplo da dengue, as condições são precárias em todos os 19 Institutos de Pesquisa do Estado”, avalia o presidente da APqC, Joaquim Adelino Filho.

A Associação denuncia que o Governo do Estado de São Paulo não realiza novos concursos públicos de ingresso na carreira com a regularidade esperada para garantir o desenvolvimento e a sustentabilidade das pesquisas. Esses concursos não acontecem há mais de 10 anos, em média, nos 19 institutos do Estado. Até agora, não foi concedido o direito de progressão por mérito dos pesquisadores científicos na carreira, que é realizado anualmente, por meio da avaliação de seus trabalhos científicos. “A pesquisa brasileira está sofrendo duros golpes e nós estamos sentindo isto na pele. Temos de ler nos noticiários que nossos governantes estão esperançosos com os resultados de nossas vacinas ”, afirma Adelino. “O que existe até agora são apenas cortes no orçamento público e promessas. Estamos esperando por melhores condições de trabalho há décadas”, complementa o presidente da APqC.

Ainda de acordo com Adelino, as pesquisas têm reflexo a longo prazo. “A falta de financiamento por parte do Governo hoje trará reflexos daqui há 10 anos. A cada R$1 que o Governo deixa de investir em pesquisa, vai deixar de arrecadar R$ 13, segundo um estudo divulgado pela própria Fapesp. Este cenário é ainda agravado pelo corte de 30% no orçamento de todos os Institutos de Pesquisa do Estado de São Paulo, sancionado pelo governador no início de 2016. Este é o maior corte já registrado na história dos Institutos de Pesquisa do Estado”, avalia.
Promessa de investimento

Em Genebra, o diretor do Instituto Butantan, Jorge Kalil, chegou a anunciar que pediu ao Ministério da Saúde a liberação de R$30 milhões para fazer o programa contra o Zika. Destes, o Ministério teria autorizado R$ 8,5 milhões. O Ministério da Saúde ainda afirmou que irá investir R$ 100 milhões na terceira fase do imunizante contra a dengue nos próximos dois anos, além de R$ 200 milhões que serão repassados por outros órgãos. Até agora, porém, não chegou nada ao Instituto.
O novo marco legal da Ciência e Tecnologia (C&T) Brasileira

Ainda dentro das reivindicações e preocupações dos pesquisadores científicos brasileiros, estão as disposições da nova Lei Federal nº 13.243, assinada em 11 de janeiro deste ano. O novo Marco Legal da Ciência e Tecnologia basicamente torna legais a privatização das instituições de pesquisa; a disseminação de arranjos produtivos científicos e tecnológicos; a internacionalização da pesquisa brasileira; além de tornar o Estado investidor de capital de risco; e alocar recursos de pessoal, pagos com dinheiro público, em entes privados.

De acordo com o engenheiro agrônomo e pesquisador científico aposentado do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Carlos Jorge Rossetto, o novo marco da C&T no Brasil não observa o Artigo 37 da Constituição Brasileira, que determina que a administração pública direta e indireta de qualquer um dos Poderes da União obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. A emenda 85 eliminou a obrigatoriedade da impessoalidade, mas não revogou o Artigo 37 que deve ser cumprido. O pesquisador aposentado ainda afirma que a nova política de inovação, em resumo, consiste em aplicar recursos públicos nas instituições de pesquisa privadas, ou nas públicas, oferecendo uma suplementação financeira ao pesquisador público, com privatização do resultado. “É uma política que oferece vantagens a alguns empresários, ao pesquisador público que aderir, mas é nociva ao povo brasileiro, principal provedor dos recursos, que terá maior dificuldade de acesso ao conhecimento e à tecnologia pela qual pagou”, finaliza.
Sobre a APqC

Criada em 1977 como uma entidade da sociedade civil sem fins lucrativos, a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) tem como intuito defender a pesquisa científica e os Institutos de Pesquisa, além de seus recursos humanos, pesquisadores científicos e pessoal de apoio à pesquisa, que pertencem a quatro Secretarias de Estado do Governo de São Paulo. São eles: na Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento estão o Instituto Agronômico, Instituto Biológico, Instituto de Economia Agrícola, Instituto de Pesca, Instituto de Tecnologia de Alimentos, Instituto de Zootecnia e Departamento de Descentralização do Desenvolvimento (Polos Regionais), coordenados pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios. Já na Secretaria de Estado do Meio Ambiente: o Instituto de Botânica, Instituto Florestal, Instituto Geológico. Na Secretaria de Estado da Saúde: Instituto Adolfo Lutz, Instituto Butantan, Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, Instituto Lauro de Souza Lima, Instituto Pasteur, Instituto de Saúde e a Superintendência do Controle de Endemias. Na Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional: o Instituto Geográfico e Cartográfico. E, por fim, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo: os Laboratórios de Investigação Médica.

Atualmente, o maior problema enfrentado por todos os Institutos de Pesquisa do Estado e levantado pela APqC junto ao Ministério Público é a falta de força de trabalho. Todos os Institutos atualmente somam, juntos, cerca de 1.560 pesquisadores em atividade – sendo que deveria ter em torno de 2.450 -, dos quais 62% está com idade acima de 50 anos. Mais de um terço (35%) dos cargos de pesquisador científico estão vagos nos 19 Institutos. Na soma de todas as carreiras, incluindo os cargos de apoio técnico e administrativo, os Institutos estão operando com menos da metade, aproximadamente, do quadro de funcionários que deveriam ter. do quadro de funcionários que deveriam ter, e o agravante é que, atualmente, 63% está acima de 50 anos. A outra metade foi esvaziada ao longo dos últimos anos por aposentadorias, mortes, exonerações e perda de funcionários para outras instituições.

A degradação dos Institutos, aliado ao descaso do Governo do Estado quanto às condições de trabalho dos cientistas paulistas, é uma preocupação constante do setor, que alerta sobretudo quanto a um possível e próximo apagão científico no Estado de São Paulo.
fonte: INTEGRA : assessoria de imprensa da ASSOCIAÇÃO DOS PESQUISADORES CIENTÍFICOS DO ESTADO DE S. PAULO