ARTIGO – Recordações, referências e revisões. Por Marli Gonçalves

Recordações despertadas por gatilhos. São lances de memória que explodem junto com os fatos e as coisas do presente, esse momento que logo vira passado, tão efêmero que é. O passado é assentado em algum lugar da memória, volta em golfadas. O futuro, ah, este é sempre o daqui a pouco.

Deve haver alguma gaveta, caixinha, miolo, não é possível que não seja assim, onde guardamos algumas lembranças, as especiais, que ficam arrumadinhas lá dentro até que algo acontece no caminho da vida, vira a chave e a abre, de lá retirando e nos fazendo reviver vividamente o outrora, seja bom, muito bom ou ruim, muito ruim. Esse gatilho chega com tamanha intensidade que é incontrolável. E só seu.

Aí está a questão que me incomoda não é de hoje. De alguma forma estas lembranças estavam guardadas também com outra pessoa ou pessoas que as viveram ou presenciaram. Deveríamos poder sempre consultá-las quando vêm à margem, de forma que pudéssemos checar se na tal gaveta onde guardadas estavam se modificaram, perderam ou ganharam sentido. Daí necessitar de referência.

Estou perdendo todas as minhas referências, e esse vazio – com o passar dos anos – causa uma profunda angústia. Muitas dessas pessoas partiram, e levaram com elas a possibilidade de comprovação de muitas coisas que eu contaria, por exemplo, em uma autobiografia que um dia talvez ousasse escrever. Chego a ter um pouco de inveja de quem tem mais amigos das décadas de vida. Tenho muito poucos e os mantenho como se fossem joias, mesmo que distantes. Triste que em cada uma das décadas que vivi alguns dos principais coadjuvantes foram levados. Várias formas. Muitos, nas epidemias, de Aids; agora nesta que vivemos de forma tão dolorosa nos últimos três anos. E agora? Quem vai me ajudar a recuperar com mais precisão as aventuras de vinte, trinta, quarenta, cinquenta anos atrás?

Já os amores, alguns desses foram levados pelo vento, ainda nem lembro bem porque ficaram pelo caminho, por melhores que tenham sido no seu tempo. Os terríveis, e os vivi, sou eu mesma que tento assassinar de novo a cada lembrança nas vezes que chegam para a revisão. Alguns, muito bons, estão por aí ainda, mas não posso acioná-los, embora até devesse, por considerar que jamais deveriam ser esquecidos por nenhum dos lados como a mim parecem agora estar sendo – tal a intensidade, forma e o tempo de sua duração.

Tudo isso para dizer que também, igual você talvez, andamos perdendo muitos outros tipos de referências, Gal Costa, Erasmo Carlos, para citar algumas, e as suas mortes funcionaram como as tais chaves que guardavam as gavetas que se escancaram ao ouvir as melodias e letras que embalaram nossa existência em várias fases da vida. Elas escavam o passado sem qualquer controle possível.

Me vi esses dias com pouco mais de nove anos de idade, nas areias da praia de José Menino, em Santos, percebendo quando ocorreu o meu primeiro amor, e o quanto foi platônico. Lembrei o nome! Ivo. Vejam só. Era o namoradinho de uma amiga minha, mas desta não recordo de jeito nenhum como se chamava. Adivinhem, claro, qual música – aparecendo na biografia de Erasmo – despertou e resgatou esse sentimento com todas as sensações daquele tempo tão longínquo e esquecido até essa semana.

Não sei se já contei, também, que passei minha infância ali na Rua Augusta, que era o caminho dos ídolos da Jovem Guarda e todos seus amigos a caminho da então gloriosa TV Record. Quando podia, esperava na porta do prédio que eles passassem em seus carrões. Absolutamente apaixonada pelo Ronnie Von, “Meu bem” (Hey Girl), fazia questão de manter os cabelos lisos e compridos, com uma franja que jogava igual a ele quando cantava, alguns devem recordar exatamente esse movimento; era o príncipe dos sonhos naquele momento. Até há bem pouco tempo, inclusive, ainda me sentia intimidada quando – já bem crescida- o encontrava pela cidade.

Vejam só como eram belos e perenes os ídolos de outros tempos, e o que explica a comoção causada com as suas partidas. E como é grande o medo de continuar perdendo os meus próprios registros pelo olhar de outros. A torcida continua. Aquela. Vocês sabem qual.

https://youtu.be/_SpOyKv02rg

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MARLI GONÇALVES – Foi lindo respirar o ar da torcida pelo Brasil, a primeira vez em anos que pareceu todos torcerem em uma só direção, sem divisões. Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – O presidente boko-moko. Por Marli Gonçalves

Vamos relaxar, brincar um pouco, pensando no presidente boko-moko. Ele está fazendo tudo para o país, tal qual caranguejo, andar para trás e pros lados. Quer voto impresso e, entre outras, com a sua turma ataca nossas importantes conquistas. Só tirando muita onda com a cara deles, lembrando do que, então, poderíamos até querer de volta também.

PRESIDENTE BOKO-MOKO - FICHAS TELEFÔNICAS

Escrevo na máquina de escrever? Mando para vocês via telex, ou no teco-teco? Ah, já sei, enviarei um fax. Ou reproduzirei por mimeógrafo. Claro, só depois de comprar um pergaminho, que preciso perguntar onde tem. Telefonarei do orelhão com minhas fichas, que a fila da Telefônica lá da 7 de Abril está grande, dando voltas – muita gente querendo o plano de expansão. Mando um bip? Vou é jogar na loteria para ver se me arrumo na vida. Tem de furar o cartão da loteca.

Subo ou desço a Rua Augusta a 120 por hora? Olha só quantos Gordinis, Romisetas, que lindos SP1, coloridos, e cada cor tinha nome no documento. “Lanchas”, como o Galaxy, o Dodge, bancos de couro que a gente escorregava para lá e para cá a cada curva. O russo Lada, dizem, só vai aparecer quando cair uma tal de proteção nacional, de um tal presidente contra marajás, que também vai cair – pelo menos foi o que a vidente em borra do café disse.

Não, vou paquerar. Para achar os endereços, Guia de Ruas, aquele catatau. Qual tênis uso? Pampero, Conga, Bamba, Kichute? A bota branca, né? Olha só o cara com chinelo de borracha de pneu e bolsa com franjas. Cabelo Pantera ou capricho no laquê? Gente, olha aquele arrumadinho! Comprou na Ducal? Na Casa José Silva? Mesbla? Ah, aquilo no cabelo dele emplastrado é gomalina. Deve ter passado lá no Banco Nacional. Ou terá sido Sudameris, Bamerindus, Banespa, Real? A lista é grande dos bancos falecidos.

É, já tivemos mesmo muitos bancos, grandes, mas agora temos só uns três para escolher. Lembrei até de minha primeira conta, que abri no Sudameris, lindo o nome completo: Banco Francês e Italiano para a América do Sul. Achava tão glamuroso. E o talão de cheque, então? Era azul marinho, cheio de estrelinhas. É, talão de cheques é o nome daquele bloquinho que a gente recebia para usar, muitas vezes sem fundinhos. Sim! Tinha cartão de crédito. Era passado numa maquininha com papel carbono. Aliás, tudo usava papel para desespero das árvores.

Cadê os parques de diversões? Tinha um bem legal aqui na Avenida Santo Amaro, e o primeiro PlayCenter na Avenida Brigadeiro, com tobogã? Depois, foram morrendo também, ou ficando enormes e muito mais caros e inacessíveis. E a maçã do amor, os realejos com seus papagaios, tudo foi ficando distante.

Deu fome: o coquetel de camarão que era só pra quem “podia”. As panquecas do Rick Store. Oi, tempos do Hamburgão, Hamburguinho, Chico Hambúrguer, que era bom demais se lambuzar. De sobremesa, banana split. Ou, mais chique, mousse de papaia com pingadas de licor de cassis. Nossa, nunca mais os sonhos da doceira Abelha. A Dulca ainda existe, mas que decepção! Sem baba-rum, sem aquelas dezenas de opções, hoje sobrou só um mil folhas, mas sabe como é a economia, né? Agora dá pra contar as tais folhas. Cuba Libre (que assim seja! – logo, um dia!), Ginger Ale, Seven Up, Grapette, quem toma repete!

Mas a gente se divertia sim. Às vezes até cometendo pequenos crimes. Você teve o anel brucutu? O brucutu para fazer esse anel era uma peça, o bico do lavador do para-brisa dos Fuscas. Ah, era deixar o fusca na rua e lá ia embora o brucutu. Só valia se fosse assim, roubado.

Na moda não dá pra falar muito porque parece mesmo que tudo vai e volta. Tinha courvin, helanca, salto carrapeta. A revolucionária mini saia, usei muito, o que me valeu até a brincadeira à época de ser a jornalista com o cinto mais largo da redação, olha só! A calça de duas cores, a boca de sino, a cintura alta, a baggy. A modelo Twiggy, a mais magra da história, que era quase um olho com cílios, de vez em quando a gente vê alguma na rua. Hoje tem mais essas botocudas, com bocas que parecem ter sido picadas por abelhas selvagens, unhas em inexplicáveis e desajeitadas garras, com as quais devem até se flagelar em algumas horas, se me entendem.

Esses dias li por aí alguém falando sobre skates, como uma coisa de 20 anos atrás. Socorro, Revista Pop! Diz para eles que por aqui isso é coisa bem mais antiga, de quase 50 anos, madeira e rodas de patins o sucessor do rolimã. Eu estava lá, raras meninas, descendo as ladeiras de uma praça no Sumaré, tinha uma boa no Morumbi. Até que a polícia dava uma “batida” e a gente tinha de sumir.

Para finalizar, só tem uma coisa, importante: esse retrocesso todo que o presidente Boko-Moko insiste e está levando o país, além de querer a volta do voto impresso, não é legal, como essas lembranças. No passado tivemos mesmo coisas muito boas, sim, mas foi exatamente nesse passado que vivemos também uma ditadura, uma noite de 21 anos nessa tal pátria amada ao som de Don e Ravel, ame-o ou deixe-o.

Caiu a ficha?

*- Boko-moko: brega, kitch, cafona, ultrapassado, de mau gosto, fora de moda, gosto ou atitude duvidosa na estética. Gíria dos anos 60 e início dos anos 70.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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BOKO-MOKO

…Mas, veja que nada supera o desleixo e sacanagem desse Extra da Rua Augusta com Oscar Freire. Olá PREFEITURA DE SP! Tudo bem com você? Olá Dirigentes do @extra!

#árvorenãoélixeira #árvorenãoélixeira #árvorenãoélixeira

Estamos ao Deus-dará. Veja uma rua dos Jardins, um dos Iptus mais caros do país. Uma rua qualquer? Não. A Rua Augusta.

Fiz essa foto hoje de manhã

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Minha Rua Augusta vai ganhar um “olhr” na Virada Cultural. Iniciativa da Escola SP

91-city293Augusta ComVida você a uma cidade mais viva!

O Augusta ComVida será a primeira de uma série de intervenções do LAB SP, que é uma iniciativa do Instituto Escola São Paulo com objetivo de repensar e melhor aproveitar a cidade por meio de intervenções urbanas.

Aproveitando a Virada Cultural no dia 19 de Maio, a Augusta ComVida você a se envolver nessa primeira etapa do projeto, em que começaremos por torna-la um ambiente mais vivo e agradável, para que assim ela possa estabelecer um convívio com as pessoas.

Iniciaremos em 2 quarteirões do lado Jardins (entre a Alameda Franca e Alameda Jaú).

A Rua Augusta será nosso primeiro Laboratório, e se ele der certo pode ser só um começo 🙂

Para entender melhor:

CORREDOR VERDE

Instalação de 4 jardins verticais em fachadas de estabelecimentos na Augusta iniciando um corredor verde, elaborado e executado pelo Movimento 90º:

– Escola São Paulo – Prédio 1
– Ótica Elegância
– Loja Oxford
– Escola São Paulo – Prédio 7

IMAGINÁRIO CONVOCATÓRIO

Convocamos o imaginário do público para plantarem suas ideias de melhorias para Rua Augusta!

Com a colaboração de Coletivos Urbanos ocuparemos as calçadas e o espaço reservado aos carros de 2 quarteirões da Rua Augusta com a instalação de um mobiliário urbano efêmero composto por bancos, mesas, pista de dança e jardineiras, elaborados com caixas de madeira e pallets.

Nas jardineiras todos poderão plantar suas idéias para a Augusta, e subir no palanque para comunica-las ao público.

INSTALAÇÃO SONORAPROMENADE

A proposta desta instalação site specific, desenvolvida pelo músico e compositor Dudu Tsuda, é refletir sobre a sonoridade da cidade e propor ao espectador um momento de exercício de suas capacidades perceptivas e sensoriais através do movimento no espaço. Para ouvir a peça é preciso caminhar pelas calçadas da Augusta, e perceber em cada fragmento de tempo e espaço as transições e texturas da música e sua relação com o ambiente. Uma alteração da paisagem sonora da rua, assim como uma redescoberta do espaço público através de um gesto artístico.

VIRADA DA AUGUSTA

No dia 19/05 Augusta ComVida uma grande celebração, música boa e você a plantar sua idéia na rua.

QUEM SOMOS?

O Instituto Escola São Paulo é uma entidade sem fins lucrativos que tem como objetivo ampliar o acesso à cultura e à educação, contribuindo para o envolvimento das pessoas com os setores criativos. Acreditamos em transformações urbanas por meio de ações culturais que estimulem o convívio e a interação das pessoas na cidade.

Temos a honra de contar com a presença de Marcelo Yuka como embaixador do LAB SP, motivo filosófico e fonte de inspiração para os que trabalham neste projeto, uma vez que ele também entende que a rua tem que ser um espaço de comunhão e convívio e que a arte pode servir como ponte entre as pessoas e a cidade, tirando o indivíduo de seu universo particular.

Resolvemos colocar o projeto para captação de recursos no Catarse, via financiamento coletivo, por que entendemos que mudanças no espaço urbano devem ter os cidadãos como protagonistas, participando ativamente desta transformação, seja por meio da intervenção propriamente dita ou da parceria financeira, que permite que o projeto saia de seu processo embrionário e ganhe vida.
Clique aqui para visualizar o orçamento completo:
https://docs.google.com/file/d/0B6x4FUF6yrEWYlhsXzhoNUVObTQ/edit?usp=sharing

Recompensas:

A Escola São Paulo acredita que o melhor jeito de aprender é entender por que se está aprendendo, ou seja, colocando em prática, usando o que você está estudando para tentar transformar ativamente a cidade e o mundo. Por ser irmã do Instituto e acreditar também no envolvimento das pessoas com os setores criativos, a Escola São Paulo fez esta parceria conosco.

É importante ressaltar que: Os Descontos, Cursos e Workshops não são cumulativos como as outras recompensas.

Se você acredita nessa mudança, junte-se ao LAB SP!

Para mais informações acesse:

www.labsp.org

ARTIGO – EU VEJO GENTE DIFERENTE, POR MARLI GONÇALVES

Imitando um trecho de filme, mas mudando o diálogo, tornando-o, digamos, menos dramático. Quero te contar um segredo … Eu vejo gente diferente. O tempo inteiro. E acho ótimo.

Lembram do olhar do menino, apavorado, de O Sexto Sentido, quando confessa ao pai “Bruce Willis” o que o assustava tanto, e que acabou virando uma frase de efeito, e que a gente usa quando quer dar medo ou brincar com alguém? Com os olhos marejados, assustado, o menino confessava ao pai: I see dead people (Eu vejo gente morta). Pois outro dia me vi pensando o quanto “eu vejo gente diferente”, mas isso não me assusta. Ao contrário, só me alegra, e faz pensar que sou uma moça (!) de sorte, muita sorte, por ter sido criada e viver em meio às diversidades. Todas.

Há quem goste de chamar ou definir – até de forma preconceituosa – que o que eu estou querendo dizer é conhecido como “fauna”. Dou de ombros. Sempre achei que o mundo só poderia ser construído e andar para a frente com gente diferente. Rimou. Andar para a frente com gente diferente. Fauna. Flora. Mas com personalidade.

Talvez até venha daí meu horror a profissões uniformizadas, onde só detalhes mínimos podem diferenciar as pessoas, como os militares, por exemplo, e que acabam ainda por andar em grupos. Talvez venha daí também o meu bem pouco apreço por shoppings centers, onde parece que todo mundo é igual, por tribos. Descreveria algo assim: mulheres com cabelos lisos esticados, esticadíssimos, com escovas, alisamentos, ferro de passar, os quais elas sacodem e jogam para lá e para cá, em várias cores, nervosamente, nos corredores, onde batem seus pés com scarpins, longe de pingos de chuva que destruiriam imediatamente suas poses. Aqui e ali se autorizam usar alguma cor, mas que esteja aceita pela moda oficial, agora ditada por personalidades instantâneas fotografadas em revistas semanais de – como definir? – banalidades gerais e irrestritas. Nos mesmos corredores onde grupos de jovens, meninos e meninas, se amontoam teclando em celulares, com suas roupinhas iguais, jeans, também aceitas nas classes de suas escolas. As meninas, ainda arremedos de mulher, olham desafiadoras, críticas, pretensiosas, e cochicham entre si, entre risinhos de escárnio, tampando a boca para falar. Como se precisasse. Os meninos, que ainda nem sabem onde por as mãos, fazem cara de machinhos.

Agradeço muito ter sido criada bem no meio da efervescência, mesmo nem sempre participando dela, até por falta de condições financeiras. Mas como para ver é só estar por perto, já vi de um tudo desde pequena, criada no centro de São Paulo, na velha Rua Augusta que hoje me alegra muito conferir que voltou a ser ocupada novamente por todos os tipos. Alguns escalafobéticos e escalafobéticas. Estrambóticos. Feios, bonitos, lisos e alvos ou riscados com tatuagens, gordos, magros, branquinhos, negros orgulhosos, orientais loiros, todos os sexos, mas todos mesmo, todos os credos.

Desde pequena sei o significado de boca do lixo, de boca do luxo. Do que é tradicional, chique, quatrocentão, e do que é novidadeiro e futurista. Ia para a porta do Medieval, boate que ficava ali perto da esquina da Augusta com Avenida Paulista, para ver, em dias de festa, o tapete vermelho, os holofotes que iluminavam aquelas divas travestis que chegavam como quem ia para a cerimônia do Oscar, estrelas de cinema saídas das telas, e que brilhavam com seus paetês, lantejoulas e toda sorte de enfeites e jóias. Lembro de ter visto uma chegar no dorso de um elefante, alugado para “causar”, como se diz hoje . Era mais que isso. Elas “fechavam”, usando mais uma expressão da época.

Digo tudo isso porque essa semana cheguei à conclusão de que se há algo que gosto nesta cidade da qual cada vez saio menos (e não porque não queira) é de passear para ver tudo. Mas nas ruas, onde está a voz rouca citada em discursos de quem pouco a ouve de verdade. Depois de um dia duro e cansativo, grudada na frente de um computador, no escritório, os muitos minutos perdidos no trânsito podem se tornar fontes de conhecimento e percepção, apenas observando.

Lojas abrindo. Lojas fechando, inclusive tradicionais (infelizmente esse fato vem sendo muito mais frequente, o que me mostra a real situação financeira do país). E pessoas de todos os tipos, para lá e para cá. Com sacolinhas nas mãos, praticamente todos. As de plastiquinho, de pequenas compras, mais comuns. Cada vez mais difícil é ver aquela típica de cena de filme. Como em “Uma linda mulher”, onde ela carregava um monte, lindas, de várias lojas de marca.

Vejo porque grassam Ongs de cuidados e adoção de animaizinhos mais,digamos, sem raça definida, sem pedigree. É moda por aqui ter um vira-lata. Por onde ando, muitos tem mais que um, o chique e o viralata, mas que de tantos cuidados, aparecem nas ruas lindos e fagueiros, com os pelos brilhantes e coleiras ornamentadas, desfilando sua certa deselegância discreta, como diria o Caetano, pernas curtas em corpos grandes, rabos peludos em corpos pequenos, focinhos indefinidos que misturam genes de alhos e de bugalhos.

Nas calçadas, correndo da água espirrada dos meio-fios, tentando atravessar fora da faixa, encontrando outras pessoas, a ocupação das ruas é o que faz uma cidade, daqui e de todo o mundo. O que nos dá segurança e mostra que pertencemos todos a uma comunidade, favela, bairro, região. Vemos que há pessoas caídas no chão, por bebedeira ou cansaço. Há pirotecnia nos faróis onde jovens, muitos latino-americanos, descolam seus trocados. Bebês rosados em carrinhos, ou crianças puxadas e quase arrastadas pelas mãos por mães que não têm com quem deixá-las. Vemos mesmo de tudo.

O problema é justamente esse. Logo quando a gente começa a se acostumar e divulgar como as ruas podem ser boas, como passeios ao ar livre podem ser mais interessantes, como é gostoso “bater pernas” por aí, ver gente diferente, num minuto vem alguém fazer aquela perguntinha muito chata e hoje, pelo menos por aqui, irrespondível: – “E a violência?”

É. Eu vejo gente diferente. O problema é que também andamos vendo gente morta. Por acaso, porque estavam na hora errada numa rua errada.

São Paulo, espírito de Natal detectado, 2012

Marli Gonçalves é jornalista– Influenciável por imagens. Outro dia, ao ver a foto de um ultrassom que provava que bebês bocejam na barriga das mães, começou a bocejar também

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Vamos parar esses caras antes que matem mais, que machuquem mais! Paz na Augusta!

Só não entendi o “diz ter sido” do título dessa matéria publicada no G1

Ativista de movimento gay diz ter sido agredido por skinheads em SP

Ataque ocorreu em posto de combustível na Rua Augusta.
Vítima quer que caso seja investigado por delegacia especializada.

Marcelo Mora Do G1 SP – ww.g1.com.br

Guilherme Rodrigues no DHHP da Polícia Civil (Foto: Marcelo Mora/G1)Guilherme Rodrigues no DHHP da
Polícia Civil (Foto: Marcelo Mora/G1)

Mais um ataque a um gay foi registrado na região da Rua Augusta na madrugada de terça-feira (23). Ativista do movimento LGBT e militante político, o professor de inglês e estudante de letras Guilherme Rodrigues, de 23 anos, foi agredido por quatro rapazes em um posto de combustível na esquina da Augusta com a Rua Peixoto Gomide, na região da AVenida Paulista, em São Paulo. Dois dos agressores, segundo Rodrigues, pelas características, seriam integrantes do grupo skinheads, conhecido pela intolerância.

“Eu vi que eles iriam agredir um casal homossexual e parei para ver o que iria acontecer. Não falei nada e nem tive qualquer reação. Eles me viram e vieram na minha direção. Me deram cabeçadas, me agrediram. Só pararam quando os funcionários do posto interferiram”, relatou o estudante.

saiba mais

Segundo ele, os quatro rapazes continuaram o ameaçando mesmo depois que um carro da polícia parou para conter as agressões. Guilherme disse que relatou a uma policial militar o ocorrido e manifestou a sua intenção de fazer um boletim de ocorrência. A reação da policial o surpreendeu. “Ela tentou me dissuadir de fazer o boletim. Ela disse que depois que fôssemos liberados, eu e os quatro que me agrediram, seria cada um por si”, contou.

No 4º DP, na Consolação, região central de São Paulo, a mesma policial, de acordo com Rodrigues, afirmou aos funcionários do plantão que os quatro agressores também iriam registrar um boletim de ocorrência. “Ela disse que eu dei em cima deles e que eles também teriam direito de fazer um boletim. Só mudaram de ideia quando um funcionário do posto testemunhou a meu favor”, disse. Os quatro rapazes foram indiciados por injúria, ameaça e lesão corporal.

Ativista exibe ferimentos na boca (Foto: Marcelo Mora/G1)Ativista exibe ferimentos na boca
(Foto: Marcelo Mora/G1)

Rodrigues, no entanto, quer que o caso seja investigado pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil. O objetivo é tratar a agressão que sofreu como um caso de delito de intolerância contra homossexuais. Além disso, o movimento LGBT programou um ato para as 14h de segunda-feira (28) em frente ao 4º DP para entregar o laudo do Instituto Médico Legal (IML) do exame de corpo de delito ao qual se submeteu.

Como ativista do movimento gay, Rodrigues vê o medo tomar conta da região da Rua Augusta. “Há um mês participei de um protesto contra a violência que os homossexuais vêm sofrendo na região. E agora eu fui vítima desta mesma violência. Moro ali perto e agora tive de sair da minha casa e ir morar com um amigo. E eu que fui o agredido”, disse.

Na tarde desta sexta-feira (25), Rodrigues compareceu ao Decradi para prestar depoimento. Um suspeito pelas agressões, de 18 anos, também foi à delegacia, acompanhado do pai. A polícia ainda procura por outros dois jovens que teriam participado do ataque.

Outros casos
No dia 14 de novembro de 2010, quatro menores de 18 anos e um maior de idade agrediram pedestres na Avenida Paulista. Eles chegaram, inclusive, a desferir golpes com lâmpadas fluorescentes em uma das cinco vítimas do grupo. Para a polícia, a motivação dos ataques foi homofobia. No dia 4 de dezembro, o operador de telemarketing Gilberto Tranquilini da Silva e um colega dele, ambos de 28 anos, foram vítimas de uma agressão nas proximidades da Estação Brigadeiro do Metrô, também na Avenida Paulista. Eles disseram à polícia que o ataque foi motivado por homofobia.

No dia 25 de janeiro deste ano, um estudante de 27 anos afirmou que ele e um amigo foram vítimas de um ataque homofóbico na Rua Peixoto Gomide, quase na esquina com a Rua Frei Caneca, quando levou uma garrafada no olho direito.

Festinha para São Paulo amanhã. Com direito a Tadeu Jungle e…flechas!

Flechas no céu de São Paulo no aniversário da cidade

 
 
 
 
No dia 25 de janeiro, a Escola São Paulo preparou uma programação cultural gratuita em comemoração do aniversário da cidade. Os destaques da programação são a performance Poema-ação FLECHA! do cineasta, publicitário e artista Tadeu Jungle, o show da banda Holger (Indiepop Neofolk), e uma mostra de filmes dos alunos dos cursos de Cinema da Escola.
Poema-ação FLECHA!

Tadeu Jungle, que acaba de fazer uma performance de poesia visual na praia de Ipanema, vai reeditar sua obra em homenagem a São Paulo. Os balões biodegradáveis Flecha! de Jungle vão subir aos céus levando pedidos dos paulistanos que estiverem na Rua Augusta nº 2239, sede da Escola São Paulo.

O artista utiliza múltiplas linguagens como videoarte, videoinstalações, fotografia, cinema, arte-correio, grafite, poesia visual e performance nas suas obras tem vasta e instigante produção artística. No projeto poesia visual Flecha! O artista traz a baila questões associadas ao amor.
BANDA HOLGER
A banda paulistana Holger foi formada há quase dois anos a partir do projeto musical That’s All
Folks, onde cinco amigos de diversas bandas: Efeito Colateral, Cagedream & Projeto e outros integrantes itinerantes gravavam músicas espontâneas sem ensaio. O talento da banda já chamou atenção do público já rendeu a gravação de dois programas especiais no Studio Oi SP.

PROGRAMAÇÃO
A programação tem inicio às 14hs com uma seleção de filmes produzidos pelos alunos dos cursos de Cinema da Escola São Paulo. A partir das 15hrs, o público está convidado a inflar os balões com as flechas com desejos. Tadeu Jungle convida o publico à participar de uma performance sustentável e colorir o céu da cidade. As 18hs é a vez da banda Holger mostrar porque vem encantando o público em festivais pelo mundo a fora.
14hs: Mostra de filmes dos alunos do curso de cinema da Escola São Paulo
– FILMES: “Cidades” e “Quatro Paredes”
16hs: Performance Flecha! de Tadeu Jungle
18hs: Show Holger
O evento é uma parceria entre a Escola São Paulo, o Oi Futuro (instituto de responsabilidade social da Oi), com promoção da OIFM.
Data: 25/01/2011
Horário: das 14hs às 20:30hs
Local: Escola São Paulo
Rua Augusta, 2239
Fone: (11) 3060-3636
http://www.escolasaopaulo.org