ARTIGO – Bola, bolinhas, verde, amarelo e o vermelho. Por Marli Gonçalves

Olha a bola batendo em nossas canelas, e o complexo esforço para que o país todo faça as pazes com o aviltado verde e amarelo e comece a torcer pela Seleção, digamos numa só direção. Chega a ser até engraçado esse visível movimento todo, especialmente da propaganda e marketing, no sentido de sensibilizar e tentar virar a chave das pendengas eleitorais que ainda se prolongam em inacreditáveis cenas de delírio ufanista.

bola

Bandeira branca, amor! Vai ser difícil, mas não impossível, embora muito em cima da hora, e depois de muito tempo correndo solto o sequestro da bandeira nacional nos embates políticos dos últimos tempos, e do verde e amarelo ligado ao pior ufanismo, nacionalismo e ranço antidemocrático. A Copa do Mundo está aí, a bolinha que agora é toda colorida vai rolar no campo e dependendo do resultado dos primeiros jogos é capaz até de emocionar corações e mentes crentes no tal hexa, uma estrelinha (ironia simbólica) a mais sendo pregada nas coisas.

Vai ter de este ano, já que a Copa pela primeira vez chega praticamente junto com o Natal e suas bugigangas, competir com o vermelho (outra ironia do destino) que normalmente marca essa época.  A propaganda já está enlouquecida com isso, batendo cabeça, digamos dando tratos à bola. Primeiro quer que a gente torça.  Depois que compremos peru, presentes, demos atenção ao Papai Noel, suas renas e tudo o mais. Querem que consumamos pelos dois eventos, de cores mais uma vez opostas.

Alguns disfarçam. A Ivete Sangalo tem aparecido vendendo linguiça para comer durante os jogos. Vestida predominantemente de azul, com pinceladas de amarelo. Mas está massiva a publicidade de carros, bancos, tudo quanto é coisa que precisa  se atrelar ao  povo e ao futebol, implorando para que o país volte a torcer pela tal seleção canarinho, use as caríssimas camisetas oficiais x ou y, faça as pazes entre si e com os símbolos nacionais, consuma. E não pareça ser bolsominion, ou identificado como um, principalmente desses que ainda andam por aí falando e fazendo bobagens.

O problema é que a eleição terminou, mas as maluquices não. Persistem. Parece que só pioram, numa espécie de surto coletivo da extrema direita incentivando a criação de problemas para a posse e o novo governo eleito. Diariamente, ainda, damos de cara com notícias e  centenas de imagens de  pequenos grupos espalhados inconformados rezando em transe, ajoelhados diante de muros dos quartéis, fazendo discursos odiosos e inflamados repletos de fake news, evocando ditadura, intervenção militar, alguns até em acampamentos – sempre instigados e financiados pelos péssimos exemplos do desgoverno que se vai e esvai,  deixando lamentáveis lembranças e lambanças. E bodes como esse, da coitada da bandeira e do verde e amarelo. Já tivemos isso no passado, um tal Brasil, Ame-o ou Deixe-o de tristíssima memória, e que tinha até musiquinha reacionária à moda dos atuais sertanejos.

Para completar, a Copa será realizada distante, num lugar caro, inacessível para uma maioria, e cheio de não pode isso, não pode aquilo, de tirar tesão de qualquer torcida do mundo. As famílias, os amigos, os grupos ainda estão abalados com tantas brigas e pela terrível divisão imposta entre as duas forças políticas que se enfrentaram, e o que pode abalar os churrascos, os encontros, as animadas torcidas nos bares. E como ultimamente o Brasil tem sido para os fortes some-se a isso o claro, visível e preocupante aumento dos casos de Covid. A volta dos aconselhamentos de distanciamento social, de  uso de máscaras e o temor de que essa nova cepa seja mais perigosa e ainda sem cobertura vacinal que a abarque por aqui, em mais um final de ato melancólico da temporada de Queiroga & Cia no Ministério da Saúde, que já levou embora 700 mil brasileiros, isso contando os números oficiais.

A bola de futebol antes branca e preta agora é toda colorida, cheia de marca, mas sem arco-íris para o país do Oriente Médio que não gosta nada dessas coisas. O impasse está aí.

A proposta? Vamos voltar ao clássico branco e preto. O futuro vice-presidente Geraldo Alckmin já até inovou outro dia deixando à mostra suas meias soquetes pretas, de bolinhas brancas. Um sucesso.

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MARLI GONÇALVES – Viva o democrático branco e preto. Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Sonhos, quatro linhas e transição. Por Marli Gonçalves

Acordei esgotada de passar a noite inteira sonhando que estava arrumando malas e sei lá para onde é que era para ir. Vocês já tiveram sonhos desses, de noite inteira, de sonhar contínuo? Acordar, voltar a dormir e continuar com o mesmo sonho, quase um delírio?

SONHOS
 AVENIDA PAULISTA, 29 DE OUTUBRO DE 2022

Pois foi isso que me deixou encucada. Primeiro porque é bem difícil eu lembrar com o que sonhei; segundo, porque inacreditavelmente lembro de ter praticamente arrumado e repassado o meu armário inteiro – e isso é muito. Ou seja, tudo o que tenho passou na minha mente, guardados de décadas, outras para lembrar dias e emoções – sim, a roupa que estava em um dia ou outro importante, amoroso, quase um museu particular. Coisas para doar, cores, casacos, calcinhas rotas até. Eu ia separando e arrumando tudo num movimento sem fim. Não foi por menos que acordei cansada.

Aí me toquei: ressaca eleitoral, só pode ser. Fiquei muito traumatizada com uma pequena saída que dei dia 2 de novembro, no feriado, dois depois do término das eleições. Andei dois quarteirões até o supermercado e vi um monte de gente muito esquisita lá dentro e perambulando pela rua iguais aos viciados da Cracolândia. Zumbis. Não estavam enrolados em cobertas de lã, mas com a bandeira nacional, a coitada vilipendiada. Traziam pela mãos criancinhas, que depois vi também serem usadas como escudos nos bloqueios das estradas.

Já não estava com bom humor, admito, depois de ter passado a noite anterior inteira tentando dormir ouvindo estouros de rojões, muitos, centenas, um atrás do outro, som que vinha ali dos arredores do Parque Ibirapuera, de onde moro há uns três quilômetros de distância. A noite inteira. Se foi inferno para mim, imagino o que assustou a fauna do parque.  Pensei que tipo de comemoração seria aquela, até pela manhã saber que havia uma reunião desses zumbis pedindo intervenção militar, negando o resultado eleitoral, marchando e entoando palavras estranhas diante do quartel – o mesmo onde dezenas de pessoas foram presas e torturadas e mortas durante a ditadura militar. As bombas vinham de lá. Creio que eles tinham comprado para comemorar a eleição do coisinho e como ele dançou foram usar para gastar e perturbar. Mas devia ser um caminhão, um caminhão de pólvora. Quanta comida daria para ser comprada. Mas eles quiseram fazer barulho, perturbar, sentirem-se fazendo guerra.

Fiquei mal mesmo, de verdade. Doente, de cama. Depois acompanhando os movimentos pela tevê, os bloqueios e a violência, só piorei. E a pergunta que faço há meses continua. De onde saiu essa gente? Vocês devem ter visto nas redes os compilados e gravações desses movimentos em todo o país juntando grupinhos de alucinados quase se auto chicoteando, se imolando, alguns de joelhos rezando e gritando, outros marchando para lá e para cá irradiando ódio. Todos de verde e amarelo batendo no peito como se fossem só eles os patriotas. Um movimento claramente incentivado e organizado dias antes das eleições.

Porque natural, ah, natural não era! Natural mesmo foi o mar de gente tomando a Avenida Paulista cantando e dançando feliz durante toda a noite depois do resultado oficial, sofrido, mas vitorioso para quem não aguentava mais esses quatro anos de ataques e retrocessos.  Também moro perto, há um quilômetro, do MASP, na Avenida Paulista e daqui de casa ouvi a repercussão da festa. Depois, na madruga, dava pra escutar até o show da Daniela Mercury, de quem não gosto nada, mas achei até legal ficar ouvindo daqui da janela. Combinou com a festa toda. Natural também já tinha sido no sábado, e este movimento eu presenciei, dia anterior ao segundo turno, a mesma Paulista ocupada por milhares e milhares de pessoas de todos os tipos acompanhando o último evento da campanha de Lula e da Frente Democrática. Todos sorriam, se cumprimentavam, cantavam, num clima realmente de confraternização. Uma diferença enorme.

Começamos então a ouvir falar da transição de governo e agora entendi meu sonho desta noite. Simbolicamente estava arrumando minhas malas para esse novo tempo. Bem sei, nem vem! Não é que muita coisa vá mudar mesmo, estou acostumada com a política, e já dei muita risada com o Centrão imediatamente abandonando a barca e tentando subir nesse outro governo.

Mas outras cores – todas, na verdade, o arco-íris – chegam e podem ser usadas. Sem medo de ser feliz, sem o ódio e a ignorância que se incutiu nas mentes de forma tão deplorável e ignorante como o fez o tal bolsonarismo.

Ufa! No meu sonho, então, me preparava para outra viagem: a de novamente continuar a ser oposição, como já disse, a tudo o que for ruim, esse o papel da imprensa. Conheço bem os perigos dos tais ídolos de barro.

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marli - apostaMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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SONHOS

AVENIDA PAULISTA, 29 DE OUTUBRO DE 2022

SONHOS
AVENIDA PAULISTA, 29 DE OUTUBRO DE 2022

ARTIGO – No que é que você aposta? Por Marli Gonçalves

No que você aposta? A gente passa a vida apostando em algo, pode até ser com a gente mesmo, com o tal íntimo. Entre uma coisa e outra. Um caminho ou outro. Em alguém. Se vai conseguir ou não. Ganhar ou perder, eis a emocionante questão.

Administracion educativa: Proceso administrativo- Dirección

Não é por menos que nos últimos tempos têm proliferado, inclusive por aqui- e já era mania no exterior – esses sites e aplicativos de apostas, que ainda não consegui ter certeza se são bancos, se são sérios, se logo saberemos seus intentos. Por enquanto, ao menos que eu saiba, ainda só na área de futebol, mas não vai demorar muito para oficializarem apostas como esta que estamos fazendo agora em nosso futuro, quem vai levar o Brasil. Tudo virando um imenso sim ou não. Roleta russa, quase. Muita coisa em jogo.

O problema, e grande possibilidade, é que acabemos nos tornando completamente viciados nessas divisões, no país fragmentado de agora, aconteça o que acontecer. Já pensaram se a moda pega? Tudo dá aposta. Vermelho ou verde e amarelo? Já não é mais final de novela, ficção, o “quem matou Odete Roitman”? Tem reality pra dar e vender, e a cada dia sendo criadas novas formas de influenciar resultados.

Não vai demorar para que cheguem aqui as tais milionárias bolsas de apostas, aliás que por aí já devem estar bombando para a Copa do Mundo. Detalhada, não só para quem vai ganhar ou não. Quantas vezes Neymar vai cair em campo gritando e se contorcendo todo a qualquer esbarrão? O mais novo escândalo da FIFA (ou CBF)?  Alemanha? Argentina? Brasil? A Copa no Catar, com todas as idiossincrasias da região, vai dar certo? Mil possibilidades de apostas.

Fico imaginando também o número de apostas que vêm sendo feitas nos cantinhos, esquinas e mesas de bar sobre esse segundo turno presidencial, e acho até que não é por menos que a disseminação de fake news e tentativas de intimidação estão bombando, recordes. Obviamente que ninguém quer perder. E se for aposta a dinheiro, e quase todas as emocionantes o são, então, aí a coisa vai mais longe. Imaginem esses seres que apostaram milhões (contribuições eleitorais não deixam de ser apostas) nos candidatos, especialmente nesse aí que adoraria nos infernizar por mais quatro anos. Se ganharem, quem apostou espera ganhar muito – inclusive dentro do governo e se fazendo lembrar logo na hora seguinte. Ou acaso vocês pensam que essa loucura que vivemos é apenas ideológica? Aposte que não.

Apostar vicia. Perdendo, aposta-se até ganhar. Ganhando, se testa até onde vai a sorte. O Brasil tem amplo potencial apostador. Apostamos há décadas que um dia o país vai tomar jeito! Imagine se não. Aliás, aposta aqui é truco certo.

Conheço quem tenha muitas vitórias e acertos, mas eu nunca fui premiada em nada, pelo menos que me lembre. Ainda acho estranho passar na frente das lotéricas e ver aquelas filas enormes principalmente em dias que o prêmio acumulou. Gente que muitas vezes deixa de comer para apostar. A parte mais legal é quando essas pessoas são entrevistadas e começam a listar o que vão fazer com o prêmio. Ali, todo mundo é bonzinho e vai ajudar a família, os amigos. Deus tá vendo! Sonhar é bom, apostar nem tanto. “Não trabalha não pra ver”, cansei de ouvir de meu pai. Mais jovem, ele gostava de apostar em jogos de cartas. Um dia parou, completamente, creio que deve ter perdido ali algo pesado. Nunca soube o que houve. Mas deve ter sido sério.

Em geral apostas podem não ser nada saudáveis, inclusive para as famílias – muitas veem tudo ser perdido do dia para a noite em bancas. Melhor mesmo ficar só com as apostas bobinhas, que não fazem mal a ninguém, muito menos a nós mesmos. Melhor desafiar-se a si mesmo.

Pensando bem, nesse momento, e a esta altura do jogo, jamais apostaria de verdade em um ou outro, embora, claro, tenho minha preferência.  Acredito que não peguei esse hábito – pelo menos não a dinheiro, e menos ainda com outras pessoas – por causa da ansiedade que me abala muito, sempre, até que algo se decida.  Detesto perder. Já gostei muito mais de torcer pela vitória de uma coisa ou outra, mas na maturidade, e dependendo do tema, já vivi bastante para saber exatamente que nada – muito menos a política – vale a pena sofrimento, aposta radical, sacrifício, queimar meus lindos dedinhos no fogo.

E você, anda apostando muito? Par ou ímpar? #EleSim ou #EleNão? Vai ou racha?

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marli - apostaMARLI GONÇALVES – Oposição ao que é ruim, seja de que lado for. Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

ARTIGO – Amigos, razão, sensibilidade, palpitações. Por Marli Gonçalves

Tudo bem aí? Tomara! Por aqui de vez em quando preciso medir pulso e pressão para ver se essa ansiedade que quase me tira o ar, faz ranger os dentes, esses medos repentinos e pensamentos atravessados, não são o meu corpo reagindo fortemente a esse tempo louco que passamos. Tempos estranhos esses em que não adianta quase nada ter razão. Tempos estranhos esses em que ser sensível à sua própria dor e a dos outros traz tantos dissabores.

palpitações

Só me sinto um pouco melhor quando vejo que não é sentimento exclusivo meu. Gente importante, famosa, rica, linda, resolvida, exemplos de equilíbrio que acompanho ou que mantenho entre meus amigos relatam sintomas muito parecidos aos meus. Alguns até descrevem situações ainda mais aterrorizantes e melancólicas. Creio até que meu bom humor e capacidade de adaptação me ajudam a que ainda não esteja tão atingida.

Antes de continuar, peraí! O que se transformou a eleição é só um item, antes que as defesas de todos os lados se armem e comecem a me mandar desaforos, que já ando cheia de receber e me controlar para não mandar uns coices de volta.

Muda de assunto um pouco que esse aí é pequeno diante da real e já encheu, se esgotou e nos esgotou profundamente, levando justamente mais pedaços de nossa saúde, especialmente a emocional. Falo do que restará após esse período tão longo, de anos, de dificuldades, destemperos, retrocessos, ataques, violência e desconsideração, doenças. Do que surgiu dessa situação pós pandemia, que tantos tentam resumir e afastar como se nada tivesse acontecido. Faltam assobiar para muito mais de meio milhão de mortos, cenas angustiantes, covas a céu aberto, aqueles números, gráficos, falta de assistência, remédios, ar, isolamento. Excesso de negação, ignorância, demora de tomada de providências. Muitos dessas consequências e reflexos, incluindo econômicos, só estão sendo sentidos agora, e o que até pode explicar um pouco da loucura, agressividade aflorada, da irracionalidade das discussões sobre qualquer tema; inclusive, a busca de mitos tão dispares entre si.

Por questão de dias, porque não tiveram tempo de tomar a vacina, perdi – aliás, o Brasil perdeu – enormes pedaços de nossa história, de minha história, amigos que por décadas as construíram e que perderam o tempo que tinham por aqui para fazer muito mais. Seus legados, suas obras, as lembranças e aprendizado dos que com eles conviveram. Não quero perder mais ninguém. E tem muita gente atingida.

Temos o dever de honrar a memória de todos e buscar que nada mais se repita assim.  Por conta da negação desenfreada e disseminada muitos outros foram embora, senão da vida mesmo, de nossas vidas, por não conseguirmos mais com eles conviver. Por mais que tivéssemos tentado alertar, eles acreditaram e, talvez, ainda acreditem nas mentiras, nas falseadas, passam por certa lavagem cerebral.

E mentiras matam. São insidiosas, convencem e comprometem o entendimento. Agora vêm revestidas, buriladas, maquiadas com ar tão inocente que conseguem provocar e escavar mundos sombrios, como a censura, o ódio e o confronto insuportável. Comprometem a liberdade.

Teremos de lidar com isso tudo ainda por muito tempo. Esse ar irrespirável. Pior, temos de nos preparar para isso como se em nossas vidas fossem estas as únicas preocupações, sendo que temos tantas outras que se aglomeram e nos pegam justamente tão frágeis, dificultando que possamos resolvê-las por não conseguirmos prever nem o que ocorrerá nos minutos seguintes.

Vocês entendem? Amigos, razão, sensibilidade e palpitações. E expectativas, muitas. Como sempre me aconselha um considerado leitor: “Tem calma, tem calma”

Difícil.

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MARLI GONÇALVES – Oposição ao que é ruim, seja de que lado for. Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Se até o santo desconfia. Por Marli Gonçalves

Quando a esmola é demais, o santo desconfia. Nós, também. Os pobres, mais ainda. Se liga, que nem é esmola, ninguém é santo, e o dinheiro que está entrando e vertendo nesse jogo enganador, populista, sórdido, é seu, meu, nosso. Estão batendo nossa carteira na cara dura, buscando votos, roubar a eleição, deixando o país ainda mais na tanga do que já está.

esmola demais, santo desconfia

Somos nós que abastecemos esse cofre cada vez mais arrombado esta semana e que já vinha sendo dinamitado sem dó. Se as notas, tal qual os bancos fazem para proteger os caixas eletrônicos de assaltos, fossem manchadas de tinta rosa, aí que a gente ia ver o que é pink money, e não seria a criativa economia LGBTQIA+. Mostraria a devassa do verdadeiro cangaço reinante na política, escangalhando nossa economia, ao qual sucessivamente estamos sendo submetidos, A PEC Kamikaze foi só mais um passo na direção do abismo, e de muitos outros que nos derrubam ao despenhadeiro.

Quase cinco bilhões de reais já tinham sido destinados aos partidos políticos – essa miríade de letrinhas sem ideais que se confundem e se fundem – para essas próximas sofridas eleições deste ano. No Congresso Nacional, nessa que é uma das piores legislaturas de que se tem notícia nas ultimas décadas, pelo menos as que vivi, e olha que já vi coisa bem ruim, falar em situação e oposição parece até piada. De lá só chega alguma péssima notícia, manipulação, retrocesso em questões sociais, corte de verbas para áreas essenciais, reuniões clandestinas, orçamento secreto com distribuição de emendas, sabe-se lá de quê, para onde vão, e mesmo se chegam a algum lugar. E por qual preço, qual apoio, qual fala mais reacionária que outra; qual explicação mais esdrúxula para isso tudo passar, lindo, liso, votação após votação. Com números chocantes.

Falam em ajudar os pobres, os mais vulneráveis, inventam um tal estado de emergência, estupram a Constituição, e são todos filmados fazendo isso. Não disfarçam nem ao datar o que fazem em ano eleitoral – auxílios, sem cálculos reais, e com data precisa de vencimento, fim desse ano mesmo, dirigidos em busca de votos de quem, por graça e alguma sorte, em filas na chuva e no sol, chegar a receber a tal esmola, ops, apoio, cala boca, fumaça nos olhos, decantada, especialmente por esses que nos delegam que os próximos meses até outubro serão tenebrosos, violentos, e que até lá vão inventar de um tudo para melar qualquer decisão, entre as muitas que estarão em jogo.

Não vai funcionar, porque as pessoas não são bestas. Sabem que falta tudo, comida na mesa de milhões de brasileiros, remédios básicos, cuidados mínimos com o que é nosso em todos os terrenos, todos os campos. A inflação corroendo qualquer mínimo esforço por melhoria de vida, juros destrutivos, ricos ficando cada vez mais ricos e fanfarrões, enquanto ouvimos as mesmas cantilenas. Pior, agora também já são ouvidos berros horrorizados. De quem precisa, de quem dá e de quem tira.

Assistimos – e inacreditavelmente, ainda impassivos – ao desmonte geral do pouco que conseguíamos construir nos poucos anos vividos de democracia capenga depois da ditadura militar que nos enlutou por mais de duas décadas, e que de novo tentam fazer ressurgir das cinzas em focos que não conseguimos extinguir, que se esconderam em baixo de peles de cordeiro. Até porque nosso extintor não funcionou nem para promover um mínimo de educação política, formação de novos quadros. Olhe bem: na geral são aqueles mesmos, de sempre, no comando, e do que se costuma chamar situação e oposição; os outros aparecem apenas como fantoches, sobrenomes de continuidade, ou nomes aos quais se adaptaram como pastor tal, cabo xis, coroné não sei quem – que nos lembram a miúda política eleitoral geral, o Pedro do Açougue, o Claudinho da Geladeira, o Manoel do Posto. Em sua maioria, ainda, homens, com poucas mulheres, muitas apenas a reboque.

As costas largas da pandemia já se mostram pequenas para arcar com todo o peso que aproveitadores desse momento desgraça nela descarregam, até como se realmente estivessem preocupados com isso, com as ondas que continuam crescentes, mortais. Mas não conseguem nem conter nem explicar a loucura instalada, agora ainda com tremenda violência política e com ideias delirantes brotando da cabeça inclusive de militares assanhados e doidinhos para fazer que sejam sacadas as armas que espalharam.

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Marli - perfil cgMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Máscaras, Carnaval e nossas agonias. Por Marli Gonçalves

Uma pressa que pode nos custar muito caro essa de liberar o uso de máscaras justamente nesta época e quando surgem novas ondas em todo o mundo, que podem rapidamente se transformar em tsunamis. Estamos em um país descontrolado e agora mais uma nova e terrível cepa liga o alarme da prudência em volume máximo

  Aconteceu exatamente assim no ano passado, lembram? Quando as coisas começaram a melhorar um pouco o povo já botou as manguinhas de fora incentivado pelos malucos negacionistas e ignorantes que nos desgovernam. O resultado: 2021 foi um massacre, e logo em abril o número de mortes já ultrapassava as ocorridas em todos os meses anteriores. Já chegamos em 614 mil mortes, ao todo. Diga esse número em voz alta, para entender o tamanho. Lembre de quantas pessoas perdeu; perdemos. E não aprendemos.

Parece até que queremos um repeteco, e não haverá fogos de artifício, pular sete ondinhas, fantasia e samba no pé, bloquinho e desfiles que mostre acerto nas decisões que vêm sendo anunciadas. Isso, claro, quando há alguma decisão.

Antes até da liberação – aqui em São Paulo prevista para 11 de dezembro o fim do uso de máscaras em locais abertos – já está insustentável e visível que os cuidados estão sendo largados pelos caminhos. Basta olhar o número de máscaras jogadas pelo chão nas ruas, como exemplo. A dificuldade de termos de explicar para os engraçadinhos em que data estamos. Nas academias – a que frequento me dá uma boa ideia – as máscaras caem dos narizes; os funcionários enfrentam o ódio quando alertam os egoístas seres. Tem mais essa: alguns alunos cariocas, e como lá liberaram a farra, os caras querem esticar o mapa e usar isso como argumento, acredite quem quiser.

Ultimamente as pessoas não ouvem as notícias inteiras, assim como, também, ou só leem as manchetes ou só o que lhes convém. Fazem questão de não assimilar a realidade. Tristeza maior é ver jovens não indo se vacinar, ou ainda “esquecendo” o calendário da segunda dose. Deprimente ver pessoas que além de não se vacinarem, ainda saem por aí fazendo campanha mentirosa contra as vacinas, ou mesmo disfarçando que tomaram, já que, do meu ponto de vista, na realidade está praticamente nulo esse controle.

Nesses tsunamis, vacinas ainda são a nossa única tábua de salvação. Eu conto ou vocês contam que, se nem quem tomou as três doses, como é o meu caso, está totalmente garantido, imaginem eles! Pior, podem estar, como nos piores filmes de ficção, andando por aí, sendo os agentes da morte, de transmissão. Vermes.

Estamos no fim de mais um ano bem difícil, onde já não há mais espaço nem para piorar. Inflação crescente comendo nossos tornozelos, miséria grassando, violência aumentando, sistemas em colapso. Governo que continua testando nossa paciência de uma forma nunca vista. Entrada de ano eleitoral, com personagens surgindo e sem propostas viáveis para qualquer via de direção.

Uma grande campanha agora seria “Vamos salvar 2022”. Mas pelo visto vamos ter de apelar mesmo é para Todos os Santos, e em nome de nossa saúde mental.

Ou você ainda não reparou que está todo mundo meio que pirando por aí?

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Confusão geral, teu nome é Brasil. Por Marli Gonçalves

Os Trapalhões, os mais reais que poderiam existir, estão entre nós. Pior, no governo, mandando e desmandando. Nos deixando lelés. Duvido que você já tenha visto tanta confusão junta, ao mesmo tempo, em todas as direções. Tantas mentiras, literais trapalhadas, falta de rumos, interferências indevidas, prejuízos gerais.

confusão

Na geral dá aquela esquisita sensação que tudo quanto é desgraça, notícia ruim, acontecimentos estranhos têm a ver com essa situação geral. Gente, até tubarões aparecendo no litoral. Pernambuco? Não! Em São Paulo. E machucando gente no rasinho. Chuva de poeira. Florestas sendo destruídas. Populações dizimadas, fome, miséria, números bons caindo; números ruins crescendo. Muita coisa está fora da ordem. Inclusive nossas cabeças vivendo tudo isso.

“Os Trapalhões” estão entre nós. Os Trapalhões metem o nariz onde não são chamados. Onde são chamados, inclusive nas urgências, não aparecem nem para dar explicações – já que não as têm, óbvio. Está alucinante a absurda forma com que esse governo federal vem tratando todos os temas, e a loucura acaba se espalhando por todo o território, nos levando a um tempo cada dia mais terrível, vergonhoso, inacreditável. Violento.

Um fala, o outro nega; um decreta como se fosse a Casa da Mãe Joana, sem consultar quem de direito que reclama e fica no ar. Todos os dias revelações de malfeitos ou de desleixos, mas são tantos e tão numerosos que nos dias seguintes acabam soterrados por outras de fatos ainda mais absurdos, o que impede a resolução daqueles lá atrás. E assim vamos indo, e num ensurdecedor silêncio e desorganização social. O Trapalhão-mor vocifera bobagens por onde anda, seja no Oriente ou Ocidente.

Senão, vejamos, só essa semana: vacinação e Enem.

Vacinação: porque que acaba aparecendo uma boa pulga atrás de nossas orelhas? Alguém está ganhando com isso? Sabe aquele governo negacionista que atrasou a compra de todas as vacinas e que só depois de muita pressão mexeu a bundinha e agora quer, como diria o Gil do Vigor, se regozijar em cima disso como se tivessem virado os mais competentes do mundo? Pois bem, a vacina de uma dose só que parecia perfeita já não é mais – tem de tomar mais uma e da outra. A outra também precisa de mais uma. E a primeira, do Butantan, que foi a pioneira e que tanto ajudou, fica esquecida porque o cara lá não gosta do cara daqui. Aquela que teria tecnologia fornecida para ser produzida aqui, cantada e divulgada em verso e prosa pela Fiocruz, necas de pitibiriba.

A Anvisa reclama que não vem sendo consultada. Os prazos são mudados de acordo com o humor de alguém no Ministério da Saúde. Uma hora, depois de seis meses, outra, depois de cinco meses, para o reforço; segunda dose já foi de três meses, agora já nem sei mais, qual de qual, quando. Os governos estaduais e municipais acabam correndo atrás para atender, muitas vezes sem nem ter as doses das vacinas nos seus postos. Casa da Mãe Joana é pouco.

Fora isso, cadê o plano de 2022? Onde estão os contratos? Vamos ter um novo plano de vacinação ou será novamente a loucura que já vivemos? Vai comprar de quem? Já tem contrato? Já estão reservadas? Estão vendo, acaso, que o mundo inteiro está em pânico? Conseguem acompanhar o perigo do relaxamento geral? Vamos fazer um samba para o Carnaval? Olê, olê, olê, olá! Dingobel, olha o Natal. Isso vai longe ainda.

Enem: 37 servidores pedem demissão e afirmam que as provas estão sendo manipuladas. Repito, 37, trinta e sete. O tal ministro pastor de risinho sarcástico que comanda a pasta da Educação, servil, apoia o que o ser vil falou de agora o exame estar com a cara do Governo. Deus nos livre! O nome disso é claro: Censura.  Interferência. Desmonte de tudo o que funcionava de alguma forma. Até no Censo estão querendo meter o bedelho nos questionários.

Bate-cabeça. Com tudo isso, quem consegue deitar o cabelo em paz? Me digam. Quem?

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Estamos numa fria. Por Marli Gonçalves

Entramos e estamos numa boa fria, numa gelada, num enorme saco sem fundo. É tanta coisa acontecendo de esquisito, de ruim, e sem que possamos resolver de vez ou tomar medidas rápidas e objetivas – a solução não está só em nossas mãos, mas na de todos e em tantas mudanças e acertos – que só resta, sei lá, espirrar. Espirrar com muitos desses culpados de nossa frente

Saltos, piruetas, manobras espetaculares no asfalto, nos tatames, no mar, fôlego na piscina; as mulheres arrasando, a garotinha em cima do skate, a outra bailando com movimentos precisos bem na cara de suas próprias dificuldades. Orgulho, vitórias, e não só, também as derrotas, trouxeram distração para mais de 100 metros nas notícias e madrugadas olímpicas. Vimos novamente, felizes – mesmo que por instantes – a bandeira nacional tremulando sem que ela nos causasse essa certa repulsa que tanto fizeram que conseguiram nos fazer dela até enjoar nos últimos tempos.

Soubemos das incríveis lutas e histórias de superação dos atletas – os vimos felizes e também desolados quando ficaram pelo caminho em suas modalidades. Pelo menos ali acompanhamos um país se esforçando, lutando para se firmar e melhorar. Temos mais alguns dias para acompanhá-los e torcer.

Mas agosto está aí, sempre teremos agosto. E já está vindo embalado pela pandemia que continua matando muito mais de mil pessoas por dia e querem que isso pareça normal, quando vemos outros países indo e voltando de medidas restritivas nesse vaivém estonteante. Aqui, o pimpão prefeito do Rio de Janeiro, por exemplo, decretou que vai estar tudo bem até o outro mês e até já marcou feriado e festa. Uma vergonhosa corrida de Estado contra Estado, cada um querendo parecer melhor que outro, em campanha aberta, como se não bastasse o furdunço que virou o Governo Federal.

Às vezes acho que a água que os dirigentes e responsáveis pela condução do país tomam contém mesmo alguma coisa a mais – só pode ser. Não atingimos ainda nem os 20% de imunizados com as duas doses. Há ainda um inacreditável número de pessoas contrárias às vacinas ou que não voltaram para a segunda dose, quando necessária, como o é para a maioria. Ainda vemos quem tenta escolher qual marca tomar – e muitos desses estão tombando pelo caminho. O Ministro da Saúde ousa proclamar vitória e ações do governo, como se não tivéssemos já quase 560 mil mortos e mais de um ano e meio de pandemia muito mais cruel por causa dos erros deles.

Agora, as aulas vão voltar – e não se tem a menor ideia de como resolveremos os sérios problemas da Educação, da evasão, do atraso no ensino. O Ministério? Além de uma fala maluca do ministro, outro batendo no peito por feitos não feitos, pôs no ar uns anúncios moderninhos. Volta também o showzinho diário da CPI que, quando acabar, teremos um relatório enorme, e precisaremos torcer muito é para que ele não vá dormir em alguma gaveta.

Quem chacoalhou esse país para ele estar assim tão dividido? Quem abriu a tampa do bueiro para tantas absurdas ignorâncias? Um queima o Borba Gato; outros vêm e jogam tinta vermelha nas homenagens a Marighella e Marielle. O fogo queima nossa memória. As mentiras e notícias falsas se espalham e ecoam. O presidente monta um circo para dizer o que já sabíamos de suas acusações sobre as eleições – que ele não sabe de nada, não prova nada e isso é só mais um assunto para manter o percentual cada vez mais baixo de quem o segue, ainda achando que ele presta, mesmo vendendo seu mísero poder para outros míseros carrapatos que grudam em tudo que é governo, seja de qualquer lado do colchão. Não adianta virar, desvirar, por ao Sol.

É inverno e até o frio intenso e recorde que há muito não aparecia ataca o Sul e o Sudeste, expondo nosso total despreparo para qualquer situação extrema e a miséria que grassa nas ruas que acomodam friamente mais milhares de recém-chegados. Os preços disparam, sem controle, enquanto turistas fazem horrorosos bonequinhos de neve e a geada acaba com as plantações.

Estamos mesmo numa fria na qual entramos sem saber ainda como sair dela, estranhamente escaldados.

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MARLI - cgMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Sob e sobre ameaças. Por Marli Gonçalves

Vivendo sob constantes ameaças, e que só aumentam, vindas de todos os lados. Não bastassem as lutas para controlar a pandemia, o surgimento de novos vírus e outras doenças esquisitas, os problemas com energia, água, temperatura, economia, no Brasil vivemos mais um pesadelo, o político. Qualquer homenzinho, ou serzinho verde oliva, agora aparece cheio de marra, e ameaçando a democracia.

Ameaças

Temos muitas dúvidas, perguntas, pedidos de esclarecimentos, e temos ouvido quase sempre as mesmas não-respostas. Repara quantas vezes, nós, da imprensa, perguntamos, perguntamos. “Mas até o momento não obtivemos resposta”. Todo dia. As revelações, gravações, denúncias, fatos e fotos, falas e gestos se sucedem.  Parece que estão brincando de governar, e estão; sem rumo. Mas jogam pesadamente pelo poder – e com as nossas vidas.

Para quem já viveu momentos difíceis, apenas uma clareza: antes, sabíamos exatamente o que, quem, como estávamos combatendo ou de quem deveríamos nos defender. Agora, apenas a ignorância grassa e é como se o inimigo morasse ao lado, e possa surgir nos surpreendendo. Os descobrimos entre pessoas próximas, amigos, familiares, numa divisão sem igual. Contaminam todos os ambientes.

Os ataques podem ser tão sub-reptícios que até uma deputada acorda machucada, com fraturas, e sem saber exatamente o que ocorreu denuncia poder ter sofrido um atentado. Muito louco? Não, se pensarmos que agora tudo é mesmo possível, inclusive para quem amigo deles era; e inimigo deles, virou. O que aliás tem sido muito comum: o abandono desse barco que navega sem sentido e em uma tenebrosa maré. Maré obscura, armada, violenta.

Ultimamente, não sei como, descobriram uma palavra que usam para tudo e que duvido saibam exatamente qual o seu sentido: “narrativa”. Escuta só uns minutinhos de CPI. Escuta um minutinho do discurso de justificativas e negações deles. Até o presidente, que não é o maior afeto ao vocabulário humano, outro dia disparou “narrativa” para lá e para cá. Lá vem ela: tudo que os afeta é narrativa incorreta.  Só a deles – e que vem eivada de ódio e erros – é que deveria ser ouvida.  Tentam adestrar com decorebas os seus bovinamente seguidores, pouco importa o que falam, mesmo que logo depois contradigam-se.  O recheio de informações falsas que usam cria uma espécie de hipnotismo, repetições ao molde de treinamento de animais. Contam um conto, aumentam muitos pontos.

Isso não é ideologia, direita, esquerda, volver, nem centro, nem de cima nem de baixo. Para ser ideologia tem de haver inteligência, conhecimento, estudos, lógica, contraposição, debate. Assim a gente descobre porque é tão difícil lidar com eles, são apenas chucros estes que estão no pódio do poder central, ladeados por muitos outros, instalados em outros poderes. Infelizmente, inclusive na imprensa, muitas vezes a pesados soldos.

Agora a questão é duvidar das urnas eletrônicas, pregando o voto impresso, mesmo que se diga e repita a confiança nessa forma de voto. Não deve passar essa iniciativa. Tomara que não. Mas eles inventarão outras ameaças nesses meses que antecedem a eleição do ano que vem, e que infelizmente ainda não nos apresenta uma lista de candidatos fortes o bastante para recolocarem o país nos trilhos.

“Se urnas são confiáveis, dá um tapa na minha cara”, pede Jair Bolsonaro, ao duvidar do próprio sistema eleitoral que o elegeu, sem apresentar provas.  Será que vai ser preciso agendar? Pode entrar quantas vezes na fila?

Ele que está pedindo. Nós não ameaçamos, mas ainda creio que saberemos como nos defender.

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MARLI - cgMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Gangorra ou de pulinho em pulinho. Por Marli Gonçalves

Assim vamos indo, de denúncia em denúncia. Aos sobressaltos. De pulinho em pulinho, na gangorra do sobe e desce, do que vai e do que vem. O título da coluna seria “de soluço em soluço”, e que eu já estava pensando bem antes, vocês sabem de quem, começar a soluçar e dar golfadas. Mas não é sobre a saúde do presidente, pelo menos não só, mas sobre o Brasil e os nossos enormes sustos do dia a dia.

gangorras

Troquei o soluço pela ideia que estamos saltitantes sobre fogo e subindo e descendo. Uma coisa, uma hora; na seguinte, já não é mais nada daquilo. Pode ser melhor, mas em geral tem sido é pior. Chega a tontear a quantidade de informações que recebemos, vindas das mais variadas fontes. Ultimamente em on, off, ou ainda com sons de claras gravações de voz ou ainda quando assistimos vídeos completos comprovando as barafundas, negociatas. Fora, com CPI a pleno vapor, documentos, e-mails, ofícios para lá e para cá que vêm à luz, de acordo com a maré, investigações ou interesses.

Ah, falei CPI a pleno vapor. Esquece. Apenas fumacinha, brasinhas, pelo menos nas próximas semanas. Que no meio da coisa quente, pegando fogo, eles resolveram entrar em recesso, que férias não é privilégio só dos juízes e apresentadores de tevê importantes. Fuémm.

Um dia está tudo bem, a economia está “crescendo” – e nos mostram percentuais em geral só de zero vírgula alguma coisinha. No outro, surgem as quedas, mas de dados como níveis de emprego, atendimentos, sempre de percentuais com mais números bem gordinhos antes da vírgula do percentual. A verdade é aquela: só procurar que acha. E temos tantas letrinhas pra procurar, PIB, taxas, juros, inflação, projeções e estatísticas que sempre depende se a procura for por notícia boa, média ou ruim. Depende do dia. Tem dados para todos os gostos. Difícil fica é acreditar em alguns.

Na política, a coisa tá louca. Desarvorada. Há dias com uma série de acontecimentos tão quentes que você acha que o governo não vai resistir nem até aquela noite.  Você fica que nem maluco tentando acompanhar e entender tudo, vê a terra tremer. Aí a noite chega e nada. Você vai dormir, e quando acorda corre para ver se eles ainda “estão por ali”, e lembra que se não estiverem você até ficaria bastante feliz. Mas, na verdade, tudo recomeça especialmente com os arranjos que são feitos na calada das noites.

Nos últimos dias, o DataFolha disparou a fazer pesquisas e o resultado delas –  nada me tira da cabeça  –  creio que  foram as responsáveis por uma boa parte dos soluços do presidente, mostrado em queda livre, perfilado pela maioria da população inclusive como inábil, pouco inteligente, entre outras absolutas verdades reveladas, essas pouco secretas, que no caso não se trata de novela das onze. Entalou. Entupiu. Deu indigestão.

O corpo fala. E o de Bolsonaro estava e está gritando faz tempo. Pelos olhos, pela pele, pelos poros, e até pelos perdigotos. É sabido que soluços podem ter causas psicológicas como ansiedade, tristeza, agonia e depressão.   O corpo somatiza.  Verbaliza que algo não vai bem na mente. E a cura depende, além de medicamentos, do reconhecimento das emoções e sentimentos. E esse reconhecimento, no caso, não ocorre. Só ejeta ódio. Somatização é coisa séria.

Enfim, todos nós somatizamos em algum momento em nossos corpos os sentimentos estranhos. No caso do presidente, fiquei preocupada porque nas minhas pesquisas aqui descobri soluços associados a histerismo. E, pelo menos por enquanto, os médicos o estão tratando com remédios, ou seja, talvez nem tenha mesmo ver com a facada que levou durante as eleições de 2018. Talvez apenas estejam lhe dando calmantes.

O problema é que essa gangorra toda que estamos vivendo não faz bem a nenhum de nós, que ficamos sem saber para onde correr sem que o bicho pegue – literalmente, se pensarmos no vírus que também não para de pregar peças no mundo todo, com seus vaivéns preocupantes.

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ARTIGO – Nós, os perplexos. Por Marli Gonçalves

Não demora e logo nos faltarão também até as palavras para definir esse momento, já que atos para o combater – não é nem mais que se esgotaram – tão perplexos estamos que já nem conseguimos sequer imaginá-los. Estapeados todos os dias, nossos ouvidos feitos de penico, parece que todos somos tão burros e otários que não vemos mais nem quando tentam nos fazer de bestas

A cada revelação que surge – e essa semana foi bastante pródiga delas – as informações mais se avolumam, muito além ainda do que parecia impossível ter ainda ocorrido a mais daquilo tudo que todos os dias de alguma forma presenciamos. Não é nem só de agora; há anos criamos verdadeiras camadas de perplexidade em nosso couro, o que nos torna, no meu ponto de vista, um dos povos mais resistentes e resilientes do mundo.

Mas os últimos tempos têm sido realmente implacáveis. Agravados pela pandemia que nos calou, isolou, transtornou e nos fez sofrer perdas irreparáveis, além do medo, insegurança, do temor do insucesso e da derrota pessoal, não há como evitar a quase paralisia, a perplexidade diante deste cenário geral. Dá para entender porque ainda enquanto um povo estamos tão desorganizados, sem reação, cheios de dúvidas, indecisos, e até poderíamos dizer, ainda mais espantados. Perplexos. E a perplexidade paralisa.

Da janela observamos o mundo passar e na falta de alternativa cobramos o ar. O outro, os outros. Exigimos que “algo seja feito”, praticamente esquecendo que esse “algo” precisa contar também com pelo menos alguma efetiva participação nossa.

Acontece que a tal grossa camada criada em nosso couro ao longo do tempo também nos fez mais insensíveis. Para penetrá-la a flecha precisa ser cada vez mais grossa e forte. Aí reside o perigo enorme de estarmos na realidade já deixando passar como normais muitos fatos inomináveis, que nos exigiriam ação e reação imediata.

Mas é que estamos perplexos.

Somos roubados, temos nossos direitos duramente conquistados vilipendiados. Ameaçados pela volta do terror antidemocrático, pela força, enquanto ainda tiram sarro de nossas caras com ironias e gracinhas de péssimo gosto. A inação nos atinge diretamente, e mentiras deslavadas são construídas cuidadosamente para acobertar e misturar malfeitos até que sejam descobertos e, quem sabe Deus um dia, punidos.

A terra que pisamos, a força da natureza que sempre caracterizou o país com seus amplos recursos naturais, e com os quais nos tornamos de alguma forma importantes para o mundo todo, sendo consumidos, queimados, derrubados, escasseados. Gerando lucros para poucos. Não é para progresso, não se iluda. Pelo menos não o nosso, de ninguém não, só mais essa balela que tentam impingir aos mal informados, aliás uma população crescente, alimentada com ódio por esse mal que encobre de sombras o Brasil.

Não só na política. Em pouco mais de um ano retrocedemos décadas em autoestima. Em respeito, interno e externo. Educação, Saúde, Segurança, Saneamento, Meio Ambiente, comportamento, debate, bom  senso, harmonia, paz e convivência pacífica entre ideias e poderes vêm sendo bombardeados pelo esquecimento ou decisões grosseiras, retrógradas, ignorantes, moralistas de araque, divisionistas, e que não servem  a nada a não ser criar um exército de inimigos, que já nem sabem mais o que combatem entre si, e dos quais, daqui e dali, já quase nem conseguimos nos defender, tal a falta de lógica.

Nós, os perplexos, precisamos sair o mais rápido possível desse estado catatônico, incerto, indefinido, inseguro, assombrado, irresoluto, titubeante, abalado, desnorteado, abismado, zonzo – que não faltam definições – em que nos encontramos. Antes que essa perplexidade toda nos aprisione. E essa gaiola não é dourada.

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Marli MARLI GONÇALVES– Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, nas livrarias e pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – As agulhas de março. Marli Gonçalves

É tanta vontade de ser vacinada que até já sinto a penetração daquela agulha fina e enooorme – que diuturnamente vemos furando especialmente braços de velhinhos, mostrada nos noticiários – em meu braço esquerdo. Já até pensei em desenhar com caneta um alvo ali. Mas, março chegando e a confusão instalada me deixa apenas tamborilando os dedos à espera da vez, e essa vez toda hora muda.

Pois bem, março chegando, e já um ano dessa pandemia que desorganizou mundialmente nossas vidas, planos, instalando o medo da loteria macabra que atingiu – e isso só contando oficialmente, veja bem – mais de dez milhões de brasileiros, e se aproximando de 250 mil vidas perdidas. O estranho é que ainda fica a sensação de que, para quem é dado agir o mais rapidamente possível, parece que quem morreu não importa em nada; e que quem morrerá até que se consiga algum controle, e são milhares, não importará. “Eles” vão continuar com as suas brigas, turras, negações, politicagem, ignorância, apostas vis, desrespeito e ações criminosas.

Querem mais sacanagem do que as criminosas vacinas de vento, quando as agulhas furam e nada inoculam? Que obriga a que as simpáticas fotos e filmagens que estavam sendo feitas dos idosos felizes agora sejam mais atentas e foquem especificamente as seringas, documentando se nelas há o líquido tão aguardado? Querem mais sacanagem do que deixar velhinhos ao Sol em longas filas durante horas para lhes dizerem na porta dos postos que a vacinação foi paralisada porque acabaram?  Querem mais sacanagem do que ainda aturarmos um ministério e um ministro incompetente, as mentiras, a falta de organização, as mudanças no plano de imunização, e as filas de prioridades sendo diariamente furadas, com várias pessoas e “categorias” entrando na frente, vindas pelo acostamento? Calendários divulgados em um dia e jogados fora em outros.

As agulhas de março nos trazem águas de muitas lágrimas. À esta altura, pouco mais de 3% da população imunizada,  com a primeira dose, e ainda apenas com duas opções, a CoronaVac, do Butantan e a vacina AstraZeneca,  da Fiocruz, que reeditam a velha guerra entre São Paulo e Rio de Janeiro, e que nos fazem esperar chegar nos aeroportos aviões vindos de muito longe trazendo seus pedaços para que sejam aqui fabricadas, além de alguns pacotes com poucas doses prontas. Ainda por cima convivendo com as dúvidas que vem sendo interpostas sobre suas capacidades de conter as violentas novas cepas, e sobre suas eficácias em determinados grupos.

Nossos passos estão sendo, não sobre agulhas, mas sobre alfinetes pontiagudos, porque é cada vez maior a sensação de impotência, de tomar tapas no rosto, sem ter nem mais para que outro lado virar, fatos sobrepujando outros fatos. E ter de ver os rostos dos culpados, os mesmos, acrescidos ainda de outros piores, que ainda ameaçam nosso maior bem, a liberdade, como se a eles fosse dado esse direito, e tirados todos os deveres que um dia juraram cumprir.

Nas ruas, a miséria, o poço das classes sociais sendo cavado mais rápido e fortemente do que as covas rasas onde atônitos enterramos nossos amigos, parentes, sonhos, amores e esperanças. As espetadas atingem nossos sentimentos.

Agulhas são usadas para costurar, unir, penetrar nos tecidos para a criação de novas coisas, remendos de coisas mais antigas, costurar buracos.

As agulhas das vacinas perfuram nossos corpos com a esperança de volta de alguma normalidade. Mas esta volta – assim como o surgimento de um líder de verdade – está sendo como procurar agulhas no palheiro.

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ARTIGO – 2021, o ano que tanto desejamos. Por Marli Gonçalves

Nunca, creio, pelo menos desde que nasci, e isso já faz tempo, desejamos tanto um ano realmente novo e que ocorra uma mágica –as coisas sendo resolvidas, a pandemia controlada e que uma luz de consciência se abata sobre os governantes. Ou, então, que eles sejam abatidos, pelo nosso bem.

Vamos lá. Concentre-se. Minha ideia é que use aquela horinha mais sua, mais preservada, em que esteja nu, despojado, só você e a água do banho, seja de chuveiro, banheira, latinha, balde, bidê, canequinha.  Reflita. Pensa o quanto queremos nossas vidas de volta e o quanto estamos tendo por aqui dificuldades impostas por maníacos e pela ignorância para conseguir obter isso, além de tudo o mais. Ajude-nos a desejar com ênfase o fim dessa verdadeira guerra em que nos encontramos, diferente de outras, mas tão mortal quanto, e que já chega a 1,7 milhão de mortes em todo o mundo. 185 mil vidas perdidas só aqui no Brasil, e isto contando só oficialmente.

Temos de virar essa página, o mais rápido possível, e do jeito, a realidade e forma que as coisas andam, diariamente tantos desatinos, erros, “bate-cabeça”, teremos mesmo de apelar a algum outro plano. Aliás, outros planos, muitos, reais e espirituais.

Hoje estou querendo focar no espiritual. Sempre ouvi falar da força da mente humana e acredito que aqui, entre meus queridos leitores, poderemos fazer uma boa e positiva corrente para testá-la.

Que as crianças – aliás, não só elas, mas todos os que querem e precisam aprender – possam voltar sem medo às escolas, universidades, bancos escolares, que esse ano perdido precisa ser recuperado e já temos tantas deficiências nesse setor Educação.

Que os palcos possam voltar a brilhar, com arte, beleza e espetáculos que possamos ver e sentir além de telas de computadores e celulares que por mais que se tente não têm a menor graça.

Que todos possamos voltar às ruas, seguros, pelo menos quanto à essa maldita doença, já que outras formas de segurança ainda demorarão, disso não temos dúvidas. Que haja trabalho e prosperidade.

Que os idosos possam voltar a viver seus dias ao lado de quem amam, recebendo cuidados de suas famílias, beijos e abraços.

Aliás, que todos possamos de novo receber carinhos, beijos, abraços, ver os sorrisos, namorar. Que as mulheres possam procriar sem que os meses de gestação sejam de agonia e temores como vêm sendo. Que possamos nos tocar, ter prazer. Sem ter que sair desinfetando tudo.

Que os jovens possam sair, divertir-se, dançar até o chão – mas bem que eles podiam deixar esses bailes funk caírem em desuso por tanta perturbação que causam. Tantas opções poderão se abrir!

Que a Ciência, a razão, o bom senso, a Justiça prevaleçam sobre as trevas que tristemente encobrem nosso país e nos envergonham diante de todo o mundo.

Que as fronteiras se abram, e todos possamos viajar para lá e para cá. Quem foi, possa voltar. Que as portas de nossas casas novamente se abram para receber quem amamos.

Não. Não teremos Carnaval, o tal, aquele de escolas de samba, blocos nas ruas. Mas faremos um desses bem grande assim que conseguirmos a vacina que ainda pretendem nos negar. Ah, aí sim, dançaremos nas ruas como se não houvesse amanhã, mas haverá.

E pelo andar da carruagem, se tudo der certo – e vai dar, porque somos mais – logo nos encontraremos nessas ruas em protestos que precisam ser feitos e que estão apenas represados enquanto eles se aproveitam da fragilidade que tentam perpetuar, porque só assim poderiam continuar se mantendo.

Concentre-se. Vamos! Deseje.

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mARLI

MARLI GONÇALVES –  Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. Nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

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ARTIGO – Por favor, parem, agora! Por Marli Gonçalves

Parem! Essa exaustão contínua, diária, nos leva a caminhos sem volta, nos tornando – a todos – tristes, amargurados. Revoltados. Descrentes. Apavorados. Tudo já andava muito difícil, mas a pandemia chegou para tornar a situação brasileira praticamente insuportável pela insanidade que atinge os que deveriam buscar soluções; pior, aplaudidos por desinformados por essa impressionante turba de ignorantes gestados nesses tempos e que vêm saindo dos ralos.

PAREM

A senhora que cuida da portaria da galeria onde preciso entrar prepara o termômetro eletrônico para medir a temperatura. Ela está sentada. Por isso, me abaixo para facilitar, indicando a testa, o lugar correto para essa medição. Ela aponta para meu pulso. Digo para ela medir na testa. Ela teima. Digo, ou mede na testa, ou não mede, ok? Ela retruca: mas “dizem” que faz mal. Já não estou bem humorada, minha delicadeza desce o morro rapidamente, e respondo com palavras ásperas e em tom mais alto, chamando sua atenção para a bobagem. Cenas assim tornam-se comuns, dá medo até de sair de casa. Mas está decidido: se tiver a ver comigo, perto de mim, respirando o mesmo ar, haverá reação. Seja onde for: no prédio onde moro, no mercado, no transporte, na feira. Uma questão de defesa pessoal, para a qual sempre estarei pronta.

Fico chateada, mas é que ver o descaso, viver em um país que diariamente salta olimpicamente para trás sem que a reação possa ser vista se tornou um pesadelo. Minha paciência anda esgotada.

Enfim, não é só a paciência. Ando bem esgotada, e imagino que muitos de vocês aí do outro lado também estejam e possam entender do que falo com total sinceridade. Não quero por isso arrumar inimigos, ser atacada, xingada de comunistazinha, entre outras mensagens que recebo, muito menos perder leitores arduamente conquistados. Apenas alertar que estamos chegando a um perigoso limite e que precisamos falar sobre isso. Antes que seja tarde demais. E já estamos atrasados para essa conversa.

Quero, adoraria, inclusive, falar a um número maior de pessoas, atingir “não iniciados”, que isso é o que o jornalismo faz, na sua quase impossível busca por imparcialidade. Afaste ideologia, sentido de direção, esquerda, direita, esses conceitos antigos e ultrapassados. Pelo amor de Deus, parem de aceitar qualquer informação dessas, malignas, que correm pelas redes sociais que viraram campos de batalha: uns querendo ser mais famosos e ter mais seguidores que outros, a qualquer preço; redes que, mais do que papel, aceitam qualquer coisa. Parem de não prestar atenção ao que leem; e de ouvir contar e passar à frente teses estapafúrdias embrulhadas em papel brilhante. Respeitem a Ciência, a imprensa séria que está nas ruas buscando informar a realidade, nessa perigosa tarefa.

A ignorância, a maledicência, a cegueira, mata muita gente – não sujem suas mãos e consciências apoiando líderes malditos e suas equipes desgraçadamente desorientadas. Perceba quantos estão tombando, gente boa, amiga, importante, familiar, querida. Gente sua, minha, nossa. Por quantos estamos rezando fervorosamente para que sobrevivam. A situação se agrava de forma acelerada, assim como o medo dessa loteria macabra.

Apoiar o negacionismo, ir contra as regras de distanciamento, isolamento social, não usar máscaras, sair por aí em baladas, compras, esquecer o básico, não é “legal”, “liberdade”, desobediência civil, revoltinha nem revolução. É simplesmente brincar com a morte, com o futuro, com o próximo.

Continuando nessa toada é que, aí sim, vamos assistir o que é revolta, revolução social, desobediência civil – a verdadeira – e que já respiramos, sobressaltados, porque será só ela a solução caso essa situação se mantenha por mais alguns meses, assim, insuportável. E não será nem um pouco divertido, garanto; convulsões sociais não são divertidas.

Então, pensa. Juízes se digladiando entre si, tacando o livrinho da Constituição uns nos outros. Em um momento como esse não dá para perdoar e achar bonito – sem enumerar todos os fatos – um presidente e uma primeira dama que desrespeitam seu povo, inaugurando vitrines com roupas que usaram no dia que desgraçadamente tomaram posse no poder. Se possível, essas roupas deveriam ser destruídas. Não dá para aceitar que o arroz, feijão, o óleo, os alimentos da cesta básica, se tornem inacessíveis, e que sejam dadas regalias a fabricantes de armas. Não dá para aceitar que cargos do governo sejam negociados nas nossas fuças com o que há de pior na política nacional. Não dá para aceitar risadinhas irônicas, negros racistas, o meio ambiente depenado, a Cultura e o Turismo nas mãos de mais um desafinado, que pessoas que comandam a economia sejam tão insensíveis, o astronauta que vive boiando. Especialmente não dá para aceitar que o comando da Saúde esteja na mão de quem parece não saber nem onde está parado – e está parado bem em cima de decisões fundamentais para que possamos sair dessa situação. Brincando, sem vacinas, agulhas, testes, sem transparência. E sem corar.

O lugar que ocuparão na História haverá de ser cruel tanto como fazem por merecer.

Precisamos apelar para que sejam eles que estejam no finzinho. Ou, escute, não vamos aguentar. Isso não vai dar certo. Por favor, parem, agora!

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MARLI

MARLI GONÇALVES –  Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

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