ARTIGO – Pavio aceso. Por Marli Gonçalves

   Gifs%20Anim%E9s%20Feu%20%28119%29  Não esbarre. Não pise no pé. Não cutuque a onça. Não pise no rabo. Não provoque. Use óculos escuros. Fique na sua. Não encara! Vivo em São Paulo. Então, transmito minhas impressões diretamente do centro do caldeirão, e o caldeirão está em ebulição de uma forma que não me lembro de ter visto antes, em formato, perigo, disparates. Está difícil ir daqui até ali sem se aborrecer, sem encontrar problema, sem encontrar gente rosnando inconformado seja de um lado ou de outro, curtindo rancores, olhando torto para o que não compreende ou que não lhe é espelho Gifs%20Anim%E9s%20Feu%20%2850%29

Gifs Animés Bombes et Explosion (3)O país inteiro está quente, mas aqui em São Paulo todo esse calor se mistura com cimento, ar sujo, cidade caída e esburacada, saco cheio, durezas de vidas sem poder por o pé na areia, nem chinelos de dedo, nem grandes possibilidades de se acalmar vendo o por do sol sentado em algum morrinho. Sim, tem quem pode; mas a maioria apenas se sacode. E sacode para cima dos outros. O clima de individualismo está chegando num perigoso limite com a insanidade mental e física.

O pavio está aceso e o barbantinho queima com rapidez. O relógio faz tiquetaque, tiquetaque, e a gente procura para ver se acha a bomba antes que ela estoure. O barril é de pólvora e tem gente com fósforo aceso achando graça. A panela está fervendo e o leite já derramou. Nunca antes nesse país qualquer faísca – e elas não param – eclode em tanta violência. No trânsito, até facas zunem. Nas ruas ninguém mais pede licença nem para passar e gentilezas são tão raras que quando a gente encontra uma é capaz de se apaixonar, querer filmar para guardar a cena e mostrar para gerações futuras, chorar e querer abraçar e beijar.

Pior é que para arrumar uma encrenca não precisa nem mais sair de casa. Tenho visto amigos deixarem de ser amigos entre si, e o que é pior, em público, se xingando de uma forma pavorosa e cruel via as tais redes que daqui a pouco se chamarão é “redes anti sociais”. Não é mais porque um não pagou o dinheiro que pediu emprestado, ou não devolveu um livro, ou mexeu com a mulher, roubou um namorado; mas brigam só por conta dessa política rastaquera implantada tal qual erva daninha. Não me conformo. E todo dia assisto pelo menos uma dessas pendengas. Sei também o quanto é difícil calar, principalmente quando escrevem bobagens no seus posts – quase como uma invasão do espaço íntimo. Porque a gente não gosta de ser amigo de quem é burro, maria-vai-com-as-outras, e que dá palpite sobre o que nem tem ideia, apenas telecomandado por uma ideologia de última categoria, vontade de engraxar sapato dos guias máximos. Eu pelo menos não gosto. Não brigo, mas fico atenta para ver se a pessoa ainda tem cura. E espero que ela vá pensar o que quer, democraticamente, mas bem longe dos meus domínios, com a turma dela, já que não há mais possibilidade de debate sério, civilizado. É só petralha! para lá, tucano da elite para cá; agora deram para xingar até de “comunistas!” Quando é que vão ver que esquerda e direita é mão de direção? E em política a gente pode, sim, pegar a contramão na hora que quiser. Deveria poder.

Os nervos, ah, os nervos! Estão à flor da pele e temo que seja por não estarmos conseguindo prever – pense – nada, nem poucas horas diante de nossos narizes. Como vai ser? Vai ter protesto? O povo voltará às ruas? A seleção brasileira passará das oitavas? Aliás, os turistas conseguirão chegar? Partir? Vai ter Copa? (Claro que vai, mas tumultuada).

Achei verdadeiramente brilhante esse post do amigo jornalista Wilson Weigl: “Pra mim já deu! Não aguento mais ouvir falar de: manifestação, protesto, caos, crise, crime, Black Blocs, arrastão, rolezinho, roubo, assalto, polícia, tráfico, metrô, faixa de ônibus, tarifa de ônibus, apagão, racionamento, favela, comunidade, UPP, crack, cracolândia, máscara, médicos cubanos, Ramona, Mais Médicos, Bolsa Família, Cuba, porto cubano, eleição, Copa, imagina na Copa, Pizzolato, Pedrinhas, Pampulha, Maranhão, PT, PSDB, Dilma, Lula, Alckmin, Haddad, Padilha, Cardozo, Sarney etc etc etc. #cumbicajá

Gifs%20Anim%E9s%20Eau%20%2828%29Quem vive de informação tem melhor ideia do que trato. Você abre o jornal e lê artigos que, puxa vida, como alguém pode escrever e publicar tanta bobagem só porque tem nominho no mercado? Como alguém pode ser âncora de jornal sério e ser tão babaca? E as declarações e explicações dos homens públicos? Trabalho com isso, gente; os caras não estão contratando profissionais de comunicação, não. Andam contratando qualquer coisa: filhinhos de papai, moças bonitinhas, coisinhas fofas, mas que não têm ideia do mal que estão fazendo. A gente vai guardando…uma hora a coisa explode, e não vai ter controle. Fora os jornalistas que viraram bucha de canhão, fritos em óleo quente, queimados com fogos, rojões, acertados com cassetetes e bordunas.

Gifs%20Anim%E9s%20Feu%20%28107%29Dá para dizer que o tumulto no Metrô foi sabotagem? Não. Dá para dizer que o rolezinho é coisa de infiltrados? Não. Dá para dizer que fazer a justiça com paramilitares sanguinários, milicianos que espancam meninos, está certo? Não. Dá para ficar perguntando o que foi que o Lula dedurou, para acreditar que ele teve, sim, tratamento diferenciado? Não. Se ele falou, nem que seja a cor da cueca do companheiro, se sorriu (e sorriu) para os agentes da ditadura, já não é suficiente? Dá para jurar num dia que não vai ter apagão e no dia seguinte o país inteiro sofrer um apagão? Dá para por culpa no raio?

Alguém, por favor, pode jogar água nessa fervura? Rápido! O barbantinho está quase no fim. E a água está para ser racionada.

Gifs%20Anim%E9s%20Eau%20%2813%29São Paulo, 40 graus  

Marli Gonçalves é jornalista Lembra quando a gente brincava de esconde-esconde, adivinhação, quente ou frio? Pois é: agora está mais para “chegou com um quente e dois fervendo”. A batata está assando. Ou quente, nas mãos.

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ARTIGO – QUE VERGONHA, SÊO CABRAL. Por Francisco Simões

Leia mais este desabafo sobre a situação dos Bombeiros no Rio de Janeiro. Perceba que eles precisam da solidariedade do povo, das pessoas que eles vivem para salvar, mesmo com o minguado salário que recebem.

“QUE VERGONHA,  SÊO CABRAL”

Então o senhor vai à TV e com rompantes de revolta e postura de um autocrata chama os bombeiros de “safados”, “bandidos”, “vândalos”, entre outros adjetivos que me deixaram horrorizado?

 Então o senhor manda prender mais de 400 bombeiros, enquanto milhares de bandidos estão por aí, à solta, a assaltar, a matar, a invadir residências, a promover tiroteios em comunidades matando inclusive crianças com as tais balas perdidas? Ainda ontem aconteceu novamente na Vila Kenedy. O senhor soube?

 Sua autoridade, sua “valentia”, usadas sem dó nem piedade para cima de bombeiros, a categoria mais bem avaliada pela população brasileira, aqueles cujo trabalho, cuja dedicação, é salvar vidas pondo em risco, sempre, as suas próprias, pelo menos de minha parte mereceu repulsa, não aplauso.

 Hoje de manhã, na rádio CBN, um cidadão colocou esta pergunta: “O que levaria tantos bombeiros, pertencentes à categoria de militares, sempre ordeiros, disciplinados, que arriscam suas vidas para salvar tantas outras em terra ou no mar, aplaudidos constantemente pela população, a tomar aquela atitude de outro dia? Antes de se lhes jogar alguma culpa, julgo que deveriam entender as razões de tal explosão da categoria. Motivos certamente bem sérios devem ter havido.”

 Pois o senhor Cabral é que deveria dar alguma resposta, em vez de ficar a esbravejar impropérios injustos, meio apopléctico, atrás de câmeras e microfones.

 Quando o senhor promoveu aquela invasão ao complexo do Alemão com imensa  parafernália, com aquela exibição de força descomunal, momentos depois nós todos assistimos a centenas de pessoas fugindo pelos morros e o Secretário de Segurança justificou dizendo que lá não interessava um banho de sangue, mas livrar a comunidade deles, a população ficou pasma.  

 Pensam que somos todos néscios? Sabe para onde foram aquelas figuras que os senhores deixaram escapar impunemente? Pois pergunte a outras comunidades, a outros bairros, a outras cidades do interior do Estado, senhor Cabral. Quando o senhor autorizou aquela invasão do complexo do Alemão com toda aquela força, tanques blindados inclusive, etc, estava declarada sim, uma guerra. Guerra, senhor Governador, é pra ganhar no todo, não de forma parcial, como fizeram. O resto é pura demagogia, ou exibicionismo.

 Se os bombeiros cometeram algum excesso ao invadir o Quartel General deles, por outro lado eles estavam numa explosão de impaciência visto que os ouvidos moucos de V. Senhoria jamais escutaram seus apelos por melhores salários, ou por salários mais dignos, e não os míseros 950 reais que recebem. Hoje se sabe que Estados com arrecadação inferior ao Rio de Janeiro pagam pelo menos o dobro a seus bombeiros, desde o começo da carreira. 

 O senhor, e mesmo o ex Comandante dos bombeiros, jamais tiveram interesse, ou sensibilidade, para conversar com representantes da categoria, é o que têm dito algumas lideranças da categoria.  Afinal o seu salário deve ser infinitamente superior a essa miséria que os bombeiros recebem, e o senhor nem precisa correr risco de vida. Nós, como povo, pagamos, e pagamos muito caro, inclusive pela sua segurança, certo?

 Com certeza faltou habilidade até para negociar com os invasores do Quartel, e quando o senhor deveria estar lá, não, o senhor estava encastelado em seu palácio. Então mandam um oficial, representante da PM, para conversar com eles? Que é isso, sêo Cabral? Depois da reeleição está se lixando para uma categoria que em vez de dar trabalho, costuma mesmo é arriscar a vida numa labuta sempre árdua e heróica? Que vergonha.

 Aí o senhor se junta a mais uns três ou quatro assessores e vai à TV bradar contra os bombeiros e determina a prisão deles, prisão mesmo, pois ainda estão em cadeias do Estado, xinga pais de família que trabalham duro, sol a sol, não vivem de demagogia política, e diz que eles sofrerão processo? Que é isso, sêo Cabral?

 Botar uma tropa de elite da PM que deve agir, porém em outras situações, pois não estão preparados para dialogar e sim para bater, atirar, etc, chegou às raias da irresponsabilidade. Não cabe nenhuma culpa aos militares, mas a quem deu a ordem, e o senhor sabe quem foi. Que vergonha.

 E não querendo descer do seu falso pedestal, o senhor quer agora tentar substituir bombeiros em algumas atividades com militares que não estão preparados para exercê-las?! Que irresponsabilidade, sêo Cabral? Ouvi lideranças dos bombeiros denunciarem isto hoje da manhã na rádio CBN.

 Estou vendo que o apoio ao movimento dos bombeiros a cada dia aumenta mais, não só de pessoas da mesma categoria e de outros Estados, como de professores, etc. Seu pai, um intelectual, foi vítima da ditadura, mas o senhor, que veio depois, preferiu a carreira política e não foi à toa!! Vê-se bem por sua atuação…

 Seu pai eu respeito, nos meus quase 75 anos, pois conheço bem o trabalho dele em prol da cultura brasileira, em geral, e em particular no que concerne ao melhor de nossa MPB. No senhor eu não votei e jamais votarei.

 Lamento todo este quadro de coisas que o senhor criou, agora quero ver como vai desatar este nó. Só espero que esteja preparado para dar o braço a torcer e não insista nessa insanidade que é a prisão, em celas, em cadeias do Estado, de mais de 400 bombeiros, repito, a classe mais apoiada pela população. Quanto aos políticos, o senhor sabe bem o que o povo pensa a respeito!!

 – Francisco Simões.   (07 / Junho / 2011). Francisco Simões é o máximo. É escritor, poeta, amigo, sabe de tudo e vive no Rio de Janeiro. E-mail: fm.simoes@terra.com.br