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Olha o Almodovar dando tchauzinho! É para você. Especial aqui para a gente. Nossa correspondente mais do que especial no Festival de Cinema de Cannes, Ucha Röesele, manda – quentinho – um filminho dos astros de La piel que habito. Eles estão indo para a coletiva de imprensa realizada hoje.Não deixe de ver a cobertura completa de Cannes, do site Filmespolvo.com.br.Saiba mais e veja mais de Cannes – especial – aqui e aquiE tem mais! Fotos das belezas de Cannes e, claro, da nossa correspondente, Ucha. Divirta-se
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Almodóvar terá certamente pensado no cinema de terror de Georges Franju e no seu inesquecível “Les Yeux Sans Visage” quando adaptou a novela “Mygale“, de Thierry Jonquet. A novela conta a terrível vingança de um cirurgião plástico sobre o homem que violou a sua filha. É material em potência para um filme de Almodóvarcom melodramas familiares e histórias de mudança de sexo. O cineasta espanhol não abandonou a ousadia que o tornou único.
Debaixo da epiderme, drama profundo
As personagens de Almodóvar não habitam só na epiderme do título, o drama é mais profundo e a trama invulgarmente complexa. O cirurgião em causa, Robert Ledgard (papel de Antonio Banderas, que não filmava com Almodóvar há 22 anos, desde “Ata-me!”), vive em Toledo com uma governanta que ele não sabe tratar-se da sua mãe (Marisa Paredes) e é um homem perturbado pelo acidente da mulher, que ficou completamente queimada num desastre de automóvel. Ele tem também uma filha que, numa noite de festa com amigos, é violada por um rapaz da sua idade, Vicente.
É uma família desgraçada, a de Robert. Vamos descobrindo estas etapas uma a uma, pausadamente, porque “La Piel que Habito”, à semelhança dos últimos filmes de Almodóvar, está preso a uma sucessão de flash-backs. A mulher e a filha acabam por sucumbir às suas experiências traumáticas. Até que o cirurgião, levado por um desejo de loucura e vingança, decide raptar Vicente e fazer dele rato de laboratório, transformando-o… em Vera (Elena Anaya).
Um novo Dr. Frankenstein
Quem é esta Vera? Uma espécie de monstro que, para este cirurgião demente, fundirá as duas mulheres que ele amou e perdeu? O produto de um amor louco? Não o podemos revelar. Preferimos salientar que Almodóvar parece precisar de trabalhar agora com várias camadas de narrativa sobrepostas, complexas, do mesmo modo como hoje se trabalha em simultâneo com várias janelas e vários programas nos computadores.
Almodóvar tinha nas mãos uma história linear, apaixonante, à sua medida. Decidiu contudo transformar o simples em complicado. Os seus filmes estão cada vez mais parecidos com o cinema de Brian de Palma: são filmes que se pensam a si próprios, os mistérios estão na sua estrutura. “La Piel que Habito” é um trabalho tremendamente cinéfilo que nasceu, também ele, num laboratório, na montagem. É um filme de terror, mas se o tom escolhido fosse o da comédia ou o do melodrama (e também a comédia e o melodrama estão presentes), teria os mesmos resultados.
Uma questão de ritmo
Houve um tempo em que Almodóvar tinha um ritmo desportivo, despachado, fluído: as sequências até pareciam feitas à primeira take, na urgência do momento. Na fase atual da sua vida de artista, notamos o oposto: um argumento, um punhado de personagens, uma boa história não bastam. Julgamos que o espanhol anda a filmar com o pânico de poder parodiar-se a si próprio. A impor-se uma saturação do relato de que não precisava. A mecânica é muito mais lenta. Com estas reservas não se pense que “La Piel que Habito” é um filme falhado: pelo contrário, dá vontade de rever, de reavaliar. Mas não é o Almodóvar de ouro que esperavamos. |